Sinto os raios de sol passando pelas brechas da cortina e me remexo na cama de um jeito preguiçoso aspirando profundamente o cheiro do quarto sendo atingida pelo forte aroma amadeirado de Jacob, mais forte do que o normal. Imagens da noite de ontem tomam minha cabeça, o jantar, o beijo, a briga e a volta do morador sumido dessa casa, essa ultima parte me fez querer ficar de olhos fechados para não encarar os problemas que viriam como conseqüência disso.

Pensei na possibilidade de não acorda agora e me viro na cama procurando uma nova posição confortável, precisava admitir que senti falta de dormir na minha cama e o sofá tinha me rendido péssimas dores nas costas. Ouço um barulho vindo do banheiro que me faz abrir os olhos a contra gosto, bufo irritada, mas o barulho se repetiu como se todos os vidros estivessem quebrando juntos.

Corro em direção ao banheiro para descobrir a origem do estrago e sinto corpo travar na porta ao me deparar com a cena; Jacob estava de toalha com parte do corpo ainda molhado e por um segundo acompanhei todo o trajeto de uma gota, que passou por todo seu abdômen ate se perder na parte que a toalha cobria, sinto meu rosto ruborizar. Ao lado dele estavam alguns perfumes quebrados sobre a bancada da pia e no seu rosto um olhar de espanto como se tivesse sido pego fazendo arte pela mãe.

— Bom dia – ele falou coçando a cabeça – Não queria te acordar, tentei não fazer barulho

— Bom dia – solto um sorriso involuntário ao ver seu nervosismo – Acho que quebrar o banheiro não é um jeito de evitar barulho.

— Isso, ah...foi sem querer  - ele fala apontando para a pia – Fui pegar minha loção de barba, tinha certeza que estava nesse armário. – ele diz mostrando a embalagem – Só que tinham outras coisas e acabaram caindo.

— Tudo bem – digo simplesmente, eram só perfumes.

— É que não tinham essas coisas antes então não tomei cuidado a culpa é minha  - ele fala, mas logo para e me encara – Essas coisas sempre estiveram aqui, não é? – pergunta e apenas afirmo com a cabeça, ele já sabia a resposta. – Preciso me acostumar com isso. – fala tentando catar os vidros caídos.

— Para com isso você vai se cortar – digo tomando o vidro da sua mão desajeitada e acabo cortando meu dedo. – Droga!

— Calma – Jacob diz pegando meu dedo e analisando o corte, o contato das nossas peles me atinge como uma corrente elétrica e balanço a cabeça tentando focar novamente. – Não foi fundo, está doendo?

— Não, estou bem só precisa lavar – Digo e puxo minha mão com certa rapidez queria quebrar aquele contato imediatamente. – Ta tudo bem, a faxineira vem hoje ela pode arrumar tudo.

Ele fica me encarando por um tempo e não consigo identificar nada no seu olhar, na verdade é bem estranho e sem querer faço uma cara estranha ao tentar entender o porquê disso, ele percebe e concorda com a cabeça saindo do banheiro em direção ao closet, calado.

Estou convivendo com uma pessoa nova, nada nele parece nem de longe quem conhecia, ate seu olhar era novo para mim. Não sei se isso era bom, algo em mim dizia para tomar cuidado estava dividindo teto com um estranho, mas talvez isso fosse melhor do que dividir com Jacob. Sem pensar muito começo a tomar banho na esperança de que todas as minhas incertezas possam cair pelo ralo.

Visto uma regata e um short jeans com chinelo de dedo, a presença de outra pessoa na casa não iria mudar meu jeito largado de passar o fim de semana. Desço a escada sentindo um cheiro forte de café vindo da cozinha, penso que ele pode estar lá,mas me surpreendo ao ver uma mulher loira sentada na bancada com uma xícara na mão.

— Er... Bom dia? – Soou mais como uma pergunta

— Bom dia – Ela sorria de um jeito animado, um sorriso como se me conhecesse – Deve ser Renesmee, certo?

— Sim – digo e ela fica em pé, ela parece extremamente alta devido aos sapatos pretos que combinam perfeitamente com o terninho de advogada na meia idéia, mas ela era nova – Eu deveria conhecer você?

— Oh, não, essa minha mania de sair falando com as pessoas cheia de intimidade – ela diz rindo – Sou Serena, psicóloga de Jacob. – e estende a mão para mim aumentando ainda mais o sorriso

— Prazer – digo retribuindo de bom grato.

— Você é a tão famosa Renesmee – diz me olhando como se lesse minha mente – Devia imaginar pelo efeito que causa neles.

— Como? -  questiono sem entender

— Oh nada, olha eu de novo analisando as pessoas sem controle – ela ri e volta a sentar no lugar anterior – Não consigo parar de trabalhar um minuto, bom estou esperando Jacob, ele saiu para atender ao telefone e me deixou aqui tomando café, espero que não se incomode. – ela fala meio apreensiva

— Imagina, você quer alguns cookies para acompanhar? -  Pergunto

— Não, dieta – ela ri, seu corpo era digno de uma modelo parecia surreal ela realmente achar que precisa disso. – e um pouco de ressaca também. – fala rindo

— Então é melhor ficar só no café mesmo – digo rindo e andando pela cozinha para pegar uma geléia para mim. – A primeira consulta é hoje?

 -Não, começamos assim que ele saiu do hospital – fala – Quil me indicou bem cedo.

Quil, tinha me esquecido dele por um momento, nos havíamos nos beijado isso era outro problema que precisa entender. Talvez tenha sido sem querer, mas as palavras dele e o beijo estavam na minha cabeça martelando agora.

— Ta tudo bem com você? – ela estalou os dedos na minha frente

— Ah sim, mas Quil me levou a outra psicóloga quando precisei – falei tentando evitar que ela perguntasse sobre meu momento estranho.

— É uma amiga minha, creio que ele não achou bom misturar por conta de você ser próximo de Jacob – Ela diz ­– E estar envolvida sabe, coisas de Quil.

— Acho que entendi – falo e começo a passar a geléia no pão de um jeito despreocupado

—Desculpa à demora – ele entra falando e para ao me ver – Bom acho que vocês se conheceram.

— Sim, tive uma ótima companhia não se preocupe com a demora – sorrio para ela, tinha simpatizado com toda certeza.

— Bom vamos para o escritório – ele diz indicando o caminho – Er... ate mais – ele diz para mim e apenas aceno com a cabeça.

Quase não sentia fome, o assunto de Quil tinha me deixado desanimada para terminar as torradas, fui ate a sala encontrando meu celular que piscava indicando que havia recebido mensagens, resolvi ler.

#Quil – 23:30

Desculpe pela confusão, espero poder me redimir depois

Durma bem, beijos.

Leio rápido e passo para aproxima

#Quil – 4:00

Espero que a mensagem não te acorde, apenas queria dizer que não consigo dormir sem saber qual sua reação depois de tudo, sinto muito se fiz o que não devia.

Me ligue quando puder.

Beijos

#Tia Rose – 5:20

Precisamos conversar, estou de volta. Temos assuntos pendentes, por favor, se Billy te procurar recuse qualquer encontro, ele também voltou.

Se cuide, saudades.

Meu corpo gela com a ultima mensagem, como assim Tia Rose estava de volta? E Billy? Eles tinham sumido juntos afinal? Não fazia idéia de do que estava acontecendo.

Fazia quatro anos que Tia Rose e Billy tinham sumido do mapa, na verdade a ultima vez que os vi tinha sido meses antes do meu casamento, Sarah esbravejou quebrando moveis pela casa na época que havia sido abandonada pelo marido fugido com a empregada, nunca acreditei nisso ate agora.

 - Renesmee, lembrei – vejo Jacob saindo do escritório empolgado me agarrando em um abraço apertado e me suspendendo no ar, quase fico sem fôlego – Quer dizer, não lembro de tudo mas lembro de algo.

— V-você lembra? – pergunto apreensiva, meu coração perde uma batida.

— Lembro do seu pai – ele diz sorrindo. Fico parada sem qualquer reação.

Era impossível que Jacob se lembrasse do meu pai, conheci os Black depois da morte dele, ninguém os conhecia além de Tia Rose, claro.

—Jacob é impossível – digo e vejo sua expressão de confusão.

— Tenho certeza – ele diz confuso – Lembro do rosto dele era igual ao seu tenho certeza, lembro dele me mostrar à foto de uma menininha e dizer que era sua filha. A menina da foto é a mesma do porta retrato que tem no escritório, lembro dele dizer seu nome.

Paro por um segundo e lembro-me do dia em que desmaiei no hospital, antes de apagar estava pensando na minha mãe, mas especificamente um telefonema feito por ela.

Lembro da voz da minha mãe dizendo, lembro com clareza.

— Ele não é mais o seu amigo tenha cuidado, se acalme. – fala desapontada –  Você sabe que nunca gostei do Black.

“Você sabe que nunca gostei do Black” Lembrava daquela frase, lembrava muito bem de todo aquele dia... foi o dia em que meu pai morreu.

Empurro Jacob para longe em um instinto automático corro para o lado contrario encostando-me à parede.