O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 2
Capítulo 2 - PILOTO (pt. 2)


Notas iniciais do capítulo

O homem nasce bom, ele é corrompido no decorrer da vida...



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Ninguém tinha coragem de olhar pela janela, o silêncio perdurava pelas dependências do ônibus, o caminho se tornava desolador a cada quilômetro percorrido na BR 364, Porto Velho se aproximava e não se via mais congestionamentos por conta do êxodo de fuga que se observava em Cuiabá. A frieza com a qual o motorista dirigira, demonstrava bem a situação, todos estavam em pânico.

Angélica, que não havia dito uma palavra sequer após as chocantes cenas vistas na capital passada, levanta o olhar em direção a Daniel e indaga:

-- O que era aquilo? O que...

Daniel olha para ela, passa a mão esquerda por detrás da nuca e responde:

-- Foi o que aquele maluco falou pra gente... Foi o que... Você viu, todos vimos... Com o que nós estamos lidando?

-- Onde ele está?

-- Quem?

-- O ‘maluco’... O carinha que alertou agente.

-- Ele desceu no meio daquela confusão... Eu acho...

O ônibus segue viagem pela estrada, e a destruição aumenta cada vez que avançam no trajeto. Pessoas perambulando são avistadas em enorme quantidade, mas olhando em seus olhos, pode-se ver algo de diferente, não são mais pessoas, são algo, algo desconhecido e perigoso.

O ônibus chega a Porto Velho, e a imagem não é nada otimista, há um incêndio na parte lateral da rodoviária, e mais daquelas pessoas perambulando. Algumas pessoas descem, ouvem-se gritos. O motorista desce do veículo para observar lá fora, a fumaça do incêndio se propaga e impede a visão total do que está ocorrendo, passageiros que ficaram no ônibus protestam pedindo para que ele seguisse viagem. Em meio aquela confusão ele vê a silhueta de uma moça, agachada ao chão, receoso o motorista se aproxima, quando os protestos aumentam.

-- VOLTA PRO ÔNIBUS PORRA! SAI DAÍ! VAMOS EMBORA LOGO!

Ele dá uma breve olhada para trás, e segue em direção à moça, com as mãos e voz trêmula, ele pergunta:

-- Mo-moça, vo-vo-você está bem?

A moça se vira e ele dá um grito, ela tem uma aparência horrível, e está com o rosto coberto de sangue. Ela dá um grunhido e vai em sua direção, ele corre desesperadamente em direção ao ônibus, ela segue atrás. Ele sobe no ônibus aos pulos e a moça entra imediatamente para desespero de todos.

Um senhor que estava sentado em uma das primeiras poltronas, se põe entre ela e os restantes dos passageiros, mas para agonia dos demais, ela não é impedida pelo senhor, ela o morde no pescoço. Um jato de sangue começa a sair do homem, todos gritam. Um rapaz e uma mulher se levantam e tentam impedir que o homem fosse dilacerado na frente de todos. Outros passageiros se juntam e conseguem jogar a mulher para fora do ônibus, que parte.

O senhor mordido no pescoço agoniza de dor, Angélica se dirige até ele com uma mochila que carregava, ela era Técnica em Enfermagem, e estava se especializando em Fortaleza. Ela tira um pano da mochila e pressiona sobre o pescoço do homem, em uma tentativa de estancar o sangramento. Em vão, o homem não resiste e morre.

Agachada ao lado do corpo sua esposa chora passando as mãos em seus cabelos, Angélica tenta consolar a viúva. Daniel assistiu toda a cena de pé no meio do ônibus, ele travou na hora do ataque, não conseguiu agir, e por isso estava se sentindo um lixo por dentro, queria ter ajudado.

Angélica levanta e pergunta:

-- Mais alguém se machucou? Eu tenho uns materiais básicos de primeiros socorros na mochila, e sou enfermeira, posso ajudar!

Um dos homens que ajudou a desvencilhar a mulher canibal vai a sua direção. É um homem baixo e forte, com traços indígenas, ele puxa a manga da camisa e mostra um ferimento no antebraço.

-- Aquela puta me arranhou, me arranhou não, quase arrancou meu braço, olha só!

Angélica observa o ferimento, é um corte profundo causado pelas unhas da moça que os atacara.

-- Mas o que era aquilo? Aquela mulher, mordendo o pescoço do velho... O que tá acontecendo?! – Pergunta o homem com ar de indignação.

-- Não sei o que dizer moço... Vamos, vamos fazer um curativo nesse braço.

Angélica chama Daniel, que a ajuda com o curativo, o homem agradece e volta para o seu lugar. O clima estava insustentável, o mundo havia enlouquecido de vez, as pessoas haviam virado canibais, e não tinha razão plausível para isso. Daniel chegou com o rosto perto de Angélica e disse:

-- Se isso que agente viu aqui for o efeito do vírus, acabou tudo, você viu como Porto Velho estava? Você... Não tem mais ônibus rodando, desde Cuiabá que eu não vejo carros em movimento, só acidentes. Nem as pessoas nós vemos mais, só esses doentes, como essa mulher que entrou. E se Manaus estiver desse jeito e se...

Ele é interrompido.

-- E se não estiver? Olha, eu estou com medo, mas nós não podemos nos desesperar. Nós não podemos fazer nada!

Daniel vira o olhar para o senhor ensanguentado e sem vida estirado no chão e diz:

-- Podemos sim! – Ele pega um lençol e vai em direção à viúva, fala algumas palavras que Angélica não consegue discernir de longe e entrega a coberta a senhora, que cobre o corpo do marido. Angélica dá um breve sorriso, fica séria novamente e volta seu olhar para o chão. Daniel senta a seu lado, e ela encosta sua cabeça em seu ombro.

A chuva cai, acompanhada de trovoadas e relâmpagos, as pessoas e o tempo estão tristes, a noite chega, Angélica dorme recostada sobre a poltrona, Daniel segue olhando pela janela, observando. Ele vê mais canibais andando pela estrada, vê um boi sendo devorado por dez pessoas, não consegue pensar em nada, apenas quer acordar daquele pesadelo.

O barulho dos trovões é contrastado por um grito de socorro.

-- CADÊ A ENFERMEIRA? SOCORRO! AJUDA!

Daniel acorda Angélica, que levanta no susto. Ela se dirige até a pessoa que gritava, é uma moça.

-- Moça, ele desmaiou, eu achei que ele tava dormindo, ele ficou com febre...

A moça falava do homem com o arranhão no braço, Angélica colocou a mão em sua testa e constatou que ele estava com uma febre muito alta.

-- Deve ter infeccionado! – Diz ela.

O homem que havia desmaiado começa a se tremer, o corpo inteiro, como em um ataque epilético. Daniel que assistia a tudo, segura o homem que se debate. Angélica nitidamente não entendia o que estava ocorrendo, com o socorro prestado ao homem anteriormente, ele não deveria apresentar infecção, pelo menos não em tão pouco tempo, sem ação ela apenas diz:

-- Deus... Que...


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Notas finais do capítulo

Quem gostou (se alguém gostar é claro!), sugira personagens, vamos fazer essa interatividade funcionar, sempre haverá lugar para encaixar suas idéias...

Obrigado!




Säteily