A Maldição De Shay escrita por Aline Yagami


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo III

Shay se surpreendeu ao ver que conseguira chegar viva à casa de leilão. Foi direto aonde escondera uma sacola com poções mágicas, e voltou ao Porsche de Viper para a maldita viagem de volta à casa dele.

Ela cortou caminho pelos campos e, por fim, entrou na garagem.

Um tremor quase a impossibilitou de andar quando viu os estragos na área. Aquilo só podia ter sido feito por uma força desconhecida, mas não foi só o estrago geral que fez com que seu san­gue gelasse. Mesmo à distância, podia ver que o túnel viera abaixo, e a luz da manhã chegava lá dentro.

Um vampiro não resistia à luz!

Recusando-se a entrar em pânico, abriu a bolsa e entrou pela estreita passagem.

Não sabia bem o que esperava encontrar, mas não era a nuvem escura cobrindo a área.

Levet? - chamou baixinho. Viper?

Algo soou na escuridão. Aparentemente, alguém conse­guira acender uma luz, talvez uma vela.

Não, não era nem remotamente uma vela acesa.

Horrorizada, Shay identificou um enorme demônio com olhos escarlate. Nunca vira algo assim antes. E não queria ver isso de novo se tivesse escolha.

O sorriso do monstro era de triunfo.

A shalott - falou a besta.

Paralisada diante do olhar da criatura, Shay levou um longo tempo para ouvir a voz furiosa e fria que veio de um canto da escuridão.

Droga, Shay, eu disse que fosse embora! Saia daqui! Ela riu sem vontade. Será que todos os vampiros eram ingratos, ou Viper seria uma exceção?

O demônio parado diante dela deu uma risada que ecoou pelo túnel.

Não há lugar algum onde possa se esconder, shalott. Mas venha para mim e eu pouparei a vida desses dois - a criatura prometeu com voz sibilante.

Shay engoliu em seco, enquanto seus dedos procuravam pelos potes de cerâmica dentro da bolsa.

Estou indo.

Shay! - Havia uma ponta de pânico na voz macia de Viper.

O Lu está preso, mas não posso segurá-lo por muito tempo. Caia fora daqui!

Faça o que ele está lhe mandando - Levet reforçou.

Não pode vencer a besta.

A criatura sibilou na direção do gárgula.

Não sou seu inimigo, shalott. Preciso apenas levá-la ao meu senhor. - A voz do Lu ganhou alguma emoção.

Um senhor que não gosta de ser desapontado...

Shay deu um passo à frente. Não que quisesse ser mordi­da por aqueles dentes afiados, mas tinha de estar suficien­temente perto para usar as armas que trouxera.

Quem é esse seu misterioso senhor? - perguntou, mais para manter o Lu distraído do que para descobrir a verdade.

Tinha prioridades. Como sair dali viva, e se preocupar com quem a queria assim, tão desesperadamente.

Um poderoso amigo, ou um inimigo mortal - respon­deu o monstro.

A escolha é sua.

Você ainda não me deu um nome.

É proibido pronunciar o nome dele, mas lhe asseguro que eu não lhe farei mal algum.

Shay revirou os olhos.

De alguma forma, acho isso muito difícil de acreditar.

Tem minha promessa de que a levarei intacta ao meu senhor. Isso a satisfaz?

Depende do que vai me acontecer depois que chegar­mos a esse seu senhor. - Shay se aproximou mais um pou­co.

O que ele quer de mim?

Essa é uma pergunta que só ele deverá responder.

Não está me inspirando confiança.

Os olhos vermelhos brilharam como fogo. Ou pelo menos um deles fez isso. O outro sangrava com uma adaga que, na certa, Viper enterrara nele.

Não preciso que confie em mim. Vai acabar indo comi­go querendo ou não... Não tem alternativa.

Shay sentiu que Viper estava por detrás do demônio, mas não ousou desviar os olhos da poderosa boca, agora perto demais. Não tinha idéia se seu plano daria certo, e parecia sábio estar preparada para recuar.

Afinal, gostava de sua cabeça exatamente onde ela estava.

Na verdade... - murmurou, tirando o pote de cerâmi­ca da bolsa.

Eu tenho outra opção.

Shay, não!

As palavras de Viper chegaram com atraso. Shay já lan­çara o pote, que caíra na boca do demônio.

O Lu agora rugia de dor.

Por um momento, Shay ficou sem enxergar devido ao brilho inesperado da poção mágica explodindo dentro da fera, que acabou sendo jogada longe e bateu a cabeça contra a parede.

Mas não foi nada fatal.

Horrorizada, ela viu Viper saltando e se colocando entre ela e os dentes afiados do monstro. O Lu atacou instanta­neamente, e Viper enfiou a espada em sua garganta.

Shay buscou dentro da bolsa o segundo pote. Tinha de fazer alguma coisa antes que o demônio exterminasse o vampiro.

O Lu uivou de dor quando ela usou as espadas para atin­gir as ondulações de sua cauda.

O que está acontecendo? - ela gritou.

 Viper usava todos os músculos para forçar a entrada da espada no corpo da besta.

A poção que você jogou nele o enfraqueceu.

O Lu rugiu, enfurecido, e buscou alcançar o braço de Shay. O segundo pote, porém, foi arremessado, e caiu em cima das feridas sangrentas.

Desta vez Shay estava preparada para o brilho da explo­são e cobriu os olhos.

Tentou ignorar os gritos de dor da fera. Podia ser uma shalott, mas era humana o suficiente para sentir pena do demônio agonizante.

Pegou a última de suas poções e se preparou para lançá-la.

Espere, Shay! - Viper gritou, enquanto enfiava a es­pada no cérebro do demônio. Com um gemido, o Lu despen­cou no chão.

Não pode deixá-lo desse jeito! - ela exclamou, en­quanto observava a besta contorcer-se em meio a um lago de sangue.

Ele fez uma barganha comigo.

O olho do mostro se abriu levemente.

Não faço barganhas com vampiros.

Viper revirou a ponta da espada enterrada na cabeça do Lu, de onde começou a brotar um líquido escuro.

Você disse que, se eu pudesse derrotá-lo, responderia às minhas perguntas. - Viper continuou a tortura.

Você foi derrotado. Não honra a sua promessa?

Por um momento, o ar se encheu dos grunhidos da fera. Por fim, o Lu suspirou profundamente.

Pergunte.

O que seu senhor quer da shalott?

O sangue dela.

Shay estremeceu. Todo demônio do mundo queria testar seu sangue por uma razão ou outra.

Quem é ele?

Eu já lhe disse, estou proibido de dizer o nome dele.

Onde eu o encontrarei?

Ele estava em Chicago, mas sinto que tenha viajado para mais longe. Não sei onde está agora.

Viper soltou um grunhido, as mãos segurando a espada com firmeza.

Você não me deu respostas.

O Lu soltou uma risada perturbadora.

Isso porque não faz as perguntas certas, vampiro.

E quais são as perguntas certas?

Não espera mesmo que eu torne as coisas tão fáceis para você...

Você disse que seu senhor me quer pelo meu sangue Shay confrontou o demônio.

Ele pretende vendê-lo ou usá-lo em si mesmo?

O monstro voltou o olhar na direção de Shay.

Você é um meio para chegar a um fim.

Era por isso que o Lu havia concordado em responder as perguntas. Não estava revelando nada.

Ele está com Evor?

Um sorriso surgiu na expressão da fera agonizante.

O troll está vivo e bem. Por hora. Shay arregalou os olhos.

O que quer dizer com isso?

Se deseja uma resposta às suas perguntas, volte a atenção ao feitiço que a prende ao troll. - Um som horrível veio da garganta do demônio.

Cumpri minha promessa, maldito vampiro, agora acabe de vez comigo.

Viper voltou-se para Shay deixando para ela a decisão.

Não havia dúvida de que ela ainda tinha muitas pergun­tas a fazer. Algumas o demônio poderia responder... Mas não queria continuar com aquilo. Não era de seu feitio se regozijar com o sofrimento de criatura alguma.

Engolindo em seco, ela fez um sinal com a cabeça.

Levantando a espada, Viper desferiu um golpe tão forte, que cortou fora a  cabeça do Lu. Também ele parecia querer o fim do sofrimento do demônio.

Não se ouviu som algum para indicar que o Lu estives­se morto, mas, repentinamente, o corpo da fera começou a se desfazer.

Um pesado silêncio desceu quando a escuridão se tornou completa. O demônio estava morto, mas Shay não se sentia aliviada.

Havia ainda alguma coisa lá fora que queria seu sangue.

A única pergunta era: como essa coisa pretendia caçá-la em seguida?

Perdida em pensamentos, ela se surpreendeu quando al­guém lhe puxou o roupão.

Levet?

Ah, se lembrou do pobre gárgula forçado a lutar con­tra cães do inferno e demônios, e que ainda conseguiu ser bem-sucedido com esse magnífico feitiço da escuridão?

Uma parte da tensão que ela sentia, sumiu.

Foi um magnífico realmente, Levet. Mas, caso não te­nha notado, estive bastante ocupada.

Oui, oui... Mas o demônio está morto. Agora, será que podemos comentar nosso delicioso trabalho em algum outro lugar onde o teto não ruiu e onde seu maravilhoso vampiro não acabe se dando mal?

Usando nada mais do que cuecas de seda preta, Viper procurou uma posição mais confortável na cama que ocu­pava um grande espaço em seu esconderijo. Ao lado dele, Shay descansava, os lindos cabelos espalhados no traves­seiro de cetim.

Incapaz de resistir à tentação, ele permitiu que seus de­dos tocassem aquela preciosidade.

Sabia que deveria estar descansando. Depois da morte do Lu, havia levado horas para conseguir reunir os criados humanos e colocá-los atentos ao que acontecia nos arredo­res da casa. Entrara em contato com seu clã para avisá-los de que também deveriam ficar em alerta máximo. Não acreditava que o misterioso senhor pudesse lançar um ataque tão de imediato, mas estava determinado a não ser pego de surpresa.

Somente quando se dera por satisfeito, é que levara Shay ao seu abrigo e se permitira o luxo de dormir. Um sono que, entretanto, foi bem perturbado por ter a seu lado um corpo tentador e um perfume inebriante impregnando o ar.

Tomou consciência de que aquela era a primeira vez que acordava tendo uma mulher em seus braços.

Um vampiro raramente ligava sexo a um relacionamen­to e, apesar de viverem em clãs, não constituíam família enquanto não encontrasse sua alma gêmea.

Saboreando a sensação do roçar dos cabelos acetinados em seus dedos, Viper escondeu um sorriso.

Deus, ela era incrivelmente magnífica. Uma criatura di­fícil, mas magnífica.

Shay abriu os olhos.

Alguma coisa errada?

Não. Estou apenas olhando você.

Ela se moveu sem jeito nos lençóis de cetim. Ele havia descoberto o quanto ela era tímida no que se referia à inti­midade. Como se tivesse pouca experiência com o desejo.

Que horas são?

Nem quatro. - Puxou os lençóis, descobrindo o corpo de Shay.

Seus ferimentos doem?

Não. - Ela estremeceu quando Viper começou a aca­riciar as marcas vermelhas em sua pele.

O que está fazendo?

Assegurando-me de que estão curadas.

Não precisa tocar em minha perna para ver que ela está bem.

Viper riu, os dedos continuando a brincar na parte de trás do joelho dela.

Sei disso, mas é mais divertido do que apenas olhar. As feições de Shay deixaram claro que ela desaprovava seu comportamento, mas Viper não deixou de perceber que ela estremecera com as carícias.

Onde está Levet? Ele torceu o nariz.

Ainda em sua forma de estátua, graças a Deus. Shay sentou-se na cama e o fitou, aborrecida.

Você é mesmo um ingrato. Levet lhe salvou a vida. Viper deu de ombros, mais interessado na pele acetinada que tinha sob os dedos do que no gárgula adormecido.

Isso não significa que ele não faça até um santo per­der a paciência. Já encontrei piratas bêbados que tinham línguas menos ferinas.

Shay acabou rindo.

Ele é terrível às vezes.

Como arsênico?

Eu devia ter deixado que você virasse uma torrada - ela resmungou.

Viper estreitou o olhar.

Por que voltou, Shay? Ela abaixou os olhos.

Não pude abandonar Levet.

O Lu não teria ferido o gárgula.

Não tinha certeza disso.

Viper aproximou mais o corpo, a ponto de sentir na pele o pulsar do coração de sua shalott.

Sentiu uma vontade alucinante de beber o seu sangue. Felizmente, tivera séculos para aprender a controlar a sua fome. E para aprender a apreciar a lição de que quanto mais difícil a presa a ser capturada, mais satisfação alcan­çava seu caçador.

Tente de novo - ele murmurou. Shay umedeceu os lábios.

Não gosto da idéia de nenhum demônio me perseguin­do. Pereceu-me mais sensato enfrentá-lo do que ficar me esquivando.

Ele pressionou com o seu o corpo de Shay.

Muito lógico. - Seus dedos continuaram acariciando a pele macia.

Penso que já se assegurou que minha perna está cura­da. - O protesto não soou convincente.

Prefiro um exame mais minucioso.

Viper...

Você voltou para me salvar? - ele insistiu, sério.

Não, eu...

Por que é tão difícil admitir que não queria que eu morresse?

Ela gemeu quando as mãos de Viper abriram o cinto do roupão, revelando sua beleza escondida.

Pare com isso.

Viper acariciou quase com reverência a suave curva do estômago de Shay.

É tão macia... tão quente. Eu tinha me esquecido da beleza das shalotts.

A expressão do rosto de Shay mostrou uma amargura.

Sou uma aberração, lembra-se?

Não me esqueço de nada sobre você, e posso jurar que seu sangue humano não a torna menos adorável. - Ele des­lizou os olhos por seu corpo deliberadamente.

Na verda­de, acrescenta o charme de um toque de fragilidade.

Não sou adorável.

Viper sentiu o coração ser invadido por um sentimento de ternura. Algo que não lhe era familiar. Pelo sangue dos jus­tos, aquela mulher podia fazer os anjos chorarem de inveja.

Olhe para mim - ordenou, esperando que ela abrisse os olhos.

Pensa que é somente o sangue das shalotts que alucina os vampiros? É sua extraordinária beleza que os cativa em primeiro lugar.

Shay sacudiu a cabeça. Ela não acreditava nas palavras de Viper.

O que quer de mim?

Quero sentir suas mãos em mim. Ela estremeceu.

Viper, nós deveríamos...

Por favor, Shay, quero apenas sentir o seu toque. É tudo o que lhe peço.

Por um longo e tenso momento, Viper teve quase certeza de que ela negaria o seu pedido. Então, lentamente, Shay começou a deslizar os dedos por seu peito nu.

Não pare - ele pediu suavemente, fechando os olhos com um misto de prazer e preocupação. Ele, Viper, um vam­piro chefe de clã e um temido predador, implorando pelo toque de uma mulher. Inacreditável.

Shay continuou as carícias, e seus dedos finalmente to­caram-lhe o mamilo. Viper sentiu-se estremecer.

Não sabia que os vampiros gostavam dessas coisas - ela murmurou.

Não sei sobre os outros, mas eu gosto.

Gosta disso?

Ela começou a lamber o mamilo e Viper gemeu. O prazer atingiu seu corpo por inteiro, aumentando sua ereção e o deixando preocupado pela primeira vez em séculos de que poderia chegar ao clímax antes de possuí-la. Acariciou os sedosos cabelos de sua shalott. Queria que ela continuasse a tocá-lo e ela o fez. Mesmo com os olhos fechados, Viper percebeu que ela decidira ir mais longe, ou­sar mais. Soltou um grunhido quando ela enfiou os dedos dentro da cueca.

O quê? - ela sussurrou, claramente desfrutando o momento em que o levava quase à loucura.

Está tentando me torturar? - ele exigiu, ofegante, cobrindo a mão de Shay com a sua e apertando-a contra sua ereção.

Ou simplesmente quer que eu implore?

Gosto de ambas as idéias - ela retrucou, maliciosa. O riso de Viper terminou em novo suspiro.

O que ela fazia não era produto de sua experiência. Shay estava descobrindo por si mesma como lhe arrancar gemidos da garganta. E ele nunca precisara lutar tanto para não ejacular.

Enterrou o rosto nos cabelos dela, tomando o cuidado de não tocá-la com os caninos. Não queria que ela se lembrasse de que estava ao lado de um temido vampiro. Não agora. Nada podia estragar aquele momento...

A não ser uma batida insistente na porta de carvalho.

Shay! - A voz irritante de Levet flutuou no ar.

Pretende ficar na cama o dia inteiro? Estou morto de fome.

Viper ficou imóvel, mas ela saiu da cama. Pegou o rou­pão e o vestiu, apressada. O clima estava definitivamente quebrado.

Praguejando, Viper esmurrou o colchão.

Eu ainda vou exterminar esse... essa coisa!

Shay estava sentada à mesa da cozinha com Levet, sabo­reando o último pedaço de torta de maçã. Não que estivesse com fome. Graças à governanta de Viper, ela havia desco­berto a cozinha repleta de comida. Tinha experimentado um pouco de tudo.

Porém tinha o hábito de comer sempre que alguma coisa a perturbava. Especialmente se essa coisa era um vampiro de olhos negros, que agitava todos os seus hormônios com um mero olhar.

Meu Deus, ele a atraía demais. Queria senti-lo estremecer sob as carícias dela, ouvi-lo gemer de prazer, guiá-lo para que, juntos, pudessem chegar ao paraíso.

E pior: ela não podia se convencer que isso não acontece­ria novamente. Ou que não quisesse que isso se repetisse.

Mastigou mais um pedaço de torta. Felizmente, as shalotts não precisavam se preocupar com o peso.

Em contraste, Viper não comia nada. Havia tomado sua garrafa de sangue, e começara a ir de um lado para o outro, agitando a casa inteira, assegurando-se de que os guardas continuavam em seus postos, e chamando pessoal especia­lizado para começarem a refazer os túneis. Circulava pela casa usando calças justas de veludo preto, o que o deixava ainda mais másculo.

Não sei por que esse vampiro não sossega - Levet re­clamou, comendo o seu quarto pedaço de bife.

Graças a mim não virou uma pilha de pó. E foi sua mágica que derrotou o Lu, Shay. Ele deveria estar nos agradecendo de joelhos.

Shay suspirou levemente enquanto empurrava para o lado o prato vazio.

Não o pressione, Levet.

Alguma coisa no tom da voz de Shay alertou o gárgula.

Cherie, exatamente o que eu interrompi há pouco?

Levet, pare de falar francês. Está nos Estados Unidos desde a revolução. Fala inglês melhor do que eu.

Inglês... Bah! Uma língua tão boba. Não há romance, nenhuma beleza. Apenas sons horríveis que ferem os meus delicados ouvidos.

Shay riu consigo. Interessante como aquele ridículo gárgula tinha se tornado parte importante de sua vida. Não conseguia nem pensar que ele poderia ser ferido por sua causa.

Se não gosta dos Estados Unidos, por que continua aqui? Por que não volta à França?

Um tremor agitou o pequeno corpo.

Quer dizer que devo voltar aos amorosos braços de minha família? Sacrebleu, eu não sobreviveria a isso. O que ouvi, foi que meus irmãos estavam determinados a enfiar minha cabeça em um pilar.

E eu, que a maior parte dos meus ancestrais foi de assassinos sanguinários, os quais, frequentemente, guarda­vam as peles de suas vítimas como troféus.

Que charme.

Ela ajeitou a trança ainda úmida da água do banho.

Há lugares além da França que você poderia visitar. Ouvi dizer que a Itália é um país lindo.

O gárgula a olhou com curiosidade.

Está tentando se livrar de mim?

Shay hesitou, procurando encontrar alguma forma de não magoar o amigo. Droga, nunca conseguia mentir.

Levet, nós dois sabemos que não é seguro ficar à mi­nha volta.

Ele pareceu ofendido.

Julga-me um covarde capaz de fugir do perigo?

Nunca o achei um covarde, mas considero estupidez se colocar em perigo quando não há necessidade disso.

Levet abaixou a cabeça para terminar de comer o seu bife. E, claro, para esconder a própria decepção.

Não tenho nada melhor para fazer no momento. Posso ficar e protegê-la enquanto espero por algo mais interessante.

Shay sentiu-se ridiculamente emocionada. O gárgula se importava com ela.

Ao perceber uma presença sombria na cozinha, Levet revirou os olhos.

Lá vou eu de novamente! - exclamou, afastando-se rapidamente.

Viper era bonito, mas, às vezes, extremamente aborrecido. Shay endireitou o corpo.

O quer de mim?

O que quero de você? - Por um momento, ele conti­nuou a fitá-la e um sorriso surgiu em seus lábios, enquanto ele se aproximava perigosamente.

Shay entrou em alerta. Precisava manter aquele vampi­ro à distância.

Não ouse chegar mais perto. Ele caiu na risada.

Sabe que é melhor não me desafiar... - É claro que ele deu um passo à frente. E outro mais.

Shay permitiu que o instinto falasse mais alto. Quando ele começou a tocar em seu rosto, agarrou-o pelo braço e o jogou no chão, colocando-se sobre ele.

Tudo acontecera com tanta facilidade, que ela mesma começou a desconfiar de sua destreza. Viper não reagira.

Sua suspeita se confirmou quando ela o encarou.

E agora? O que pretende fazer comigo? - ele mur­murou suavemente, as mãos pousando, lascivas, em seus quadris.

Nada que ela deveria querer, pensou, agoniada.

Felizmente, o tecido do jeans era grosso. Não tinha cer­teza do que aconteceria se Viper tocasse novamente sua pele nua.

Não me tente.

Mas é isso, precisamente, o que quero fazer. Não se sente tentada, também?

A enfiar uma estaca em seu coração.

Antes ou depois de gritar de prazer?

Não temos tempo para essa bobagem - resmungou, mas não reagiu quando Viper a puxou para si e a beijou apaixonadamente.

Um beijo que fez a cabeça dela girar antes que ele a lar­gasse, suspirando profundamente.

Infelizmente você está certa. Nós temos de armar nos­sos planos.

Nós?

Gostando ou não, você ainda pertence a mim.

Shay pensou em argumentar, mas percebeu que Viper queria apenas distraí-la. A questão era uma só: por quê?

Não pode estar pensando seriamente em me manter por perto. Quase foi morto. Por que iria querer ficar com alguém que coloca sua vida em perigo?

Ele deu de ombros.

Quebra a monotonia de meus dias. Faz um bom tem­po que ninguém tenta me matar.

Shay comprimiu os lábios. Parecia a desculpa de Levet.

Não acredito em você. Por que não quebra o amuleto e se livra de mim?

Costumo tomar conta daquilo que me pertence. Bem, não adiantava muito discutir.

Que planos tem em mente?

E óbvio que não podemos simplesmente nos esconder - ele murmurou.

Precisamos decidir como conseguire­mos mantê-la em segurança.

O Lu falou algo sobre minha praga. - Shay franziu a testa.

O que quis dizer com isso?

Eu não tenho a menor idéia. O que você sabe sobre a sua maldição?

Nada.

Deve saber alguma coisa. Shay balançou a cabeça, negando.

Eu era muito criança. Tenho uma vaga lembrança de es­tar em uma caverna escura e sentir uma dor forte no ombro.

No ombro?

Shay suspirou profundamente, e abaixou o ombro da camiseta que usava. Apontou a marca que tinha gravada na pele, preparada para sentir os dedos dele circulando os estranhos símbolos. Havia tentado descobrir o que signifi­cavam, mas não chegara à resposta alguma.

Viper parecia fascinado.

Estava sozinha na caverna?

Shay estremeceu. Não se lembrava bem do episódio. Apenas de alguns flashes que surgiam em seus sonhos e a faziam acordar, gritando de medo.

Não, mas estava muito escuro para ver quem estava lá.

Esses símbolos me são familiares.

Shay arregalou os olhos, chocada.

Você os reconhece?

Não consigo interpretá-los, mas sei que são runas de bruxas.

Eu já vi runas de bruxas. Quando estive na caverna de Edra.

Edra não é uma bruxa convencional. Usa sacrifícios à base de sangue para aumentar o seu próprio poder.

Shay sacudiu a cabeça. As palavras de Viper não faziam sentido.

Por que uma bruxa colocaria um feitiço em mim?

Essa é a pergunta. Penso que devemos encontrar alguém que nos diga precisamente o que está envolvido nes­te feitiço em particular. Podem nos dar alguma pista.

Bruxas. - Shay cruzou os braços.

Droga! Viper sorriu.

Também não gosto de bruxas, mas sei que nem todas são como Edra.

Shay tinha passado tempo demais no meio daquelas cria­turas. Mais do que o suficiente para desejar não ter nunca mais de cruzar com uma.

Devemos ir procurá-las?

Em primeiro lugar, quero falar com alguém que co­nheço. Ela pode nos dar a informação de que precisamos.

Vai falar com uma bruxa? - Shay franziu o cenho.

Enquanto eu estiver escondida em algum buraco, tremendo de medo? Já lhe disse que não quero ser tratada como uma idiota indefesa.

Viper abriu um enorme sorriso.

Sei muito bem o quanto é guerreira.

Não ouse me engabelar - ela reclamou.

Percebendo que pisava em solo perigoso, Viper ficou sério.

Shay, não sabemos quem está atrás de você, ou quem foi encarregado de ajudar essa criatura. Não vou levá-la a caverna alguma onde podemos acabar enfeitiçados. Não se trata de uma batalha em que não quero que participe, ape­nas vou tentar obter informações.

Soava extremamente sensato.

Mas Shay não queria ser sensata. Queria enfrentar desafios e descobrir a verdade. De preferência pela força. Certamente não era do tipo que se escondia e esperava que alguém mais resolvesse seus problemas.

E se o aprisionarem?

Você aparece e me salva - ele prometeu, sorrindo.

Tem certeza de que eu faria isso?

Se eu for morto, você será forçada a voltar para Evor e quem quer que esteja com ele.

Shay escondeu o arrepio que lhe percorreu a espinha.

O Lu disse que Evor estava vivo e bem.

Vivo e bem, mas por quanto tempo? Dessa vez, ela não conseguiu disfarçar o medo.

Nem me fale sobre isso.

Os braços dele a envolveram, e Shay encostou o rosto em seu peito. Devia ter protestado, mas aquilo era tão bom, tão reconfortante.

Eu a protegerei, Shay. Prometo.

A casa situada em um bairro elegante, ao norte de Chicago, era um monumento ao consumismo. Havia de tudo ali, especialmente artigos raros e caríssimos.

Ainda assim, Shay descobriu que, com toda aquela gran­deza, a mansão mantinha um ar acolhedor.

Talvez porque ali morasse uma pessoa como Abby.

Naquele momento, esta usava jeans e camiseta, e sorria, feliz, mostrando a Shay a enorme biblioteca do marido.

Meu Deus, que maravilha! Havia estantes forrando as paredes.

Acredite em mim, se pudesse, Dante entupiria a casa inteira com livros.

Shay aproximou-se de uma das prateleiras, sentindo o cheiro de couro antigo. Aquilo era um pedacinho do paraíso.

Ele deve estar colecionando livros há muito tempo - murmurou, perplexa.

Há séculos. Literalmente.

Shay não se sentia completamente à vontade. Tinha passado anos sendo uma escrava e não sabia se comportar como uma visita.

Está com medo de mim porque sou a Fênix? - Abby perguntou de repente.

Shay torceu as mãos, embaraçada por seu comporta­mento ser tão óbvio.

Eu... Viper não devia tê-la obrigado a me receber.

Obrigado a receber você? - Abby segurou as mãos de Shay.

Certamente Viper lhe contou que mandei Dante con­vidá-la para vir aqui. Estava ansiosa por conhecê-la melhor.

Shay estreitou os olhos, confusa.

Por quê?

Por mais que eu adore Dante, sinto falta da compa­nhia de outra mulher.

Mas você deve ter amigas. Abby suspirou profundamente.

Na verdade, não. Pensou que, por eu ser uma deusa, as pessoas iriam querer estar comigo? Para ser honesta, nunca tive uma amiga de verdade.

A ansiedade que Shay sentia desapareceu. Abby deu um passo para trás e a fitou atentamente.

Bom Deus, agora eu entendo por que Viper parece iluminado desde que a conheceu.

O quê?

Você é linda... Mas claro que sabe disso. Shay bufou, incrédula.

Já se olhou no espelho? - insistiu a Fênix. Ela torceu as mãos nervosamente.

Sou metade demônio.

E Viper e Dante inteiramente demônios. Vai me dizer que não os acha lindos?

Bem, quanto à beleza dos dois vampiros não havia o que discutir.

Dante é muito bonito - ela admitiu por fim. Abby arqueou a sobrancelha.

E quanto a Viper?

Ele me deixa quase louca.

Sabia que eu fiquei furiosa quando descobri que Viper a havia comprado em um leilão de escravos? Não podia acre­ditar que tivesse feito isso. Justamente ele, que foi sempre contra a escravidão. Mas agora penso que ele a comprou para lhe salvar a vida.

Bem, certamente há bondade no coração dele. - Shay sentiu-se obrigada a reconhecer.

Mas continua sendo um vampiro. - Abby riu.

Aposto que ele ficou interessado em você quando a viu pela primeira vez, e se pôs a procurá-la.

Shay estremeceu.

Sou a última das shalotts. Os vampiros vêm me ca­çando desde o começo dos tempos.

Isso pode ser verdade, mas não me parece que tenha sofrido muitos abusos por parte de Viper.

Shay poderia ter mentido, e afirmado que, sendo metade demônio, tinha a capacidade de se recuperar rapidamente. Mas isso seria injusto. Viper a tratara com uma ternura inesperada. E mesmo que não confiasse nele inteiramente, poderia apostar que não a submeteria a algo que ela não quisesse.

Ele fez... certas promessas - admitiu a contragosto.

Verdade?

Antes que pudesse contar alguma coisa, a porta da bi­blioteca se abriu e Dante entrou.

Lamento interromper, mas Viper acaba de voltar. Shay sentiu uma dor no peito. Ter voltado tão depressa significava que não conseguira informação alguma.

Já voltou?

Dante fitou as duas, enigmático.

E trouxe consigo uma bruxa. Desta vez foi Abby quem estremeceu.

Ele trouxe uma bruxa para esta casa? Dante deu de ombros.

Ele jura que ela está aqui para ajudar Shay a desco­brir a verdade sobre sua praga.

Abby levou um momento para recuperar a calma. Voltou-se então para Shay.

Quer conversar com a bruxa?

Shay umedeceu os lábios secos. Entendia a razão da aversão de Abby. Nada como uma experiência de quase-morte para unir as pessoas.

Ainda assim, Viper fizera o que era preciso.

Suponho que eu deva conversar com ela.

Como se sentisse o esforço de Shay em dizer as palavras, Abby apertou-lhe as mãos.

Não se preocupe. Estaremos com você.

Styx estava esperando na caverna mais funda, quando Damocles surgiu na escuridão e se dirigiu ao poço de magia. Sentiu a raiva habitual ao ver o duende. Mesmo ali, no meio das rochas e do chão cheio de limbo, o idiota estava vestido com um rico traje de veludo bordado com fios de ouro. Os cabelos estavam enfeitados com folhas ridículas. Porém, era mais do que essa frivolidade do avejão que irritava Styx. O demônio tinha trazido somente desgraça e pesar à comunidade.

Se tivesse sido sábio o suficiente no primeiro momento em que o duende aparecera! Infelizmente, ele subestimara a influência que aquela criatura teria sobre seu senhor.

Esperou até que Damocles se aproximasse, então saiu das sombras e lhe bloqueou a passagem.

Falhou novamente, duende - disse em uma voz fria como gelo.

Não temos a shalott, e até o patético troll con­seguiu escapar.

O abantesma não se perturbou, e inclinou-se com falso respeito diante do vampiro.

Falhei? Que palavra cruel. Especialmente para quem acaba de perder alguém a quem amava. - As mãos desliza­ram pelo tecido do manto.

Não vê que estou de luto?

Styx arreganhou os dentes, exibindo os caninos. Tinha ficado furioso ao saber que Damocles acordara o Lu e o mandara para Chicago. Uma total loucura.

Tudo o que vejo é um duende traidor, que finge dedi­cação enquanto envenena o nosso mestre às escondidas.

Damocles colocou a mão sobre o peito com uma expres­são de total inocência no rosto.

Mas o que está dizendo?

Pensa que não sei do líquido que faz o mestre tomar todas as noites?

É verdade que eu misturo poções para ajudar a ame­nizar a dor do mestre. - Ele deu de ombros.

Deveria pre­ferir observá-lo sofrer, ou talvez nem aparecer para vê-lo?

Foram suas poções que o deixaram assim, tão fraco.

Os olhos verdes do duende brilharam. Instintivamente, Styx levou a mão debaixo do manto para pegar a adaga. 

Acusa-me de enfraquecê-lo? Tem provas disso?

Sei que ele melhorou bastante depois... - Apesar de ser quem era, Styx relutou em continuar.

Depois que você capturou o pai da shalott e o ofereceu em sacrifício? - Damocles terminou com um sorriso que fez Styx quase perder a calma.

Mesmo depois de tantos anos, aquela morte ainda lhe pesava na consciência.

Sim, depois disso - ele concedeu.

Ouvi dizer que ele matou três de seus vampiros antes que conseguissem deixá-lo desacordado e o trouxessem a esta caverna.

O desejo de enterrar os dentes no pescoço do duende e deixá-lo seco foi alucinante. Somente as ordens que recebe­ra de seu mestre o impediam de atacar aquele verme.

Fiz somente o que meu mestre mandou. Questiona as decisões dele? Eu devia ter feito você em pedaços quando me surgiu à frente pela primeira vez.   

Ah, culpa um mero criado dos pecados de seu mestre? É essa a sua noção de justiça?

Styx rangeu os dentes.

Se houvesse justiça, de fato, você já teria morrido ao lado de seu mestre anterior.

Mas agora chega. - Styx encerrou aquela discussão inú­til. O passado ficara para trás e somente o futuro interes­sava.

Não vim ao mestre com as mãos vazias como você. E agora o convenci a me permitir que pegue pessoalmente a shalott. Logo que você me revelar onde ela está, os seus serviços não serão mais necessários.

Damocles pareceu indiferente à ameaça. Com movimentos lânguidos, passou por Styx e foi direto ao poço das magias.

Devo confessar que estou surpreso que tenha assumi­do essa tarefa pessoalmente.

Por quê?

Certamente o mestre lhe contou quem está com a sha­lott?

Se tem algo a dizer, duende, diga logo.

Simplesmente me parece estranho que, após sua luta para preservar o sangue dos vampiros, agora esteja ansioso por derramá-lo. - Damocles moveu a mão sobre as águas e fez um gesto para Styx se aproximar.

Veja.

O vampiro se aproximou com cautela.

Ao primeiro olhar, tudo o que pôde ver foi o rosto bron­zeado da shalott. Um rosto que se parecia muito com o do pai dela.

Não podia se deixar levar pelo remorso. O sangue dela era necessário agora.

O tremor na água chamou sua atenção e ele viu surgir um rosto familiar,

Viper - murmurou, chocado.

Amigo seu?

Onde eles estão?

Com um sorriso, Damocles movimentou a mão e fez sur­gir a imagem de uma elegante mansão, que Styx reconhe­ceu de imediato.

Qualquer vampiro conhecia o endereço de Dante e Abby. Mas nenhum demônio queria cruzar o caminho da deusa.

Eu diria que a shalott sabe quem escolher como ami­go. - O duende balançou a cabeça.

Dois vampiros, um gárgula e a Fênix.

Styx ficou alerta.

E quanto ao troll Evor?

Temo que as tentativas de meus criados em descobrir seu paradeiro tenham dado em nada. Talvez ele tenha de­saparecido simplesmente.

Acha isso divertido?

Irônico talvez?

Styx apertou os olhos, raivoso.

Cuidado para não engasgar com tanta ironia.

Farei o possível.

Styx não precisava mais aguentar a presença do duende. Já sabia o paradeiro da shalott.

Prepare suas malas enquanto eu estiver fora, Damocles. Quando eu voltar, pretendo ver você escoltado para fora daqui.

Como queira.

Styx ignorou a tranquilidade do avejão e deixou o apo­sento. Logo Damocles seria jogado para fora do estado, ou morto por suas próprias mãos. De alguma forma, o duende não poderia mais espalhar o seu veneno. Por hora, importava apenas confrontar Viper, e convencê-lo, de alguma forma, a lhe entregar sua escrava.

Damocles esperou até ter a certeza de que o vampiro tinha deixado a caverna, soltou uma risada e abriu uma passagem secreta. Desceu cuidadosamente as escadas, sen­tindo o cheiro forte de suor e excremento. Manter um prisio­neiro era sempre um negócio desagradável, embora tivesse suas vantagens.

Chegou ao último degrau e olhou para um canto, dando com o prisioneiro de olhos vermelhos e cheios de ódio. O maldito troll continuava bem preso à parede.

Vejo que não perdeu o apetite, Evor - Damocles mur­murou, olhando os ossos espalhados pelo chão.

O que mais há para se fazer neste chiqueiro?

Damocles riu.

É assim que fala destes adoráveis aposentos?

O que quer de mim? Dinheiro? Escravos?

Nada tão valioso... Apenas a sua vida.

Viper não se importou em esconder sua impaciência. Andando de um lado para o outro no enorme saguão, ele manteve os olhos presos na elegante escadaria de mármore.

Não que estivesse preocupado com a segurança de Shay. Havia poucos lugares onde ela ficaria mais segura do que ao lado da Fênix. Quem se atreveria a provocar a ira da deusa?

Não, sua impaciência era algo mais pessoal. Menos de uma hora se passara, e ele já sentia sua falta.

E isso era um mau sinal. Muito ruim para um vampiro que nunca tinha pensado duas vezes em uma mulher, a não ser que ela estivesse sob a proteção de seu clã.

Ouviu os passos antes que Dante, Abby e, por fim, Shay surgissem no topo da escada. Quando ela chegou ao último degrau, Viper se aproximou e a beijou nos lábios.

Shay arregalou os olhos, surpresa e embaraçada.

Viper, por favor.

O que foi?

Não estamos sozinhos - ela murmurou.

Viper inclinou a cabeça e sentiu o calor de seu corpo.

Posso dar um jeito nisso, se estiver interessada.

Não estou - ela resmungou, mas Viper não deixou de perceber os mamilos enrijecidos.

Bom, muito bom.

Tem certeza? - Ele a abraçou.

Posso lhe mostrar quanta falta senti de você.

Mas apenas se passou uma hora.

O que posso dizer? Você me enfeitiçou. Ela olhou por cima do ombro.

Falando em feitiço, sua amiga está se sentindo ne­gligenciada...

Com relutância, Viper a soltou.

Trouxe Natasha para que ela examine a sua marca. Natasha podia ser bonita, mas não tanto quanto Shay. Viper levou a relutante Shay em direção à bruxa, escondendo um sorriso ao sentir o olhar que as duas trocavam.

Deixe-me ver - Natasha falou sem rodeios.

Aqui. - Virando-se de costas, Shay abaixou o ombro da blusa.

A bruxa se concentrou na marca, tocando-a por bastante tempo.

Um feitiço poderoso, mas não é uma maldição. É mais um elo.

Pode ser quebrado? - indagou Viper.

Não sem termos junto aquele que mantém o poder sobre ela.

Ele suspirou, desanimado.

Mas é possível pelo menos nos ajudar a descobrir quem foi o responsável pelo feitiço?

Natasha pensou um instante, depois deu de ombros.

Posso lançar um feitiço para que rastreiem a bruxa responsável pela marca. Isso se ela não usar outra mandinga contra isso.

Shay pareceu interessada.

De que tipo de rastreamento está falando?

Já brincou de quente e frio?

Não.

Uma vez que eu tenha feito o contrafeitiço, a marca irá esquentando à medida que você se aproximar de onde está a bruxa, e esfriando quando se afastar dela. Shay mordeu os lábios.

E quanto tempo dura esse contrafeitiço?

Um dia, talvez dois.

Viper deu um passo à frente, e colocou o braço no ombro de Shay.

Quer tentar?

Seus olhares se encontraram.

Não tenho outra escolha, não é?

Ele gostaria de mentir e assegurar a ela que não preci­saria mais se preocupar. Mas ambos sabiam que, enquanto o feitiço a ligasse a Evor, ela nunca estaria em segurança. Não importava o quanto fugissem.

Balançou a cabeça com um suspiro.

Realmente não tem.

Shay também suspirou profundamente.

Vamos logo com isso. Viper se voltou para Natasha.

Do que precisamos?

Eu trouxe o necessário.

Claro que não era um processo fácil. Natasha exigiu "sentir" a casa, antes de se decidir que a cozinha possuía a melhor aura para o trabalho. Somente depois mandou que Shay se sentasse em uma cadeira, e tirou uma vela preta da bolsa.

O ritual do contrafeitiço começou.

Viper não conseguiu ficar parado, e ficou andando de um lado para o outro. Odiava a idéia de não poder fazer nada, por isso colocara Shay nas mãos daquela mulher.

Mas nenhum vampiro se sentia à vontade diante da magia. Como lutar contra algo que não se vê nem se toca?

Natasha pegou uma fita branca e a levou à chama da vela. Espalhou-se um cheiro estranho, que encheu a cozi­nha inteira enquanto a bruxa falava algumas palavras an­tes de encerrar o trabalho.

Subitamente, Shay pulou na cadeira. Viper deu um pas­so à frente, apreensivo.

Shay, você está bem?

Apenas um pouco tonta - ela disse, estendendo a vela para Natasha.

Viper voltou-se para a bruxa com um olhar nada amigável.

O que você fez a ela?

Não se preocupe, vai passar. - Natasha voltou-se para Shay.

Consegue sentir a marca?

Ela arde.

Natasha levantou-se com um sorriso triunfante.

O contrafeitiço funcionou. Você pode usá-lo como uma bússola.

Viper suspirou, aliviado.

Fez um belo trabalho. Obrigado.

A bruxa retribuiu o elogio com um sorriso convidativo.

Estou sempre pronta para ajudá-lo...

Shay se recuperara o suficiente para enviar a Viper um olhar zangado.

Ele simplesmente escondeu o sorriso.

Vou levá-la para casa - murmurou para Natasha. Shay levantou-se imediatamente.

Eu vou junto. Podemos começar a tentar localizar a caverna da bruxa.

Está bem - Viper concordou.

Eu levarei Natasha para casa, Viper. - Dante se adiantou.

Você e Shay podem começar sua busca.

Viper lançou um olhar de agradecimento ao amigo.

Mesmo se divertindo em ver Shay claramente com ciúmes da bruxa, estava muito mais interessado em descobrir o responsável pelo feitiço. Uma vez que Shay estivesse livre da ameaça, ele poderia desfrutar de certos prazeres.

Vão voltar antes do amanhecer? - Abby perguntou a Viper.

Não queremos colocá-la em perigo. A deusa sorriu com a confiança que conquistara nas últimas semanas.

Há poucos demônios que ousariam invadir a minha casa. Não é qualquer um que deseja enfrentar a Fênix. Viper sorriu. Ele não poderia argumentar contra isso.

Shay passou a mão pelo ombro quando o carro atingiu o lado sul de Chicago. Estavam em uma área bem diferente aquela em que ficava a mansão de Abby e Dante.

Você pode usar a marca como uma bússola, Natasha ha­via dito.

Fácil falar. Não era o ombro dela que ardia.

Pare aqui!

Viper diminuiu a velocidade de seu Jaguar preto.

Aqui? Tem certeza?

Sim.

Sente alguma coisa?

Meu ombro dói. - Olhando pela janela, Shay obser­vou as lojas por onde passavam. Era uma combinação de­pressiva de prédios abandonados, bares e lojas de artigos pornográficos. Ela saltou do carro antes mesmo de ele pa­rar.

Conheço este lugar. Eu morava perto da esquina.

Viper estacionou e a seguiu pela rua escura.

Parece uma velha loja.

Sim, uma livraria. Meu pai costumava me trazer aqui. - Ela fez uma careta.

Diabos, meu ombro está queimando.

Shay lutou para trazer de volta as lembranças. Estivera ali havia muitos anos e a vizinhança mudara muito. Ainda assim, tinha certeza de não estar enganada.

Suponho que devemos dar uma olhada - murmurou Viper.

Shay...

O que foi?

Não corra riscos. Sabe-se lá o que vamos encontrar pela frente.

Está sentindo alguma coisa? Ele olhou em direção à loja.

Não, e é isso que está me aborrecendo.

Ela suspirou. Aquele que a caçava poderia estar nas pro­ximidades.

Viper a tomou nos braços e a beijou nos cabelos.

Do fundo da rua chegavam sons, provavelmente de gen­te vendendo droga. E devia haver gangues por ali. Até estupradores, mas isso não era problema. Estava nos braços de um vampiro, Shay pensou.

Podemos voltar para a casa de Dante, se quiser. Não precisamos entrar - ele murmurou ao ouvido dela.

Por um momento, ela se permitiu apoiar na força de Viper. Oh, como seria bom se pudesse se esconder, fingir que estava em segurança. Havia tanto tempo em que conta­va apenas consigo.

Então se afastou dele com determinação. Não iria se apoiar em ninguém.

Vamos entrar. Já que nós temos de fazer isto, que seja agora.

Adentraram a loja escura. Shay olhou em volta, franzin­do o nariz com o cheiro da poeira de velhos livros. O interior era estreito, com prateleiras lotadas e outros objetos estra­nhos, difíceis de serem identificados.

Junto a uma parede, mais ao fundo, havia um balcão e outra estante com potes de cerâmica. Esta parecia sinistra debaixo das sombras.

Parece abandonada - ela murmurou.

De fato.

Por que a marca me trouxe aqui?

Não tenho certeza. Mas devemos examinar tudo. Pode haver algo que nos dê alguma dica.

Shay engoliu em seco. Não tinha vontade de ficar vascu­lhando uma loja tão suja.

Mais do que isso. Havia ali algo inquietante. Infelizmente, Viper tinha razão. A dor no ombro os tinha trazido até ali. Deveria haver alguma coisa.

Se pelo menos ela tivesse uma idéia do que fosse...

Movendo-se entre as estantes, Shay tocou nos livros: clássicos infantis e alguns de filosofia. Nenhum livro de fei­tiços.

Viper encostou-se a uma das estantes e cruzou os braços.

Por que não me diz do que se lembra deste lugar? Ela hesitou, o olhar se dirigindo ao balcão. Era como se os fantasmas indicassem alguma coisa.

Não me lembro de muita coisa, apenas de ficar senta­da no balcão, lendo os livros, enquanto meu pai conversava com a dona da loja. - A expressão dela suavizou. Podia sentir a mão amiga do pai quando ele a levantava para pe­gar algum livro na parte mais alta da estante.

Os livros naquele tempo eram raros, e cada um deles representava um tesouro para mim.

Você chegou a falar com a mulher?

Shay tentou se lembrar.

As vezes ela me dava um doce, mas não me lembro de nenhuma conversa em particular.

Poderia ser uma bruxa?

É possível. Estranho ela nunca nos ter perguntado por que éramos diferentes... E havia sempre fregueses em busca dos potes. Na ocasião, pensei que fossem ape­nas enfeites.

Poções - Viper resmungou, indo direto ao balcão.

Provavelmente.

Surpresa, Shay viu o vampiro examinar vários potes e, por fim, começar a vasculhar a parede atrás deles.

O que está fazendo?

Ele continuou a bater na madeira.

Se ela era uma bruxa, devia possuir um quarto seguro onde fazia suas feitiçarias. Um lugar onde pudesse não ser interrompida. - Parou e bateu várias vezes em um mesmo lugar. Então voltou-se, sorrindo.

Aqui está.

A estante foi se abrindo e revelando uma estreita escada à frente.

Oh, meu Deus...

Vamos dar uma olhada?

Shay engoliu em seco antes de concordar. Devia haver algo lá embaixo. Não tinha vontade de pisar no que estava soltando aquele cheiro.

Viper moveu-se em silêncio. Shay não era abençoada com a mesma visão dos vampiros, e acabou tropeçando al­gumas vezes antes de chegar ao fim da escada.

Felizmente, Viper conseguiu acender uma luz. Shay pis­cou e foi ajustando a vista. Em seguida, ficou horrorizada.

Viper!

Ele a segurou pela mão, o toque frio oferecendo seguran­ça. Só então ela conseguiu voltar a respirar normalmente.

A caverna - Viper murmurou, apontando para as pa­redes sujas e o círculo desenhado no chão.

Aqui foi feito o seu feitiço.

Sim, eu me lembro! Este é o lugar.

E onde está a bruxa?

Largando a mão dele, Shay caminhou até o círculo. As lembranças ainda não eram nítidas, mas tinha certeza de que aquele era o lugar onde adquirira a marca.

Estendeu a mão e tocou na invisível parede de poder que rodeava o círculo. Gemeu baixinho. A magia que o rodeava havia sido quebrada.

Subitamente, ela avistou uma pilha de ossos a um canto.

Acho que encontramos a bruxa... Viper se aproximou do esqueleto, cauteloso.

Se esta for a bruxa, está morta há um bom tempo. Shay tentou olhar melhor a pilha. Sua respiração ficou presa na garganta quando notou a faca enterrada em um dos ossos.

Foi assassinada! E por Evor. Viper voltou-se, surpreso.

Tem certeza?

Evor tem uma faca exatamente igual a esta. Eu a re­conheceria em qualquer lugar.

Ele se abaixou e puxou a faca.

Isso explicaria por que Evor conseguiu o controle so­bre você.

Mas havia tantas outras perguntas sem respostas.

Não faz sentido - murmurou Shay.

Quando eu era jovem, a marca em minhas costas era apenas uma mancha. Eu não sabia que era uma praga até Evor passar a me domi­nar. Se foi a bruxa quem colocou o feitiço em mim, por que nunca me fez perceber que tínhamos um elo? - Ela apontou para os ossos.

E por que não morri quando ela morreu?

Viper observou atentamente a faca que tinha nas mãos.

A única explicação é que Evor provavelmente a forçou a lhe passar o poder que ela possuía sobre você. E o fato de nunca ter percebido o significado da marca... eu não sei.

Droga! - Ela respirou fundo.

E agora? Viper se levantou e mirou o teto.

O amanhecer se aproxima. A não ser que queira passar o dia aqui, devemos voltar à casa de Dante. Retornaremos aqui amanhã, se quiser.

Ela cerrou as sobrancelhas e parou um momento, olhan­do uma pequena caixa escondida perto do esqueleto.

O que é isso?

Shay... Pode haver armadilhas aqui. Ela lhe dirigiu um olhar exasperado.

Não podemos ignorar a caixa! Pode ter algo dentro que nos ajude.

Muito bem. Mas se tentar abri-la antes que tenhamos certeza de que é seguro, eu...

Você o quê? - Shay o enfrentou.

Um leve sorriso surgiu nos lábios de Viper.

Quando eu pensar em algo realmente abominável, eu lhe direi o que vou fazer...

Viper ouviu os passos de Shay no corredor. Sorriu en­quanto vestia o roupão e prendia o cabelo comprido para trás com uma tira de ouro. Haviam voltado para a casa de Dante poucas horas antes, mas não acreditava que Shay viesse vo­luntariamente até seu quarto. Seria esperar demais.

Decidido a dar um tempo para alcançar seu objetivo, dei­xou o aposento em silêncio e seguiu para a biblioteca. Não receava encontrar ninguém. Dante e Abby deviam estar se distraindo na cama, enquanto Levet, que fora trazido para ali mais cedo, tinha voltado à sua forma de pedra ao ama­nhecer. Ele e Shay estavam praticamente sozinhos no casa­rão, e ter certeza disso o deixava excitado.

Entrando na biblioteca, observou-a olhando atentamen­te para a caixa da bruxa. Estremeceu quando viu que ela vestia nada mais do que uma fina camisola, a qual lhe reve­lava cada contorno do corpo. Era uma pena que os cabelos estivessem trançados. Mas isso deixava com que ficasse ex­posta a vulnerável curva de seu pescoço.

Sentiu os caninos crescerem e o corpo se excitar.

Droga. Em parte sabia que deveria voltar ao quarto. Mais não sairia dali de jeito algum. Ele e Shay tinham algo a terminar e não gostava de coisas inacabadas.

Caminhou silenciosamente e a tocou no pescoço.

Bisbilhotando? - Sua voz soou macia como seda. Ela deu um pulo e ruborizou.

Quer me matar de susto?

Viper permitiu que seu olhar deslizasse pelo pescoço.

Como devo aparecer?

Podia amarrar um sino no pescoço, não sei. Ele riu.

Não combina com minha elegância... O que está fa­zendo aqui?

Vim buscar um copo de água.

Na biblioteca?

Sempre leio antes de dormir. E isso não é de sua conta.

Mentirosa. - Viper se aproximou ainda mais, os de­dos agora acariciando os braços macios.

Estava tentando abrir a caixa.

Sentiu que ela estremecia sob seu toque. Mesmo assim, Shay estreitou o olhar.

Não devia estar no seu caixão?

Excelente observação, minha querida. Assim como você deveria estar em sua cama.

Com um movimento rápido, ele a tomou nos braços e co­meçou a levá-la para fora da biblioteca.

Maldito! Coloque-me já no chão!

Meu Deus, que linguagem inadequada para uma dama.

Não sou uma dama. Sou um demônio.

Um lindo demônio, aliás... - ele murmurou, entrando em um dos numerosos quartos de vampiro que Dante man­dara construir na mansão.

Atravessou o aposento e a largou em cima de uma enor­me cama.

Pronto. Está satisfeita?

Esparramada em cima de lençóis de seda preta, Shay lutou para se sentar.

Não.

Ah... - Viper cobriu o corpo dela com o seu.

Isto a satisfaz?

Viper suspirou, deslumbrado. A pele de Shay era tão macia, e seus olhos dourados brilhavam como ouro. Nunca vira nada tão lindo em toda a sua existência.

Ela era perfeita. Uma visão que parecia vir de seus sonhos e não da realidade.

Mantendo-a presa sob o corpo, começou a desmanchar a trança, deixando soltos os cabelos sedosos. Queria vê-los espalhados sobre os travesseiros.

O que está fazendo?

Viper continuou a soltar os cabelos longos.

Eu avisei que a puniria se a pegasse querendo abrir a caixa.

Estava apenas olhando para ela!

Ele lhe lançou um daqueles olhares irresistíveis.

Pois tenho algo mais interessante para você olhar. Como era de se esperar, Shay enrubesceu.

Você é quem diz.

Mas você parecia bastante interessada em mim há poucas horas...

Estava em choque depois da luta com o Lu. Não esta­va pensando com clareza.

Viper riu e a beijou levemente nos lábios.

E agora? Continua em choque?

Os olhos dourados escureceram com indisfarçável desejo.

Devo estar.

Porque me deseja?

Sim - admitiu Shay com voz rouca.

Qualquer esperança de controle desapareceu quando ele envolveu seu rosto nas mãos e mordeu-lhe levemente o lábio.

Tão linda... Não é de admirar que eu tenha sido enfeitiçado.

Pensei que não gostasse de mágica.

Ele continuou a contornar com a língua a boca de Shay.

Gosto desta mágica.

Viper...

Não havia dúvida alguma de que ela o desejava. Os mi­lhares de anos de experiência o faziam perceber quando uma mulher queria fazer amor com ele. Podia sentir a força de seu desejo no ar. Por que ela resistia tanto?

As mãos hesitantes de Shay entreabriram o roupão que ele usava, e começaram a acariciar os músculos de seu pei­to. O toque era leve, hesitante. Mas o suficiente para que a paixão que ele já sentia chegasse às alturas.

Capturou os lábios macios em um beijo provocador.

Procurou não usar os caninos, mas estava consumido pelo desejo. Não tinha certeza se resistiria a usar as presas.

Impaciente, ele arrancou o roupão. Queria sentir o con­tato direto com a pele de Shay.

Mordeu a ponta da orelha delicada, murmurando pala­vras suaves enquanto a despia.

Preciso sentir você junto a mim.

A respiração dela se alterou quando os dedos de Viper en­volveram seu seio e começaram a lhe massagear o mamilo.

Isto é loucura...

Não posso pensar em uma loucura mais agradável. - Os lábios dele mordiscaram o mamilo, e suas mãos a seguraram pelos quadris para pressioná-la contra a potente ereção.                             

Shay gemeu e arqueou o corpo em um silencioso convite.                   

Viper usou os dentes e a língua para aumentar ainda mais o prazer que já a tomava por inteiro. Deslizou a língua pelo contorno dos seios, movendo-se para o mamilo ainda inexplorado.

Viper...

Gosta disto? - perguntou, lambendo o seio.

Oh, sim!

E disto?

Afastou as pernas dela, levando a mão às suas partes mais íntimas. Ficou imóvel por um momento, apreciando os sedutores contornos.

As feições de Shay agora estavam tomadas pela paixão que não mais podia esconder.

Viper...

Você é tão linda - ele disse, beijando-a nos dedos dos pés, ao longo das pernas, no interior das coxas... Queria explorar cada centímetro dela.

Viper, não... - Shay já não conseguia respirar direito.

Quero senti-la por inteiro.

Não sei se vou aguentar - ela confessou, jogando para trás o pescoço.

Ele estreitou os olhos ao avistar a veia pulsante. Mas na­quela noite não usaria os caninos, decidiu, apesar do forte desejo que o consumia. Não até Shay estar preparada para se entregar totalmente.

Viper... por favor...

— É isso o que você quer? - ele perguntou, antes de cobrir sua parte mais íntima com a boca.

Ela soltou uma exclamação e o agarrou pelos cabelos. Viper gemeu, extasiado. O perfume de Shay embriagava seus sentidos e ele mal podia esperar para penetrá-la. Mas antes queria que ela atingisse o auge do prazer.

E este estava próximo. Podia sentir o corpo dela chegan­do ao clímax.

Quando um tremor violento a sacudiu, ele tomou os lábios dela possessivamente e, libertando o próprio membro, pene­trou-a de pronto. Shay gemeu alto e o recebeu por completo, arqueando o corpo. Viper passou a se mover alucinadamente, sentindo as unhas dela cravadas em suas costas.

De novo, querida... Junto comigo... - pediu, e ela gri­tou de prazer pela segunda vez.

Ainda banhada de suor, e fraca demais para se mover, Shay descansou a cabeça sobre o peito de Viper. Não era a primeira vez que tinha encontrado prazer nos braços de alguém. Mas jamais sentira tanto desejo antes.

Por que o melhor sexo que desfrutara na vida tivera de ser nos braços de um vampiro?

Está quieta demais... Ela piscou, confusa.

Eu pensei que vampiros sempre quisessem sangue quando...

Fazem amor? - Viper completou a frase por ela.

Sim.

Ele a observou por um longo momento.

Não necessariamente, mas é verdade que isso aumenta o prazer no ato. Além disso, prometi não sugar seu sangue.

Shay ajeitou melhor o corpo, pensativa. Ele estava tão lindo deitado sobre aqueles lençóis negros, com os cabelos soltos... Engoliu em seco, forçando-se a encontrar seu olhar.

Está bravo comigo?

Não. Só estou pensando no que tenho de fazer para ganhar a sua confiança.

Ela sentiu o coração bater mais depressa.

O que isso importa? Sou sua escrava. Sou forçada a obedecê-lo, sejam quais forem os meus sentimentos. Por que faz questão que eu confie em você?

Com sua habitual rapidez de movimentos, Viper deixou a cama, indiferente ao fato de estar nu.

Por isso está em minha cama?

Não, claro que não. Por que está assim, tão bravo?

Eu não sei. Talvez porque você tenha sugerido que eu a estuprei.

Shay arregalou os olhos, chocada.

Eu não disse isso!

Mas fala que é minha escrava e tenta não me desejar. Vai ver, preferiria que eu a forçasse sexualmente a ter de admitir suas próprias paixões.

Shay suspirou. Ele estava certo. Ela o desejava com uma intensidade que a assustava, mas, em sua mente, não con­seguia se esquecer de que havia sido um vampiro quem ma­tara seu pai. Um vampiro que caçava shalotts como se eles fossem animais.

O que quer que eu faça, Viper? - perguntou com um suspiro.

Que diga a verdade.

Que verdade?

Admita que me quer. Ela apertou os lábios.

Você é maravilhoso, mas...

Viper soltou um resmungo enquanto pegava o roupão e o vestia.

Para mim, chega.

Shay o viu caminhar para a porta, perplexa.

Aonde vai?

Se me acha um monstro, mesmo depois do que acaba­mos de compartilhar, então não há esperanças para nós.

Por mais que ela odiasse admitir, Viper estava certo. Ela estava sendo injusta. Desejava-o tanto quanto ele a desejava.

E, sabia que, se ele saísse por aquela porta, seu orgulho o manteria afastado.

Viper, espere!

Ele estacou, mas não se voltou para ela.

O que foi agora? Já feriu meu orgulho, minha masculinidade... Há algo mais que deseja destruir?

Shay ficou em silêncio por um instante.

Duvido que alguém consiga ferir seu orgulho, vam­piro. - Ela deixou a cama e se aproximou dele, puxando-o pelo roupão.

E quanto à minha masculinidade?

Parece em boas condições...

Boas?

Shay sentiu o quanto ele estava excitado novamente e sorriu.

Mais do que boas.

Viper suspirou e a envolveu nos braços.

Está tentando me enlouquecer? E esta a punição por eu ter sido tão tolo a ponto de comprá-la de Evor?

Shay se aninhou junto ao peito forte, deprimida. Não po­dia mentir a si mesma. Viper era um vampiro e ela era sua escrava. E ainda havia alguém, ou alguma coisa, que faria de tudo para sugar seu sangue... Não podia levar a vida como se nada disso estivesse acontecendo.

Não sou boa nessas coisas - confessou baixinho.

Boa em quê?

Em relacionamentos.

E o que temos aqui? Um relacionamento? - ele inda­gou, enquanto a levava de volta para a cama.

Shay estendeu a mão e o acariciou no peito. Adorava fa­zer isso.

Você é quem tem de dizer se é ou não.

Se continuar com o que está fazendo, não vou conse­guir dizer nada - ele reclamou com voz rouca.

Ela estremeceu. Não tinha idéia de que tipo de relacio­namento poderia ter com Viper. Na verdade, ela preferiria ignorar inteiramente a palavra "relacionamento"... Mas es­tava começando a aceitar que ter um amante não era exa­tamente uma coisa ruim.

Sempre preferi ação à conversa - ela murmurou.


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Notas finais do capítulo

comentem, recomendem. obrigado



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