O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 25
Capítulo 25 - PILOTO (pt. 4)


Notas iniciais do capítulo

Um novo ciclo se inicia...



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O grupo seguiu pela cidade tentando esgueirar-se da parte central da mesma, pois sabiam que lá o número de infectados seria exorbitante. Rodaram pelos bairros menores, onde saquearam pequenos mercados e abasteceram o tanque dos veículos para a grande viagem que se anunciava. Não seria fácil atravessar toda uma região em busca de segurança.

Alex e Victoria tentavam interagir mais, se conhecer melhor. Victoria lhe contava das experiências inusitadas da vida médica, enquanto ele a descontraía com outras histórias de sua vida. Os dois haviam sofrido bastante, por isso era necessário se blindar e se agarrar na esperança de que ainda há um lugar seguro, sem isso, não poderia haver muitas razões para seguir em frente.

Blindagem também era a palavra usada por Daniel e Andressa, os dois haviam perdido algo imensurável, dividiam a mesma dor, e de certa maneira se entendiam mesmo dentro das desavenças. Tentavam esquecer o que se passara conversando, às vezes até mesmo lembrando-se de Belle, com And contando a Daniel histórias de sua infância e de como ela era bem quista por sua família. Eles não tentavam e nem queriam esquecer Isabelle, apenas esquecer o fato em si, o sofrimento pelo qual todos foram submetidos, pois esquecê-la com certeza, seria impossível.

O primeiro dia de viagem fora dedicado inteiramente ao objetivo principal, sair de Manaus o quão antes possível. Evitando centralizar-se, eles conseguiram ao passarem por um bairro vizinho, chegar até a ponte que ligava Manaus a Iranduba, deixando assim a capital amazonense.

Após passarem pelos aproximadamente três quilômetros da ponte, chegaram até esta pequena cidade. Daniel havia passado por lá quando chegou à capital, ainda tinha lembranças. O que viram não diferia muito do anterior, desolação e destruição, nada de vivos, apenas os mortos reinavam sob aquelas terras. A cidade que um dia já fora ponto turístico, praticamente não existia mais.

Daniel também percebera que aquele trajeto que estava começando a ser feito, era exatamente o contrário do que fizera anteriormente, e isso remexeu suas memórias, ativou o seu subconsciente. Lembrava-se da estadia em Fortaleza junto com Angélica, dos amigos que fizera lá durante a especialização em Radiologia Forense, imaginava se eles ainda estariam vivos, se a cidade seria realmente um porto seguro. O trajeto também o fazia lembrar bastante de Angélica, fora por ele que eles dividiram seus medos ao irem conhecendo pouco a pouco a história sobre a infecção e a devastação que essa desconhecida doença fizera a todos. Ele não era dos mais otimistas, nunca foi, mas queria acreditar que um dia aquela fuga acabaria. Não conseguiria viver correndo de um lado para o outro pelo resto da vida.

Passado mais um dia, o grupo chegara à Nova Olinda do Norte, seguiam a BR 319, pois seu objetivo era chegar a Porto Velho. A cidade calma e pacata mostrava sinais de abandono, parecia uma cidade fantasma de filmes de faroeste dos anos cinquenta. Era em lugares como esse, que eles podiam atestar que praticamente tudo havia sido afetado pelo vírus, não só os grandes centros, mas as cidades mais afastadas também.

Exaustos, pararam os carros e dormiram sobre o relento, era arriscado, mas aquela cidadela não mostrava risco a eles. Acenderam uma fogueira, beberam e se alimentaram com os saques realizados, e dormiram nos veículos após passarem boa parte da madrugada conversando. Aquelas pessoas pareciam mais unidas, conhecendo uns aos outros de maneira mais uníssona, confiando e respeitando cada um. A viagem parecia de certo modo, fazer bem a eles.

Ao amanhecer, abasteceram novamente os veículos, e depois de verificarem em algumas casas e no pequenino comércio da cidade o que poderiam aproveitar, saíram para seguir sua jornada. Três dias e meio depois, chegaram à cidade de Democracia, o que pode parecer até uma ironia, já que o mundo está sem governo e sem leis. Mais da metade da BR 319 fora deixada para trás, e agora o caminho segue.

Democracia é tão pequena quanto Nova Olinda do Norte, podendo parecer até menor. Esse quase vilarejo acabou oferecendo a eles, o que já estava em falta nos últimos dias, água. Conseguiram inclusive tomar um banho no pequeno reservatório local, abandonado por falta de uso. Encontraram por lá alguns zumbis, talvez de moradores desinformados ou que não conseguiram deixar o local antes de serem infectados. Não era um problema que não pudesse ser resolvido por Daniel, Alex, Andressa e Victoria. O grupo armado com facas e martelo eliminou os zumbis que os atacaram em pouco tempo, já que o número de monstros era pequeno.

Novamente se abasteceram e se reorganizaram para continuar a viagem rumo ao desconhecido. Teriam uma boa parte da viagem seguindo apenas a estrada, já a próxima possível parada seria apenas em Humaitá, quase na fronteira com Rondônia.

Avançaram pela estrada e um traço de confiança era notável no rosto de cada um, é óbvio que era notório a insatisfação por não se ter um local fixo, por ter de dormir com um olho aberto e o outro fechado, mas, além disso, poderia se detectar a satisfação por estarem avançando no trajeto, no início não sabiam nem se conseguiriam sair de Manaus, agora que já estavam perto de completar um importante estágio da viagem, sentiam-se melhores, interna e externamente. Porém ainda falta muito para completar o objetivo.

Daniel usava as roupas de Gabriel, já que não tinha roupas próprias, e apesar da diferença de altura entre os dois, era melhor isso do que nada. Andressa cedeu algumas de suas roupas a Victoria, já que a moça estava quase que completamente nua, o quase seria o jaleco sujo que usava para cobrir seu corpo. Ambos decidiram não mexer nas coisas de Isabelle, queriam guardar do jeito que ela havia deixado, manter seu traços, seu cheiro. As roupas de Gabriel foram “violadas” por não haver outra forma para Daniel se vestir, mas entre todos havia o respeito pelos mortos, independentemente de religiosidade.

Depois de um cansativo trajeto pela estrada, eles finalmente chegaram a Humaitá, que já era uma cidade um pouco maior que as anteriores, por tanto era necessário um cuidado maior tanto com os mortos, quanto com os possíveis vivos, não queriam ter novamente nenhuma experiência traumática com pessoas.

O comércio de lá já era um pouco mais desenvolvido, na feira local coletaram algumas frutas e outros produtos que não consumiam há tempos. Arrombaram um bar e o escolheram para passar a noite. Do lado de fora se ouviam os já conhecidos grunhidos dos zumbis, porém evitaram um confronto com os monstros e ficaram quietos, passando a noite evitando problemas.

Mais uma vez, como já habitual, reabasteceram e seguiram caminho. Estavam próximos da divisa dos dois estados, a próxima parada seria exatamente em Porto Velho, já em Rondônia. No transcorrer desse trajeto, um problema apareceu, o pneu da camionete estourou e eles não tinham estepe, tiveram então que levar as coisas para a van e seguir caminho todos no mesmo veículo. Para dirigir durante um dia inteiro, dividiam-se em turnos, com todos pilotando o carro por pelo menos seis horas, isso era necessário para que ninguém dormisse ao volante e causasse algum acidente. Eles não parariam até chegarem a capital rondoniense.

Somada as paradas, estavam na estrada há praticamente uma semana, um tempo longo, mas se somarem todas as pausas na própria estrada, entende-se a demora. Eles não podiam seguir a viagem de forma robótica, por tanto paravam em local apropriado para descansarem, tiravam o carro da estrada e dormiam ali mesmo. Às vezes, ao chegarem a cidades menores, com praticamente nenhum perigo, chegavam a cogitar a possibilidade se instalarem por lá. Essa ideia era refutada pelo pensamento de que os recursos dessas pequenas localidades, logo se esgotariam, e de que os zumbis poderiam sim migrar, não de forma pensada, mas atraídos pelo próprio barulho dos carros, enfim, não achavam essa possibilidade totalmente segura, preferiam seguir seu objetivo maior e continuar seguindo a estrada.

A BR 319 tomou novos ares, eles chegavam agora no Estado de Rondônia, e ela se transformara em BR 364, o primeiro objetivo havia sido alcançado, o grupo chegara a Porto Velho. Porém assim como Manaus, a capital e localidade com a maior concentração de pessoas estava caótica. O número de zumbis era três vezes maior que a quantidade que haviam encontrado na estrada durante todo o trajeto. Estavam passando por tudo aquilo de novo. Quando o carro adentrou a capital e a viram naquela situação, optaram pela mesma estratégia da tomada em Manaus antes de saírem, evitar as partes centrais e se deslocarem por atalhos e pequenos bairros, onde a concentração de monstros era menor.

Assim fora feito, esquivaram-se dos monstros e seguiram pegando ruas estreitas e caminhos alternativos, a única diferença entre a situação de Manaus e Porto Velho, era que nenhum integrante do grupo conhecia Porto Velho.

Depois de algum tempo rodando eles já estavam completamente perdidos, não faziam ideia de como sairiam dali, a única informação que tinham era que a próxima cidade era Santo Antônio, e para chegar lá era necessário voltar para a BR 364. Pararam o carro em um posto, e desceram com muita cautela. Alex segurava seu facão, And tinha uma faca e a outra dera a Victoria que a segurava firmemente na mão esquerda, já que ela era canhota, Daniel tinha na mão o martelo “herdado” de Beto, todos estavam preparados para um conflito que poderia ocorrer a qualquer instante.

Já que estavam perdidos, Alex decidiu parar no posto para que eles reabastecessem e procurassem algum mapa ou alguma indicação de como chegariam a BR novamente. Cautelosamente adentraram a lojinha de conveniências do posto, foram Alex e Andressa, enquanto Daniel e Victoria enchiam o tanque e tratavam da segurança externa.

Alex e And entraram com todo o cuidado no local, apesar de estar de dia, a loja estava escura, sua porta já estava arrombada, o que demonstrava que o local já havia sido violado. Seguiram andando cautelosamente no local até ouvirem um barulho, um derrubar de prateleira, os dois se posicionaram para o ataque até escutarem uma voz masculina dizer:

–- Parados aí! Seja quem for, é melhor não tentar nada! Eu tenho um... Uma arma bem letal e não tenho medo de usá-la! – Os dois se espantaram a primeiro momento, mas depois ao raciocinar, Alex respondeu:

–- Estamos em maior número, não vamos fazer nada! Sai daí do escuro! – Depois de uma breve pausa, a voz respondeu:

–- Como você sabe se está em maior número... Eu posso estar em dez aqui atrás...

–- Sai logo daí, eu sei que está sozinho! – Voltou a dizer Alex.

–- E porque eu faria isso?!

–- Porque nós estamos com as armas abaixadas! – Disse Alex após abaixar seu facão e fazer com um gesto de mão que Andressa também abaixasse sua faca.

A voz foi deixando lentamente das sombras, via-se que ela caminhava com dificuldade, estava mancando. A voz transformou-se em penumbra e a penumbra na figura de um homem branco com quase 1,85m de altura, beirando os 95 kg, olhos claros, barba rala e mal feita, além de tatuagens aparentes nos braços, vistas por conta da camisa preta sem mangas que usa. O mesmo demonstra ter cabelo enrolado curto, porém o esconde com um boné de aba reta, típico de fãs de hip-hop, com as inscrições “L.A. Lakers”, usa também uma calça jeans com uma parte rasgada na canela, mas não proposital, ali havia um ferimento.

Alex logo percebeu o sangue que escorria de sua perna pelo ferimento desconhecido e ficou cauteloso, não sabia se aquilo poderia ser uma mordida e preferiu manter distância, após seus olhares se confrontarem, Alex disse:

–- Olá! Me chamo Alex, esta é Andressa, não se preocupe, não vamos fazer nada! – Disse estendendo a mão para cumprimentar o homem. Após um levantar de sobrancelhas desconfiado do rapaz de aproximadamente 40 anos de idade, houve uma resposta:

–- Olá... Rubão! – Disse apertando a mão de Alex. Rubão tinha em mãos um taco de baseball.

–- Essa é sua arma letal? – Perguntou Andressa.

–- Intimidação gata... A melhor arma! Além do mais tenho certeza que o meu taco poderia ser sim bem letal! – Respondeu ele com um sorriso debochado no rosto.

–- Eu tenho nome, grandão, é melhor me chamar por ele! – Disse And raivosa.

–- Whatever! – Respondeu ele a encarando.

–- Você foi mordido? O que foi isso na sua perna? – Perguntou Alex tentando impedir um clima não amistoso.

–- Eu caí sobre a prateleira de bebidas...

–- Bem letal! – Diz Andressa com um sorriso no rosto.

–- Estava escuro, acabei cortando a minha perna em uma garrafa de whisky barato! – Disse novamente Rubão.

–- Você é daqui? – Perguntou Alex.

–- Sim e não... – Respondeu ele.

–- Não importa... Você sabe como podemos chegar a BR 364? Estamos perdidos! – Perguntou Andressa, que entendeu ser essa a intenção de Alex ao confrontar Rubão.

–- É claro que sei!

–- Então... Como podemos chegar lá? – Perguntou ela novamente.

–- Me levando como guia!

–- O que?! – Perguntou ela.

–- Feito! – Respondeu Alex, Rubão sinalizou que iria pegar suas coisas ao fundo e enquanto isso Andressa puxou Alex pela borda da camisa trazendo-o para perto de si e lhe confrontando baixo:

–- Tá maluco! Vai trazer esse doido com a gente?!

–- Imagina só o tempo que poderia levar pra gente conseguir sair de Porto Velho sozinhos! O destino nos jogou esse cara que conhece a cidade, vamos deixar acontecer! – Respondeu Alex.

–- O destino tá de sacanagem! – Exclamou ela insatisfeita.

Rubão trouxe suas coisas, uma grande mochila, parecida com a que se usa para acampar, junto com um violão envolto de uma capa preta. Os três saíram da loja de conveniências e foram andando até Daniel e Victoria, que esperaram dentro do carro. Ao sair Rubão disse a Andressa:

–- Gostei de você!

–- Não posso dizer o mesmo! – Respondeu ela em tom de frustração. Rubão soltou uma alta e grossa gargalhada, e os dois seguiram até a van.




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Notas finais do capítulo

Esse foi o primeiro capítulo do segundo ato, espero que tenham gostado. Comentem, opinem e continuem acompanhando!

PS.: Eu demorei a postar por conta de fatores externos, mas voltarei a postar constantemente se nada mais ocorrer. Acreditem, eu nunca abandonarei essa fic, ela se tornou minha paixão, e é claro que devo isso a vocês!







Säteily



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