Save Me escrita por Effy


Capítulo 1
All over again


Notas iniciais do capítulo

Se gostar, comente. Boa leitura



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Não posso negar, já nem dói tanto assim, ficar mudando de cidade freneticamente já não me machuca mais, já até me acostumei. Pode soar um tanto quanto depressivo ouvir isso de uma garota de quase dezoito anos que mora só com a mãe e o irmão mais novo, mas é assim mesmo. Minha mãe, Ellen, é tão viciada em mudança quanto eu sou viciada em The Kooks, e eu fui em todos os shows deles. Mas enfim, meu histórico de mudanças não é tão interessante assim, não se deixe enganar.

– Megs! – minha mãe gritava pela décima vez enquanto eu estava na tentativa frustrada de ignorá-la – Não se faz de surda, porque eu sei que você escuta muito bem! – olha quem está de bom humor hoje – Isso mesmo, pode descer e me ajudar a empacotar as coisas, estamos partindo em três horas. – ela fala como se eu realmente me importasse

– Ellen, - eu disse descendo as escadas – porque que nós empacotamos nossas coisas quando não duramos nem um ano na mesma cidade?! – eu já estava cansada de me mudar, empacotar e desempacotar minhas coisas já não tava tão legal, não quando eu tinha cinco anos, agora com 17 não seria diferente

– E nós voltamos à estaca zero do seu bom humor hoje – Ellen disse sarcástica

– Ei! – eu disse apontando o elefante de enfeite para ela – Não se apodere do sarcasmo, ele sempre foi minha arma, procure a sua própria! – Como se não bastasse ela me tirar de todos os meus amigos, tinha que me tirar o sarcasmo também, palhaçada.

– Tanto faz, vamos Megs, temos que terminar de empacotar as coisas. – ela disse se rendendo aos meus argumentos, hoje definitivamente, não era um bom dia.

Como toda história, vou começar do começo. Sou Megan, faço 18 anos em um mês, moro com minha mãe, Ellen, e meu meio-irmão caçula Nick. A explicação de tanta mudança é que Ellen tem uma rede de bares, isso mesmo, e ela mesma gosta de iniciar os negócios, e quando a rede cresce, expandindo-se para outra cidade, nós nos mudamos para implantar o bar na cidade. Isso começou quando eu tinha cinco anos, saímos de Atlanta e começamos a rodar o país, então, Ellen conheceu Pierre, o pai de Nick, eles se conheceram em Ohio, mas Nick nasceu no Texas. E desde então, vivemos mudando. Mas eu já estou cansada disso, no final desse ano eu saio de casa para ir para faculdade e Nick ficara sozinho com Ellen, e isso me preocupa, Nick é uma criança só tem seis anos, e Ellen é outra criança! Ela não sabe nem cozinhar, minha mãe é mais adolescente que eu, de verdade.

Tudo isso me preocupa e me dá motivos para não partir, mas eu preciso. Todo pássaro precisa voar, precisa da sua liberdade, mas no momento em que eu assinar a minha liberdade, minha família vai a ruína, então, eu preciso dar um jeito, rápido.

Agora, nesse ano de 2013, estamos saindo de Miami e vamos para Seattle, não vou negar, vou sentir falta de Miami, acordar de frente pra praia, ir todos os dias pra praia depois da escola me conforta. Mas não posso deixar isso me abalar. Foi no inicio do ensino médio que eu parei de ser um ser humano normal, e com isso eu digo que parei de fazer amizades. Não tem porque sofrer em vão, sendo que no final do ano eu sempre me mudo, fazer amizades sabendo que vou embora é como queimar dinheiro.

Também não tenho sido a filha do ano, fiz e faço de tudo para irritar Ellen, parei de chamá-la de “mãe” quando eu fiz dez anos, e dos meus quinze anos pra cá tenho sido a pior filha do mundo. Me metida em todo tipo de problema possível, dirigir sem carteira, consumo de álcool, tatuagens, e todo tipo de coisa que nenhuma mãe merece. Fiz não achar que a nossa rotina iria mudar, Ellen jamais pararia de viajar porque sua filha resolveu virar rebelde e sem futuro, fazia e faço essas coisas pra doer um pouco nela também, porque a única que saiu no prejuízo fui eu. O pirralho nem se incomoda em mudar tanto, ele só tem seis anos, não fará muita diferença. Sou a cruz de Ellen, assim como mudanças constantes é a minha própria e pesada cruz.

Provavelmente o que dói mais em Ellen é que mesmo eu tente não ser a perfeita, eu sempre sou. Entenda, não sou comum como as outras garotas, nem loira, nem morena. Sou ruiva, mas não do ruiva vermelha, mais do ruiva laranja, cabelos compridos e meio cacheado nas pontas e olhos azuis esverdeados. Concluindo, pertenço ao padrão “Perfeição”, não que eu queira, o que deixa Ellen furiosa, pois em sua visão, eu estou desperdiçando minha beleza no álcool e tatuagens. O “Turbilhão Rebeldia” começou quando eu fiz 16 anos, iniciou com uma singela tatuagem de um dreamcatcher na nuca, depois uma bússola no ombro, uma orquídea em casa tornozelo, um alfinete atrás da orelha, e fones de ouvidos no pulso esquerdo. Nem preciso falar que fiz tudo sem a aprovação de Ellen, para uma dona de bar, ela é bem da moda antiga. O que me surpreende.

Agora nós temos uma espécie de esquema, ninguém incomoda ninguém, ela não fica sufocando com tanta proteção e eu sempre durmo em casa. Mas nesse aspecto eu nunca dei muito trabalho pra ela, uma vez que nunca faço amigos, passo a maior parte no bar.

Depois de três horas, chegamos em Seattle e para variar, eu não gostei de lá. É uma cidade muito chuvosa, gosto de sol e praia, mas não vou me deixar abalar, afinal, não vou durar muito tempo aqui mesmo. Por mais que eu quisesse odiar a casa, ela era fantástica. Meu quarto era tipo, três vezes maior do que o da casa antiga, seria difícil me despedir dessa casa.

Não me tomem por depressiva, mas qualquer pessoa na minha situação começaria a enxergar o fim na frente do inicio. Ossos do oficio. Era um domingo, e no dia seguinte eu já teria de ir pra escola. Como eu me sentia em relação a isso?! Normal, todo ano é assim. Só está começando tudo de novo, o ciclo não tem fim.

Queria tanto odiar a casa que acabei me apaixonando por ela, e na tentativa árdua de não acordar no dia seguinte para ir para escola foi fracassada quando uma alma impertinente chamada Ellen não parava de bater na porta.

– Sei que você não quer ir – ela começou

– Ótimo que você já saiba, agora já pode dar o fora! – eu disse ignorando as batidas na porta – Se quiser quebrar logo a porta bate com um taco de hóquei! – levantei frustrada, sabia que ela não pararia com as batidas insuportáveis.

– Bom dia, flor do dia – Ellen abriu um sorriso

– Poupe-me – ignorei-a e entrei no banheiro

– Não se atrase, querida – ela disse com animação

Tentei me vestir da maneira mais simples e não notável possível, eu sempre chamo muito atenção, deve ser pelo cabelo. Coloquei um short jeans meio rasgado, uma blusa preta tomara que caia e um casaquinho azul, meu vans branco da sorte e minha bolsa. Aparentemente, estava pronta. Deixei o pirralho na escola dele e cheguei no meu inferno.

Por incrível que pareça, a escola não parecia ser tão ruim assim, o prédio estava recém reformado, o estacionamento razoavelmente organizado e sem viciados fumando ou bebendo, o que já era um avanço. Estacionei meu carro e tentei cruzar o estacionamento sem ser atingida pelos brutamontes brincando de basquete, honestamente, isso deve-se jogar em uma quadra e não em um estacionamento, principalmente no horário de inicio das aulas onde, obviamente, há movimento dos carros. Mas como sempre, atletas são idiotas e sem cérebro.

Adentrei a escola e não sabia se estava em um corredor escolar ou em um zoológico. Tinha pessoas correndo, derrubando coisas, derrubando pessoas, tinha uns meninos que estavam colocando, literalmente, a cabeça de um garoto dentro do armário. Me senti ameaçada. Dei mais uns passos pelo corredor e uma avalanche de olhos se virou para mim, meninas cochichavam com outras meninas, vi os idiotas do basquete comentarem, até os nerds estavam me encarando. Minha paciência já não é grande, e hoje ela tá lá em baixo

– Ninguém nunca viu uma ruiva na vida?! – eu falei indignada, mas funcionou. As fofoquinhas cessaram e eu fui finalmente procurar meu armário.

Infelizmente, meu armário era perto do armário da “Gangue do Basquete”, a sorte nunca está em meu favor mesmo. Guardei minhas coisas no armário e fui para a primeira aula, biologia, eu digo e repito, azarada, sou azarada. Sentei em um canto sozinha, tentei absorver algo da aula, mas o professor parecia uma múmia, e tava me dando muito sono.

Relutantemente, sobrevivi as três primeiras aulas, agora, só me resta sobreviver ao intervalo, mais três aulas e liberdade. Como o usual, sentei-me em uma mesa afastada, “sem amigos” eu repetia pra mim mesma, “como se eu fosse ficar aqui tempo o suficiente para conhecer alguém”, eu tentava me confortar. Não estava com muita fome, então fiquei apenas com a salada de frutas e meu livro. Como felicidade de pobre dura pouco, vi a Gangue do Basquete detectar a minha presença e os vi fazendo uma rodinha, pouco tempo depois, um deles se destacou do grupo e veio em minha direção. “Idiotas” eu disse a mim mesma “não conseguem vir por vontade própria, tem que fazer apostas. Meninos são tão idiotas, mas atletas superam o nível de idiotice” tentei não falar em voz alta. Um dos membros da Gangue do Basquete se aproximou e sentou-se na cadeira do meu lado.

– Oi – ele começou

– Poupe-me – eu disse ríspida

– Como é?! – o garoto até se assustou

– Poupe-me da sua aposta com seus amiguinhos, diga a eles que a ruiva estranha falou contigo – voltei meus olhos para o livro na esperança de que o bendito saísse de perto de mim

– Sou Dylan – o moleque persistia, não sabia se era corajoso ou idiota

– Ótimo saber, mudou meu dia, agora poderei dormir em paz – eu disse sendo sarcástica

– E você?!

– Se eu te falar meu nome você some e me deixa em paz? – eu tirei meus olhos do livro e o encarei.

– Sim. – ele respondeu sorridente

– Megan, agora você já pode ir embora – eu voltei para o livro

– Seus olhos são muito bonitos, Megan – ele me elogiou, maravilha! Esse garoto tem down?! Sinceramente. Eu respirei fundo e me lembrei que agressão física dá cadeia

– Eu te falei meu nome, e agora você já pode sair daqui e falar pros seus amiguinhos que a ruiva tem nome e que ela continua sendo estranha

– Porque você é assim?! – Dylan insistiu. Eu não tava mais agüentando o moleque, agora ele tava sendo abusado, ficou fuçando nos meus livros de biologia.

– Você não tem coisa melhor pra fazer? Tipo, jogar basquete no estacionamento, dar em cima de lideres de torcida? – eu fitei-o – Ou ter uma conversa com alguém que realmente queira conversar contigo?! – me enchi do Dylan, levantei, peguei meus livros e minha bolsa, e deixei-o sozinho na mesa.

Passei perto da Gangue do Basquete e eles rindo, ignorei-os e fui para meu armário, até que um deles, que não era mais o Dylan, veio atrás de mim.

– Ei, novata! – Ele gritava. Ignorei e segui em frente – Ei, não me deixa no vácuo, sou muito mais persistente do que o Dylan. – Maravilha, agora alem do Dylan, tem esse outro perseguidor, maravilhoso! – Ei, fala comigo!

– Acho que você não percebeu que eu to te ignorando – eu respondi sem me virar para vê-lo

– Uma pena, posso ser um amigo bem legal – ele tentou me persuadir, e veio caminhar do meu lado

– O que te fez pensar que eu quero amigos? – eu tentei não olhar para ele, mas tava difícil, ele é bonito. Alto, cabelo castanho claro, tipo mel, olhos azuis que fazem o meu parecer desbotado, e ainda tinha um alargador, ó destino cruel, porque me mandaste um deus grego que nem esse?!?!

– Bom, te vi sozinha no intervalo, achei interessante fazer com que eu e os meninos nos socializarmos com você – ele disse

– E foi corajoso o suficiente que mandou Dylan?! Poxa vida, estou perplexa – disse irônica. Ele deu um riso fraco

– Você é divertida, deveria deixar as pessoas se aproximarem de você

– Ah, não. – respondi indiferente, fui entrando pra sala de literatura

– Bom, então hoje é seu dia de azar, minhas três ultimas aulas serão contigo, e olha que legal, achei seu nome interessante e pedi pra ser seu parceiro de química pelos próximos seis meses. – eu quase enfartei quando ele disse isso, seis meses?! É muito azar pra mim em um único dia

– Yay – fingi um falso ânimo – que sortuda eu sou. – eu disse sentando na cadeira

– Sim, você é. – ele disse sentando na cadeira do meu lado. – Sou Dexter, a propósito

– Nop, não perguntei – eu disse fria

– Não faz mal Megs, um dia você ainda vai acabar gostando de mim

– Nossa – eu disse irônica – mal posso esperar por esse dia. Graças as forças divinas a professora entrou na sala e começou a aula.


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Notas finais do capítulo

Obg por ler (: Deixe seu comentário!!