Meu Querido Assistente escrita por Laura Penha


Capítulo 6
Caridade




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– Me deixa ver se entendi direito – Ele pigarreou antes de começar – Você, Sakura Haruno, está ajudando generosamente meu irmão a pagar meu tratamento em troca da história da nossa vida?



Sorri feliz por ele me achar generosa, fazia tempo que não me elogiavam. – É



Sentamos um de frente para o outro nas cadeiras giratórias.



– E ele sabe?



Meu lindo sorriso se desfez – Não.



– E... – Ele sorriu e apoiou os cotovelos nos joelhos e apoiando o queixo com as mãos entrelaçadas – o que eu ganho com isso?



– A felicidade do seu irmão? – Arrisquei e ele riu. Eu já estava perdendo minha paciência. – Olha, eu agradeço o que você está fazendo, principalmente por que sei que o imbecil do Sasuke não deve nem estar se alimentando direito só pra pagar a clinica pra mim.



– Mas...



– Mas vai ser muito chato eu ficar repassando informações pessoais do meu irmão como se eu fosse, sei lá... um espião.



Eu já estava por aqui com aquele aproveitador. Quer dizer que ele queria mais que aquilo? Dinheiro? Drogas? Favores sexuais? A última opção eu até poderia considerar, ele é parecido com o Sasuke, então mataríamos dois coelhos com uma caixa d’água só.



– O que você quer? – Perguntei esperando ansiosamente pelos favores sexuais.



– Você quer minha história, me dê a sua também. – E então sorriu outra vez fazendo uma covinha quase imperceptível. Fofo.



– Ok. Você primeiro.



– Tá. – Ele forçou a visão como se estivesse fazendo um grande esforço para se lembrar. – Como você deve ter percebido, eu sou o irmão mais velho, mesmo que não pareça ou haja como um, já que eu comecei a me drogar aos 15 anos. Sasuke sempre foi o preferido. Educado, gentil, inteligente. Sempre tinha a atenção do rabugento do nosso pai.



– Que carinho...



– Obrigado. Eu era como a ovelha negra da família, mas ainda assim ele me respeitava e me queria por perto.



– Ele quem?



Itachi se mostrou impaciente com minha lerdice. – Sasuke.



– E quando os seus pais... Digo...



– Morreram? Faleceram? Foram dessa pra melhor? – Insensível ou simplesmente idiota? Eu não sabia, decidi calar meus pensamentos e ouvir o que ele tinha a dizer - Já me acostumei com isso tudo, Sasuke não. Assim que nossos pais morreram mal teve tempo de aceitar a ideia, já estava trabalhando pra me manter em tratamento. E quando eu achava que estava tudo bem, voltava pro vício.



– Nossa. – Eu estava realmente impressionada. Sasuke não era fraco, muito pelo contrário, lutava com todas as suas forças pra salvar o que ainda lhe resta da família que um dia foram. Tudo bem que é uma história boa, e que eu estou fazendo uma coisa boa para pessoas boas, e o que eu ganho com isso? Nada. Nem o corpo nu de Sasuke Uchiha.



Ainda não consigo entender o lado bom da caridade.



– Agora a sua história.



– Era uma vez-



– Você entendeu.



Eu ia protestar, dizer que era eu quem estava com toda a moral por que o dinheiro era meu e talz, mas aqueles olhões pretos cheios de curiosidade me convenceram.



– Eu perdi meus pais muito cedo, nem lembro mais quantos anos eu tinha, mas lembro dos rostos. O resto vivi com minha avó, que vale ressaltar era muito mandona, irritante e não gostava nem um pouco de me criar.



– Que barra.



– É – Concordei - Ela morreu quando eu tinha dezoito, então comecei a trabalhar imediatamente e juntar dinheiro. Aos vinte e um descobri que ela tinha herdado a herança dos meus pais, já que eu era nova demais na época, e a cada ano ela colocava mais e mais dinheiro. Juntando isso e minhas economias, montei primeiro uma mecânica de carros. Paguei meus próprios cursos sobre funcionamento de carros e modelos. Fazendo mais economias consegui montar em outro lugar uma fábrica e aos poucos fui contratando e comprando máquinas. Agora tenho vinte e três e um império automobilístico.



– Sozinha?



– É. Talvez por isso eu seja tão chata quando se trata de tudo isso, sabe? Contato humano.



– Eu não acho. – Naquele momento senti que uma faísca de sinceridade tinha se acendido e fazia realmente muito, muito tempo que eu não via aquilo em alguém.



– Obrigada.



Nós sorrimos um para o outro - E o que eu digo pra ele. Pro Sasuke.



– Foi um sorteio de pagamento até o fim do tratamento e você ganhou.



– Ele vai saber.



– Não, pedi sigilo. Além do mais ofereci o mesmo a mais duas pessoas.



Ele riu alto e girou feliz na cadeira, quando parou voltou a me encarar. – Você vai voltar? Não gosto de conversar com as pessoas daqui, são meio...



– Loucas? Fissuradas?



– É.



– Não se preocupe, eu volto.



*******



– Parece feliz hoje. – Falei para Sasuke assim que cheguei e eu esperava realmente que a felicidade dele não tivesse relação nenhuma com a incompetente da Shizune.



– Pareço? – Deu um sorriso de lado e aquela imagem eu gravei na minha mente.



– Sim, mas não fique tão animado. – E outra vez ele me ignorou. – Você acabou o relatório?



– Uhum. O mesmo declínio vem aumentando mês após mês para no fim do ano completar dois por cento, mas esse ano – ele virou a tela para mim – O aumento que era de zero virgula dois, ou números abaixo disso estão aumentando.



– Estão roubando mais que nos anos anteriores?



– É.



Sentei na poltrona atrás da minha mesa extremamente intrigada, mas comecei a ter ideias mirabolantes. Toda empresa registra o que os empregados fazem em seus computadores, então era só arranjar alguém que esteja disposto a investigar esses dados. Mais uma vez eu precisaria de Sasori.



– Tenho uma ideia.



– Qual?



– Depois eu te conto, a sala pode estar grampeada. – Só o escutei me chamar bem baixinho de ‘exagerada’. Eu tiraria satisfação, mas naquele momento Shizune me veio a mente.



– E como foi ontem?



– Anh?



– Com ela.



– Foi legal.



Que tipo de resposta é essa? Legal do tipo: Nós fomos pro meu apartamento e transamos três vezes. Legal do tipo: Só saímos, mas sairemos outras vezes. Ou legal do tipo: ela é horrível e eu prefiro você, Sakura.



Me calei. Eu não tinha interesse nenhum nele então por que perguntaria? Sinceramente, Sakura, analise a situação. Sasuke é pobre; você é rica. Sasuke é orgulhoso; você também.



Tá vendo, produção, jamais daria certo.



– Você quer um café? – Sasuke perguntou ao me ver olhando para o nada em meus conflitos internos.



– Quero.



– Não aqui, Sakura, lá embaixo. Tem um café excelente na esquina.



Eu sorri verdadeiramente feliz, por que pela primeira vez Sasuke me chama para sair, mesmo que seja num lugarzinho desses. E o melhor de tudo é que ninguém, ninguém, pode estragar esse momento tão feliz.



Entrando no elevador, ele pergunta - Eu convidei a Shizune, você se importa?



Deixei o elevador fechar com ele lá dentro e ainda o ouvi chamar meu nome enquanto voltava para a sala e trancava a porta.



Desabei.

 

 



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