– Ele não te contou? Pensei que você só não soubesse que ela estava aqui há uma semana.

– Namorada? – eu dei um passo para trás. – Desde quando?

– Desde sempre. Ela é da cidade de onde ele veio. Quer dizer, quando Chad veio pra cá eles haviam terminado, mas logo depois voltaram a namorar, e estão juntos desde então. Pensei que soubesse. – Taylor falou franzindo a testa vez ou outra. Eu dei outro passo para trás e o encarei.

– Você só pode tá brincando. – eu o olhei sentindo minha cabeça doer.

– Porque está assim? – Taylor perguntou me analisando, e eu me lembrei que ele não tinha culpa de nada. Taylor não sabia do meu lance com Chad. - É só uma namorada. Chad não vai embora e vocês vão continuar sendo amigos. Relaxa, Sarah. Não é o fim do mundo, ok? – Taylor riu e beijou minha cabeça antes de sair da sala de funcionários em direção à cozinha.

Chad tinha uma namorada. Não era recente. Ele tinha mentido pra mim. Tinha me enganado todo esse tempo. Tinha enganado a mim e a tal da... Rachel. Eu passei a mão entre os cabelos e suspirei quando percebi que estava ofegando. Amarrei o avental no pescoço e fui para o salão da lanchonete.

Chad mentiu. Como... Como Chad podia ter mentido? Pensei que ele nunca mentia. Ah qual é, ele é o Chad. O Chad não mente.

O Chad mentiu.

Minha cabeça parecia estar dando rodopios enquanto eu servia os clientes. Eu respirei fundo várias vezes tentando parar de pensar naquela garota beijando ele.

Eu precisava vê-lo. Precisava falar com ele.

*************

Eu estava encostada ao balcão da lanchonete, com a cabeça apoiada nas mãos, quando senti alguém tocar meu ombro. Virei-me rápido.

– Calma, sou só eu. – Taylor sorriu e eu suspirei. – Estou indo para academia de luta.

– Tudo bem, nos vemos em casa. – eu disse e ele sorriu.

– Ainda posso ficar lá?

– Pode. Porque sou muito boazinha. – eu forcei um sorriso e ele beijou minha bochecha antes de virar-se para sair.

– Tchau. – ele acenou e eu segui o mesmo caminho minutos depois.

Era o meu dia de fechar a lanchonete e eu desliguei todas as luzes antes de trancar as portas.

– Quer uma carona? – a voz me fez virar rapidamente e eu fechei a cara quando o vi.

– Tenho uma moto, não se lembra? – eu disse grosseiramente e ele suspirou alto.

– Preciso falar com você. – ele disse baixo mais firmemente.

– Agora quer falar comigo. – eu disse enquanto me virava em direção a minha moto.

– Sarah, eu posso explicar.

– Claro que pode, mas quem disse que eu quero ouvir? – eu berrei virando-me novamente pra ele. Não era isso que eu queria. O plano não era ser grosseira, mas... Que se dane o plano.

– Sarah...

– Aliás, eu quero. Eu quero mesmo ouvir sua explicação. Vamos, você tem dois minutos. – eu falei e ri forçadamente olhando para meu pulso. Chad olhou para baixo e passou os dedos entre os cachos antes de voltar a me encarar.

– Não sei como te explicar... Você a viu não foi?

– Quem? – eu perguntei com a expressão mais cínica que pude.

– Rachel. Taylor disse que te contou sobre ela hoje. – ele falou baixo, e eu não respondi. – Nós namoramos desde que eu era moleque. Meu primeiro beijo, minha primeira vez, minha primeira paixão. Ela foi minha primeira em tudo. Quando resolvi vir pra cá, ela ficou muito brava e nós terminamos. E então eu vim. As coisas foram acontecendo aos poucos. Conheci Taylor, e depois você. A gente ficou amigo, mas nos beijamos naquele dia, prometemos que não aconteceria de novo, mas um mês depois nos beijamos outra vez. Não era algo que eu pudesse resistir. – Chad despejou aquelas coisas rapidamente, aumentado a voz vez ou outra e respirou fundo antes de continuar. À medida que ele falava era como se eu pudesse visualizar cada momento. – Sempre deixamos bem claro que não queríamos nada sério um com o outro. Você mais do que eu. Taylor e a Universidade eram a desculpa perfeita. – ele disse e eu não pude reclamar. Era verdade. – Então... Tiveram aquelas férias em que eu voltei pra casa pra ver meu pai. Rachel e eu nos encontramos lá, e... Ficamos juntos de novo. Eu gostava dela, e ela pediu pra voltar. Eu aceitei. Voltamos a namorar e eu voltei a viagem inteira pensando em como te diria que estava namorando. Foi um domingo e nós passamos na casa do Taylor. Você sorria o tempo todo e eu não podia estragar aquilo. Quando fui te levar em casa, você me beijou. E foi o melhor beijo que você me deu em todo o tempo que passamos juntos. Foi carinhoso, diferente do que costumava ser. – eu suspirei me lembrando do dia. - Eu não podia terminar daquele jeito. Você ficaria brava, ou não. Pararia de falar comigo ou não. Eu... Eu não podia arriscar. – Chad quase gritou a última frase e eu mudei o peso do corpo para a outra perna, lembrando-me de cada cena. – Não estou pedindo pra me entender. Só quero que... Me perdoe. Eu vou dar um jeito. Eu... – Chad se interrompeu.

Senti meus dedos gelarem, e os cerrei em punho. Não estava brava. Na verdade estava brava por não ficar brava. Eu não queria brigar com ele. Na verdade estava com medo de perdê-lo. Perder o amigo em quem eu tanto confiei. Perder o cara incrível que ele era pra mim. Isso me doía.

– Tudo bem. – eu disse e minha voz soou rouca. Engoli em seco e encarei a expressão confusa de Chad. A confusão era a mesma que estava em minha cabeça.

– Não faça isso. – Chad pediu com uma expressão de dor. – Por favor.

– O que?

– Isso. Você finge que não se importa, e vai guardando tudo pra você. Não faz isso. Não sorri assim pra mim.

– Eu paro de sorrir.

– Sarah... Droga. Grita comigo. Diz que quer me matar, mas... Me perdoa. Não faz assim, por favor. – ele pediu.

– Essa sensação é tão ruim. – eu mordi o lábio inferior antes de continuar. – Você... Desde que te conheci, sempre te vi como a pessoa mais sincera que eu conhecia. Nunca pensei que pudesse esconder algo assim de mim. Mas... – eu apertei os olhos. – O pior não é você ter uma namorada, e ter mentido sobre isso. - eu o acusei com os olhos. - O pior é que... Eu não posso brigar com você por isso. Não tenho argumentos. Porque... Nós dois não temos nada.

– Não? – Chad perguntou com os olhos inseguros. Apertei os olhos novamente.

– Eu sinto que temos. Eu gosto de você, e sempre que ficávamos juntos eu sentia... Alguma coisa. Mas olhando, logicamente, analisando e pensando, não há nada. Não temos nada e talvez nunca tenhamos tido. E eu me sinto tão ridícula por me sentir mal. – eu falei rápido e passei os dedos entre os cabelos.

– Sarah. – Chad me chamou e eu o olhei. – Não chora. Não, por favor. – ele quase gemeu vindo em minha direção.

– Não... Não estou chorando. – eu disse estendendo uma mão para que ele parasse e assustei-me com minha própria voz. Eu estava chorando.

Já chega disso. Já chega de chorar. Droga. Agora é na frente de todo mundo? Passei a mão sob os olhos e ri forçadamente.

– Eu preciso ir. Er... Preciso terminar uns trabalhos da universidade pra amanhã.

– Amanhã é domingo. – ele disse. – Sarah, por favor.

– Segunda. Pra segunda. – eu disse rápido correndo para a moto. Mas antes eu parei e o olhei. Mordi o lábio e suspirei.

– Tchau Chad. - Subi e acelerei antes que ele gritasse novamente.

Passei os dedos nos olhos e balancei a cabeça.

Olhando Chad ficar para trás. Chad. Meu Chad. Ou não mais meu. Se é que algum dia foi.