A Herdeira Do Lado Negro escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 10
Capítulo 10 - Dormindo com o Desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Olá!! Um capítulo bem descontraído só pra vocês!



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O ar na ampla sala estava frio, porém pesado. Os outros alunos continuaram aplaudindo e gritando o nome de Diggory. Niara franziu o cenho ainda sem conseguir desviar o olhar dos olhos verdes do bruxo. Cedrico ficou sério, e um pouco confuso com o que havia à sua volta. Um outro olhar chamou a atenção de Niara, Harry a encarava cauteloso, como se esperasse que ela fosse fazer algo ruim. Niara, então desviou o olhar dos olhos de Potter e voltou a observar Diggory, logo antes de deixar a sala com passos firmes e respiração alterada. “O que foi aquilo?” pensou com dificuldade. Olhou para o corredor cheio de estudantes, que transitavam em todas as direções e conversavam, gritavam, sussurravam. Niara não pode mais se focar no que estava fazendo, pois sentiu uma aura negra a envolvendo, seguida de uma pontada violenta no peito.

– Ei?! Olá... - alguém falava à sua frente - Está... tudo bem?

Niara respirou de maneira irregular e enxergou uma mão em seu ombro com a visão embaçada. A pessoa continuava a chamá-la. Ela manteve o caminho do olhar até o rosto daquele à sua frente tentando focá-lo. A primeira coisa que viu foi uma intensa cicatriz que brilhava com algum tipo de energia escura, causando uma sensação de morte em Niara, algo muito ruim. Lentamente as imagens foram ganhando forma e ela pode ver normalmente, enquanto a sensação ruim se esvanecia. Harry a segurava pelos ombros, para que ela não perdesse o equilíbrio e seu olhar era preocupado e ainda cauteloso.

– Está tudo bem com você? - ele repetiu a pergunta.

– Harry... - ela sussurrou enquanto se recompunha.

– Bem, eu... - ele a soltou devagar vendo que ela estava melhor - Quer dizer...

– Potter... O que quer? - Niara respondeu levando uma das mãos á cabeça se relembrando da vertigem.

– Eu queria saber o que houve lá no salão... Agora, com... Diggory. - ele parecia nervoso e mantinha distância - Quer dizer, seu olhar estava... Negro. Achei que não estivesse... bem.

– O que, eu... - ela balançou a cabeça se recordando do rosto de Cedrico - Não foi nada, apenas uma vertigem.

Harry a observou com um olhar desconfiado, como se ela fosse perigosa.

Niara se viu na posição em que queria, cara a cara com Harry, e decidiu aproveitá-la ao máximo para resolver suas dúvidas. Imediatamente mudou de atitude, parecendo mais confiante e desinibida. Sorriu docemente e o segurou pelo ombro enquanto o conduzia pelo corredor cheio.

– Sabe Harry, sempre quis conhecê-lo. - ela começou tentando parecer agradável -- Circulam muitas histórias sobre você, e não apenas aqui, mas por todo o mundo. - ela fez uma pausa e o olhou - Tenho muito respeito por alguém com tanta... importância. E bem, adoraria saber um pouco mais de sua história.

Ele ficou calado e visivelmente não o agradava a presença da garota. Niara suspirou tentando esconder sua frustração e impaciência. Decidiu que presisaria mais do que um lindo sorriso para convencê-lo.

– Harry. - ela parou e o virou de frente para ela, para que prestasse atenção, e começou a sussurrar - Não temo nada, nem ninguém. Não me surpreendo tão fácil, pois acho que já vi muita coisa nessa vida. Não tenho medo de morrer e muito menos de Voldemort. Pode confiar em mim, sou sua amiga.

Um brilho malicioso percorreu seu olhar azul cristalino, sem que percebesse. Mas Harry não deixou isso escapar e semicerrou os olhos.

– Não confio em você. - ele enfatizou com uma voz grave e se virou caminhando pelo corredor.

Niara se viu sem saída. Tinha feito aquela encenação ridícula para nada, e não deixaria assim. Decidiu fazer de seu jeito mais natural. Alcançou-o, mantendo uma certa distância e usou uma de suas mágicas para fazê-lo virar para ela. Tudo ficou paralisado, o tempo congelou e Harry se virou rapidamente. Niara sabia que tinha pouco tempo, pois logo um dos superiores de Hogwarts sentiria o poder inapropriado. Disse rápidas e curtas palavras.

– Temos o mesmo inimigo em comum, não se esqueça.

Harry a observava sem surpresa e assim que tudo voltou ao normal ele se virou e continuou seu caminho. Todos continuaram a andar e conversar normalmente como se nada tivesse acontecido. Niara suspirou cansada e encarou o rio pelas amplas aberturas na parede do corredor, o vento também voltara, balançando seus cabelos escuros. Niara se voltou para a direção oposta à que Harry tinha seguido, indo rumo à saída da escola para Hogsmeade, o pequeno vilarejo. Em seu percurso percebeu um par de olhos furiosos encarando-a ao longe e ela levantou a cabeça para observar.

Ao lado direito do corredor, estava Severo a observando com a expressão raivosa e temerosa. Antes de pensar em algo, Niara o viu se afastar entrando em um corredor paralelo e se misturando aos alunos.

Estou perdida. – ela sussurrou olhando para o teto, antes de rir.

Deu de ombros e continuou caminhando, o que será que o dia lhe daria ainda?

Retornou do vilarejo no final da tarde, o sol já estava quase desaparecendo. Havia passeado um pouco, comido alguma coisa e comprado o jornal. Estava concentrada em sua leitura, enquanto andava pelo pátio de Hogwarts, um pouco escondida para que não a vissem. Strix veio voando em sua direção e derrubou o jornal no chão, rolando pelas pedras frias do solo. Niara se apressou em recolher Strix, assustada com sua queda.

– Pelo amor de Deus, Strix! - ela acariciou a cabeça da coruja - O que houve?

A coruja começou a lhe bicar e a arranhar com suas garras afiadas.

– O que tem de errado com você!? – Niara exclamou deixando sua bolsa cair ao chão, espalhando seus livros escolares pelo chão, enquanto tentava se afastar da coruja furiosa. – Strix!

A coruja então começou a rasgar o jornal em lugares específicos. Niara se aproximou com cautela enquanto observava as letras que seu animal separava no chão. H-P .

– Mas como...? – Niara franziu o cenho para a coruja maluca – O que é que tem ele?

Strix bateu as asas uma vez e piou irritado, virando a cara.

– Você também queria falar com Potter? – Niara gargalhou enquanto se aproximava do bicho.

A coruja fez uma expressão séria antes de voar para longe, batendo as asas no cabelo da dona furiosamente ao levantar voo.

Niara observou ele ir embora pelo céu enquanto pensava sobre o conportamento anormal do mesmo.

– Que bicho será que o mordeu? – ela sussurrou para si mesma enquanto se recuperava dos devaneios.

Quando se abaixou para recolher suas coisas do chão percebeu que outras mãos a ajudavam.

– É um pouco tarde pra passear pelo pátio, não acha? – a voz ressoou hesitante.

– Posso dizer o mesmo. – Niara se levantou para examinar sua indesejada companhia e parou de se mexer. Seu sangue se esvaindo de suas veias.

Cedrico se levantou, estendendo a bolsa para ela, a observando sem jeito com os olhos verdes.

Niara pegou sua bolsa de couro marrom e colocou sobre um ombro.

– Sou Cedrico Diggory. – ele estendeu a mão para ela amigavelmente.

Niara observou a mão estendida à ela e voltou o olhar ao dele.

– O que faz por aqui? – ela perguntou cética, seu olhar se tornando frio novamente.

– Geralmente as pessoas dizem seu nome quando alguém a cumprimenta. – ele murmurou sorrindo um pouco.

– Niara – ela respondeu levantando uma sobrancelha – Não deveria estar aqui.

– Pelo visto você também não. – ele respondeu ficando sério.

– Deve ir embora antes que o peguem. Pode ser expulso, está quase na hora do jantar.

– Ambos sabemos disso... – ele respondeu suspirando.

A brisa gélida do início da noite balançou os cabelos negros da garota enquanto ela reprimia um arrepio. Um silvo escapou de seus lábios. Cedrico manteve os olhos fixos na boca de Niara, depois chacoalhou a cabeça levemente e começou a tirar seu casaco.

– Está frio. Acho que deveríamos entrar. – ele disse enquanto colocava seu casaco em volta dos ombros dela carinhosamente.

– Se você morrer congelado, não me sentirei culpada. – ela deu de ombros, irritada, quando começou a caminhar em direção ao castelo, determinada.

Diggory sorriu antes de se juntar à ela.

Niara caminhava com cautela por um dos corredores estreitos do castelo, parando de vez em quando para ver se ninguém estava observando-a, Cedrico seguindo-a silenciosamente.

– Filch pode passar por aqui a qualquer momento. – ele sussurrou no ouvido de Niara, que espiava o corredor perpendicular. Ela deu um pulo, se assustando.

– Cale a boca. – ela revirou os olhos, se recuperando.

– O quê? Não acha que ele está nos vendo? – ele sorriu provocando-a.

– Sh, fique quieto! – ela sussurrou e se virou abruptamente, colocando uma mão para tapar sua boca.

Ambos ficaram se olhando, Niara com os olhos arregalados, seus rostos próximos demais. A luz da tocha que iluminava o corredor tremeluziu e um miado estridente se fez audível logo atrás dos dois. Niara estremeceu e Cedrico ficou imóvel.

– Madame Nora ... – Niara sussurrou com raiva, virando para encarar a gata diabólica que a observava.

– Vamos embora. – Cedrico a pegou pelo braço mas a garota não se moveu, encarava a gata de uma maneira sombria.

Então, o olhar de Niara se tornou obscuro e ela sibilou com uma expressão mortífera. O felino eriçou os pelos e mostrou os dentes, logo antes de sair correndo corredor adentro, desaparencendo da vista. Niara se recompôs e respirou fundo ao perceber que sua companhia a observava com assombração.

– Não me olhe com essa cara de idiota. Se vai ficar aí, não espere que eu te faça companhia. Estou atrasada. – ela murmurou e continuou o percurso para o grande salão.

Ao chegar lá, todos já estavam em seus respectivos lugares, os alunos sentados nas mesas de suas casas. Alvo Dumbledore estava no meio de um discurso, e se interrompeu observando Niara com curiosidade. Assim, todos os alunos do salão se viraram para vê-la parada na porta. Ela desceu o olhar até o casaco, grande demais, que vestia e deu atenção ao detalhe do brasão de Lufa-Lufa. Cedrico parou a seu lado, fazendo-a bufar, ela tirando o casaco rapidamente e prensando-o em seu peito. Cedrico permaneceu de pé segurando seu casaco, observando-a se dirigir à mesa Corvinal, sem reação, quando Minerva pigarreou e ele se dirigiu à sua mesa envergonhado. Alguns assobios maliciosos se seguiram, Niara encarou a mesa com seriedade e Cedrico também permaneceu sério. Então Dumbledore continuou com suas sábias palavras até dar início ao jantar.

Niara parou no meio de uma mordida em seu cupcake de chocolate amargo para visualizar Harry e Rony na outra mesa, que a observavam um pouco surpresos. Rony acenou timidamente e ela respondeu com uma piscadela, fazendo-o corar. Hermione, que estava logo ao lado, deu um cutucão nos dois, repreendendo-os. Ao longo da noite Harry ainda a observava de vez em quando, muito desconfiado.

Assim que o jantar acabou e os alunos já estavam se retirando para seus dormitórios, Niara preferiu permanecer sentada enquanto os corredores se esvaziavam. Seus olhos azuis tremeluziam e sua expressão séria e pensativa ainda persistia.

– Tirando um tempo das fofocas? – uma voz familiar surgiu no silêncio.

– Só pensando. – Niara deu de ombros, quando levantou o olhar para Robert Williard, seu monitor.

– Problemas com o namorado? – ele perguntou, apoiando os cotovelos na mesa de forma casual, depois de se sentar à sua frente.

– Namorado? – ela franziu o cenho, confusa.

– É... Diggory. – ele respondeu impassível.

Niara prendeu o olhar nele, indgnada.

– Você acha mesmo que eu tenho tempo e paciência para tolices? – ela perguntou se levantando da mesa – Homem nenhum vale minha atenção, e aquele lá é um desconhecido.

– Me desculpe, não quis te ofender – ele levantou as mãos em sinal de rendição – Só queria ver se precisava de algo...

– Pode me dar alguém em quem confiar? – ela murmurou inaudívelmente, enquanto caminhava.

– Como? – ele perguntou seguindo-a.

– Nada. – ela parou e se virou para observá-lo – Pode apenas parar de encher meu saco?

– Está de mau humor esta noite, ou é sempre assim? – ele perguntou ofendido, mas cordial enquanto eles retomavam a caminhada.

– Sempre assim – ela bufou.

Eles continuaram andando e subindo as escadas que levavam para a torre de corvinal.

– Aliás... você colocou seu nome no cálice? – ela perguntou tentando ser mais amigável, inutilmente.

– Sim... – ele fitou o alto das escadas enquanto subia – Sempre foi um desejo meu entrar no torneio.

– Uau. – Niara fingiu surpresa quando eles chegaram na porta do salão comunal. Demoraram alguns minutos para responder o enigma da aldrava e por fim, entraram.

Niara observou Robert apagar todos os candelabros e castiçais acesos. Quando terminou, ele deu um passo para outra direção mas recuou, hesitante. Os olhos azuis de Niara cintilavam na escuridão, a ampla sala apenas iluminada pela noite do teto e a luz da lua que entrava pela janela.

– Você... quer ver uma coisa? – ele perguntou ainda sem olhá-la.

– Pode ser. – ela murmurou.

– Venha por aqui. – ele disse, guiando-a por um escada quase escondida e parando em uma porta larga de madeira escura.

– O que tem atrás dessa porta? – ela perguntou cruzando os braços.

– Meu quarto – ele deu de ombros enquanto tirava uma chave do bolso do casaco de Hogwarts e abria a porta.

Niara arregalou os olhou devagar e permaneceu parada no batente da porta. Robert entrou no quarto e estalou os dedos, acendendo vários abajures espalhados pelo quarto, antes de caminhar até uma enorme estante de livros.

– Vai ficar aí fora? – ele disse assoprando a poeira dos livros.

Niara continuou tensa e entrou no quarto em passos duros sem dizer uma palavra, a porta se fechando atrás dela por um comando do monitor. Robert pegou um livro grosso e antigo e o observou por um tempo, depois caminhou até um divã azul royal de camurça e se sentou indicando para que Niara sentasse na poltrona à sua frente. Ela obedeceu e começou a observar o lugar. O quarto era amplo e o teto era alto, haviam prateleiras abarrotadas de livros em todos os lugares, em um canto havia uma pequena lareira, onde alguns livros queimavam suavemente. Niara levantou uma sobrancelha mas decidiu não contestar. Robert passou os dedos pela capa de metal do livro, com ternura, e depois o abriu, mostrando ser na verdade uma caixa cheia de fotografias. Ele pegou as fotos nas mãos e entregou algumas à Niara.

As fotos eram todas muito parecidas, em sua maioria de uma garotinho pequeno segurando troféus, medalhas e presentes sorrindo e feliz. Em outras pareciam um casal adultos e uma moça muito linda que abraçava e se pendurava no pescoço de Robert.

– Quem é ela? – Niara perguntou analisando os compridos cachos negros da moça, os olhos azuis e a pele morena.

– Minha ex-namorada. – ele respondeu sem sentimentos, como se não houvesse significado muita coisa para ele. Mas Niara viu em seus olhos escuros, que por trás daquela atitude existia raiva.

– Nossa, você deve ter tido muita coragem para terminar com ela. Ela é bonita. – Niara comentou distraída, enquanto percebia que ela era levemente parecida com a garota da foto.

– Eu não terminei com ela. – ele semi cerrou os olhos e depois voltou a observar mais fotos.

– Ela te chutou? – Niara não conteve o riso irônico e maldoso.

Robert se aproximou de Niara e colocou mais fotos em suas mãos.

– Ela morreu. – ele sussurrou.

– Que pena. – ela resmungou, completamente indiferente, fazendo-o encará-la com indignação. – Pessoas nascem e morrem todos os dias.

– Quando acontece com alguém que você ama, acho que as coisas ficam um pouquinho mais complicadas. – ele sussurrou e se levantou indo em direção à enorme cama do outro lado do quarto.

– Por que me trouxe aqui? – Niara perguntou cética, desarmando-o – Suponho que não seja pra descarregar mágoas, não é mesmo?

– Não. – ele disse convicto, enquanto tirava o suéter e a camisa, e colocava uma blusa de lã cinza.

Niara percorreu suas costas despidas com os olhos famintos e observou atentamente enquanto ele se vestia. Quando ele se voltou para encará-la, ela não estava mais lá. Em um vulto ela surgiu na sua frente, em pé, e seus olhos cristalinos estavam ameaçadores.

– Então qual é a razão? – ela sibilou, contendo um sorriso.

– Quero que se afaste de Diggory. – ele disse ríspido.

– Motivos? – ela estreitou o olhar, surpresa.

– Simplesmente não quero ele andando por perto.

– E se eu quiser mantê-lo por perto? – ela ameaçou.

– Então terei que mantê-la longe... – ele disse se aproximando mais e sussurrando em seu ouvido – E não vai querer isso.

– Quer que eu tenha medo de você? – ela riu sarcástica – Me desculpe.

– Você deveria Srta. Horn. – ele sorriu ameaçadoramente.

– Nem Voldemort me assusta, o que faz você pensar que pode me ameaçar? – ela sibilou com ódio, se aproximando ainda mais. Seus olhos lúcidos e brilhantes quase perfurando os de Robert.

Ele pareceu recuar, mas não se afastou nem um centímetro.

– Assim você fica bem mais suportável. – ela murmurou encarando seus lábios – Quietinho.

Robert a agarrou pelo braço e a puxou novamente, imobilizando seu outro braço.

– Quem é você? E o que você quer? – ele cuspiu as palavras.

– Eu sou única garota que te quer a léguas de distância. Será que pode lidar com isso? – ela livrou seu braço e sorriu irônicamente.

– Se eu não fosse um cavalheiro, você estaria na enfermaria. – ele sussurrou.

– Acho que você tem que aprender a lidar com a rejeição. E se você não fosse um cavalheiro – ela fez uma pausa e o analisou dos pés à cabeça – Você já estaria morto.

– O quê Cedrico tem na cabeça? – ele falou exasperado, enquanto passava as mãos pelos cabelos castanhos e caminhava pelo quarto.

– Acho que é exatamente o que você não tem: Inteligência. – ela disse entre dentes caminhando até a porta.

Vozes podiam ser ouvidas na sala comunal. Em um segundo Robert estava atrás de Niara segurando-a pelo braço novamente, impedindo-a de avançar.

– Você não pode sair. Há alunas no salão comunal... – Robert sussurrou tentando ouvir o que as vozes diziam.

– O quê? Você está louco? – Niara respondeu sussurrando também.

– Parece que estão conversando sobre o torneio e sobre... Garotos. – ele fez uma careta e depois revirou os olhos. – Acho que vão demorar.

– Idiota, já é tarde! Eu preciso dormir! –Niara se exaltou, depois se lembrou que precisava sussurrar.

– Esqueça, se virem que você estava aqui comigo, nós dois seremos expulsos. É isso que você quer? – ele levantou uma sobrancelha, libertando-a.

– Ver você sendo expulso me traria um enorme prazer! Mas eu não posso sair de Hogwarts... Droga. – ela se sentou no chão irritada.

–Então pronto, terá de dormir aqui. – ele concluiu dando de ombros.

Eles trocaram olhares enigmáticos e então, em um piscar de olhares estavam os dois de pé e alertas.

– Eu fico com a cama! – disseram em uníssono.

– Ah, tudo bem. Se não fosse pelos meus bons costumes você estaria dormindo na estante. – ele bufou.

– Dane-se você e seus bons costumes, você é patético! – ela disse enquanto se jogava na cama.

– Você parecia uma dama tão comportada, dessa vez eu errei feio nas primeiras impressões...

– Talvez o seu problema seja falta de ... – ela sorriu maliciosa.

Não, talvez esse seja o seu problema. – ele rebateu.

Niara riu surpresa e logo Robert a estava acompanhando. Ele se movimentava no quarto e arranjava alguns cobertores e travesseiros, e os estendia no chão, ao lado da cama de casal. Niara se lembrou de como era desagradável dormir no chão, principalmente em uma noite de inverno tão forte, mas não deixou que esse pensamento lhe tomasse atenção demasiada. Ela apenas se contentou em observá-lo em suas tarefas.

– Você podia me oferecer ajuda, em vez de ficar me olhando com esse olhar superior – ele sublinhou – Mas acho que você não é uma pessoa muito generosa.

– Não, não muito. – ela sorriu e ele retribuiu.

Depois de alguns minutos ele se colocou atrás de uma divisão feita de papel, ao lado da janela, e ligou uma lamparina, pendurando-a em um gancho na parede.

– Posso perguntar uma coisa? – ela disse casualmente.

– Claro. – ele respondeu enquanto começava a despir-se, sua sombra projetada na divisão. Niara se perdeu um pouco admirando sua silhueta e os gestos que fazia.

– Por que odeia tanto Cedrico Diggory? – ela perguntou, enquanto ainda o observava.

Ele respondeu alguns minutos depois.

– Ele beijou Felícia... – sua voz estava carregada e sua sombra indicava que ele não gostava de pensar no assunto.

– Sua namorada... – Niara assentiu – Entendo se não quiser falar sobre o assunto.

– Sendo compreensiva comigo, Horn? Que surpresa... – ele disse levantando uma sobrancelha, ao sair de trás da divisão, colocando a lamparina na mesinha de cabeceira, ao lado de Niara.

– Foi só um beijo. Isso não muda o fato dela ter gostado de você. – ela respondeu fitando-o.

– Talvez sim, talvez não. Com ela eu não tinha certeza de nada. – ele sussurrou pensativo enquanto se aconchegava em suas cobertas no chão e estendia uma camisa preta para ela. – Pode usar isso se não quiser dormir de uniforme... Acho que vai servir.

Niara pegou a camisa e ficou pensativa.

– Isso tudo é muito estranho... – ela sussurrou.

– Eu sei, mas vamos superar. – ele deu de ombros ajeitando a cabeça no travesseiro.

Ela se levantou da cama e levou a lamparina ao gancho na parede, ficando atrás da mesma divisão. Começou a tirar os sapatos, as meias, o cachecol etc.

– Não me lembro da última vez de ter conversado com alguém durante tanto tempo. – ela disse em tom baixo.

– Já tinha percebido que você não é muito de diálogos. Talvez isso faça bem pra você. – ele respondeu com um tom mais meigo.

– Talvez sim. Talvez não. Pessoas despertam o pior em mim. – ela disse baixinho, uma sombra maligna cruzando seu olhar.

– Talvez você tenha medo delas... – ele sussurrou também.

Ela tirou o resto da roupa e vestiu a camisa, abotoando todos os botões. Robert tentou desviar o olhar mas seus olhos não conseguiam se desprender das sombras naquela divisão de papel.

– Você tem um belo corpo. – ele elogiou pronto para receber uma resposta ofensiva.

– Você também. – ela respondeu simplesmente.

– Nós podemos ser amigos, se você permitir. No fundo, você é uma pessoa legal. – Robert divagou observando o teto.

Niara colocou a lamparina na mesinha novamente e se deitou na cama, abaixo das cobertas. Robert bateu palmas e a lareira se apagou, deixando o quarto escuro com excessão da lamparina acesa.

– Se importa de dormir na cama? – ela perguntou muito incomodada – Ela é suficientemente grande para nós dois...

– O quê? – ele perguntou confuso, mas obedeceu assim que viu o olhar incontestável dela. – Se é isso que quer.

– Eu só não gosto de ver as pessoas passando privações. – ela comentou demonstrando muitas emoções escondidas por trás daquela frase e assoprou a lamparina, deixando o quarto totalmente escuro.

– Boa Noite Niara... – Robert sentiu pena e uma enorme tristeza pela amiga. Sabe Deus o que ela teria passado na vida.

Ela adormeceu sem responder.

Do outro lado da janela, um par de olhos escuros e estreitos olhava para as figuras dormindo na cama. Um homem alto de cabelos negros na altura dos ombros, de porte musculoso e feições nada amigáveis. A barba escura estava curta e dava um aspecto bonito no rosto pálido. Ele usava um tapa olho no olho direito com a inicial V. Niara se virou na cama, no meio de seu sono, abrindo os olhos levemente em direção à janela. Um vulto se movimentou do outro lado e depois um pássaro negro saiu voando na tempestade de neve. Niara desconfiou mas logo fechou os olhos novamente.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem!! Reviews? ;*



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