Paradise escrita por Izadora


Capítulo 20
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

"Quero dizer,a vida é apenas desagradável.E não há lado bom." - Jennifer Lawrence como Tiffany Maxwell.
Esse capítulo foi um pouco difícil de se escrever para mim,porque eu detesto quando meus próprios personagens [da tia Suzzie no caso] se sentem mal.
Mas espero que gostem.
BOA LEITURAA



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POV Katniss

Mas só podia ser brincadeira.Porra,de novo a tal Debby?

O que me tranquilizou foi que Peeta parecia quase tão surpreso quanto eu.A mãe dele,uma mulher alta,de aparência requintada e cabelos louros como os do filho se levantou também.Tinha olhos pequenos e castanhos,frios.Ela abriu um sorriso indecifrável e abraçou Peeta,logo depois dando-me um beijo em cada bochecha.Em seguida seu pai,um homem mais atarracado,com bastos cabelos louro-platinados e os mesmíssimos  olhos grandes,bondosos e azuis em que eu tantas vezes me perdera,abraçou o filho e beijou-me a superfície da mão.

-Hum...Peet,não vai nos apresentar sua...amiga?-A mãe disse.Debby estava parada á um canto,de braços cruzados e cara de...aquela palavra feia que começa com C.É,cu.

-Pai,mãe,essa é Katniss Everdeen,a minha namorada.-Peeta disse,segurando minha mão com mais força.-Kat,esses são Linda e Ernest,meus pais.

A mãe pareceu prestes a ter um surto de histeria,mas o Sr.Mellark abriu um largo sorriso.

-Então essa é a famosa Katniss,huh?-Ele perguntou,beijando minha mão mais uma vez.

-Famosa?-Perguntei,erguendo as sobrancelhas.Sr.Mellark soltou uma gargalhada sonora.

-Bastante,eu diria.Ele não parava de falar do quanto você era “insuportavelmente linda”.

-Pai.Por favor.-Peeta pediu,constrangido.Eu ri.Debby revirou os olhos.A Sra.Mellark me olhava de cima a baixo.Parecia que eu era alguma coisa nojenta grudada na sola de seus sapatos Gucci.Debby me olhava quase com descaso,e o Sr.Mellark parecia,por um lado completamente diferente,maravilhado.

-Hum...Já que já estamos todos aqui,que tal irmos logo para a sala de jantar?Suponho que a comida já esteja pronta,e logo depois voltaremos á esta sala para um excelente chá.-Notei então que Ernest tinha um leve sotaque britânico.Me encaminhei para a sala com uma sensação horrível na boca do estômago.

x

Em minutos estávamos todos sentados em uma elegantíssima sala de jantar,sobre uma mesa de mogno polido.Á direita,a lareira crepitava com um fogo aconchegante,e sobre nossas cabeças um lustre de cristal cinco vezes maior que o do apartamento reluzia.Flores estava em toda parte,desprendendo um perfume delicado que entrava em perfeito contraste com a música erudita baixa que soava por todo o local.Era tudo de um requinte tão brutalmente imposto que eu a princípio me senti nervosa.  Não que eu não tivesse educação e não soubesse me portar nessas situações.Pelo contrário,eu cresci nesses ambientes.Mas a Sra.Mellark estava tão,tão atenta a mim,que parecia estar rogando alguma praga para que eu errasse feio.

A entrada veio.Uma sopa vermelha e caudalosa,fumegante,em uma tigela pequena,em uma bandeja de prata.Eu sabia o que era aquilo.Meu pai a chamava de “Zuppa”,sopa em italiano,mas o verdadeiro nome era “Rubrum Pulmenti.*”Era uma sopa –caldo,na realidade- feito com frutas vermelhas,canela e erva-doce.

Começamos a tomar.Durante alguns segundos,eu me surpreendi ao não encontrar no ar,nada além do barulho das colheres batendo contra as tigelas.A “Zuppa” estava deliciosa.No ponto exato,o gosto agridoce das frutas ácidas com o doce da canela e da erva explodiam dentro de minha boca.

-E então,Katniss...O que pretende fazer da vida?-Perguntou o Sr.Mellark, enxugando o canto da boca com o guardanapo de linho.

-Publicidade.-Respondi simplesmente.Ouvi um risinho vindo do outro lado da mesa.Ergui os olhos para encontrar os da Sra.Mellark.

-Publicidade?Que promissor.-Ela disse.Seria o sarcasmo em sua voz?.-Debby aqui está fazendo direito e medicina,em Princeton*.E você?UNCLA**,suponho.

-Na verdade,-Disse eu,começando a me irritar.Peeta que me perdoe mas a mãe dele é um saco.- eu vou para Stanford***.

Os olhos dela se arregalaram.Sim,era verdade.Eu sempre fui uma excelente aluna,e meu tio mandou uma carta de indicação.Eles gostaram,pelo visto.

-Uau,isso é incrível.Meus parabéns.Peeta também estava pensando em ir para Stanford,mas nunca nos deu uma resposta certa.-Sorriu Ernest.

-Bolsista?-Debby perguntou,em sua voz irritantemente esganiçada.Tornei para ela.

-Sim.-Respondi,seca.

-E acha que chegará em um nível bom fazendo apenas publicidade?-Sra.Mellark disse.Peeta interveio:

-Em Stanford.

-Mesmo assim.Nunca chegaria ao nível de um médico,empresário como seu pai ou um advogado.-Ela respondeu,fria mesmo com o filho.

-É o que eu gosto de fazer.-Respondi.

-As pessoas não chegam onde nós estamos fazendo o que gostam.

-Linda...-Pediu o Sr.Mellark.Linda sorriu,afetada.

-Onde estamos?-Perguntou Peeta.

-Na Classe A,obviamente,querido.E essazinha aí...Debby me contou t...

-E se eu não quiser chegar onde vocês estão?-Interrompi eu,com certo despeito.Não nasci para ficar aturando falação de uma mulher como aquela.

-Então seria uma tola.-Ela respondeu.Debby gargalhou,satisfeita.Peeta estava suando frio,e o Sr.Mellark permanecia calmamente sério.Jake  nos trouxe algumas taças de vinho.
Sorvi um gole,esperando a coragem que proviria do álcool.

-Não é uma decisão que cabe a você,Sra.Mellark.-Eu disse,em um tom perigosamente baixo.Ela me encarou.Debby riu mais um pouco,e Peeta estava á beira de um colapso nervoso.

-Mamãe,chega.-Ele disse.-Pare de se meter na vida dela,por favor.

-Estou apenas aconselhando,-Olhou para mim.-pois uma decisão sua pode afetar o nosso filho.Mesmo que esteja cursando em Stanford,escolha uma carreira nobre e não algo baixo como publicidade.Um emprego de subordinados,de pessoas que nasceram para obedecer.Pense grande,menina.-Ela continuou,ignorando o garoto.

-Linda,agora já basta.-Ernest advertiu.

-O que quer dizer com “algo baixo”,Sra.Mellark?E de que maneira isso afetaria seu filho?Ele tem muito pouco a ver com o meu profissional.-Eu disse,já começando a me descontrolar.

-Não vou deixar meu filho descer a esse nível.Afinal,olhe só para nós...Acha que um legítimo Mellark,de uma família desse escalão ser visto com uma...

-COM UMA O QUÊ?-Perguntei,batendo a colher na tigela e quase gritando.Até mesmo Debby havia parado de sorrir.Seus olhos balançavam de mim para a Sra.Mellark.

-COM ALGUÉM COMO VOCÊ!UMA SIMPLES GAROTA!SEM NADA DE ESPECIAL,QUE NEM FUTURO TEM!UMA BOLSISTA!-Ela gritou.

-LINDA,AGORA JÁ CHEGA!-O Sr.Mellark gritou.Mas eu me pus de pé bruscamente e bati na mesa,derramando o vinho sobre a toalha branca.Nem me importei.O sangue fervia em minhas orelhas,e eu estava me segurando para não voar no pescoço dela.Pelo visto eu não ficaria para comer o pato recheado com molho de uva do monte.

-Mil vezes a garota “sem futuro”,que a velha arrogante e autoritária.-Eu disse,e saí da sala de jantar.Eu não era de levar desaforo para casa,e com certeza não levaria esse.

Eu nem deveria ter vindo.Agora,a mãe do meu namorado me odiava simplesmente por eu não pertencer a todo esse "nível" de luxo deles.O que tinha de tão errado assim comigo?

Debby me contou tudo.” -Aquela cobra da Debby nem me conhecia.Nos encontramos uma vez apenas,e na escola,só quando ela andava com Peeta e com...Ah,claro.Explicado.Debby era uma das “amiguinhas” da Glimmer.

Com certeza ligou para ela e a garota logo abriu aquele bico maldito.Que merda.

Enxuguei os olhos e saí porta afora,ganhando o ar frio da noite.

Entrei no carro sem nem esperar por Peeta.Olhei para a porta escancarada da casa,mas ele não estava lá.Excelente.Estava mesmo precisando ficar sozinha.

Mulherzinha antipática.Bem eu me perguntava como uma pessoa daquelas se casou com um homem gentil como Ernest.E Peeta era exatamente uma mistura dos dois.

Eu não sentia mais fome.O pior não foi ela ter me julgado sem conhecer.Mas sim ela ter feito em frente á Debby,da qual eu estava com tanta raiva quanto da Sra.Mellark.

X

Entrei no apartamento pisando duro e chutei os sapatos para longe.Na TV,os créditos de algum filme iluminavam fracamente o sofá,no qual estava deitados Gale e Madge,em seu peito.
Sorri de canto.

Ele poderia negar o quanto quisesse,mas no fundo,era disso que ele precisava.De uma garota de coração bom,que cuide dele e dê um jeito nessa cara de menino sujinho.Um dia ele se toca,e eu quero muito estar aqui para ver.

Olhando para mim assim,dura desse jeito,ninguém nem diz nada.Mas sempre há um porque de eu ser assim,e somente eu mesma,que sempre estive comigo,aguentando as barras,as rupturas e os socos na cara.Eu não deveria me importar com ela,mas me importo.Porque se ela quiser,ela tira o tira de mim em um estalar de dedos.

“Quem é capaz de explodir de raiva,também é capaz de explodir de amor.” Estou num meio termo das duas coisas,agora.

Finalmente me largo sobre a cama,sem me lembrar ao certo de como cheguei ali.Apenas me encolhi,com a roupa do corpo,e cobri a cabeça com o edredon.
E quando a porta se abriu uma meia hora depois,com a voz conhecida e doce sussurrando no escuro meu nome,eu fingi que dormia.

Talvez os lençóis me engolissem.


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Notas finais do capítulo

Sim,a mãe do Peeta é uma vadia.
Sim,foi ela que convidou a Debby.
Sim,o Peeta está para explodir de raiva dela.
*É,eu inventei esse nome.Eu achei o nome original feio,então o coloquei em latim.A sopa de frutas vermelhas é uma iguaria italiana famosa e minha mãe até faz ás vezes.
** Princeton,na categoria das 10 melhores universidades está em nono.
*** UNCLA: University Of California
**** Stanford,na categoria das 10 melhores universidades está em quinto.

E então,o que acharam???