Asas Negras escrita por Carolina Amann


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Finalemnte segunda-feira! Haha Sou a única criatura que transforma uma final de semana em 15 capítulos :P



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Acordei às 6:30 h com o alarme do celular gritando histericamente em meu ouvido. Espreguicei-me preguiçosamente na cama, desejando ter o poder de parar o tempo só para dormir mais um pouco. Mas então lembrei-me da “ameaça” que minha avó me fez na sexta e, em cerca de dois segundos, vi-me totalmente desperta, procurando meu uniforma escolar no meio da bagunça que era meu guarda-roupas. Sim, meu colégio me obriga a vestir um uniforme horroroso cujo único lado positivo é ser preto e branco. Pela milésima vez na vida, desejei poder estudar em uma daquelas escolas de filmes americanos, onde você se veste exatamente como quer se vestir sem ser ridiculamente forçado a entrar num padrão qualquer. Vesti a calça preta justa e camiseta branca com mangas da cor da calça, mas após uma pequena espiada da janela no tempo lá fora, decidi usar o moletom preto e largo por cima. Meu surrado All Star preto ia me fazer companhia.

Fui ao banheiro, lavei o rosto e escovei os dentes. Penteei meu cabelo e maquiei-me da mesma forma de sempre, o dia não tinha nada para ser especial. Desci as escadas já com a mochila nas costas e fui preparar meu café, Cida só chegaria por volta das oito, então isso era meio que por minha conta. Os ovos mexidos com pão junto com um copo relativamente grande de achocolatado, saciaram minha fome por hora. Mas eu sabia que por volta das dez já estaria faminta de novo e, como eu odiava a fila e os lanches da cantina, peguei um Doritos de pimenta e coloquei-o na bolsa. Olhei em meu relógio, era 6:56 h, peguei a chave da porta da frente, mas saí pelos fundos como sempre. Com meu skate em um braço e a mochila nas costas saí pelo portão. A escola ficava há uns 15 minutos da minha casa, olhei rapidamente para a janela do quarto do Punk, tudo escuro, ele ia acabar se atrasando. Mandei uma mensagem de bom dia, coloquei o fone no ouvido e o skate no chão e rumei para o colégio.

Cheguei lá alguns minutos mais tarde do que pretendia, mesmo assim aquilo parecia um pandemônio. Havia adolescentes por todos os lados, cada um com seus grupos, nos pátios, nas salas de aula, conversas, risos, música... Uma poluição sonora sem fim. Andei até minha sala com pressa, faltavam cerca de 7 minutos para o sinal bater e a aula começar. Entrei na sala, desviando-me de um casal desmiolado que levava uma bronca da inspetora por dar uns amassos em frente às câmeras, o que era ridículo se se considerasse que existiam milhares de lugares mais “discretos” lá no colégio caso você desejasse fazer algo escondido.

Entrei na sala e dirigi-me para o canto no fundo ao lado da janela, meu lugar de sempre, podia ver meus amigos rindo e brincando ali perto nos fundos da sala de aula. Avistei Victória, uma de minhas poucas amigas meninas, sentada em seu lugar que ficava em frente ao meu, ela conversava com um garoto. Ao vê-lo tudo em que pude pensar foi: “merda”.

Vic era uma dessas garotas que já se apaixonou várias vezes e já se iludiu o mesmo tanto, já chorou ouvindo Taylor Swift e escreveu milhares de poemas, já chegou a se cortar por um garoto.  Mas um dia se revoltou e decidiu abandonar seus álbuns da romântica loirinha que tanto a compreendia pelo rock pesado. É a típica menina que cansou de sofrer por amor e se revoltou com a vida, no fundo eu sabia (e ela também) que ela não era uma roqueira de verdade, ela só precisava de alguém que cuidasse dela, desse um pouco de carinho e atenção para voltar para o seu mundinho cor de rosa. Seu maior defeito era sua ingenuidade excessiva, qualquer garoto que jogasse um charme para cima dela e lhe dissesse umas palavras bonitas a tinha na mão. Não duvidava de que isso estivesse acontecendo agora, principalmente porque o garoto que estava conversando com ela era... Bem, era Daniel.

Ele estava sentado em cima da minha mesa e conversava e ria com ela como se fosse a coisa mais natural do mundo. Um flashback do que aconteceu no planetário passou por minha mente. Havia algo de errado com esse garoto, um instinto protetor surgiu dentro de mim, eu faria  tirar as patas sujas de cima dela nem que tivesse que usar a foça. Andei pisando duro até a mesa e ele me olhou de forma maliciosa, senti os hematomas que ele me fez latejarem.

- Com licença? – pedi erguendo a sobrancelha. Ele levantou-se sem dirigir-me uma palavra, continuando sua conversa com Victória de forma animada. Coloquei a mala sobre a mesa e olhei para a minha iludida e ruiva amiga – Vic, precisamos conversar - disse em um tom sério. Ela levantou-se da cadeira com um pulo, assustada, e olhou para ele como se se desculpasse. Estreitei os olhos e puxei-a para o canto da sala.

- O que foi Ari? – perguntou ela, visivelmente intimidada. Eu deveria estar assustadora. Naquele momento não saberia dizer quando Vic começou a me chamar assim, o apelido não tinha nada a ver com meu nome, mas as pessoas pareciam gostar dele.

- Fique longe do Daniel. É para seu próprio bem, esse cara... Bom, não é o tipo de gente com quem você gostaria de se meter. – disse de forma bem direta, olhando-a nos olhos. Pude ver a incompreensão que havia dentro deles, ela não iria aceitar tudo assim tão facilmente.

 - Mas... Ari... O Dan parece ser bem legal... – disse ela mordendo os lábios. Ás vezes, Vic era tão fofa que eu me perguntava por que não conseguia arranjar um namorado.

- Lembra do que aconteceu da última vez que não quis me ouvir? – ela engoliu em seco, lembrava muito bem. Foi há mais ou menos uns dois meses atrás, eu disse para ela que não deveria sair abrindo as pernas para qualquer um, mas ela acabou saindo com um garoto da sala 1 (nossa sala era a 3) e eles transaram, de alguma forma ele acabou a convencendo de que sem camisinha era melhor. Depois disso a menstruação dela atrasou por uma semana, o que foi motivo suficiente para fazê-la perder quase todos os seus cabelos.

- Lembro... – disse ela abaixando os olhos – Mas eu não estava pensando em...

- Mas ele estava – interrompi-a bruscamente – não tirava os olhos de seus seios. – isso era mentira, mas não importava, ela ficaria longe dele o que era melhor para ela.

- O que? – disse ela indignada – Pode deixar, não vou trocar mais nenhuma palavra com esse cafajeste. – disse ela, em seguida virou-se e foi conversar com Sam e Diogo. Vic era tão inocente que chegava a doer mentir para ela.

Sentei-me na carteira atrás da dela, cinco segundos depois Daniel estava sentado em minha frente, com um sorriso irritantemente zombeteiro no rosto.

- O que disse para ela? – perguntou com um tom curioso – Que eu sou o lobo mau ou algo do tipo? – um riso rouco saiu por entre seus lábios e lembrei-me da sensação de tê-los junto aos meus. Devo ter corado, pois ele riu um pouco mais alto.

- Algo do tipo. – respondi com a garganta seca – Fique longe dela, você significa problemas – tentei soar madura, mas sentia-me com cinco anos de idade. Ele levantou a sobrancelha.

- Ah é mesmo? – disse de forma irônica – E o que a fez pensar assim? – vacilei. O que me havia feito pensar daquela forma? Lembrei-me da voz que ouvi na boate, mas aquilo tinha sido real? Ou só uma pequena alucinação? Havia tido o incidente no planetário também, mas o que ele havia feito de errado exatamente? Dado seis tiros em alguém que mesmo assim ainda conseguia falar e simplesmente evaporou? Me deixado com alguns hematomas ao me salvar da explosão de uma bomba? Minha boca abriu-se e fechou-se, os olhos dele estavam fixos nos meus.

- Você matou uma pessoa – disse, só consegui pensar nisso. Ele franziu o cenho e torceu o nariz. – Uma mulher! – não passava de uma desculpa débil, eu só não queria ficar sem resposta.

- Aquilo não era exatamente uma pessoa, nem uma mulher se quer saber. E provavelmente nem morreu. Além disso, eu estava salvando sua vida, deveria ser o herói, não o vilão. – disse ele com um ar de mágoa. Senti borboletas no estômago e um nó em meu cérebro, mas antes que eu pudesse perguntar a ele o que quis dizer com “não era exatamente uma pessoa” o sinal bateu e ele foi para o seu lugar ao lado de Vic. Minha cabeça latejava, aquele dia ia ser uma merda e eu ainda nem sabia.


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