O jantar naquela noite não contou com muita conversa entre os membros da família Vieira. Melissa teve uma crise de asma ao brincar com os amigos durante a tarde, e apesar de ter tomado sua medicação, ainda estava cansadinha. Já Edgar e Laura evitaram demonstrar que algo os aborrecera durante a tarde.

Todos foram para seus aposentos cedo, e Melissa nem precisou de história para dormir. Laura foi ao encontro do marido que a esperava na cama, lendo. Ela trancou a porta, trocou-se, escovou os cabelos, tudo sob o olhar atento de Edgar.

Laura: Ué, você não tava lendo?

Edgar malicioso: Não consigo me concentrar com você aqui...

Laura mordeu o lábio inferior maliciosamente: Ah é? Da próxima vez, me troco em outro lugar pra não atrapalhar sua leitura...

Edgar abriu o livro novamente e fingiu estar concentrado novamente: Acho melhor...

Laura com expressão de indignação foi deitar-se e acomodou-se de costas para Edgar fingindo estar magoada com a resposta dada pelo marido.

Laura: Boa noite, então!

Edgar riu da reação da amada, largou o livro e aproximou-se vagarosamente de Laura enquanto sussurrou em seu ouvido: Você acreditou? Acha mesmo que eu prefiro ler qualquer livro a ler você?

Laura virou-se, ficando de frente para o marido. Maliciosamente deu continuação ao diálogo: Não sei... Sobre o que você estava lendo?

Edgar beijou Laura ardentemente e, posicionando-se sobre ela na cama, respondeu: Eu disse. Não consigo me concentrar com você aqui. Não prestei atenção em nenhuma frase.

Os dois riram e as gargalhadas os levaram a outros movimentos mais interessantes e intensos.

Entre suas carícias Laura pôde agradecer pela caricatura que o marido colocou em destaque no escritório da residência e Edgar pôde se desculpar por ter desconfiado da relação entre a esposa e Fernando. Os pudores e rompantes diurnos foram substituídos por suaves e ardentes toques de amor. Apaixonados dormiram nos braços um do outro até a manhã seguinte.

**

O sol começou a invadir o quarto quando Edgar acordou. Apesar do cansaço resultante da noite agitada, levantou-se antes do habitual: tinha um acerto de contas a fazer. Saiu da cama vagarosamente, buscando não despertar Laura que dormia profundamente, completamente nua. Vestiu-se, observando-a encantado.

Ao descer as escadas, Edgar recomendou a Mathilde que preparasse uma bandeja com o café da manhã de Laura, não se esquecendo do pequeno vaso de alecrim.

Partiu diretamente para a residência de sua mãe. Ele sabia que era muito cedo para fazer visitas num sábado, mas ele tinha que quebrar os protocolos; precisava falar com Fernando e desde que Bonifácio e Margarida tinham se divorciado, o inescrupuloso irmão havia voltado a casa da mamãe.

 Edgar entrou sem rodeios gritando o nome de Fernando. Todos que estavam na sala de refeições se apressaram para ver o que estava acontecendo.

Margarida preocupada: Edgar, meu filho! O que está acontecendo? O que o fez vir aqui tão cedo e tão transtornado?

Edgar irado: Pergunte pro seu filhinho.

Fernando irônico olhou para os dois: Eu? Ora! Não sei do que você está falando, Edgar?

Edgar: Não seja cínico, Fernando! Você assediou a Laura quando ela chegou no Rio! Ela me contou! Foi você! Não ela!

Margarida: O quê? Fernando, você fez isso, meu filho?

Fernando com olhar irônico, começou a perceber que tinha sido desmascarado, começou a apelar para mais mentiras: Ah, ela te contou?  Contou os detalhes da nossa noite? Sobre como ela disse que eu sou melhor do que v...

Edgar furioso não esperou que o irmão terminasse de lançar suas mentiras; partiu violentamente em direção a ele, com punhos cerrados.

Um. Dois. Três. Quatro socos. Fernando estava no chão.

Com o rosto sangrando, pedia clemência de olhos fechados. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto.

Margarida chorou e gritou incessantemente: Pare, Edgar! Por favor!

Edgar suado e descabelado, deitado por cima de Fernando, gritou em tom ameaçador: O que você fez com a Laura?

Fernando: Era tudo mentira! Não aconteceu nada! nunca! Ela não aceitou!

Edgar: Mas você tentou, seu cretino? Fala! Confessa!

Fernando: Eu queria me vingar, mas me arrependi! Eu não fiz nada demais, só me insinuei, mas ela me rejeitou! Depois fiquei sabendo da Catarina, mas meu plano deu errado porque me apaixonei por ela! É isso! Só isso! Agora me solta!

Edgar segurou o irmão pelos colarinhos até ele terminar de falar. Após saber de tudo, deu mais um soco em Fernando que o deixou inconsciente, levantou-se se recompôs.

Edgar: Mamãe, me desculpe por ter feito a senhora ver essa cena, mas eu precisava acertar minhas pendências com esse calhorda.

Margarida chorando ao lado do ‘filho’ desacordado: Eu entendo, mas precisava usa de tanta violência?

Edgar: Nesse caso, precisava. Ele mexeu com a Laura.

Margarida chamou a criada e começou a cuidar dos ferimentos de Fernando. Ele ficaria com marcas roxas por um longo tempo.

Edgar: Espero que a senhora não permita que esse mau caráter continue morando nessa casa. A senhora sabe tudo que ele já fez. Se não souber terei o prazer de contar.

Margarida ainda chorando, respondeu friamente: Vou esperar ele se recuperar dos ferimentos que você deixou e terei uma conversa com Fernando. Sob esse teto, ele não morará mais.

Edgar: Fico aliviado. Vou embora antes que esse ... Antes que ele desperte. Até breve.

Edgar deixou a residência de sua mãe e indo em direção a sua casa, só pensou em Laura: apenas ela conseguiria acalma-lo nesse momento.