Quando meu relógio indicou ser seis horas, Matteo e eu estávamos andando em direção à casa de Taylor. Depois de conversarmos sobre mim e ele, [mas sobre mim do que sobre ele.] trocamos poucas palavras. Ele pareceu ter se arrependido de ter me consolado e de ter segurado minha mão e não fez mais isso. Manteve uma distância segura [pra ele] de mim.

Ainda queria entender o porquê disso. Esse pensamento ecoou pela minha cabeça por todo o momento que passei com ele, e só intensificava quando ele tomava todo cuidado pra não encostar-se a mim acidentalmente.

- Estamos perto? – ele perguntou interrompendo meus pensamentos.

- Sim. É logo... – apontei, antes de tropeçar em uma pedra. – É logo ali. – falei me recompondo. Matteo assentiu com os olhos em mim. Olhos perdidos e confusos. – Tudo bem? – perguntei fazendo-o balançar a cabeça.

- Sim. Tudo bem. – ele respondeu com um sorriso fraco.

Continuamos andando e eu suspirei quando paramos em frente ao prédio do Taylor.

- Então... – eu murmurei e ele me olhou. – Obrigada por hoje, e desculpa por estragar o passeio com meu... Acidente. – eu balancei a cabeça e ele sorriu.

- Não estragou. – ele disse e meneou a cabeça olhando para a bicicleta. - Onde quer que eu deixe?

- Pode levar. Quer dizer, pode deixá-la no meu prédio amanhã.

- Tudo bem. – ele assentiu. – Nos vemos amanhã então?

- Com certeza. – eu sorri.

- Ok. Até mais. – ele sorriu fraco virando a bicicleta. – Ah, cuida do machucado, tá? – Ele me olhou e eu assenti, antes dele montar na bicicleta e ir embora. Esperei que ele virasse a rua e suspirei, virando-me para entrar no prédio.

O porteiro, Kane, que já me conhecia pegou a bicicleta e guardou na garagem pra mim. Subi de elevador e desci no andar do Tay. O prédio dele era muito melhor do que o meu. O apartamento onde ele morava fora presente do pai, quando ele completou 19 anos, antes de desistir da arquitetura.

Toquei a campainha e fiquei na ponta dos pés para direcionar meu rosto no olho mágico.

- Quem é? – Ouvi a voz de Taylor e sorri.

- Adivinha?

- Como se eu não pudesse reconhecer esses olhos verdes. – ele respondeu rindo antes de abrir a porta.

- Oi. – sorri quando ele a abriu.

- O que foi isso? – Taylor quase gritou e me puxou pra dentro num movimento rápido.

- O que...

- Ele bateu em você? O que ele fez? Vou pegar ele? Onde ele está? – Taylor fazia várias perguntas ao mesmo tempo e eu não conseguia entender nada.

- Tay... – eu tentei falar, mas antes que eu conseguisse Chad já estava me empurrando em cima do sofá. Ele me fez sentar e começou a examinar minha testa, só então eu entendi. – Gente...

- O que ele fez? – Chad perguntou com a voz firme.

- Calma... Calma. – eu estendi as mãos para segurá-los. – Eu estou bem. Fomos dar um passeio de bicicleta como eu já havia avisado a vocês, mas eu acabei caindo.

- Não vamos cair nessa. – Taylor se manifestou com os lábios cerrados.

- Tay... Eu não mentiria pra vocês sobre isso. Eu realmente caí. Você pode perguntar isso a qualquer pessoa ao redor do parque, todo mundo viu minha queda histórica. – eu bufei e me levantei.

- Que mico. – Chloe berrou e só então eu notei-a sentada na poltrona do canto da sala. – O Matt fez o que?

- Ele me ajudou a levantar e pôs gelo na minha testa.

- Awn, que fofo. – Chloe encolheu os ombros e eu fiz uma careta.

- Ele só foi legal. – eu murmurei e andei até a cozinha que só era separada da sala por um balcão.

- Então acabou a sua investigação? Quer dizer, você já está tendo um romancezinho com ele. – Taylor jogou as mãos para o alto e eu me virei para olhá-lo.

- Não Tay, só estamos saindo. Hoje quase descobri coisas sobre ele, cheguei muito perto, e sei que se continuar assim vou conseguir. Sei que ele não vai me fazer mal. Se foi ele ou não, sinto que ele é diferente. Ou está... Eu não sei. Só... Só me deixa tentar ok? – eu balancei a cabeça e abri a geladeira pegando uma lata de refrigerante.

Voltei para a sala e sentei ao lado de Chad no sofá e Taylor se sentou no chão ao meu lado.

- O que vamos assistir?

- Tudo menos comédia romântica. – Chloe berrou e eu ri.

- Apoio. – Taylor se manifestou.

- Vocês escolhem então. – Chad murmurou. Chloe saiu da poltrona e se sentou ao lado de Taylor, que pegou uma caixa com filmes. Os dois começaram a falar sobre os filmes e eu sorri olhando-os. Eles formavam um casal bonito, digno de capa de revista. – Seria fácil de fosse assim não é? – Chad sussurrou no meu ouvido e eu me virei para olha-lo.

- Chloe e Tay?

- Chloe e Taylor, você e eu. – ele disse e eu sorri.

- Talvez. – eu assenti enquanto tirava as botas e as colocava de lado. Encolhi-me e Chad me abraçou. – Será que daríamos certo? Digo, como casal.

- Tenho certeza que sim. – ele sussurrou e eu levantei os olhos pra ele.

- O que quer dizer? – perguntei e senti minha mão congelar, enquanto esperava pela resposta.

A verdade era que todo aquele lance de amizade colorida às vezes mexia comigo. Chad era um cara incrível e eu o amava. Mas às vezes o sentimento era confuso. Que tipo de amor eu sentia por ele? Ele era só meu amigo mesmo? Porque às vezes eu sentia que não? Mesmo que nunca tenho contado isso a ninguém, às vezes sentia que gostava de Chad de outro jeito. Com certeza de outro jeito. Só isso explicava o fato de que não sentir vontade de beijar Taylor, mas sentir vontade de Chad. Não sentia ciúmes de Taylor, mas sentia de Chad. Por quê? O que isso significava?

- Não quero dizer nada. Só estou falando que seria fácil. Dois casais que se dão bem. Que são amigos. – Chad me fez voltar à realidade com o som de sua voz.

- E porque não? – me mexi e falei involuntariamente.

- Porque você disse que somos amigos.

- E somos, mas...

- Mas tem Taylor.

- Taylor poderia superar.

- Mas...

- Mas?

- O que é isso? – Chad me olhou e eu dei de ombros. – Você quer namorar comigo? – ele arqueou uma sobrancelha.

- Isso é um pedido?

- Isso é uma pergunta sobre você. Tá falando como se de repente quisesse namorar comigo. Insinuando e dando possibilidades.  – ele riu.

- Só pensei alto demais. Desculpa. – eu murmurei e levantei.

- Aonde vai? – Chad perguntou.

- Banheiro. – eu falei e Taylor e Chloe me olharam. – Escolham logo esse filme. – eu disse e eles deram de ombros voltando a examinar os filmes. Senti os olhos de Chad em mim antes de entrar no banheiro. Fechei a porta e respirei fundo me olhando no espelho.

O que tinha sido isso? Eu não queria namorar Chad. Não é? Quer dizer, éramos amigos. Tinha Taylor e tinha... Matteo. Matteo?

Não. Não tinha ninguém. Chad apenas amigo. Matteo apenas investigação.

Sarah para de confundir os sentimentos. Pensei enquanto amarrava os cabelos em um coque. Eu precisava parar de confundir atração com amor. Claro que amava Chad, mas ele era meu amigo. Apenas meu amigo. E quanto a Matteo. Não significava nada. Nada.

Respirei fundo antes de voltar pra sala, e quando o fiz sentei no lado oposto do sofá, deixando que Chloe e Taylor, sentados no chão, ficassem entre Chad e eu. Chad me olhou confuso e eu suspirei sorrindo fraco. Taylor já tinha colocado um filme de suspense e romance, e eu me encolhi no sofá encarando a tela, sem realmente ver. Minha mente vagava, interpondo-se entre Chad e Matteo. Vez ou outra em Taylor.

O filme já estava perto do final quando o celular de Chloe tocou, e ela fez careta ao ouvir a voz do pai, que pediu que ela fosse pra casa.

- Nos vemos amanhã na Universidade, ok? – Chloe falou e eu assenti. – Tchau Chad, tchau Taylor. – ela sorriu beijando a bochecha de Taylor.

Chloe foi embora e Taylor se sentou ao meu lado, fazendo eu me virar para que ele me abraçasse. Deitei em seu peito e ele beijou minha cabeça.

- O que foi? – Taylor perguntou baixinho e eu suspirei.

- Nada. – eu sorri fraco.

- A Chloe é bonita. Ainda não tinha reparado. – Taylor disse depois de um tempo, eu ri.

- Como não? Chloe é linda.

- É. Ela é. – ele concordou rindo.

- Deveria tentar. – eu dei de ombros.

- Quero você. – ele disse rápido.

- Tay...

- Eu sei. Sei dessa ladainha de somos como irmãos que você inventou.

- E não somos?

- Somos. – ele sorriu fraco. – Mas o que faço com a vontade que sinto de você?

- Tay...

- Tudo bem. – ele suspirou.

- Sabe que eu ficaria com você se fosse diferente.

- É? Acha que se poderia se apaixonar por mim se fosse diferente? – ele me olhou e eu sorri.

- Com certeza. Você é maravilhoso, cuidadoso e...

- Gostoso? – ele riu.

- É. Isso também. – eu ri concordando. – É inteligente e amigo. Não há outra coisa que uma mulher pode querer, só que eu... Eu te tenho como irmão e não sabe o quanto isso significa pra mim. Não quero te perder. Não posso.

- Não vai. Vou ficar aqui. Sempre. – ele me apertou e eu sorri.

- Obrigada.

- Obrigado por me excluírem. – Chad berrou e eu me virei para vê-lo acender a luz da sala.

- Vocês sempre têm esses momentos a dois, não atrapalhe o nosso. – Taylor me apertou mais e eu ri.

- Bobos. – eu sorri quando Chad sentou ao nosso lado. – Tem falado com seus pais? – perguntei a Taylor que deu de ombros.

- O mesmo de sempre. Sermões por ter desistido da arquitetura e blá blá.

- Chad?

- Sim. Falo com meu pai todo fim de semana. E você? – Chad perguntou e eu suspirei.

- Falei com minha mãe semana passada. – eu disse e ele assentiu.

- Pra onde vai quando acabar a Universidade?

- Não sei. Não quero pensar nisso agora. – eu sussurrei.

- Então não vamos pensar nisso. – Taylor sorriu.

Conversamos a noite toda sobre trivialidades. Bobagens da universidade, e da lanchonete. Vez ou outra o assunto voltava pra nossa família e nós ficávamos tristes. Cada um com seus problemas familiares, um se apoiava no outro.

Estávamos juntos e permaneceríamos assim. Isso é família. Mesmo que as coisas se confundam de vez em quando.