Deuses e Diamantes escrita por André Tornado


Capítulo 25
Perigo.


Notas iniciais do capítulo

"Será que ela se deitou à espera?
Era eu o isco para te atrair?
A emoção da matança
Tu sentes, é um pecado.
Deito-me com os lobos
Sozinho, parece-me.
Pensei que era parte de ti."
David Guetta ft. Sia, She Wolf (Falling To Pieces)



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Os lutadores da galáxia do Norte estavam junto ao tatami, na posição semelhante à que haviam ocupado da primeira vez que ali tinham estado. Número 17 não perdeu muito tempo a conferir o lugar de cada um. A diferença eram os farrapos do príncipe e de Son Goku, o entusiasmo deslocado dos dois fedelhos e o facto de ele ainda ter consigo a pequena bola de vidro que Ozilia lhe tinha dado. Estava agora no bolso das calças. O berlinde era, provavelmente, importante demais para ser guardado de uma forma tão displicente, mas seria melhor estar no bolso das calças do que fechado na sua mão, onde o poderia perder e tinha a certeza que não o poderia perder. Espreitou Ozilia que se mantinha orgulhosa e fria, no posto que definira para ela própria. Teve dúvidas se realmente os ajudava, pois dúvidas não tinha que se descartaria deles assim que conseguisse os seus propósitos, já que ela era uma deusa e procedia como todos os outros deuses.

Contudo, o palco, que à primeira vista parecia idêntico, apresentava diferenças relativamente à encenação anterior, apesar de se pretender representar a mesma farsa a que davam o pomposo nome de torneio.

A bancada estava desoladamente desocupada e mortalmente calada.

No lado oposto, o bando de escravos aguardava excitado, aos guinchos e aos pios, num burburinho enervante e inédito. Estavam a perder a disciplina ou já se tinham apercebido que, ao serem escolhidos, significava o seu desaparecimento e prezavam as suas miseráveis vidas.

Duas subtilezas que não seriam de ignorar.

O balcão continuava vazio, sem indício de que aquele trono magnífico iria ser, alguma vez, usado pelo seu esquivo dono.

O mestre-de-cerimónias gordo ocupou o seu lugar no púlpito, ajeitou a gordurosa carcaça coberta pelas suas vestimentas garridas e pregueadas, virou a cabeça para o grupo dos lutadores da galáxia do Norte.

Reinício e número 17 espevitou os sentidos.

Son Goku interpelou os dois fedelhos.

- Rapazes, é a vossa vez de entrarem em ação.

- Hai – responderam em coro.

- Lembrem-se, não se demorem demasiado no vosso combate e não se preocupem com a escolha do adversário – avisou o namekusei-jin. – Qualquer que seja, não apresentará dificuldades, pelo que têm a obrigação de acabarem depressa a vossa prestação. Compreendido?

- Hai – novamente em coro.

- E… podemos escolher dois, não é assim? – Perguntou o fedelho dos cabelos lilases mostrando dois dedos a ilustrar, inequivocamente, o número que dissera.

- Hai – respondeu Goku coçando a cabeça. – Acho que sim… As regras não diziam nada sobre isso e, mesmo que dissessem, nós já começámos a quebrar as regras.

- Eu escolho primeiro, Trunks-kun.

- Só se me deixares começar a lutar primeiro, Goten-kun.

- Combinado.

Os dois fedelhos subiram para o tatami mantendo aquele estúpido entusiasmo que estava a enervar número 17. Algo lhe dizia que nem tudo era o que aparentava ser. Número 18, que funcionava da mesma forma lógica e organizada que ele, segredou-lhe:

- Prepara-te.

E ele confirmou, com essa simples frase, que o seu instinto estava correto. Ou devesse dizer, processador central. Estranhou a calma dos saiya-jin e o alheamento do namekusei-jin. Teriam percebido alguma coisa, ou estavam completamente às escuras? Não podia questionar Ozilia, ela nunca lhe revelaria o que quer que fosse, a não ser que, efetivamente, o quisesse. Como nunca fora enganado pelo seu processador central, sabia que estava correto. Egoísta, guardou a informação para si.

Meneou a cabeça ligeiramente, confirmando à irmã que já estava preparado.

O mestre-de-cerimónias gordo olhou para o grupo de escravos. O fedelho dos cabelos lilases deu um toque no fedelho dos cabelos espetados para que avançasse e escolhesse então o seu adversário, que ele haveria depois de escolher o dele. O fedelho dos cabelos espetados ergueu a mão e apontou com o dedo indicador. Quando se preparava para fazer a sua escolha, os escravos guincharam e piaram mais alto e debandaram dali num tropel desordenado que levantou uma nuvem de pó, como uma manada de touros em fúria.

Então, os saiya-jin perderam a calma e o namekusei-jin ficou atento.

- Nani? – Admirou-se Son Goku, incomodado com os sinais que o diamante lhe transmitia, pois pousou a mão sobre o peito. – O que é que se passa?

- Não estou a gostar disto – murmurou o príncipe apreensivo.

- ‘Tousan?

- Gohan, sentes alguma coisa?

- Não.

Quando o pó assentou, Valo subiu para o tatami.

O fedelho dos cabelos espetados anunciou alarmado, ainda com o dedo indicador apontado:

- Ei, eu não o escolhi!

- O que é que significa isto?! – Exigiu Son Goku voltando-se para Ozilia.

A deusa não se moveu um milímetro e permaneceu como uma estátua altiva de pura divindade eterna. Não lhe dispensou um olhar, nem uma simples espreitadela pelo canto do olho.

- Ozilia!

- Os lutadores escolhidos para vos enfrentar pertencem-me.

Todos se voltaram para Valo que falava. O fedelho dos cabelos lilases baixou o braço do companheiro com uma palmada que ecoou na distância, como se estivesse um muro muito alto a rodear o recinto daquele torneio. Um muro de paredes de vidro, como num berlinde. Número 17 descruzou os braços e enfiou as mãos nos bolsos das calças. Valo completou com a mesma eloquência:

- Eu também faço parte do grupo de lutadores e decidi lutar hoje.

- Isso não estava nas regras – protestou o príncipe. – Pelas regras, somos nós que escolhemos os nossos adversários do bando de idiotas que tu comandas.

- Pelas regras, tu devias estar morto, príncipe dos saiya-jin – sentenciou Valo sem qualquer pingo de animosidade.

Son Goku apertou os dentes. Gotas de suor encheram-lhe a testa. Ao lado dele, o filho mais velho estava mais assustado que um coelho surpreendido em campo aberto por uma ave de rapina.

- Shimata… Isto está a piorar – resmungou o namekusei-jin.

O príncipe resolveu ser prático. Acercou-se do tatami e chamou os dois fedelhos. Olhou de relance para Son Goku e este também se aproximou.

- Escutem, rapazes – começou o príncipe num tom contido, mas autoritário. – Vão lutar com Valo, não existe nada que possamos fazer para contrariar isso. Lux deve estar furioso por termos eliminado Argia e quer resolver depressa este estúpido torneio.

- Mas, Vegeta…

- Cala-te, Kakaroto, e escuta. Rapazes, vocês vão ser capazes de derrotar esse deus. Basta que consigam deitar a mão ao diamante dele. Eles são tão confiantes na sua superioridade que o usam pendurado ao pescoço, exibindo-o como um adorno. Não digo que vai ser fácil… Não o vai ser, garanto-vos. Eles têm uma forma de lutar que utiliza ataques místicos e energia infinita, mas vocês têm o poder necessário para conseguirem levá-lo ao tapete e distraí-lo o tempo suficiente para se apoderarem do diamante. Vocês enfrentaram Majin Bu e não vacilaram. Ele não é pior que Majin Bu. Mas, para que sejam bem-sucedidos, terão de estar completamente unidos no objetivo de derrotarem Valo. O que eu quero dizer é que terão de utilizar a técnica da Fusão.

Os dois fedelhos entreolharam-se.

- Compreenderam o que vos acabei de dizer?

- Hai – responderam, acenando com a cabeça ao mesmo tempo.

- Pois… Pode ser que resulte…

- Vai resultar, Kakaroto. Aliás, é a única hipótese dos rapazes.

Son Goku fez um sinal a Valo, indicando que já tinham terminado a conversa e que poderiam começar aquele combate. O deus, que certamente não se tinha importado com a interrupção, ignorou igualmente o sinal.

O mestre-de-cerimónias gordo olhou em frente, brandiu o cetro.

O silêncio instalou-se. Uma calmaria esquisita e deslocada, que se foi acamando por todo o lado, preenchendo cada espaço, pormenor e orifício, criando uma espessura ao ponto de número 17 começar a sentir-se sufocado. Retirou as mãos dos bolsos lentamente.

Os dois fedelhos encaravam Valo, mas como estavam de costas para eles, número 17 podia apenas adivinhar as suas caras concentradas, a pose indomável de um guerreiro saiya-jin mesmo com metade do tamanho e um quinto da idade. Fazia-lhe impressão que os fedelhos tivessem aceitado sem hesitar um confronto suicida contra um deus, mas até podia aceitar o facto sabendo que se tinham enfrentado sozinhos a Majin Bu.

Mas não passavam de dois simples fedelhos, ainda na idade das brincadeiras e número 17 ficou espantado, assim como todos os outros, quando os viu atacar Valo separados, um em cada flanco. Saltaram e lançaram, cada um, a sua esfera de ki que explodiu numa enorme fumarada que envolveu o deus.

- Kuso!! – Vociferou o príncipe. – Mas o que raios pensam que estão a fazer?!

- Goten! Trunks! – Chamou Son Goku. – Não façam isso. Deverão lutar… juntos! Utilizem a técnica da Fusão!

O fedelho dos cabelos lilases falou por cima do ombro, num tom presunçoso:

- Eh… Nós sabemos. Mas queremos analisar o nosso adversário primeiro.

- Hai, ‘tousan – confirmou o fedelho dos cabelos espetados, mas num tom apatetado. – Para saber se ele é mesmo assim tão forte.

- Não sejam idiotas! – Tornou a vociferar o príncipe, erguendo um punho fechado. – Façam a Fusão de uma vez por todas!

A fumarada dissipou-se e Valo tinha desaparecido.

- Rapazes! Cuidado! – Gritou Son Goku.

Mas o aviso não foi a tempo. Uma mancha escura movimentou-se como um tornado pelo tatami, enviando rajadas de vento que fustigaram todos os lutadores da galáxia do Norte. Número 17 levantou os braços para proteger a cara e o mesmo fez a sua irmã, o namekusei-jin e o filho mais velho de Son Goku. Valo materializou-se no centro do tornado e pontapeou os dois fedelhos, um de cada vez, mas o golpe foi tão rápido que pareceu quase em simultâneo. Estes giraram no ar e caíram nos limites do quadrado forrado de lajes brancas, pendurados de cabeça para baixo, em extremos opostos. O deus pousou suavemente no centro.

- Se colocarem um pé fora do tatami, significa que perderam. E serão executados sumariamente por mim – ameaçou Valo, no habitual tom monocórdico. – Posso fazê-lo com um simples estalar de dedos. Por isso, não queiram… – E sorriu com ironia. – Analisar-me!

O fedelho dos cabelos lilases foi o primeiro a levantar-se. Limpou a boca de onde escorria um fio de sangue. Encarou o deus com alguma raiva e contrariedade. Chamou pelo fedelho dos cabelos espetados que se movimentou indolente, arrastando-se pelo tatami resmungando algumas sílabas, como se estivesse a despertar.

Valo concedeu-lhes tempo e espaço. Confiava que, mesmo com todos os estratagemas que pudessem ser urdidos naquele combate, ele haveria de ser sempre o vencedor.

Mas os dois fedelhos tinham aprendido a lição e não iriam provocar mais o adversário. Transformaram-se em super saiya-jin, nivelaram a energia até ficarem exatamente com o mesmo ki, duas gotas de água idênticas, dois gémeos perfeitos. Afastaram-se um do outro, colocaram-se no lado do tatami que os punha de costas para os respetivos progenitores que observavam a prestação deles com alguma apreensão, mas com um leve indício de esperança. Levantaram os braços, numa posição simétrica, ao mesmo tempo. Executaram uma espécie de bailado, três passos, enquanto convergiam um para o outro:

- Fu

Movimentaram os braços e inclinaram-se, formando um arco, tocando-se com os dedos indicadores.

- …sion!!!

Aconteceu um disparo de luz branca.

Escutou-se um zunido e, no tatami, surgiu um único guerreiro. Um fedelho super saiya-jin de cabelos loiros e olhos verdes, pleno de energia e de bazófia, vestido com um colete e umas calças largas, falando com uma voz dupla, a mistura das vozes dos dois fedelhos iniciais que tinham dado origem àquele.

- Prepara-te, Valo! Vais sentir o poder de Gotenks!

Número 17 reparou que o príncipe e Son Goku sorriam.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Fusão.



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