Lado A Lado - O Que Houve Depois? escrita por Perniente


Capítulo 34
EXTRA 2 - O Pretendente e O Pedido


Notas iniciais do capítulo

oi gente, prometi pra domingo e aqui está!
está beeeem longo e talvez vocês achem chato, mas como eu me propus a escrever sobre a Laura nesses 6 anos, tive que terminar pra sair desse período com todo mundo entendendo a relação que surgiu entre ela e o tal Álvaro haha
Espero que não morram de tédio!
Obrigada pelos comentários no capítulo anterior também! Suas lindonas! ♥



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E minha alma, sem luz nem tenda,

passa errante, na noite má,

à procura de quem me entenda

e de quem me consolará...

                                                                    Cecília Meireles

Chegando à nova cidade, Laura instalou-se em uma pensão de boa aparência e partiu em busca do primeiro emprego remunerado. Infelizmente, ao abordar o assunto com a diretora da indicada escola, soube que a vaga tinha sido preenchida alguns dias antes por outra educadora que, como estava em período de experiência, poderia não permanecer no cargo.

Diretora: Se a outra professora não se adaptar às normas do colégio, você será imediatamente chamada, certo?

Laura: Tudo bem. Obrigada! Nesse caso, aguardo a senhora entrar em contato. Até mais ver. – desse retirando-se da presença da diretora.

Ao atingir os portões, a moça notou uma linda menina sentada em um canto do jardim da instituição. Um pouco mais afastado, estava um grupo de meninas rindo, apontando e fazendo caretas para a bela criança de cabelos escuros. Mesmo não pertencendo ao corpo docente da escola, Laura precisava intervir.

A professora gritou enquanto ia em direção as meninas: Ei, vocês aí! Parem! Parem de rir da amiga de vocês! Isso não está certo... Vocês deixaram-na triste, não perceberam?

Quase todas as meninas responderam em uníssono: Desculpa, professora.

Laura disse um pouco mais calma: Eu não sou professora de vocês ainda... Mas meninas, não repararam que a amiguinha de vocês está triste e sozinha? Por que riem dela?

A única menina que não havia se desculpado, respondeu petulante: Ela não é nossa amiga!

Laura surpresa com o tom da menina: Ah, não? E eu posso saber o porquê?

A mesma menina respondeu: Ela não tem amigos. É uma chata que precisa que ajude em tudo o tempo todo, esbarra em tudo e todos... Nem a nossa professora gosta dela! Ah... ela nem tá vendo que estamos rindo dela!

Laura confusa: Como assim?

Menina: Ela é cega! – sorriu irônica – É uma bobona, nem sei por que está aqui...

Laura irritou-se: Você é muito nova pra ser tão arrogante e preconceituosa, espero que um dia mude suas atitudes, caso contrário, quem acabará sozinha é você! – disse em tom de ameaça e prosseguiu – Agora todas vão pedir desculpas à colega de vocês.

Todas reclamaram: Ah não, professora... Não queremos falar com ela!

Laura disse áspera: Agora.

Aproximando-se da pequena menina acuada, todas as meninas se desculparem sob a vigilância de Laura; logo depois de saíram correndo para aproveitar o resto do recreio. Laura, então, sentou-se ao lado da menina que continuava triste e iniciou um doce diálogo.

Laura: Oi – sorriu.

Yolanda: Oi – ainda chorando

Laura: Como você se chama, querida?

Yolanda: Yolanda e a senhora?

Laura: Sou Laura, vim me candidatar ao cargo de professora, mas acho que cheguei tarde demais... – suspirou entristecida, mas prosseguiu - Me diga, Yolanda, por que está chorando?

Yolanda: Ah... Algumas meninas da minha turma me empurraram e estavam rindo de mim porque... bom, porque eu sou cega – disse manhosa ainda chorando.

Laura: Eu falei com elas, nunca mais isso vai acontecer. E se acontecer, comunique imediatamente a sua professora ou a diretora, está bem?

Yolanda: Tá, obrigada... Mas a diretora não gosta de mim, nem as outras professoras...

Laura: Não diga isso! – disse enquanto se aproximava para abraçar a menina – Se eu acabei que te conhecer, já gosto muito de você, imagine quem tem a sorte de conviver com uma menina tão linda assim! – sorriu.

Yolanda: Também gostei muito de você – sorriu secando as lágrimas – Você é muito legal! Queria que fosse minha professora... Eu queria não estudar aqui, mas mamãe e papai falam que é importante vir pra escola.

Laura sorriu: E é verdade!

Yolanda: Ah, mas se fosse com uma professora legal com você, eu adoraria vir pra aula todos os dias... Seria supimpa!

A conversa é interrompida pela sirene que anunciava o fim do recreio. Laura despediu-se da pequena Yolanda e retornou para sua pensão. As palavras e a situação vivida pela menina não saiam dos pensamentos da professora. Ela tinha que fazer algo para ajudar, não só Yolanda, mas todas as crianças que precisassem de atenção especial nos estudos.

No dia seguinte, Laura resolver retornar à escola e descobrir se mais alguma criança da instituição, além de Yolanda, possuía algum acompanhamento especial para o estudo.

Diretora: Olá, Srta. Laura, é um prazer revê-la, mas a vaga para professora ainda está preenchida

Laura: Olá! Boa tarde. Sim, eu sei, mas vim falar com a senhora sobre outro assunto. – disse pisando em ovos.

Diretora: Pois diga. Vejo que é algo sério. – retorquiu curiosa.

Laura: De fato. Ontem quando estava saindo da escola, acabei conhecendo uma das alunas, a Yolanda.

Diretora: A situação dessa aluna é muito complicada... A senhorita não tem que se preocupar. Os pais dela insistem que ela permaneça nessa escola...

Laura: Mas a situação dela não precisa ser complicada! Se ela tiver o acompanhamento adequado, pode assimilar o conteúdo das aulas tão bem quanto as outras alunas!

Diretora: Srta. Vieira, creio que este assunto está fora de sua alçada. Se foi esse o assunto que a trouxe até aqui, posso lhe afirmar que temos a situação da menina sob controle e não precisamos de sua intervenção. Agora, se me dá licença, vou entrar em reunião.

Laura: Só mais uma pergunta, por favor.

Diretora: O quê? – disse impaciente

Laura: Há mais crianças como Yolanda na escola ou aqui  pelos arredores?

A diretora bufou: Não sei em que isso pode te interessar, mas sim, há algumas outras crianças com dificuldades como ela. Agora, eu realmente tenho que ir. Tenha uma boa tarde!

Inconformada com o descaso da diretora, Laura passou a planejar um novo conceito de ensino. Buscando aprofundar seus conhecimentos sobre sistemas de leitura para cegos – o Braille – e a linguagem de sinais para surdos – Libras – a professora queria que todas as crianças tivessem acesso à educação.

Conseguindo por diversas fontes o endereço dos responsáveis por Yolanda e de outras crianças que enfrentavam o mesmo problema que ela, explicou a nova forma de ensino que estava propondo, juntando, pouco a pouco, um pequeno grupo de alunos.

Em pouco tempo, uma nova rotina havia se estabelecido na vida de Laura. Os alunos ocupavam a maior parte de seu tempo e realizada profissionalmente, continuava a tentar afastar as lembranças de Edgar. Ao mergulhar no trabalho, buscava esquecê-lo e elimina-lo de sua vida, mas sabia que seu coração continuava a pertencer a ele.

Entre os alunos, Yolanda era a mais dedicada aos estudos e progrediu rápido com a técnica de ensino adequada.

Conforme os anos passavam, a turma só aumentava e a necessidade de uma nova professora para auxiliar Laura fez-se pungente. Enviando uma carta à amiga de infância que indicara o emprego em Macaé, a professora soube que a moça necessitava trabalhar e convidou-a para ajuda-la. Com algumas semanas de treinamento, a amiga estava apta a dividir as obrigações com a “Srta” Vieira.

Prosseguiram os dias sem novidades até que Álvaro, irmão de Yolanda, retornou à cidade natal. Após passar três anos em São Paulo estudando e trabalhando como jornalista, o rapaz tinha novidades e modernidades para compartilhar com os conterrâneos, principalmente com sua irmã.

De imediato, houve uma grande compatibilidade de ideais entre Laura e Álvaro. Ambos buscavam independência e queriam mudanças nos padrões conservadores da sociedade, além do auxílio fundamental que o rapaz dava à pequena aluna de cabelos castanhos. Um vínculo surgiu entre os dois. Mas o que para Laura não passava de amizade, para Álvaro era uma grande paixão que crescia a cada descoberta sobre a destemida moça.

O rapaz, alguns meses após sua chegada, resolveu fundar um pequeno jornal, convidando sua professora preferida para fazer parte desse projeto. Quem maneira melhor havia de se aproximar dela, se não trabalhando juntos? A cidade não possuía nenhum meio oficial de comunicação e estando em pleno século XX, Laura considerava essa condição absurda, aceitando prontamente o convite de emprego. Acumulando as duas funções, tendia a pensar cada vez menos em seu passado.

A vida estava sendo boa para a jovem professora e assim viveu por mais de 5 anos após o divórcio. Segura de que tudo havia finalmente se acertando, Laura não esperava que Álvaro estivesse apaixonado por ela e, surpresa com a situação, o rapaz declarou-se e pediu-a em casamento.

Laura: Álvaro, eu...

Álvaro: Laura, por favor, me escuta! Eu te amo! Estou completamente apaixonado por você! Eu sei que aconteceu alguma coisa muito grave no seu passado pra você rejeitar todo e qualquer rapaz que se aproximasse de você. Nunca percebeu meu interesse por você? – disse quase suplicando.

Laura: Eu sempre achei que você estava sendo gentil... Como somos amigos, nunca pensei que...

Álvaro a interrompe: Gentil? Amigos? Por favor, eu fui mais que um amigo pra você! – retorquiu irritado

Laura confusa e irritando-se com os gritos do rapaz, respondeu: Álvaro, acalme-se, eu não quero brigar com você! Eu... Eu não posso me casar, nem com você nem com ninguém, entenda!

Álvaro: O quê? Por quê? Por favor, me responde! Eu não entendo isso!

Laura: Tá... Eu sempre evitei falar sobre isso; os boatos, julgamentos e mexericos seriam insuportáveis, mas...

Álvaro: Eu não vou te julgar. Eu só quero, por favor, entender o que está acontecendo com você. Por que você não pode se casar comigo?

Laura: Eu vou te contar... Diante dessas circunstâncias, não me resta outra saída...

A moça viu-se obrigada a desenterrar seu passado para justificar suas razões da recusa ao amigo. Surpreso com todas as revelações, Álvaro compadeceu-se da história do divorcio e entendo os motivos que Laura expunha, tornou a insistir.

Álvaro, compreensivo: Laura, agora tudo faz sentido... É uma triste história...

Laura sorriu tristonha: Sim... É triste, sim...

Álvaro: Minha querida, se é essa a condição existente para ficar com você, eu não me importo! Não me importa que você tenha sido de outro. Não me importo com seu passado! Eu te amo, Laura! Fica comigo!

Laura surpresa com a nova reação do rapaz respondeu: Álvaro, eu não posso! Sinto muito, mas não posso! Eu... Eu amo o Edgar! Eu amo meu marido! Não posso me envolver com outro homem se não houver amor! Por favor, não insista, essa situação é muito difícil pra mim! Eu tentei silenciar meu coração durante todos esses anos, criar as certezas que eu não tive durante um período conturbado de minha vida e apagar o que eu vivi, o que eu sentia... Eu tentei, durante todos esses anos, abafar esse sentimento que está guardado em meu peito, mas agora... Agora a única certeza que eu tenho é que eu Amo o Edgar! – disse sorrindo após constatar o óbvio, mudando suas feições, voltou-se para Álvaro e prosseguiu – Eu sinto muito! – e partiu em direção à sua pensão.

Alguns dias se passaram após o conturbado e malsucedido pedido de casamento, e Laura continuava a evitar seu amigo. Não havendo mais como fugir de seus sentimentos, o rumo de sua vida mudou novamente. Relembrar tudo que viveu com o amor de sua vida mostrou que não poderia mais viver longe dele.

Havendo estabelecido o novo método de ensino em Macaé, ela percebeu que estava na hora de voltar ao Rio de Janeiro. Sua amiga poderia prosseguir com as aulas para as crianças e Álvaro encontraria alguém para auxiliá-lo no jornal.

Nesse ímpeto, despediu-se de todos os amigos e conhecidos que havia feito durante os anos, guardando a saudade de cada um deles em seu coração. Porém, sabia que estava partindo para matar uma saudade de seu grande amor: Edgar Vieira.

Com um sorriso no rosto falou para si mesma: É hora de voltar! – e subindo no coche, encheu-se de esperanças para recomeçar uma nova fase em sua vida.

Tenho fases como a Lua

Fases de ser sozinha

Fases de ser só sua

                                                                    Cecília Meireles


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Notas finais do capítulo

Ok! Agora voltaremos ao presente no próximo capítulo! Aquele bebê precisa nascer! hahaha