Deuses e Diamantes escrita por André Tornado


Capítulo 31
Vitória.


Notas iniciais do capítulo

Amor ilimitado e imortal
Que brilha à minha volta,
Como um milhão de sóis.
Chama por mim incessantemente
Através do Universo.
The Beatles, Across The Universe



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Ozilia retirou o lenço vermelho que número 17 tinha ao pescoço, antes que este se desintegrasse, como parte do conjunto físico que formava o cadáver, o que incluía tudo aquilo que o envolvia, roupas e outros acessórios. Enquanto o atava no pulso esquerdo, puxando uma das pontas com os dentes para dar o devido nó, viu o corpo perecível do humano artificial enegrecer e começar a dissolver-se aos poucos, convertendo-se numa papa escura que as frestas entre as lajes brancas, primeiro, a terra atapetada daquele mundo, depois, iriam absorver. Tudo dissolvido, até os circuitos mais secretos, o processador central, a máquina eterna, o que supostamente não seria perecível. A criação diabólica e genial de um cientista louco resvalava literalmente para o abismo dos esquecidos.

Número 18 ajoelhou-se ao lado dela.

– O que é que está a acontecer?

– Todos aqueles que perdem a vida no mundo dos deuses, desaparecem para sempre – explicou a deusa com uma crueza arrepiante. – É esse o preço por terem penetrado em terreno sagrado e proibido aos mortais. Não é concedida uma outra oportunidade para redimir pecados, reparar faltas, padecer uma qualquer pena pelos atos malignos feitos em vida, ou receber uma recompensa pelos atos benignos. A eliminação total é o destino de quem aqui morre, até para os deuses.

– Ele… Não vai ter direito a alcançar o Outro Mundo?

– Não.

A sentença era irrevogável e número 18 chorou pelo irmão, numa quietude angustiada, torcendo os punhos sobre os joelhos. Queria ter feito mais. Se soubesse que aquilo iria acontecer, teria seguramente feito muito mais. A começar por impedi-lo de ir atrás da deusa e do príncipe. Ela bem que tinha saltado, mas tinha-se perdido dentro da nuvem vermelha e cinzenta e tivera de regressar. As lágrimas de número 18 formaram um risco nas faces, apenas duas lágrimas magras e nada mais. Não se rebaixaria a chorar mais que isso. Odiava sentimentalismos e pieguices, mesmo que fosse pelo irmão, mesmo que a situação se revestisse de uma dor amarga que lhe tolhia o coração ainda mal habituado a gerir as emoções humanas.

Em silêncio e devagar, a papa escura sumiu-se da vista e do alcance de número 18, selando o fim definitivo do orgulhoso humano artificial, seu irmão gémeo, em tempos o mais forte do mundo, lutador excecional, androide assassino, parte fundamental do desenvolvimento do monstro biónico Cell. Solitário, agreste, irónico, presunçoso, divertido. E não se lembrava de mais nenhuma característica, assim de repente. Apenas tinha restado o lenço vermelho no pulso da deusa. A elegia estava feita.

Ozilia recolheu os pedaços de cristal que se espalhavam pelas lajes, perto de onde estivera o corpo de número 17, as suas lágrimas transformadas. Juntou-os num pequeno monte. Retirou um punhal que guardava no cano alto da bota e traçou a palma da mão, fazendo brotar do golpe uma linha de sangue escuro. Agarrou nos pedaços de cristal e fechou-os no punho, misturando-os com o líquido vital.

Número 18 perguntou-lhe:

– O que é que vais fazer com isso?

– Um penhor para a nossa vitória.

A deusa pôs-se de pé, adotando uma posição tão altiva e majestosa quanto qualquer uma das demonstradas até ali pelo tirano. Na mão direita tinha uma lança comprida, na mão esquerda, onde usava o lenço vermelho, fechava os pedaços de cristal ensanguentados, deixando cair pequenas gotas vermelhas na alvura do lajedo. Envergando os trajes de combate, preparando-se para o seu último confronto naquele torneio, as tranças soltas pelas costas, estava bela como uma Valquíria, cantada nas sagas lendárias dos povos do Norte.

O horizonte longínquo e desértico chamava-lhe, inexplicavelmente, a atenção. O diamante refulgia em diversos tons rosáceos, havendo uma predominância das cores carregadas, fortes, mais escuras. De algum modo, a morte de número 17 pusera a trabalhar a engrenagem fundamental que haveria de decidir aquele drama.

Número 18 também se pôs de pé. Sentia a cara húmida, mas não a limpou. Deixou que o vento, que começava a soprar, cumprisse essa tarefa, que lhe levasse as suas lágrimas, que elas se dissolvessem em nada como os corpos dos mortos. Pois ela sentia-se tão morta quanto o irmão e sem vontade de continuar a lutar.

Por cima do tatami, suspensos no ar sobre as cabeças dos lutadores da galáxia do Norte que se voltavam para cima a contemplar o espetáculo, estavam os dois teimosos adversários. Son Goku, de braços levantados com uma bola azul transparente entre estes. E o tirano Lux, a uma curta distância, parado a observar o saiya-jin que estava tão quieto que dir-se-ia ter adormecido naquela posição estranha de braços levantados.

Ozilia chamou:

– Príncipe…

Vegeta transformou-se em super saiya-jin.

– Não precisas de dizer, deusa. Já sei que tenho de ir em auxílio daquele idiota.

Enquanto se elevava nos céus, resmungou:

– Que não sabe fazer nada sem a minha ajuda… Ah, Kakaroto! Desde que te conheço, que insistes em atravessar-te no meu caminho.

E, desta vez, sem discussões e sem hesitações. O pensamento foi esquisito. Ele tinha discutido com a deusa, hesitado inquieto cheio de dúvidas que lhe picavam as entranhas e chegara a lutar com ela. Lembrava-se de ter rechaçado irritado aquela lança que ela agora segurava com firmeza na mão direita. Era tão esquisito que Vegeta afastou decidido esse pensamento. Não se queria distrair com futilidades, apenas o presente importava e esse fazia-o enfrentar-se a um deus pela segunda vez.

Trunks reagiu ao ver o pai ir na direção do tirano. Chamou:

‘Tousan!

E deu um passo em frente, logo secundado por Goten, que, por sua vez, fez o irmão Gohan também reagir, implicando uma quarta reação da parte de Piccolo. Todos se preparavam para intervir, quer fosse para proteger o companheiro, apoiar Vegeta ou apoiar Son Goku.

– Quietos! – Vociferou Ozilia imperativa.

Os quatro guerreiros estacaram num segundo. Ela completou:

– Isto ficará resolvido, em breve.

Uma declaração ambígua, que não garantia nenhuma vitória.

Gohan fechou a boca com força, volveu o olhar para o pai. O ataque planeado não estava a resultar e o ki de Goku era demasiado fraco, como se estivesse ferido, inconsciente ou num estado comatoso. Vegeta estacava defronte de Lux, desafiando-o. Gohan sentiu os ombros rígidos, um mau pressentimento a incomodá-lo. Quando encontrou o olhar de Piccolo, não se sentiu melhor. O seu mentor e amigo estava ainda mais nervoso que ele.


***


Travou o voo repentinamente e usou da sua bazófia habitual para fazer uma entrada retumbante naquele combate, intimidando o oponente que não se deixaria intimidar com nada, mas ele não queria saber. Precisava de ouvir a própria voz para se sentir mais seguro daquele impulso, não o de ter ido auxiliar o idiota do Kakaroto, mas o de ter obedecido à maldita deusa que, segundo o seu conceito, seria igual a qualquer deus daquele mundo.

Exclamou sabendo que sorria, os olhos verdes cintilando, faíscas a estalar com as palavras:

– Lux! Agora, vais ver-te comigo. Já eliminei um dos teus irmãos. Por isso, tu não deverás ser mais difícil de derrotar que aquele imbecil do Argia!

Formou uma concha com as mãos e encheu-as de energia branca. As sombras projetadas no seu rosto acentuaram-lhe o sorriso pérfido, o olhar inflamado da luxúria de combater. Enviou os disparos, um a seguir ao outro e criou outro par luminoso. Enviou esses disparos e criou um terceiro par. A figura silenciosa de Lux sumiu sob o ataque repetitivo e insistente. Uma mera manobra de evasão, não havia ali o poder suficiente para ferir ou abanar o deus, mas Vegeta queria que ele provasse das suas capacidades.

Após enviar o quinto par de disparos, gritou, elevando os braços, criando uma esfera gigantesca sobre a cabeça que lançou contra Lux. Desta feita, o poder acumulado nesta seria capaz de acabar com um pequeno planeta, mas ali, naquele mundo estranho, Vegeta não tinha a certeza que teria esse desfecho, pois não conhecia o suficiente para classificá-lo inequivocamente como pequeno planeta. Mas sem qualquer preocupação ou hesitação, fez do deus o alvo do seu ataque.

Inesperadamente, Lux reagiu. Percebeu a força da esfera e a sua capacidade destrutiva. Muito provavelmente não pretendia ficar debilitado naquele recontro que não lhe interessava. O seu adversário e o seu objetivo era Son Goku. Por isso, desviou-se da esfera e deixou-a explodir no horizonte. O céu artificial encheu-se de camadas paralelas de fogo, de várias tonalidades de laranja.

Após a explosão, Vegeta procurou pelo contacto físico com Lux. Esperava aquela reação dele, o desvio, a movimentação no palco do combate, a exposição do corpo à fúria guerreira que lhe fazia o sangue saiya-jin latejar nas veias. Conseguiu atingi-lo com um soco nos queixos que projetou o deus para o tatami, fazendo-o despenhar-se com espalhafato no lajedo que se quebrou, abrindo uma tremenda cratera, tão funda que não se conseguia vislumbrar o corpo do deus caído. Vegeta expulsou o ar dos pulmões, aproveitando para, de seguida, concentrar o ki nos músculos, endurecendo-os. Antecipava uma resposta terrível do tirano.

O tatami continuava a apresentar-se num branco imaculado, à exceção da enorme cratera que lhe rasgava um dos cantos e um rasto minúsculo, mas bastante destacado, de pingos de sangue vermelhos, deixado por Ozilia. Formavam uma linha precisa, pontilhada, uma voluta artística que nascia do ponto onde estivera o corpo de número 17 e que se perdia no canto oposto desfeito pela cratera, onde a deusa descera. Curiosamente, os pingos de sangue não existiam no solo, como se ela tivesse deixado de sangrar quando abandonara aquele recinto.

Houve movimento no fundo da cratera. Vegeta esqueceu o peculiar rasto de sangue de Ozilia. Espreitou Kakaroto por cima do ombro. Continuava adormecido, de braços levantados, uma esfera transparente e vazia entre estes, dir-se-ia a hibernar ou, de algum modo, a alma se tinha desligado do corpo e ali só estava uma carcaça, tão vazia quanto aquela Genkidama falhada. Tinha o diamante ao pescoço e não se lembrava de ele ter arranjado maneira de o usar daquela maneira, como o pendente de um colar. O diamante piscava muito ao de leve, a fazer acreditar que o seu dono, de facto, hibernava profundamente.

Lux veio poderoso e enfurecido. Não se parecia nada a um deus dominador e que apreciava mostrar uma faceta controlada. Vegeta sorriu, mostrando os dentes. A adrenalina de enfrentar um adversário desvairado aqueceu-o e animou-o. Mergulhou e intercetou o ataque do deus, tentando travá-lo com um murro. Mas Lux apanhou-lhe o braço e Vegeta percebeu que tinha caído na armadilha. O joelho do deus penetrou fundo no abdómen, espalmando-lhe as entranhas todas e Vegeta cuspiu uma golfada de sangue. Viu, a balançar diante dos olhos, o objeto que mais desejava naquele instante: o diamante azul de Lux. Tão perto e tão longe do seu alcance. Quis defender-se, mas continuava preso pelo braço direito, um garrote bem apertado, uma grilheta de aço duro e frio em redor do pulso. Moveu-se atabalhoadamente. Conseguiu ver, pelo canto do olho, o punho do deus que procurava socá-lo na testa, desviou-se por menos de uns poucos milímetros. Um rasgão abriu-se na têmpora esquerda, junto à linha dos cabelos. Mais sangue.

Puxou pelo braço aprisionado. Não adiantava insistir. Então, utilizou as pernas. O diamante azul tornou a passar diante dos seus olhos, tentando-o, acicatando-o. Vegeta cerrou os dentes e pontapeou Lux no flanco. Mesmo assim, com aquele pontapé nos rins – ou numa espécie de rins – não o fez afrouxar o garrote. Vegeta desfechou-lhe um segundo pontapé, com a raiva incomensurável de um super saiya-jin. Depois do diamante, apareceu o sorriso de Lux, tão arrogante e cínico quanto o dele próprio. Vegeta também lhe sorriu, do mesmo modo.

O pulso direito, num repente, ficou livre.

Vegeta afastou-se às arrecuas no mesmo instante. Uniu as mãos diante do corpo, a preparar um Final Flash. O céu que cobria o recinto tinha-se fechado e havia relâmpagos por todo o lado, carregando o ar de eletricidade.

– Vou apoderar-me do teu diamante, Lux. Vai ser um prazer desfazê-lo com as minhas próprias mãos!

Um halo de energia azulada envolveu os dedos de Vegeta. E ele continuava a sorrir, permitindo-se inundar com toda aquela energia, poder e força que o fazia brilhar tanto como o diamante cobiçado do tirano.

– Não vais conseguir, saiya-jin! – Trovejou Lux.

E a tempestade desatou-se sobre os dois lutadores inquebráveis.

E o mundo tremeu descontroladamente.


***


Quando Vegeta tombou derrotado e ferido, a Genkidama foi completada.

Son Goku olhou para cima e viu a magnífica bola azul, com o seu núcleo mais escuro, envolvida de finos raios trémulos, grandiosa como um descomunal planeta gasoso, engrossar de energia. Foi primeiro uma impressão esparsa, o regresso vindo de um sonho que não lhe pertencia inteiramente e que ele não protagonizara claramente, mas que se converteu numa retumbante sensação de invencibilidade. Aquela Genkidama era infinitamente superior à que derrotara Majin Bu, tinha o poder necessário para arrasar com um punhado de galáxias de uma só vez. Assustou-se, por momentos. Mas talvez esse nível de energia fosse absolutamente necessário para derrotar e eliminar o tirano Lux para sempre.

Não sabia muito bem explicar como tinha conseguido reunir tão depressa aquela quantidade insana de energia. Antes do sonho, recordava-se vagamente que estava a ter muitas dificuldades em completar o ataque. Tivera a preciosa ajuda de alguém e desconfiava que o devia a Ozilia, mesmo que o seu diamante estivesse recolhido numa espécie de estado de casulo e não lhe tivesse enviado qualquer tipo de mensagem que lhe assegurasse esse pressentimento.

Estava na hora de atuar.

Espreitou Vegeta. Não percebia por que é que o príncipe tinha interferido no seu combate contra Lux. Fazia tudo parte do normal e cadenciado desenrolar dos acontecimentos, apesar de naquele mundo não existir o tempo, mas ele não se conseguia situar convenientemente nessa cadeia e perceber onde tinha terminado uma ação e começado outra, porque tinha estado, entretanto, metido no tal sonho. Mas o deus fizera-lhe um favor ao afastar o príncipe depois de uma sessão selvagem de pancadaria que empurrou Vegeta para o lado e o colocou providencialmente fora da rota assassina do ataque energético iminente.

Goku fechou os olhos e sentiu, pela primeira vez, a dormência atacar-lhe os membros superiores. Estava há demasiado tempo naquela posição e o peso de um número infindo de horas caiu-lhe sobre o corpo massacrado. Não se deveria demorar. Estava mesmo na hora de atuar.

Lux encarava-o, num plano mais baixo mas, ainda assim, a flutuar serenamente sobre o chão de veludo amarelo. Tinha a expressão costumeira de tédio, uma sobranceria desagradável que se traduzia numa indiscutível superioridade. Não seria mais do que qualquer deus, mas exibia-se como tal. O tirano que subjugava todos os deuses não suportava partilhar o espaço com mais ninguém.

Entreolhavam-se. Deus e saiya-jin. O algoz e a vítima.

Mas se Lux estava consciente do seu papel, Son Goku não tinha a certeza.

Pois tinha chegado a hora de pagar por todos os seus pecados e ambições.

A Genkidama foi lançada. Goku baixou os braços sentindo uma dor profunda percorrer os músculos estirados. A gigantesca bola azul começou a cruzar o ar devagar, parecendo melaço a escorrer lânguido por uma cana. Movimentava-se demasiado lentamente, daquela forma Lux acabaria por esquivá-la e o seu potencial mortífero, toda a energia acumulada, não cumpriria o seu objetivo. Mas Goku não tinha forças para mais. Estava horrivelmente extenuado e entorpecido, acabado de sair de um sonho alheio, adormecido e apático. Precisava de se transformar em super saiya-jin, mas não conseguia reunir o poder e a raiva necessários.

– Confio em ti… Ozilia – murmurou de olhos fechados, tentando penetrar na proteção alaranjada do diamante.

Lux continuava sem se mexer, o que constituía uma vantagem.

E a Genkidama movia-se até ao alvo, zunindo, deslocando-se a empurrar vagarosamente o ar, criando uma esteira invisível nos céus.

Goku arreganhou os dentes. Precisava agora de uma centelha de sorte…

Só uma pequena amostra da fortuna.

Sentiu o calor de uns braços em redor da cintura. Alguém o abraçava por trás, aquecendo-lhe as costas. Ele não abriu os olhos. Não se deixou perturbar, continuava a comandar a Genkidama, mas sentiu curiosidade em saber quem é que vinha para o apoiar daquela forma inusitada, apesar de desconfiar de quem seria. O odor a floresta e a verde era inconfundível.

– A tua confiança é admirável, saiya-jin.

Goku deixou-se envolver pelo abraço de Ozilia. Ela não estava sozinha, havia outras auras movendo-se perto dela, que se aproximavam como uma nuvem de uma tempestade de areia, numa velocidade constante, mínima, mas inexorável. Ele continuou de olhos fechados. Sentiu os dedos finos tocarem-no, as mãos pousando uma por uma, até se converterem numa multidão de dedos e de mãos. Sentiu o poder perdido regressar às fibras recônditas do seu corpo guerreiro. Sentiu a raiva transtornar-lhe o coração tolhido. Numa explosão de luz acompanhada de um grito formidável, transformou-se em super saiya-jin.

A Genkidama impulsionou-se após um solavanco, despenhando-se sobre o deus Lux com uma ferocidade espantosa. Carregava no seu ventre azulado a destruição e a morte, a eliminação e o esquecimento. A justiça de todos os inocentes tombados no campo de batalha de uma guerra desconhecida.

O tirano apercebeu-se tarde demais da realidade que enfrentava. O seu orgulho impedira-o de acreditar em pleno na força que enfrentava desdenhoso. Apanhou a Genkidama com as mãos, esticando os braços, fincando os pés no chão, enrugando o tapete aveludado atrás de si. Uma posição muito semelhante à de Majin Bu quando fora atingido pelo mesmo ataque.

Son Goku, abraçado por Ozilia, amparado por milhentas mãos, de olhos fechados, transformado em super saiya-jin gritava a empurrar a Genkidama, sentindo a força de Lux no outro extremo a tentar rechaçá-la, anulá-la.

Mas tinha chegado a hora de atuar e não havia possibilidade de recuo, de hesitações, medos ou dúvidas.

A Genkidama sibilava e estremecia. Goku empurrava, Lux defendia-se.

O Universo inteiro aguardava pelo desfecho daquele confronto entre dois titãs.

Um rosnado aterrador feriu os ouvidos de Goku, mas ele prosseguiu de olhos fechados, resistindo à tentação de os abrir. O tirano estrebuchava contra o seu destino, mas não havia mais nada que pudesse fazer contra a bola azul que o tragava lentamente, emulando o mesmo melaço que já tinha abandonado a cana e agora envolvia o mosquito causador da terrível doença infeciosa que urgia exterminar.

Goku empurrou com um pouco mais de força, gastando as suas derradeiras reservas de energia. A Genkidama submergiu Lux num mar azul, o deus tirano foi sugado para o núcleo mais escuro, onde se concentrava todo o potencial daquele ataque divino. Rosnou mais alto, recusando-se desistir e entregar-se, mas não havia mais nada que pudesse fazer. O ser físico que criara para se apresentar no torneio que organizava desfez-se em moléculas, convertendo-se em luz. Tentou escapar-se usando essa forma, mas a Genkidama já estava em todas as suas partículas, contaminando, rasgando e desfazendo a identidade, a memória e o físico. Num grito de desespero, num grunhido de indignação, o grande deus tirano que era conhecido por Lux desapareceu.


***


A vitória era dele e dos lutadores da galáxia do Norte.

A vitória pertencia ao Bem.

Expelindo o ar dos pulmões, Goku entreabriu os olhos. Pairava sem acerto num ar gelado, baixando devagar até ao solo. Tinha os braços pendurados ao longo do corpo e era como se estivesse a despertar pela segunda vez de um sonho que estava a acompanhá-lo num sono profundo. Sentia-se agoniado. Estava sozinho, sem deusa ou mãos ansiosas por perto. O cenário do torneio tinha-se desfeito em bocados pela ação da explosão da Genkidama, que arrastara a ilusão e agora descobria-se num mundo sombrio, agreste, um asteroide de superfície rochosa irregular a vogar pela imensidão do espaço. O firmamento por cima dos seus cabelos espetados despenteados estava pejado de estrelas, galáxias, planetas anelados acompanhados de um punhado de luas e era preto como breu. Curiosamente, havia oxigénio, não muito, mas o suficiente para permitir-lhe que respirasse quase normalmente.

Mas mesmo que estivesse a vogar num asteroide perdido nos confins do Universo, não se importava com nada disso.

A vitória era dele e dos lutadores da galáxia do Norte.

E também de Ozilia e de todos os deuses.

Lux tinha sido derrotado.


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Notas finais do capítulo

Próximo e ÚLTIMO capítulo:
Regresso.



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