A Herdeira Do Lado Negro escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 15
Capítulo 15 - A vida de Safira Anabelle


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores!



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– Niara?! Niara! – os gritos de Cedrico se tornavam cada vez mais distantes.

A menina de pele pálida e cabelos negros e lisos andava pelo corredor do quinto andar de Hogwarts com os ombros caídos e o rosto escondido pela cortina escura que era seus cabelos.

Uma lágrima atingiu o chão com um ruído mais alto do que o necessário.

Niara sentiu os pelos do braço arrepiarem e levantou a cabeça, com seu olhar frívolo. Amon a observava com uma sobrancelha levantada. Ela assentiu uma vez, como se dissesse que ele tinha razão.

Amon caminhou até ela e a cobriu com seu sobretudo, passando a mão em sua cabeça.

– Você fugiu dos seus propósitos, menina. Esse é o preço. – ele disse em tom baixo. – Venha, está na hora de você descobrir a história do seu passado...

– A primeira fase do torneio começa daqui algumas horas... – ela sussurrou com a voz rouca. – Eu prometi que eu...

– Você vai mesmo ignorar meus conselhos? – ele perguntou desafiando-a.

Ela o encarou com os olhos azuis marejados, nunca se sentira tão vulnerável e tão perdida na vida. Ela negou com a cabeça depois de pensar um pouco e eles continuaram andando.

Chegaram à parte de trás do castelo de Hogwarts, Amon estava em sua forma de coruja empoleirado no ombro de Niara.

– Acho que ninguém vai nos ouvir aqui. – ela colocou a coruja no chão, que piou antes de ser transformar em humano.

– Tudo bem – ele suspirou e se sentou perto de uma árvore, deu tapinhas a seu lado para que ela se sentasse também. Ela o fez, e se cobriu com o cobertor que havia pegado no dormitório.

O vento frio balançava os cabelos de ambos, e Niara se aconchegou ainda mais perto do homem.

– Sou péssimo com palavras, prefiro que você veja. Vou te passar minhas lembranças, Niara. Mas antes, - ele fez uma pausa para observá-la – Quero que não tenha medo, do que quer que for ver, e também quero que entenda meu ponto de vista. Na época eu não era tão... bonzinho. Vou tentar evitar as partes desnecessárias.

– Acho que tudo bem... – ela murmurou incerta.

Amon colocou sua varinha na têmpora e retirou um fio prateado, hesitando por um momento antes de colocá-lo na cabeça de Niara. Automaticamente o corpo dela caiu em seu colo, inconsciente.

Niara girava e rodopiava, e não ia para lugar algum. Não sabia se estava decolando, ou caindo, ou parada. Tudo ao seu redor era escuro, e então um luz começou a surgir e ela começou a discernir o lugar. Um aperto forte em seu peito marcou o reconhecimento. Ela estava em uma rua do Beco Diagonal, seu lar durante todos aqueles anos. Ela se localizou na rua em que morava com a bruxa, quando ainda era um bebê, mas tudo parecia muito mais novo, pois eram há muitos anos antes de seu nascimento. Era uma tarde quente, o vento soprava leve como uma brisa, e enchia o ar com o perfume de pães assando e bolos na mercearia da outra esquina. Várias pessoas surgiram do nada e começaram a circular pelas ruas do Beco, todas vestindo os típicos trajes de bruxos.Em um canto Niara reconheceu a mesma bruxa que fora sua babá, mas ela era apenas uma criança, não passava dos cinco anos de idade, e estava acompanhada de uma mulher mais velha na mesma banca de poções.

Um moça jovem chamou a atenção naquela cena, ela estava escondida em um canto pouco iluminado, com uma saia vermelha de seda por baixo do manto escuro. A moça estava de capuz e conversava com um homem muito mais velho. Niara se aproximou para observar a cena e se chocou. A moça era idêntica à ela, sua cópia. Os mesmos cabelos negros e compridos, os mesmos olhos azuis e a mesma pele pálida... Era inclusive da mesma altura. O único traço que as diferenciava, era que a moça possuia um sorriso muito mais gentil e tinha uma tatuagem escondida no pulso sobre o manto.

– Ora, mas como assim, Hector? Eu lhe disse que não me comprometo com ninguém. Um compromisso é algo que aprendi a temer... – a moça riu com graça, com a voz de um anjo.

– Eu lhe peço em casamento e é assim que você me trata, Safira? Sabe que posso lhe dar tudo o que quiser... – o velho de cabelos brancos respondeu sorrindo.

– Nem tudo, caro Hector... Nem tudo. – o sorriso dela morreu um pouquinho, mas Hector nem pareceu perceber.

– Eu entendo. Mas posso arranjar outras maneiras de recompensá-la, princesa, sabe disso. – ele passou uma mão pelo rosto dela e ela se desviou gentilmente.

– Hector, não torne tudo tão difícil, não me faça ser má com você... – ela deu um beijinho na bochecha dele e se virou para pegar uma cesta de vime no chão, cheia de ervas e especiarias raras. Hector lhe deu um tapa na coxa.

Safira ergueu o corpo, seus olhos transmitindo a mais pura indiferença. Niara estava com as duas mãos cobrindo a boca.

Avada Kedrava. – Safira sussurrou, apontando sua varinha discretamente para o velho atrás dela. Ele caiu morto.

Ela suspirou e assoprou uma mecha do cabelo. Voltando a sua expressão alegre e carinhosa e voltou para a rua movimentada.

Um momento mais tarde, Niara acompanhou a mãe até uma casa distante e observou enquanto ela colocava uma chave de ferro no portão e girava, entrando na residência enquanto cantarolava uma linda canção. A casa parecia toda feita de madeira e pedras, sem nenhum acabamento ou planejamento, o teto parecia pender para o lado direito de uma forma perturbadora. A casa era ou uma aberração da arquitetura, ou alguma obra de um museu. Niara ficou com a primeira opção, e entrou.

A casa por fora não era nada comparada ao que possuia dentro. Era uma mansão, cheia de relíquias e quadros de pessoas famosas em todas as paredes. Os móveis ostentavam ouro e diamantes. Sua mãe retirou o manto e o pendurou atrás da porta. Bateu as botas no chão para tirar a terra e a sujeira depois arrumou o volumoso vestido vermelho sangue. Ela caminhou até a escadaria que dava para o andar superior e aos quartos. Sua tatuagem de comensal da morte ficara visível já que o vestido era de manga curta. Ao chegar na porta de um dos quartos, ela arrumou o espartilho e o decote, deixando os seios ainda mais expostos e volumosos. Safira respirou fundo antes de bater na porta duas vezes.

– Entre. – uma voz sibilante a chamou lá de dentro.

Ela entrou e fechou a porta atrás de si.

– Boa tarde, mestre. – ela fez uma mesura ainda de cabeça baixa.

Você demorou. Fez o que eu pedi? – a voz se aprofundou.

– Sim, senhor. Aqui está, tudo o que pediu. – ela carregou a cesta até a mesa de cabeceira da cama onde Voldemort estava sentado. Ele estava diferente, suas feições ainda não estavam tão parecidas com um réptil. Seu rosto parecia mais humano, mas não menos cruel.

Dois homens estavam em pé próximos a janela, eles também possuiam marcas negras nos antebraços.

– Ah, querida. – Voldemort agradeceu-a com um olhar frio. – Vocês, não são mais necessários aqui, saiam. – ele indicou aos dois homens que sairam pela porta.

– Venha, querida. – ele sorriu malignamente enquanto a observava se aproximar da cama.

Niara notou um par de olhos curiosos em um vão da porta. Os mesmos olhos que observavam sua mãe desde o Beco diagonal. Era Amon, muito mais apresentável e um pouco mais jovem. Seus olhos perscrutavam o quarto em busca de alguma coisa.

Niara avistou a varinha branca de Voldemort apoiada em algo dentro do armário entreaberto. E Amon olhava na mesma direção.

Safira se aproximou devagar de onde Tom Riddle estava e com um gesto rápido ele arrancou seu vestido caro. Amon conteve um rosnado de raiva enquanto se decidia entre pegar a varinha, ou interromper a cena diante de si.

Tom começou a rir.

Achei que tivesse mandado você terminar uma tarefa pra mim, Amon Casimir- ele disse enquanto passava os lábios no ombro de Safira.

– Estou indo, senhor. – Amon respondeu fechando a porta, a contragosto.

Depois toda a visão ficou borrada e Niara pode enxergar apenas Amon sentado na cozinha no andar de baixo enquanto ouvia os gritos e gemidos no andar de cima. Ele chorava em segredo, e suas lágrimas se transformavam em fumaça antes de atingirem o solo. Ele levantou o punho esquerdo da camisa encardida e olhou a tatuagem com o nome: Safira.

Tudo ficou confuso novamente e outra cena apareceu. Safira estava vestida em uma camisola comprida e branca junto de seu manto escuro enquanto segurava um candelabro. As chamas bruxelavam e criavam figuras que dançavam nas paredes de pedra do Beco. Amon surgiu de um canto e a puxou pela mão.

– Onde você esteve? Estive preocupado... – ele perguntou, sua voz demonstrando a ansiedade.

– Me desculpe, não conseguiria sair mais cedo sem acordá-lo... – ela sussurrou e se aninhou em seu peito.

– Nós vamos conseguir... Nós vamos matá-lo. Você nunca mais vai precisar fazer isso, meu amor.

Safira se afastou para encará-lo.

– Casimir... quero que entenda. Não quero que pense que dormir com ele é o problema. Quero que saiba que entrei nesse plano, por que não quero mais ser comandada. Não quero que ele me dê ordens.

– Sim, mas nós vamos matá-lo e estará livre de tudo isso. – ele disse beijando-a com carinho.

Safira ficou tensa.

– Amon... Eu gosto dele. – ela respirou fundo – Eu gosto do Tom... Ele não é assim por que quer eu juro... No fundo ele não é tão mal assim...

– O que você está dizendo? – ele a encarou ofendido. – Que gosta de um assassino sádico e sem limites? Você gosta de uma tipo de pessoa assim?

– Ele não é assim. – ela retrucou ofendida, e se afastou dele com um empurrão.

Ele permaneceu encarando-a incrédulo.

– Você está apaixonada por ele, Safira? E eu?! E o que você fez comigo? – ele gritava, a raiva ardendo em seus olhos.

– Eu te amo também, Amon! Eu também te amo... – ela se apressou em abraça-lo, os olhos cheios de lágrimas – Meu amor...

– Você me ama, também? Também? Como você ousa dizer uma coisa dessas? – ele estava desesperado, parecia de coração partido – E tudo o que vivemos, todas as noites em que ficamos juntos? Nós nos conhecemos desde adolescentes!

– Amon, pare... Por favor! – ela chorava – Eu amo os dois, eu tenho amor suficiente para dividir entre vocês...

– Você gosta dele pelo poder que ele tem não é? – ele riu sádico – Você gosta de estar perto de alguém com a influência daquele monstro. Deixa eu te falar uma coisa, princesa. Ele vai usar e abusar de você, até que você fique inútil. E quando você for inútil, ele te descarta. Manda um de seus comensais, quem sabe até eu, para acabar com você.

Ela desferiu-lhe um tapa em seu rosto, sua voz cheia de raiva.

– Você subestima minha inteligência, seu idiota. Eu não vou morrer, ele gosta de mim, está me fazendo imortal como ele. Eu amo ele pelo que ele é. Vejo coisas nele, que ninguém vê. E pelo jeito, vejo coisas em você que nem ao menos existem...

Ela se virou para ir embora e ele segurou seu pulso, puxando-a para um abraço.

– Eu amo tanto você, que sou capaz de deixá-lo vivo, se for para te ver feliz. – uma lágrima escorreu dos olhos de Amon, e Safira tornou a abraçá-lo forte. – E me sinto um lixo por saber que você ama ele tanto quanto à mim, e mesmo assim, me recusar a te deixar.

– Não me deixe. – ela sussurrou no ouvido dele enquanto entrelaçava suas pernas ao redor de sua cinturava e tirava sua camisa.

Amon a escostou contra a parede de pedra, e o candelabro caiu no chão, apagando a vela e deixando-os no escuro. Os sussurros e gemidos eram abafados pelas pancadas fortes contra a parede.

– Amon, estou grávida. – ela sussurrou entre uma investida e outra.

Ele parou para observá-la, seus olhos se enchendo de lágrimas.

– Eu vou ser pai? – ele sussurrou.

Ela beijou-o com carinho antes de assentir com a cabeça.

Mais uma vez tudo ficou rodopiando em escuridão, e Niara se viu confusa com os fatos. Ela se viu em um quarto escuro, estava abafado e quente. Sussurros desesperados irrompiam o silêncio.

Por favor, Wiliam, vamos logo com isso... – Safira arfava apoiada em uma parede.

– Você tem certeza disso, Anabelle? – William, um jovem audacioso com roupas góticas e a marca negra no braço apontava uma varinha na direção dela.

– Vamos logo, antes que mais alguém descubra. – ela urrou de dor. – Só mais uma vez, anda!

A barriga dela estava protuberante, de uns três meses no máximo, e ela sangrava e estava suada e cansada. Eles estavam tentando abortar o bebê. Com a hesitação de William, Safira perdeu a paciência e pegou a faca de cabo de madeira, em cima da mesa e enfiou em sua própria carne, dilacerando sua barriga e seu filho. William a segurou antes que ela desmaiasse.

– Anabelle, e se você não sobreviver? – ele a olhava preocupado.

– E se eu sobreviver com essa criança? Todo o futuro que planejei pra mim... Estará perdido. Ele nunca me perdoaria...

– Amon também não a perdoará. – William foi sincero.

– Quem tem o poder e a coragem de me matar? Amon ou Voldemort? – ela riu uma última vez, sarcástica. – Amon é inofensivo. Eu poderia engravidar do Outro, que ele seria capaz de me perdoar...

– Não! – Amon entrou no quarto batendo a porta seu rosto manchado pelas lágrimas – Eu nunca vou te perdoar!

Safira fechou os olhos e ficou desacordada.

Avada kedrava! – Amon apontou a varinha para William, que caiu inerte assim como Safira.

Niara acordou assustada, sua cabeça estava apoiada no colo de Amon e ela estava confusa. Ele permaneceu de olhos fechados enquanto dizia.

– E ai? Como foi? – ele perguntou desanimado.

– Amon... Minha mãe engravidou de você? – Niara perguntou surpresa.

Ele abriu os olhos e a encarou com indiferença.

– Ela não queria um filho de um bastardo qualquer... Ela não seria capaz de amar um filho meu, como amaria um filho dele.

– Minha mãe... me amava? – ela perguntou um certa emoção na voz.

– Sua mãe te protegeu até o fim. Seu último suspiro foi por sua causa. Você já viu a história. – ele apontou para o colar dela, que tinha o vidrinho com as memórias do penúltimo encontro deu sua mãe e seu pai.

– Mas então ela abortou o seu filho... E depois engravidou Dele. E por que ela quis ficar comigo, sendo que eu seria a chave para a morte dela? – ela perguntou.

– Quando ela descobriu que estava grávida de você, ela descobriu a única coisa que ela amou na vida. A única coisa que a faria passar por cima de seu egoísmo e de seu orgulho, e a única coisa que ela deixaria que tirasse a vida dela. O amor, Niara, é algo incompreensível... – ele sussurrou de maneira cética.

Niara suspirou e observou o horizonte, decepcionada.

– Então... Ela amou mesmo aquele monstro...

– Óbvio que não. – ele riu sem humor. – Sua mãe não conhecia o verbo amar até você chegar. Ela foi a criatura mais inteligente e mais individualista que eu já vi. Você sabia que ela era amiga dos pais do Potter? Voldemort mandou-a para que descobrisse mais sobre a família deles, e ela era tão convincente, que até ele duvidava de que lado ela estava... Ela usava inúmeros disfarces, perucas, lentes de contato, roupas diversas... Ela era uma especialista em falsidade. Seu pseudônimo dos crimes era Anabelle. A íncrivel e habilidosa Anabelle...

– Eu achava que ela era boa... – Niara sussurrou franzindo o cenho.

– Eu também... – ele concordou. – E no final, acabei fazendo exatamente aquilo que ela disse... A perdoaria se ela engravidasse dele.

– E você perdoou? – Niara o observou de canto.

– O amor é incompreensível. – ele repetiu suspirando, suas feições eram um misto de amor e ódio, admiração e repudio.

Niara pegou sua mão para confortá-lo, em um gesto totalmente raro.

– E então, qual é o plano? – ela perguntou.

– Vamos matá-lo. De uma vez por todas.

– Não é uma má ideia – Niara deu um sorriso torto.

– Ah, e uma coisa que deve saber antes que coloquemos o plano em ação. – Amon se virou e pegou uma navalha pequena dentro do bolso da calça e fez um corte rápido em sua mão esquerda.

Niara estremeceu e sentiu uma dor agúda na cabeça, como se algo estivesse sugando suas energias. Ela colocou as duas mãos na cabeça e fechou os olhos com força tentando conter a dor.

– Seu eu morrer, você morre. E vice versa. – ele disse em tom indiferente. - A querida Ana se certificou de que eu cuidaria bem de você com um feitiço que unia nossas vidas.

– Você não cuidaria de mim depois que ela morresse... - Niara afirmou ironizando.

– Com certeza, você já estaria morta. - Amon riu amargamente.


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de favoritar, comentar, divulgar, ou apenas ler, se desejarem. Um enorme beijo a cada um de vocês!



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