A Dama E O Vagabundo escrita por Lasanha4ever


Capítulo 9
Capítulo 9




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  - Bonito, deixo você dormir aqui e agora encontro vocês dois dormindo juntos. – seu pai ralha, me puxando pelo braço para fora da cama.

  - Bom dia pra você também. – brinco e ele me solta.

  - Eu não quero vocês dois agindo assim perto da Helena, está entendido?

  - Claro.

  Já que estamos de férias, eu e a Marina passamos o dia todo – bem até a hora de trabalhar de verdade – melhorando o seu quarto. Na real, eu pintei as paredes de branco, enquanto ela me pintava de branco. Mas eu deixei uma bela mancha em seu rosto, ela agora esta totalmente branca e sem sardas, até seu cabelo está meio branco.

  - Temos um fantasma entre nós. – isso me deixa com mais outra mancha branca no rosto.

  Depois das paredes brancas e nós limpos, fomos até a cozinha fazer um lanche saudável para a Marina. Um sanduiche de queijo minas e carne assada e um suco de melão. E o remédio dela, claro. Eu comi um pouco da carne que sobrou. Então fomos dormir, juntos, na cama dela, de conchinha.

  Duas semanas se passaram. Eu decidi estudar medicina, a Marina gostou também. Continuo no emprego de camareiro, e ela também. De vez em quando ela me ensina sobre linguagem dos mudos, mas eu não consigo aprender os gestos, pra mim, é melhor ela escrever e eu ler. Mas aos poucos vou aprendendo.

  Até agora, sua mãe anda nos evitando, e eu sei que isso machuca a Marina, mas machuca bem menos do que sua mãe a agredindo. Seu pai vai ao quarto da Marina – que agora é o meu também, porque até estou dormindo lá - de vez em quando e tenta ficar irritado com a nossa aproximação, até porque uma vez ele nos pegou encharcados e pensou que tivéssemos tomado banho juntos. Na verdade, foi só a boba da Marina que começou uma guerra de água em seu banheiro comigo, e eu venci. Ele que tem mente poluida.

  - Bom dia princesa – sussurro com a voz rouca de sono assim que a Marina acorda em meus braços.

  Ela me dá um beijo na bochecha, que na verdade virou um beijo no canto da boca. Isso já aconteceu três vezes, e eu não garanto nada que da próxima, eu a beije de verdade. Mas sei que ela não tem intenção de me beijar, só está grogue demais para acertar a minha bochecha.

  - Levantem os dois, temos que conversar. – a mãe dela entra no quarto sem expressar sentimentos e ignora totalmente a Marina em meus braços.

  - Certo, ah, já estamos indo.

  Levanto da cama e coloco uma roupa – não perdi o costume de dormir só de cueca, e a Marina não se importa, mas fica vermelha quando eu a pego olhando para a minha cueca...

  Ela fica de pijama mesmo, e prende o cabelo. Descemos as escadas e os encontramos na sala. Os dois sentados no sofá, nervosos. Sento no chão, em frente a eles, e a Marina senta entre minhas pernas, apoiada em meu peito como se eu fosse seu travesseiro gigante. Eu não me incomodo, abraço-a forte e olho para seus pais.

  - O que querem conversar com a gente? – tento agir o mais inocente possível.

  - Isso está errado. Vocês não podem agir dessa maneira. Mal se conhecem e dormem juntos, agem como se fossem amigos a vida inteira. Isso é estranho, e vocês estão cada dia mais colados, e eu tenho minhas dúvidas se conseguiria afastá-los agora. – seu pai desabafa, apertando a mão da esposa, que nos olhava com um olhar fulminante, como  se eu e a Marina fossemos os culpados pela fome na África.

  - Isso é porque nós somos amigos, e já nos conhecemos a quase quatro meses, e sabemos muito um sobre o outro.

  - E daí? Quem nos garante que você não é um imbecil querendo se aproveitar da Marina? Quem te garante que não somos uma familia de psicopatas prestes a te matar? Como vocês dois podem agir como se fosse conhecidos desde pequenos? Como podem confiar tanto no outro, sendo que mal se conhecem? – a mãe explode um bando de perguntas e a Marina finca suas unhas em meu braço.

  - Eu não sei em quais situações parecidas a senhora se meteu, mas eu te garanto, se eu estivesse me aproveitando da sua filha, ou ela esperando para me matar, já teríamos feito o que precisávamos a muito tempo. Chances não faltaram.

  A mãe fica puta. O pai intervem. Eu respondo. A Marina gesticula. Seus pais ficam mais irritados. Quase que eles xingam a Marina e quase que a mãe dela sai do sofá e vem para cima de nós dois. Conclusão, puxei a Marina até o quarto dela e pedi para ela colocar uma roupa decente porque iríamos dar uma volta. Ela me aparece com um short jeans curto – no meio da coxa, mas assim já está curto demais para ela – e uma blusa branca de alça que vai deixar seu sutiã aparecendo quando qualquer brisa passar pela blusa – que é meio larga e transparente.

  - Marina, eu pedi para você colocar uma roupa decente!

  Ela me estapeia enquanto eu rio. Ela tá muito gostosa nessa roupa. É o que qualquer cara vai pensar. Por isso que eu coloco um casaco meu , nela. O casaco cobre o short quase todo, mas pelo menos esconde suas curvas – suas curvas perfeitas.

  Caminhamos até o ponto de ônibus, e então fomos até o Barra Shopping. Ela quer ir à livraria. Os sofás gigantes já estavam ocupados, então eu e ela dividimos um individual. Eu sentei na cadeira e ela se sentou no meu colo. Acho que ela ficou mais confortável que eu...

  Três horas se passam e – finalmente – ela acaba de ler o livro E O COMPRA! Como entende uma mente dessas? Ela já leu o livro e ainda compra ele!

  - Maluca – sussurro em sua orelha e ela sorri, estapeando-me em seguida.

  Paramos em outras três lojas porque em duas delas, tinha uma roupa que ela queria comprar, e comprou, e na outra, ela conseguiu inspiração para pintar as paredes de seu quarto. Sim, nós ainda não pintamos as paredes, elas estão irritantemente brancas.

  A inspiração dela, na verdade, foi ver na televisão da loja, uma floresta de pinheiros embaixo da neve. É realmente lindo, e ela amou. O quarto dela tem quatro parades, ela vai pintar cada parede com uma paisagem.

  “Você tem dinheiro aí? Eu gastei todo o meu e preciso comprar tinta pra pintar as paredes. Eu te pago em casa. Por favor.”

  - Nem precisa pagar, princesa.

  Ao todo, gastei duzentos reais com ela. Compramos tintas novas, uns cinco tons de verde, tinta branca e mais três tons de marrom. Voltamos para casa e seus pais discutiam no quarto deles. Entramos no quarto dela e cobrimos tudo com os plastico branco que ela tem.

  - Então, o que eu preciso fazer? – me sento no chão enquanto ela começa a fazer o esboço em uma das paredes.

  Ela para de desenhar e faz um gesto simples, que significa: nada.

  - Se quiser ajuda, eu estarei na sua cama, vendo televisão.

  Por incrivel que pareça, ela precisa de ajuda. Fico meia hora com ela sentada em meus ombros enquanto termina a parte mais alta da parede.

  - Vocês dois não tem um trabalho não? – o pai entra no quarto e se espanta ao ver a Marina em meus ombros.

  - Que horas são?

  - Três e meia. Não quero que se atrasem novamente.

  - Certo.

  Vou para o meu quarto e cada um toma um banho rápido. Coloco uma calça jeans surrada e uma blusa de manga comprida. Separo também um casaco, porque quanto mais tarde ficar, mais frio. E já está uns dez graus lá fora. A Marina coloca uma calça de moletom cinza, uma blusa branca colada e um casaco de moletom cinza. Ela sente muito frio, e ficou fofa com o nariz vermelhinho e gelado.

  - Vamos logo, princesa. Temos quinze minutos, sem ônibus. Quatro quilômetros. Que tal uma corrida? Quem perder paga um chocolate quente para o outro.

  Eu venci, por uns bons cinco metros. E ainda fiquei correndo em slow motion pra ela ficar irritadinha. Chegamos um minuto depois do horário, mas o gerente conta isso como atraso. Imbecil.

  Ela de sacanagem, me comprou aquele chocolate quente de máquina, que é aguado e quase sem gosto. Pois é, nada legal.

  A Marina já está bem melhor de saúde. Apenas por uma vez que ela esqueceu de tomar o remédio e quase desmaiou, ela está muito bem. Todos os dias eu a levo para a cozinha e faço alguma coisa saudável para ela comer. E de vez em sempre ela fica abusando dos meus dons culinários e pede para eu fazer algo diferente e gostoso.

  O trabalho anda cada vez melhor. Eu e a Marina arrumamamos um jeito de acelerar as coisas, de modo que nós acabamos o trabalho meia hora antes do planejado. Eu cuido dos banheiro e ela dos quarto. E nós dois damos conta da mini-sala que casa apartamento tem. A minha parte é nojenta, mas se já é para mim, imagina para ela...

  Acabamos mais cedo ainda hoje, porque nem todos os apartamentos do hotel estavam ocupados.

  Faltam oito dias para o Natal, e eu sei exatamente o que eu vou comprar para ela. Só preciso arranjar um jeito de comprá-lo no momento certo, e saber escondê-lo. Ela vai comprar o meu hoje, e eu vou acompanhá-la, mas sem ver o que ela vai comprar.

  Ela me cutuca novamente. Gesticula e eu rio. Ela tá me chamando de retardado, porque eu estou parado olhando fixamente para ela.

  - Não posso fazer nada, princesa. Suas sardas me seduzem – sussurro em seu ouvido e ela dá um pulo. E então cora, ficando muito mais linda do que já é. – Agora me diz, pra qual shopping nós vamos?

  E lá fomos nós, para o Barra Shopping. Ela entrou comigo de loja em loja, a procura de algum presente para mim, mas nunca encontrava algum. E então nós paramos em uma loja da qual eu não sei, porque ela me mandou ficar de olhos fechados. Quando ela sai da loja, já está com o meu presente em suas mãos, e me impede de ver ao menos o nome da loja.

  Voltamos para a casa dela, e seus pais já estavam nos esperando na sala. Sento chão e ela deita com a cabeça na minha perna. Fico brincando com seu cabelo vermelho enquanto seus pais avisam seus planos para o Natal. Eles planejavam viajar para a casa de praia deles, em Angra dos Reis. E vão ficar lá desde o dia vinte até o ano que vem. Aproveitarão para comemorar o aniversário da Marina, que é dia trinta de dezembro.

  A Marina gesticula alguma  coisa que eu não entendo para seus pais, que trocam olhares e falam que sim, hesitantes.

  - Igor, você gostaria de viajar conosco?

  - Eu adoraria. Mas desse jeito eu vou precisar entregar o presente da Marina antes de viajarmos.

  - Não tem problema, você entrega amanhã.

  - Ótimo – a mãe resmunga com um sorriso forçado no rosto – Vocês dois, comecem a arrumar as malas. Quero elas prontas amanhã.

  Fomos primeiro arrumar a dela, que demora mais. Ela enche duas malas enormes com roupas, sapatos, coisas de garota e dois cadernos e um estojo cheio de lápis coloridos, canetas , pinceis, essas coisas de pintora/desenhista. Com isso já é meia noite – sabe como as garotas são, demoram um século e meio para separar as roupas para pôr na mala, e no final, levam o guarda roupa inteiro.

  - Você tá com sono, princesa. Fica aqui e vai dormindo, eu arrumo minha mala num instante.

  Não preciso nem falar duas vezes, ela já está deitando na cama.

  Vou para o meu quarto e encontro uma mala na minha porta. Coloco tudo o que eu preciso ali dentro, inclusive algumas coisas a mais para o presente da Marina de Natal. E tem também o presente de aniversário dela, que não é tão grandioso assim, porque a grana tá curta, mas que eu sei que ela está precisando – pelo menos foi o que ela me contou.

  - Então, posso passar aí amanha e pegá-lo? – pergunto ao Luis, o cara que me vendeu o presente da Marina de Natal.

  - Pode, mas tenha cuidado, ele é muito frágil, e vocês não podem levá-lo a qualquer lugar, não por enquanto.

  - Sem problemas. Até amanhã.

  Vou para o quarto da Marina e coloco meus pijamas – traduzindo: tiro a minha roupa até sobrar apenas a cueca. Deito na cama e a abraço carinhosamente. Ela apoia seu rosto em meu peito e me dá um meio abraço com o braço direito. Sinto o cheirinho de laranja do seu cabelo e durmo com um sorriso no rosto.


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