Asas Negras escrita por Carolina Amann


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Finalmente um capítulo em um tamanho aceitável KKK Espero que gostem :>



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Quando deu 5:15 hrs, eu estava ouvindo Late Night, ela me fazia pensar no Punk e em tudo que tinha acontecido entre nós e se quer saber isso era bom. Minha cabeça já tinha dado mil nós de tanto pensar no sonho e no pássaro esquisito.

Levantei, ainda meio tonta, dirigi-me ao banheiro, escovei os dentes e lavei o rosto. Em seguida vesti minha legging rasgada, meu camisetão de caveira e meus inseparáveis coturnos, peguei livro que estava lendo (um de contos reunidos por George R.R. Martin). Escrevi um bilhete que dizia para onde eu ia, já estava descendo as escadas quando, por impulso decidi pegar minha mochila customizada, joguei o livro dentro dela, a carteira e... A pena. Algo me impedia de deixa-la ali, como se um sensor de perigo começasse a apitar. Desci as escadas e deixei o papel sobre a mesa, em seguida saí de casa. O céu estava nublado e de longe eu pude ver sinais de chuva, caminhei as duas quadras em silêncio, parecia que o mundo ainda não havia acordado. Cheguei ao parque e rumei para meu esconderijo. Seguindo uma estreita trilha que ficava a cerca de 150 m depois da entrada e adentrando o bosque, chegava-se em uma campina onde havia um pequeno templo budista e um banco. Era um lugar tranquilo e calmo, onde se poderia ler em paz.

Porém alguém já estava lá. Fiquei meio encabulada, mas mesmo assim me aproximei. Ele usava uma calça jeans clara e uma camisa golo polo verde-água que destacava a linda pele morena. Ele levava um livro aberto em seu colo, mas não parecia prestar atenção nele. Quando me aproximei, olhou para mim e sorriu.

- Olá Auro – disse ele, criando espaço para eu sentar-me no banco. –Que surpresa! – O sorriso dele era inacreditável, tão radiante e seguro quanto um sorriso poderia ser.

- Ah... Oi Ethan! Juro que não estou te seguindo – disse meio sem jeito enquanto me sentava ao seu lado com um sorriso bobo no rosto.

Ele me deixava incomodamente boba e sem graça, devia ser porque ele era o tipo de garoto todo certinho. Pelo menos era isso o que parecia. Ethan não tinha cara de quem se metia em confusão, matava aula, quebrava as regras. Ele era educado e gentil, parecia muito inteligente. Estar ao lado dele era confortável, ele era o tipo de cara que te passa confiança.

- Não sabia que mais alguém conhecesse esse lugar – disse ele, para minha surpresa -  Antigamente eu costumava vir aqui para pensar – completou ele com o olhar vago, era como se dentro de sua mente passassem-se eras. Encabulada, respondi:

- Acho que somos dois, descobri essa campina por acidente, quando brincava de pega-pega nas férias de verão. Mas isso faz muito tempo, foi antes de... Antes de eu vir morar com meus avós – emendei com um sorriso, eu quase falei besteira. Não queria que ele sentisse pena de mim ou achasse que eu era dessas garotas que precisam de atenção e mimos.

Apesar do meu cuidado, os olhos dele faiscaram, percebendo a falha em minha frase. Ele sorriu com compreensão, como se dissesse “Não vou te forçar a falar nada, quando estiver pronta estou aqui...”. Isso era reconfortante.

- Entendo... – foi tudo o que ele respondeu. – E o que veio fazer aqui? – perguntou de um jeito amigável.

- Ah, vim ler. Como quase ninguém vem aqui é um ótimo lugar pra apreciar um pouco de paz e sossego.

- Interessante. Que livro está lendo? Estou precisando mesmo de algo novo para ler, esse aqui já está bem gasto – disse ele, com seu português impecável, apontando para o livro que estava em seu colo. Parecia ser um exemplar surrado de algum livro de sonetos de Vinicius de Moraes

- Ah, espera, vou pegar aqui pra você ver – puxei a bolsa para cima de minhas pernas e abri-a com a intenção de pegar o livro, porém a primeira coisa que vi foi a pena. Travei, senti uma gota de suor escorrer por minha nuca, por que mesmo que eu havia decidido trazer esse troço?

Com o quanto do olho, vi o braço de Ethan se arrepiar. Os olhos dele estavam fixos na pena negra. Nesse instante percebi que o céu havia escurecido, logo iria chover.

- Onde conseguiu isso? – Perguntou ele com um ar despreocupado. Meio tensa, respondi;

- Ah, hoje quando acordei havia um corvo em meu quarto, eu espantei ele, mas o bicho se atrapalhou um pouco e deixou cair. Nem sei por que guardei, acho que vou jogar fora.

-Não! – disse ele com uma ênfase exagerada, o que me assustou. Percebendo o erro, ele logo se recompôs. – Perdoe-me, é que eu coleciono penas e coisas do gênero, sou apaixonado por aves. Será que ao invés de jogá-la fora, você poderia dá-la para mim?

- Acho que não tem problema... – estendi a mão para alcançá-la para ele, porém um vento curiosamente forte passou, fazendo-me soltar a pena e levando-a cada vez mais para longe e para cima. – Oh, sinto muito!

- Tudo bem, a culpa não foi sua – disse ele, com o olhar focado nas árvores ao nosso redor. Pingos de chuva começaram a cair. – Você trouxe um guarda-chuva? – balancei a cabeça negativamente – Nesse caso eu te acompanho até sua casa.

Atravessamos a trilha rapidamente, assim que saímos do pequeno bosque ele abriu seu guarda-chuva transparente. Caminhamos bem próximos um do outro, meu braço enganchado no dele. O silêncio durou até chegarmos à minha casa, eu estava morta de vergonha e ele parecia... Preocupado? Quando nos aproximamos, pude ver uma figura vestida de calça jeans escura e moletom com capuz preto em frente ao meu portão. Punk. Aquilo não iria acabar bem. Conforme nos aproximávamos ele apenas me encarou, nada mais. Ethan passou por ele sem nem ao menos notá-lo. Esperou eu abrir o portão e disse:

- Sinto muito Auro, mas hoje não poderei entrar – merda, merda, merda. Havia poucos metros de distância entre nós e Punk, ele com certeza estava ouvindo. Vi-o olhar para mim e erguer a sobrancelha.

- Ah... Que pena... – disse sem graça – Então, tchau! – continuei enfaticamente, precisava acabar com aquilo o mais rápido possível.

- Tchau Auro, nos vemos qualquer dia – disse ele, em seguida me deu um beijo na bochecha e saiu, sem olhar para trás. Vi Punk socar o muro e entrar em sua casa, porém nada fiz. Fiquei ali, parada na chuva, sem reação. Duas verdades me dominavam:

I.O beijo do Ethan era extremamente bom e quente, mesmo tendo sido algo totalmente inofensivo e amigável, tinha conseguido me deixar toda arrepiada.

II.Mesmo eu não tendo feito nada de mais, mesmo o beijo do Ethan tendo sido totalmente inofensivo e amigável, Punk iria me matar. A maneira como ele me olhou antes de entrar em casa já denunciava isso.

Merda.


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