Paradise escrita por Izadora


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Então pessoal,esse capítulo ficou meio triste.
Não me odeiem.

Vai chegar uma parte,que eu recomendo que coloquem essa música aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=lK9eKXyoOKg
[só preciso da música,vídeo é desnecessário.Mas só se quiserem mesmo]
Boa leitura.



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POV Katniss

Eu pisquei os olhos com força.Uma,duas,três vezes e olhei a cena novamente.

A mão de Peeta que apertava minha coxa escorregou e ele a levou aos olhos,esfregando-os,como se houvesse um cisco ali.A outra,com os dedos muito frios e as palmas quentes,continuava envolvendo minha cintura e eu francamente não sabia se queria que ele a tirasse.

No puffe –era o do quarto de Peeta?- estavam Gale e Madge.

Até aí,nada de muito estranho.Mas Gale estava sobre Madge,sem a camisa,enquanto se beijavam selvagem e fervorosamente,como não houvesse nada mais que os causasse mais desejo que os lábios um do outros.

Eles nem olharam em nossa direção.Estavam ocupados demais.Não fiquei muito tempo olhando,embora uma bolha de uma felicidade queimasse sobre meu peito e eu estivesse sorrindo largamente,me permitindo até mesmo uma gargalhada baixa e discreta.

Peeta também sorria.E olhar para ele me fez recobrar a razão,erguendo as mãos até a sua e tirando-a de mim.Peeta entreabriu os lábios e tentou dizer alguma coisa,mas eu já estava no corredor.Ele me seguiu.

Entrei em meu quarto e bati a porta com força,mas a julgar por seu gemido abafado e a porta parando ao meio do caminho,ele colocou o pé.

–O que você quer?-Perguntei.Minha garganta queimava e as batidas de meu coração estavam descompassadas e retumbantes.A felicidade por Gale e Madge se esvaiu de dentro de mim,enquanto Peeta entrava e fechava a porta ás suas costas.

–Ah,não.Espera.Me deixa adivinhar...-Ironizei.-Você quer pedir desculpas por ter quase me beijado.Vai dizer que,embora quisesse,não era o certo...E então eu vou dizer que está tudo bem e vamos voltar a ficar felizes e harmoniosos por aí.

Ele me olhou,incerto.

–Que quer dizer?

–Que não está tudo bem.Que eu tento fingir que está mas não está.Olha só para nós dois!Não conseguimos sequer tentar uma relação civilizada,sem que você me agarre no elevador!-Sibilei.

–O que você quer de mim?-Ele perguntou,com a voz alta demais.

–Shh...-Disse,apontando a sala.-Pelo amor de Deus Peeta!Você está noivo.Vai se casar em questão de cinco,seis dias...Quem tem que decidir o que quer é você.Eu não vou ser “a outra”.

–Decidir o que eu quero.-Sua voz estava branda e magoada.-Já parou para pensar durante um segundo que tudo o que fiz pode ter sido mais por você que por mim?Terminamos porque você disse que seria melhor assim.E quer saber?Não foi.

Por um segundo eu fiquei sem fala.Apenas ali,parada,olhando para ele e tentando processar o que ele havia dito.Meu telefone tocou,dessa vez com algo mais suave que Nicki Minaj.

–Quando gostamos mesmo de alguém,não deixamos que desistam do mundo deles pelo nosso.-Eu disse,esperando que a voz não tremulasse,e levei a mão ao bolso para atender.

No visor,o nome de minha mãe piscava.Eu atendi,e o desespero na voz de minha mãe apertou meu coração como uma mão de ferro.

Katniss?Graças a Deus você atendeu.-Ela estava...chorando?

–Calma mãe...Respira.O que aconteceu?-Perguntei.

Katniss...é o seu pai.Ele deu outra crise.–Ela soluçou,e o aperto em meu coração chegou a ficar sufocante.

Meu pai tinha problemas de pressão e cardíaco.Nesse ano,ele já teve cinco crises e elas se agravavam cada vez mais.
Meu medo de perdê-lo era descomunal.Mais ou menos dois meses antes da viagem para o Hawaii,ele teve uma recaída horrível.Ficou internado durante um mês inteirinho,e eu mal saía do hospital.Quando teve alta,eu quase não fui na viagem para ficar com ele.

Ele fazia piada com os problemas dele,pois segundo meu pai,o senso de humor é uma das melhores maneiras de não sentir dor.Mas a dor é necessária,e eu a sentia por mim e por ele.

Ele me assegurou que estava bem,e depois de muito tempo conseguiu me convencer á ir.

Senti meus olhos queimarem.

–Onde ele está?

Hospital de Santa Monica.–Ela responde,com a voz embargada.

–Estou indo para aí.-Respondi e desliguei,com a voz trêmula.Peeta me encarava.

–O que aconteceu?-Ele perguntou.

–Meu pai...ele está no hospital.-Respondi,pedindo aos olhos que sossegassem e se mantivessem firmes.Apanhei uma blusa qualquer e uma jeans e me tranquei no banheiro.
Não desfiz o cabelo e tirei a maquiagem de qualquer jeito.Por favor,não poderia ser dessa vez...

Quando saí,Peeta já havia mudado de roupa.

–Eu te levo no hospital.-Ele disse.

–Obrigado.-Eu murmurei,e minha voz saiu falha e vacilante.

Ele não sorriu.O único movimento que fez foi abrir os braços,e isso bastou para que eu me enterrasse em seu peito e soluçasse.Em segundos minhas bochechas estavam molhadas e sua camisa –justo a de linho- com uma poça.

Ele acariciou meu cabelo,e continuou calado.E isso foi bom,porque ás vezes é só do que a gente precisa: uma mão no ombro,um abraço apertado e o silêncio.Alguém que ache nossas tristezas as maiores do mundo,que não julgue nossas lágrimas e que ao menos tente compreender a nossa dor.Que nos mande calar a droga da boca,mas nos deixe soluçar até estremecer e que nos impeça de fazer o impensado.

No momento,só Peeta poderia me dar isso.E eu aceitava de bom grado,agindo como a hipócrita mesquinha que sou.Esquecendo o aviso de Jason,esquecendo que deveria me afastar.Eu estava precisando de um ombro,e ele estava ali.Além do mais,eu não queria o ombro de mais ninguém.

–Shh...-Ele sussurrou.-Calma,vai ficar tudo bem.Você está pronta?

Peeta passou o dedo frio pelas minhas lágrimas quentes e as enxugou.Peguei a bolsa que estava largada sobre a cama e enfiei o celular dentro.
Ele me estendeu a mão.Eu olhei com receio.

–Vamos,é só uma mãozinha.Você está precisando manter os pés no chão,e eu te ajudo a se segurar aqui.

Eu não recuei quando ele envolveu os dedos nos meus.Tão embora minha mente estivesse berrando com um megafone que eu estava caindo em tentação,eu não ofereci resistência nenhuma.

Quando entramos na sala,ela estava vazia.Porém,pelo volume das risadas,a brincadeira no quarto estava divertida.Eu decidi não dizer a eles onde estávamos indo,por pressa e receio de interromper.

Descemos o elevador em silêncio.Eu mantenho o olhar fixo á parede,e os pensamentos vagos,sentindo apenas Peeta ali,colado ao meu ombro.

Parei para pensar um instante,e olhei para ele.
Nós brigávamos feito crianças,mas nos desejávamos como adultos.

O caminho para o hospital se passou num silêncio pesaroso.Ele estendeu a mão e ligou o som.A pior música que poderia tocar no momento,tocou: Let It Be,dos Beatles.

Eu preferia que tocasse Show das Poderosas.Juro.Ao menos não me deixaria pior do que eu já estava.

–Quer que eu mude?-Ele perguntou.Acho que percebeu minha palidez,e eu contorcia os dedos de nervosismo.Neguei com a cabeça.

Mesmo que me causasse uma pontada dolorosa no peito,a música era bonita,e a letra mantinha minha cabeça no lugar.

Recostei a cabeça no banco e me encolhi como uma bola.Peeta me olhou com doçura,como se quisesse absorver a minha tristeza,na esperança de tomá-la para si.

Desviei os olhos e os fechei.

–No que está pensando?-Ele perguntou.

–Na verdade,estou tentando não pensar.-Respondi.Depois disso,ele não falou mais.

X

Quando chegamos ao hospital,encontramos minha mãe e Prim na sala de espera.Ambas tinham os sintomas de uma noite péssima: olhos marejados e inchados,rosto vermelho,bochechas molhadas.Minha mãe se jogou em mim e me envolveu,depositando a cabeça no meu ombro e soluçando.Prim se juntou á nós,e durante alguns minutos ficamos ali,de olhos fechados e passando para cada uma o nosso pesar.

Nos separamos,e minha mãe enxugou os olhos.

–Como ele está?-Perguntei,baixo.

–Por enquanto,estável.Mas o estado é grave.-Ela responde.Seus olhos azuis como o de Prim,agora tão encharcados,se assemelham como nunca ao mar.

–Mãe,leva a Prim pra casa.Toma um banho e descansa,eu fico aqui.-Eu disse e olhei para Peeta.

Ele acenou levemente com a cabeça.Minha mãe sorriu para ele,mas pareceu frágil.

Depois de muita relutância por parte de mamãe e Prim,eu consegui convencê-las a ir para a casa e voltar pela manhã.
Pelo visto,passaria mais uma madrugada em um hospital.

Mas,mal eu e Peeta nos sentamos no banco,uma enfermeira apareceu.Em seu crachá,li o nome “Tracy” impresso.Ela checou nomes em uma lista e anunciou para os poucos cinco que estavam na sala:

–Família de Edward Thomas Everdeen.

Me levantei de um salto,com o estômago envolto em gelo.

–Somos nós.-Disse,e apertei o braço de Peeta com força.

–É melhor virem comigo.-Ela disse,no tom neutro que toda enfermeira usa.

Ela nos conduziu por um corredor branco e bem iluminado.Cada passo que eu dava,meu batimento cardíaco acelerava e eu segurava o braço de Peeta com tanta força que chegava a machucar.

Tracy abriu uma porta com o número 501 e nós entramos.Em seguida,ela a fechou,nos encerrando da depressão hospitalar.
O quarto de meu pai chegava a ser tranqüilo.Paredes brancas e azuis,uma única cama com –meu coração se esmagou ainda mais- vários aparelhos ligados,um sofazinho pequeno com lugar para duas pessoas e ele ali,deitado.

Estava pálido e fraco.Havia um tubo enviando oxigênio para suas narinas e fios em seus pulsos,peito e pescoço.Seus cabelos ligeiramente grisalhos estavam bagunçados e ele nunca me pareceu tão velho.

–Katniss...-Ele sussurrou.Eu soltei o braço de Peeta e segurei suas mãos.Estavam quentes.

–Pai,eu pedi á mamãe que fosse para casa.-Me desculpei.Meu pai sorriu.

–Tudo bem.Ela já veio aqui.Eu só queria te ver,caso...

Ele não terminou de falar.Ele não precisava.A verdade pairava sobre nós,pesada e dolorosa demais para se pensar.

–Foi só mais um susto.-Eu disse,mais para mim do que para ele,sentindo os olhos queimarem mais que nunca.

Peeta esperava calado,atrás de mim,com as mãos nos meus ombros.Acho que ele diria alguma coisa,se houvesse algo para se dizer.
A máquina que media os batimentos cardíacos apitava,com espaços de tempo maiores.O “Pi...Pi...Pi...” parecia algo apocalíptico aos meus ouvidos,e eu queria que ela ficasse em silêncio como o resto de nós.

–Eu já agüentei o que tinha de agüentar.-Meu pai disse,e sorriu mais uma vez.As lágrimas molharam minha bochecha,e eu não lembro de elas terem começado.

–Não,pai.Não...-Eu murmurei,perdida.

Ele suspirou sofregamente e fundo.Meu pai era um homem forte,um homem corajoso.Eu não queria que ele admitisse a derrota daquele jeito.Eu não queria.

–Só entenda,-Ele disse.- que acabou para mim.Eu fui tudo que queria ser: um bom marido,um bom sujeito e um bom pai.Você e Primrose são a prova viva disso.

Eu apertei sua mão.Meu pai ainda sorria,e eu não entendia o motivo daquele sorriso.Mas eu gostava.

–Eu não vou te dizer para não chorar.-Ele continuou.-Eu conheço a dor da perda mais do que qualquer um.

–Pai,por favor,não fala isso.-Eu disse,trêmula.

Ele me ignorou,e continuou,com os olhos lacrimejantes:

–Só preciso que se lembre de duas coisas.A primeira,é que ás vezes,tudo pode parecer escuro,mas a ausência de luz é algo necessário.Apenas tenha certeza de que nunca estará sozinha.

A máquina continuava ao meu lado.Pi...Pi...Pi...

–A segunda,-Meu pai conseguiu dar aquele sorriso largo e brincalhão,que o fazia parecer uma criança.- É que,quando eu me for,não se esqueça que ainda estou por aí.Eu só dei um tempo da terra,pra levar um pouco de alegria para o céu.

Ele passou o dedo pelo meu rosto,como Peeta fizera mais cedo.

Depois,seus olhos se fecharam com tranqüilidade.Sua mão afrouxou da minha,e a que estava em meu rosto caiu.

O barulho da máquina se tornou torturantemente uniforme.

O gosto das lágrimas salgou minha boca.


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Notas finais do capítulo

Pois é,eu nem tenho muita coisa pra falar sobre o final desse.
Triste?Sim.Mas necessário.
Boa notícia: GADGE FINALMENTE SE ACERTOU

Agradecendo ás maravilhosas e divas Victoria Luiza e Devoradora de Livros que me levaram á sétima recomendação.MUITO OBRIGADO MESMO O/
Eu,particularmente,não queria postar meus agradecimentos em um cap. tão fúnebre,mas...