Asas Negras escrita por Carolina Amann


Capítulo 8
Capítulo 8




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Estava escuro, parecia ser noite, porém não havia lua ou estrelas, apenas um véu negro que cobria o céu. Olhei ao meu redor, eu estava no meio de uma encruzilhada, mas sentia como se qualquer um dos caminhos que escolhesse fosse me levar ao mesmo lugar. Segui em frente, residências construídas de paralelepípedos escurecidos erguiam-se ao longo do caminho, tão altas e disformes quanto seria possível, a atmosfera era pesada o que me forçava a respirar como se eu tivesse acabado de correr uma maratona, era como se o ar sugasse todas as minhas forças. Um brilho escarlate iluminava o lugar de maneira fraca. Me perguntei de onde ele vinha, já que não havia qualquer forma de iluminação natural ou artificial, ao mesmo tempo senti como se o próprio céu brilhasse. Um arrepio percorreu minha espinha, o clima dali era grotesco, era como se o frio queimasse. Não havia brisa e nada dali parecia se mexer, o único som era o da minha respiração ofegante. Aquela calmaria me desesperava, então corri, desatei a correr com todas as minhas forças, porém minhas pernas não se moviam por vontade própria e quanto mais força eu fazia mais fraca me sentia e mais devagar eu andava. Finalmente desisti. Parei, apoiei as mãos no joelho e gritei. Não houve efeito nenhum, isso porque não houve som nenhum. Eu não podia gritar, não podia correr e aquele silêncio fazia eu me questionar se eu podia ouvir. Continuei andando, lutando com aquela gravidade absurda. “Socorro” gritava em meus pensamentos “Onde estou? Alguém me ajude!”.

Parei em frente a uma imensa construção feita de uma pedra negra, polida e cristalina. “Diamante negro, talvez?”. O fato é que o prédio (se é que aquilo era um prédio) era tão enorme e escuro que parecia fundir-se com o céu. Olhei a paredes com atenção, mas era impossível manter o foco, parecia que rostos de almas aflitas movimentavam-se dentro das paredes. Ouvi o grasnado de um corvo, virei-me ficando de costas para a parede e uma imensa ave negra veio em minha direção, tentei desviar, mas percebi que não podia me mover. Desesperada, tudo o que pude fazer foi observar enquanto o corvo fincava suas imensas garras em meus ombros e me empurrava, senti a construção me absorvendo e assim que minha cabeça mergulhou naquele mar de almas uma explosão de vozes me atingiu, todos berravam por socorro, esbarravam, puxavam, choravam, tudo o que eu conseguia ver era aqueles olhos negros me encarando de forma maliciosa. Gritei.

Abri os olhos, com alívio, havia sido só um pesadelo? Senti um peso em meu corpo, assustada, foquei o olhar. Dois olhos malignos me encaravam. Fiquei imóvel por uns segundos, senti a cortina balançar, a janela devia estar aberta. Eu continuava encarando o animal sem saber o que fazer. Puxei o ar e usei toda a minha força para sentar na cama. O pássaro grasnou e saiu do quarto voando desajeitadamente pela janela. Acendi o abajur que na cômoda ao lado de minha cama, uma pena negra caia lentamente.  Por um instante ouvi a voz de minha mãe, tão baixa quanto um sussurro, “As asas negras vieram nos pegar...”. Pulei da cama, liguei a luz e apanhei a pena caída no chão. Eu não estava ficando louca, havia mesmo um corvo dentro do meu quarto. Uma lágrima caiu e eu solucei o que havia sido aquilo? Meus joelhos amoleceram e eu caí. Tremia como nunca antes, o pior não havia sido o sonho, ou o próprio corvo, o pior era a sensação de que eu já tinha visto aqueles olhos em algum lugar, não, os olhos não, a expressão daquele olhar seria mais correto. “Olhos devoradores de alma, asas negras, estou enlouquecendo só pode. Ou isso ou minha vida está tornando-se um filme de suspense de quinta categoria”, pensei comigo mesma.

Nesse momento, tudo o que eu queria e precisava era falar com o Punk, mas eram  4:43 da manhã, ele havia saído de minha casa a pouco mais do que cinco horas e meia, devia estar dormindo agora e eu não queria incomodar ele por besteira. Um vento gelado fez-me lembrar de que a janela continuava aberta, levantei-me e fechei-a com um baque. Há essa hora ninguém acordaria e minha cabeça latejava. Guardei a pena na primeira gaveta de minha escrivaninha e sentei-me em minha cama. Eu não dormiria de novo, sabia disso, assim escancarei as cortinas e coloquei meus fones. Fiquei ouvindo Pink Floyd até o amanhecer.


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