Após a conversa com Fernando, Edgar saiu da tecelagem soltando fogo pelas ventas, entrou no carro e olhou Laura com frieza. Ele achava que Laura havia tido um caso com seu irmão.

Laura: Nossa, que rápido! Como foi lá, meu amor? Falou com sua mãe?

Edgar tentou se controlar e friamente respondeu: Não, ela não estava.

Laura estranhou a atitude do marido: E tá tudo bem na fábrica? Aconteceu alguma coisa?

Edgar: Não. Não aconteceu nada.

Laura ficou preocupada com a mudança de atitude do marido após ter saído da tecelagem, mas decidiu manter o silêncio durante o trajeto até chegarem a sua casa. Lá, pensou ela, poderia conversar calmamente com Edgar e descobrir o que tinha acontecido.

Ao adentrarem a residência, Edgar encaminhou-se diretamente para o escritório, Laura seguiu-o: queria respostas para as perguntas que formulara pelo caminho.

Edgar viu-a e disparou irado: Quando você pretendia me contar?

Laura encarava o marido, confusa e assustada. Ela podia perceber o ódio em seu olhar; sem  conseguir entender o motivo, deduziu que Fernando era o responsável pelo aborrecimento que tomava conta de Edgar.

Laura: Meu amor, do que você está falando?

Edgar irritou-se: Ah Laura, não se faça de desentendida! Você e o Fernando tiveram um caso?

Laura: O quê? Da onde você tirou essa ideia descabida, Edgar?

Edgar: O Fernando falou sobre um ‘presente de boas vindas’ que ele te deu logo após a sua volta ao Rio. Que ele sempre gostou muito de você e o sentimento era recíproco!

Laura: H O Fernando enlouqueceu! Foi ele que me assediou! Ele, Edgar!

A expressão de Edgar começou a suavizar-se.

Laura continuou: Lembra aquela noite em que eu vim jantar aqui? Você me convidou para voltar a morar com você, como amigos...

Edgar: Lembro...

Laura exasperou-se: Bom, você deve lembrar também que eu não aceitei, entre outros motivos, porque já tinha aceitado deixar a pensão para ir morar na casa da  Isabel, certo?

Edgar respondeu num misto de tédio e irritação: Sim, Laura, eu sei de tudo isso.

Laura: No dia seguinte ao nosso jantar eu estava indo em direção ao Cosme Velho e o Fernando me encontrou no caminho. Ele me viu com as malas na mão e disse que poderia me dar uma carona. Na hora, não vi problemas dele me levar.

Edgar observou Laura atentamente. Ele soube que era em Laura que podia confiar, não em Fernando, mas imaginar algum homem, qualquer homem, tentando se aproximar dela, tirou-o do sério.

Laura prosseguiu: Tudo ia bem, mas Fernando fez um caminho diferente. Ele não estava indo em direção à casa de Isabel... Ele parou o automóvel encenando estar perdido e pedir informações com alguém que passava próximo a nós. Quando ele voltou, começou a me elogiar, falar que esses 6 anos tinham me feito bem...

Edgar a interrompeu com um sorriso torto nos lábios: Bom, isso eu tenho que concordar...

Laura riu, mas prosseguiu a história com a entonação tensa que exigia o momento: Depois ele perguntou o que eu faria agora que tinha voltado ao Rio, pois era muito jovem para pensar só na minha carreira e...depois....

Edgar furioso buscou que ela terminasse: E...

Laura: Ele tentou me beijar a força, Edgar! Por eu ser divorciada, você sabe...

Laura desviou o olhar do marido. Ela estava triste por ter que contar esse desagradável episódio a ele. Apesar de já saber que Fernando não valia nada, foi uma nova decepção.

Edgar aproximou-se da esposa passando a mão por seus cabelos: Meu amor, por que você não me contou isso antes?

Laura: Porque foi tão descabido que não queria comentar com ninguém! Só a Isabel ficou sabendo. Eu não sabia se devia te contar... nós estávamos nos reaproximando, não sabia como dizer...

Edgar abraçou Laura, beijou sua testa: Você tinha que ter me contado, meu amor! O Fernando... Meu Deus, o Fernando não tem escrúpulos! Ele quer me atingir de todas as formas!

Laura: Logo depois ele apareceu com a cobra da Catarina...

Edgar: Sim, tudo faz sentido agora... Ele queria tudo que, de alguma forma, foi meu...

Laura soltou-se do abraço de Edgar e com certa amargura no olhar, deu um suspiro e disse: Mas você acreditou que eu tive um caso com ele, Edgar? Você me olhava com ódio. Parecia que acreditava que eu tinha te traído... Não confia em mim, é isso?

Edgar desesperou-se com a dedução de Laura: Não, meu amor! Eu confio total e cegamente em você! Mas, ao mesmo tempo, eu morro de ciúmes de você! Só de imaginar...

Laura riu baixinho: Bom, você sentiu ciúmes de você mesmo...

Edgar acompanhou a risada da amada: Ah, e a senhora não é ciumenta?

Laura: Eu? Eu não! Ciúmes é uma coisa tão século XIX... Você é que é muito retrógrado, Edgar...

Edgar e Laura abraçaram-se intercalando risadas e beijos; e assim permaneceram até buscarem Melissa na escola.

Edgar, entretanto, planejava uma nova conversa com seu irmão. Dessa vez definitiva. Teria que ser.