A Dama E O Vagabundo escrita por Lasanha4ever


Capítulo 8
Capítulo 8




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  - Você tem escola até quando? – pergunto enquanto ela se arruma para a escola.

  Ela faz um gesto que eu não entendo, revira os olhos e então escreve num papel.

  “Amanhã. E por sua culpa eu me esqueci de estudar pra prova de sociologia!”

  - Você sabe alguma coisa?

  “Sei tudo ¬¬”

  - Então é o seguinte, eu vou estudando com você até a sua escola. Só preciso do seu livro.

  Ela dá um sorriso tímido e me entrega o livro. Sem se despedir de seus pais, caminhamos até o ponto de ônibus, estudando. Ela sabe quase tudo, graças a qualquer pessoa, menos a mim. Sou péssimo ensinando.

  Assim que a deixo na escola, volto para a tijuca e procuro algum lugar para morar. Também não encontro nenhum. E já são três horas. Pego o ônibus e volto para a Barra. Chego assim que ela sai da escola.

  - E aí, foi bem?

  Ela concorda.

  “Encontrou algum lugar pra morar?” – ela digita no celular e me mostra.

  Nego.

  “Emprego?”

  - Já tenho, princesa. E eu não vou poder passar tanto tempo com você por causa dele.

  Ela faz biquinho – o que a deixa totalmente fofa.

  - Então, onde você está trabalhando?

  Agora é a vez de ela negar.

  “É impossível trabalhar se eu não posso falar. Só estava lá com você porque você me deixava não trabalhar.”

  - Ainda quer um trabalho?

  Ela faz que sim com a cabeça e dá um sorrisinho meigo.

  - Tudo bem se você for camareira de um hotel? Setecentos reais por mês e nem precisa falar. Então você paga seus pais e ainda passamos mais tempo juntos.

  Ela concorda sorridente e com os olhos brilhantes.

  - Avisa aos seus pais que você vai começar a trabalhar e tal. É de quatro da tarde às dez. E como você é estudante, deve conseguir até menos tempo.

  Ela manda um sms para os pais e eu a levo até o hotel. Enquanto eu vou colocando a roupa de trabalho – nada mais nada menos que uma calça de tecido leve preta e uma blusa branca com o símbolo do hotel na parte direita. O gerente aceita a Marina como funcionária, e, com um pouco de persuasão da minha parte, ele deixou que a Marina ficasse sempre ao meu lado, porque sendo muda, ela não poderia ser muito útil sozinha.

  - Os quartos do segundo e terceiro andares deverão ser limpos por vocês. Os que tiverem uma plaquinha verde na porta, você podem entrar para limpar, os que não tiverem, esperem para ter. – o gerente avisa entregando um carrinho em minhas mãos com toalhas limpas, vassouras, panos, produtos de limpeza, um baldinho com sabonetes, toalhas e coisas assim.

  Fomos primeiro ao segundo andar. Todos os quartos estavam com o bagulho verde na porta. Trabalho é trabalho, então começamos sem reclamar. Já no o último quarto do segundo andar, nós dois estávamos exaustos. As pessoas que alugam esses quartos são porcas. O quarto estava quase igual ao da Marina.

  - Nem pense em dormir, eu não vou terminar de arrumar tudo sozinho não! – brinco fazendo cócegas na menina zumbi ao meu lado.

  Ela me mostra a língua e voltamos ao trabalho.

  Exatamente às dez horas, acabamos nosso ultimo quarto – claro que teve alguns filhos da puta que demoraram um milênio para nos deixar arrumar o quarto, mas finalmente acabamos. E claro que ela não limpou uns três quartos, mas eu relevei, porque ela estava estudando para a prova de inglês.

  - Amanha, tentem não se atrasar. – o gerente resmunga enquanto saímos do hotel. A Marina está péssima, parece realmente um zumbi.

  Pegamos um ônibus para a casa dela, mas a Marina desmaia de sono antes mesmo de o ônibus começar a andar. O ônibus está cheio, mas consigo um lugar para ela sentar, e deixo sua cabeça apoiada em mim – assim ela não cai em cima do cara ao seu lado. Eu fico em pé, minhas pernas já doloridas, mas eu não consigo parar de me preocupar com ela. Sua pele está muito mais pálida que o normal, e mais fria também. E ela está com muito sono, isso não é só preguiça, ela dorme mais que eu, e tem muito mais sono.

  Quando chegamos a sua casa, eu toco a campainha e seu pai abre a porta, esbaforido.

  - Finalmente vocês chegaram! Onde estavam? Por que demoraram tanto?

  - Er, ela não te avisou? Nós estamos trabalhando, e o turno acaba às dez.

  - Não.

  - Posso entrar, ela tá dormindo e eu gostaria de deixa-la na cama dela.

  O pai concorda, mas hesita. Entro na casa e levo-a até seu quarto. Deixo sua mochila na mesa e a deito na cama. Coloco o cobertor para aquecê-la e volto para a sala, onde o pai dela está me esperando para conversar.

  - Pode ir falando. Você não estuda não? Por que ela está trabalhando até tarde?

  - Falou... Bem, eu acabei o ensino médio esse mês, e como não fui adotado, quando nos tornamos adultos somos largados na rua para vivermos por conta própria. Não estou estudando porque não tenho tempo de estudar e ganhar dinheiro.

  - Não quer estudar? Ter um futuro bom?

  - Claro que sim, mas tenho que agir de acordo com o que posso.

  - Então, o que você pode fazer agora?

  - Estou trabalhando para conseguir um lugar para morar e guardar um dinheirinho. E então, quando a grana estiver boa, vou começar a estudar, ou então arranjar um emprego que eu possa ganhar mais que eu tô ganhando agora.

  - E porque a Marina está trabalhando com você?

  - Ela quer o dinheiro dela, e precisa quitar a dívida que tem com você.

  - Ela já pagou.

  - Já?

  - Sim. Eu acredito que ela esteja trabalhando apenas para ficar ao seu lado.

  Não falo mais nada. Esse é um dos motivos, não?

  - Bem, senhor, já está tarde, eu preciso ir.

  - Não, hoje você dorme aqui, nós ainda temos muito que conversar.

  Engulo seco, mas o obedeço. Ele me coloca para dormir no quarto de visitantes, uma cama de solteiro e um banheiro. Tomo meu banho e ele entra no quarto com uma bermuda e uma blusa dele.

  - Obrigado.

  - Não vá agradecendo tão cedo. Durma agora, mas amanhã nós teremos uma longa conversa.

  Durmo nada tranquilamente e acordo com batidas frenéticas na porta.

  - Oi princesa. – murmuro, com a voz rouca de sono, e tento dar um sorriso.

  Ela me abraça forte e me empurra para dentro do quarto, fechando a porta atrás dela.

  - O que foi? – pergunto, mas ela não precisa nem escrever nada. Eu vou leva-la pra escola, mas tô atrasado.

  Como só dormi de cueca, coloco uma calça de moletom e uma blusa qualquer que encontrei na mala. Dou uma escovada nos dentes e molho o rosto para acordar. Deixo nas malas ali mesmo e sou puxado para fora da casa. No ponto de ônibus, ela respira lentamente e apoia sua cabeça em meu ombro, fechando os olhos em seguida.

  - Mas já está cansada?

  Quando a escola chega, ela entra e eu fico plantado que nem um bobo na porta. Alguns alunos até ficaram cochichando sobre eu e a Marina. Volto para a casa dela e encontro seu pai me esperando do lado de fora.

  - Agora eu entendo o motivo da Marina não querer mais motorista particular. – ele resmunga e dou de ombros.

  - Venha, vamos andar um pouco, não quero que minha esposa dê um ataque ao nos ver.

  Andamos até sairmos do condomínio, e então ele começa a falar.

  - Sabe, eu ainda não o perdoei por ter invadido a minha casa naquela semana, e definitivamente não me esqueci de quando você praticamente chamou eu e minha esposa de incompetentes e idiotas. – controlo minha vontade de rir.

  - Bem, mesmo com isso tudo, eu e a Helena conversamos e-

  - Quem?

  - Minha esposa, Helena. E eu sou o Paulo.

  - Ah, sim. Continue.

  - Eu e a Helena conversamos e percebemos o motivo da tristeza dela. Você, ou melhor, sua ausência. Sabe, ela começou a mudar umas duas semanas antes de pegarmos vocês dormindo juntos, seus olhos brilhavam mais, e ela parecia até mais sorridente, mas estava mais ausente também. Aí nós começamos a escutar a voz de alguém do quarto dela. Primeiro pensamos que fosse a televisão, mas então percebemos que era sempre a mesma voz, e então pegamos vocês dois ali. E então tudo piorou para ela. Se antes ela estava ausente, esses dois meses ela desapareceu completamente. Nós quase não a víamos. Posso contar nos dedos quantos dias nós nos vimos, e olha que moramos na mesma casa. Ela começou a ignorar sua mãe e eu, e teve uma crise estranha lá que ela começou a chorar, tacar tinta nas pareces e a rasgar alguns quadros. Eu e a Helena entramos no quarto dela para acalmá-la e sabe como nós a encontramos?

  - Como? – falo com o coração apertado. Eu sei que ela sofreu, mas não pensei que fosse tão horrível escutar tudo isso.

  - Ela estava chorando com um quadro em seus braços. Você sabia que ela pintou um quadro com você nele? Ela te desenhou deitado com asas de anjo e tudo mais.

  - Eu sei, eu achei o quadro bonito, mas discordei completamente do desenho.

  - Então, então nós a levamos à psicóloga. Ela só fez duas sessões. Nelas, ela pintou um quadro mostrando o que sentia, mas no final da segunda sessão, a psicóloga disse algo que a irritou e ela pintou o quadro todo de preto com uma lua vermelha. O mesmo desenho que está na porta de seu quarto.

  - O que significa?

  - Não sabemos, na verdade, a lua vermelha é símbolo de um grupo, mas no caso da Marina, esse grupo não tem nada a ver. – ele faz uma pausa e olha para mim com um olhar meio estranho. – Sabe o que estava desenhado antes dela pintar tudo de preto?

  - Quero.

  - Você e ela. Você estava sentado e ela estava no seu colo. E então a psicóloga perguntou a ela, “o que isso tem a ver com o que você está sentindo”? Aí ela jogou a tinta preta pelo desenho e pintou a lua vermelha. E então foi embora. Encontramos a chorando no quarto dela, mas desta vez a deixamos lá. Ela parou de falar com a gente, parou de pintar também, e quase que foi internada uma vez.

  - Oi? Por quê?

  - Ela estava muito pálida, fria, e quase desmaiou, duas vezes. Então nós fomos socorrê-la, mas ela saiu correndo para o quarto dela e não deixou ninguém entrar.

  - E depois?

  - Deixamos de lado, se ela não quer ser cuidada, não preciso me preocupar com isso.

  É muita imbecilidade num cara só. Socar a cara do pai da Marina para ver se assim ele consegue raciocinar melhor é crime?

  - Bem, se quer saber, ela nunca me pareceu tão feliz quanto nos dias que estava com você, e por causa disso, eu e a Helena discutimos e tomamos uma decisão. – ele faz uma pausa dramática só para me deixar mais nervoso. – Vocês dois podem continuar se encontrando, mas não quero que ela nos desrespeite. E nós vamos deixa-lo dormir onde está dormindo agora, mas em troca, terá que começar a estudar. Não queremos que você fique dependendo do dinheiro da minha família no futuro.

  - Eu não uso o dinheiro de vocês!

  - Sempre há uma primeira vez. Então, concorda com os termos, ou prefere sair daqui agora e se meter com a polícia cada vez que se aproximar da minha filha?

  - Eu concordo, mas vocês precisam parar de machuca-la. Se vocês querem dar uma lição, deixem-na de castigo, mas não bate mais nela.

  - Tentaremos.

  - Obrigado.

  - Agora vá procurar algum livro e comece a estudar.

  - Mas senhor-

  - Eu falei que o queria estudando.

  Reviro os olhos o que faz o velho dar uma risada seca. Volto para a casa deles – que agora é meio que a minha também, e depois de duas horas refletindo, acabo com três profissões em mente: chefe de cozinha (sempre curti cozinhar, mas nunca tive muita grana para investir nisso), administração (parece ser uma coisa fácil, e eu tenho um inglês básico – por incrível que pareça) e por fim, e a profissão mais difícil das três, medicina (sempre fui bom em ciências humanas e naturais, acho que seria legal ser um médico, um pediatra na verdade, não me incomodo nem um pouco em cuidar de crianças, só não gosto muito de conviver com elas).

  Busco a Marina na escola. Ela está bem mal. Dou um abraço nela e percebo a friagem de sua pele. A palidez evidente, a fraqueza e a preguiça. E agora o fato dela ter quase desmaiado. Isso não é normal, e eu tenho quase certeza do que é. E não é boa coisa.

  - Tenho boas e más notícias, princesa. – falo enquanto entramos no ônibus e andamos até o fundão, onde está vazio, por incrível que pareça. – Conversei com seu pai hoje e ele me deixou morar com você, mas você vai precisar parar de desrespeitá-los. E eu preciso estudar e trabalhar.

  Ela dá um sorriso fraco e concorda com a objeção do pai. Já no trabalho, nada melhorou. Ela começou a fazer as coisas e quase desmaiou. Deixei-a deitada nas camas enquanto eu arrumava o quarto o mais rápido possível. Acabo tudo dez e quinze, exausto, e a Marina está quase dormindo. Abro seu olho com meus dedos e afasto um pouco a pele embaixo de seu olho. Sua conjuntiva está muito pálida. Isso é ruim.

  - Princesa, você tá com dor em algum lugar?

  Ela mexe a cabeça, concordando.

  - Onde?

  Mas ela já está dormindo, isso porque eu estou sendo otimista, porque pode muito bem ser um desmaio. Corro com ela até o hospital. Entramos na ala de emergência e um enfermeiro nos atende. Eu digo todos os sintomas e aviso que encontrei as lâminas com sangue.

  Ele faz um exame de sangue e checa tudo o que não está normal. Temperatura do corpo, palidez cutânea, batimentos do coração e essas coisas.

  - Então, ela está com anemia mesmo? Ou é só um mal estar? – pergunto assim que ele se coloca ao lado da Marina.

  - Eu creio que sim. Estou esperando o diagnóstico do sangue para ter certeza. Agora o senhor pode me dar licença, porque eu preciso verificar o corpo da paciente para ver se as lâminas com sangue vieram de tentativas de suicídio, ou se o sangue nem é dela.

  - Eu não posso deixa-la sozinha.

  - Cadê os pais dela?

  - Estão a caminho, - minto - enquanto eles não chegam, eu fico aqui.

  O enfermeiro, meio irritado, concorda comigo. Ele vê pulsos e barriga. Na hora que decide olhar as pernas, eu me viro, porque sei que, se ela estivesse acordada, não gostaria que eu ficasse olhando enquanto ela ficava sem calças.

  - Você está certo, senhor. O sangue nessas lâminas é dela.

  Viro e olho diretamente para suas pernas. Nas duas coxas dela, têm várias cicatrizes, algumas mais recentes, outras apenas uma linha fina e mais escurinha. Um corte por cima do outro, alguns bem profundos.

  - Porra, o que você fez Marina? – murmuro preocupado enquanto o enfermeiro coloca as calças nela.

  - Senhor, o exame já deve estar pronto, eu vou busca-lo. Tente acordá-la.

  Assim que ele sai eu seguro a mão dela e começo a chama-la, mas não preciso medir muitos esforços, ela acorda num instante.

  - Princesa, como é que você tá? – pergunto assim que ela abre os olhos.

  Ela olha confusa para o lugar, então eu explico. E então ela começa a chorar. Sento na maca, ela se levanta e senta ao meu lado, chorando em meu ombro.

  Pego o celular dela e coloco em suas mãos. Ela digita freneticamente.

  “Por favor, não conta para ninguém sobre os cortes, eu explico tudo quando chegarmos a casa. Nem precisa contar a eles que estou aqui.”

  - Sem problemas, princesa. Mas antes... Você sabe o que você tem? – pergunto calmamente.

  “Não, o que eu tenho?”

  - Voltei senhor, o resultado deu positivo ao que estávamos pensando. – ele dá uma olhada para o estado da Marina e se espanta ao vê-la chorando – Estou interrompendo alguma coisa?

  - Não, não. Prossiga.

  - Ela está com anemia ferropriva, isto é, está com falta de ferro no sangue. – faz uma pausa e então volta a falar, agora apoiado na parede - Por favor, senhorita Duarte, poderia me explicar no que se consiste a sua alimentação?

  Ela começa a digitar. O enfermeiro não entende.

  - Ela é muda. – explico.

  Assim que acaba de digitar, ela mostra a ele. Provavelmente escreveu que come só besteira, nada saudável.

  - Certo. E poderia me informar quando os sintomas apareceram?

  Digita novamente. Mostra a ele. Eu me remoo de curiosidade.

  - Entendo. Quando você se cortava, o sangramento era intenso?

  Digita novamente.

  - Compreendo, então é isso. Eu vou te receitar um remédio esses comprimidos de sulfato ferroso. Use-o pelo tempo que achar necessário. Quando os sintomas desaparecerem, você pode parar de usar. Querem uma amostra grátis?

  - Sim, por favor. – me levanto da maca puxando a Marina comigo.

  - Senhorita, gostaria de ter uma consulta com a nossa psicóloga? Ela pode te ajudar com o seu problema.

  Ela digita novamente.

  - Se deseja assim, sem problemas. – ele se vira para mim – Aqui está o remédio dela, dois comprimidos por dia.

  - Obrigado. – puxo a Marina para fora. Já são onze e meia.

  O hospital é perto da sua casa, de modo que chegamos de ônibus em cinco minutos. Ela abre a porta de casa e damos de cara com o seu pai furioso sentado no sofá a casa.

  - Boa noite, senhor.

  - Péssima noite, moleque. Pode me explicar porque há um atraso de uma hora e meia?

  - O transito estava horrível, e hoje nós demoramos um pouco mais no trabalho, foi um inferno. – depois de tantos anos, aprendi a mentir e ninguém me pega, ninguém mesmo.

  - Da próxima, liguem! – ele ralha e sobe as escadas em direção ao quarto dele.

  A Marina já estava indo para o quarto dela quando eu a levo para a cozinha.

  - Nem reclama princesa.

  Deixo-a sentada na cadeira e procuro alguma comida saudável para ela comer. Encontro um pouco de franco na geladeira, arroz e feijão. Coloco tudo em um prato e esquento no micro-ondas. Encontro também um suco de caixinha de laranja, daquele suco estilo caseiro. Encho um copo para ela e coloco em sua frente. Tiro a comida do micro-ondas e coloco na frente dela.

  Sento ao seu lado e espero enquanto ela come a comida toda do prato. Eu assumo, foi comida demais para ela, mas ela comeu com vontade. Bebeu o suco e engoliu o comprimido.

  Lavo a louça enquanto ela vai para o quarto dela tomar um banho para dormir. Acabo com isso e vou ao meu quarto. Coloco uma roupa limpa e confortável e vou para o quarto da Marina.

  Ela já está na cama, com um pijama de panda – um short no meio da coxa preto e uma blusa de meia manga com a foto de um filhote de panda.

  - Já está melhor, princesa?

  Vejo-a fazendo que sim com a cabeça e me sento na cama, ao lado dela.

  - Posso te perguntar uma coisa? – ela deita a cabeça em meu colo com o celular em mãos.

  “É sobre os cortes?” – escreve rapidamente e eu falo que sim. “História longa ou curta?”

  - A melhor para você.

  Ela digita rapidamente, com os olhos banhados em lágrimas.

  “Meus pais me irritavam e me machucavam, tanto fisicamente quanto emocionalmente. E o fato de eu ser muda, piorava tudo. Eu não gosto disso, eu não posso falar nada, não posso argumentar, não posso me defender. É como estar no meio de um pesadelo e não conseguir acordar. E eu não tinha ninguém comigo, então me cortei, na esperança que no dia seguinte, eu já estivesse morta, mas não tive coragem para fazer um corte tão profundo. Então deu nisso. E eu fiz na perna porque ninguém desconfia.”

  - Posso ver? – aponto para onde estão os machucados e ela morde o lábio nervosamente, mas deixa.

  Levanto a barra do short até aparecerem os cortes, e então passo meu dedo de leve por ali. Em alguns, ainda tem aquela “casquinha”, e ela se remexe quando eu toco nelas. É agoniante tocar nos cortes. E uma parte da culpa é minha. Eu sei disso. Se eu não tivesse feito o que fiz, ela não teria se cortado.

  - Por favor, princesa, não faz isso de novo, falou?

  Ela está quase chorando, e eu não devo estar muito diferente.

  “Prometo.”

  Abraço-a fortemente e então deitamos na cama. Ela usa meu peito como travesseiro e eu fico brincando com seu cabelo. Deixamos a televisão ligada num filme de comédia romântica. Meia hora depois, eu olho para o lado e ela já está dormindo.

  Desligo a televisão e me aconchego mais na cama, com a garota mais linda do mundo em meus braços. E então eu durmo.


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