- Bem Caleb, como você não sabe quem é seu parente Olimpiano, terei que colocar você no chalé de Hermes por enquanto. – Quíron falou e deu a volta, guiando Caleb até um chalé que era um tanto comum demais e parecia apenas um velho chalé de acampamento, com um Caduceu destacado acima da porta. – Com sorte você não terá que ficar aí por muito tempo.

Caleb espiou para dentro do chalé e viu umas quatro crianças conversando animadamente, dois meninos e duas meninas. Uma das garotas estava sentada em uma das camas e a outra no piso, então a que estava na cama olhou para a porta e viu Caleb e Quíron parados ali. O garoto a viu se inclinar e cochichar algo no ouvido da outra garota, que de longe dava para pensar que era irmã gêmea da que estava no chão.

A garota olhou para onde a outra apontava e se levantou rapidamente ao ver Quíron.

 - Oi Quíron. – Ela disse e olhou para Caleb. Ela era bonita, em uma forma estranha, seus olhos eram azuis e seus cabelos negros e cacheados caíam até os ombros, tinha leves feições élficas que deixaram Caleb com saudade da mãe.

- Olá Nattaly. – Ele falou agradavelmente e acenou para Caleb dar um passo à frente. – Quero pedir que instale Caleb no seu chalé por enquanto, já que ele não sabe quem é seu pai Olimpiano e percebo que não há muitos semideuses aqui.

A garota concordou e fez um gesto para que Caleb entrasse no chalé, ele estimou que talvez ela tivesse uns 16, talvez 17 anos.

- Muito bem, Caleb, essa é Nattaly, ela será sua conselheira por enquanto já que você é indeterminado. – Quíron falou e começou a se afastar. – Espero que se dêem bem. Boa sorte Caleb, vejo você no jantar.

A garota, Nattaly, sorriu para ele de um jeito travesso que fez com que Caleb desse um passo atrás.

- Bem vindo ao chalé 11. – A garota disse e fez com que os outros três ficassem de pé em linha reta e se apresentassem a ele.

- Oi, meu nome é Alícia. – Falou a outra garota e Caleb reparou que os olhos dela eram diferentes da outra, em vez de azuis eram verdes, mas fora aquilo elas poderiam facilmente passar uma pela outra.

Ele apertou rapidamente a mão dela e murmurou seu nome antes de passar para o garoto que estava ao lado dela.

- Meu nome é Bernardo. – Ele falou e Caleb não disse nada, o garoto era da mesma altura que ele e tinha a mesma feição travessa que os outros no chalé.

- Ronald. – Disse o outro garoto que parecia ter apenas 12 anos e parecia mais reservado, porém era inegável a semelhança entre todos eles, as mesmas feições, os mesmos sorrisos travessos.

- Oi, meu nome é Caleb. – Ele disse e ficou parado desconfortável no meio do chalé olhando para todos eles antes de criar coragem para perguntar. – Então... Vocês são todos irmãos?

Todos sorriram e Caleb sentiu um calafrio que disse: Essas crianças não devem ser confiáveis perto de facas e objetos pontiagudos.

- Sim. – Disse Nattaly enquanto os outros se afastavam para arrumar os beliches. – Aquele beliche vai ser seu até que seu pai ou sua mãe te reclame. – Ela falou calmamente e ele assentiu.

- Como você chegou aqui? – A outra garota, Alícia, perguntou se aproximando.

Caleb suspirou, aquele era o momento que ele temia, ter que mentir para seus companheiros de chalé, mesmo que não fossem seus irmãos.

- O sátiro Klint me encontrou enquanto eu fugia das pessoas do internato que eu fui colocado em Nova York. – Ele falou rapidamente. - Durante algum tempo um orfanato foi a minha casa, mas todo ano era expulso da escola que eles me colocavam, então me arrumaram um internato e eu cansei daquilo e fugi, alguns dias depois Klint me encontrou e me trouxe para cá.

- Então foi ele quem explicou que você é um semideus? – O garoto chamado Ronald perguntou.

Caleb assentiu.

- Foi bem confuso. – Ele disse tentando empurrar para longe a culpa por mentir para eles. – Eu não acreditei no começo, então ele me convenceu a vir aqui e conheci Quíron.

Os semideuses o olhavam com solidariedade.

- Você não faz ideia em como deu sorte de encontrar um sátiro para te trazer aqui. – Bernardo falou e os outros três concordaram.

Então uma trombeta soou ao longe e a garota, Nattaly os organizou em uma fila e os levou para o refeitório, Como Caleb era o último a chegar ao chalé, ele teve que ficar por último na fila.

Ele olhou ao redor, havia no mínimo uns cem campistas ao todo distribuídos em mesinhas de piquenique ao longo do pavilhão. E bem no centro um braseiro de bronze com um fogo ardendo.

- Depois que se servir vá até o braseiro e jogue alguma coisa no fogo, é uma oferenda para os deuses. – Nattaly disse para ele enquanto passava uma travessa com peito de peru.

Até aquele momento Caleb não tinha se dado conta de que estava faminto, encheu o prato e todos na mesa de Hermes se levantaram e se seguiram para o braseiro no meio do pavilhão. As quatro crianças de Hermes jogaram suas oferendas e voltaram para seus lugares.

Caleb escolheu um pedaço suculento de carne e jogou no fogo.

- Ártemis. – Disse baixinho para que ninguém ouvisse. Por favor, não me reclame agora. Pediu silenciosamente e voltou para seu lugar.

Ele olhou na direção da mesa principal e viu Quíron, o sr. D e uma garota de olhos azuis e cabelos pretos lisos, que usava um vestido simples e preto, ele se perguntou quem era ela antes de atacar o prato de comida.

Depois que todos terminaram de comer Quíron bateu o casco no piso para chamar a atenção de todos. O sr. D se levantou com um suspiro.

- Olá moleques. – Ele disse sem uma gota de entusiasmo. - Nosso diretor de atividades, Quíron, diz que a próxima captura da bandeira será na próxima terça-feira. Atualmente o chalé 6 detém os lauréis, pessoalmente, isso não me interessa, mesmo assim parabéns. Também tenho o dever de lhes informar que temos um novo campista hoje. Calot Seven.

Quíron murmurou alguma coisa.

- Ahn, Caleb Steven. – Ele corrigiu. – Agora podem ir para sua fogueira boba. Vão.

Todos aplaudiram e os filhos de Hermes guiaram Caleb para o anfiteatro, onde os filhos de Apolo lideraram a cantoria durante algum tempo até que a trombeta de caramujo soou de novo e todos voltaram para os chalés.

Assim que ele se deitou na cama, Caleb adormeceu no mesmo instante, e graças aos deuses ele não teve sonhos.

****

As semanas se passaram rapidamente, Caleb adorou jogar capture a bandeira. Gostava ainda mais da corrida de bigas. Ele tinha certeza que os conselheiros dos outros chalés estavam tentando decidir de qual deus ele era filho, muitos insistiam que ele era filho de Apolo por sua pontaria certeira com o arco, mas quando tentavam fazer alguma afinidade com algo em relação ao deus do Sol viam que Caleb não tinha nenhuma.

Todos os dias ele falava com a garota que alimentava a fogueira, Caleb havia descoberto que aquela menina era Héstia, a deusa da casa e da lareira. Ela era agradável com ele, apesar de saber de sua ascendência Olimpiana.

Ele tinha feito vários amigos, mas tinha uma que ele havia elegido com sua melhor amiga. Era Alícia, filha de Hermes. Ele não sentia nada por ela, mas gostava de conversar e treinar com ela. E Caleb sabia que ela estava começando a sentir algo por ele, mas para Caleb eles eram apenas amigos.

Ele quase havia esquecido que em breve seria mandado para uma missão, pela qual lutaria pela sua vida quando, no jantar daquela noite, a garota que ele havia notado da primeira vez, que Alícia disse que se chamava Penélope e era o Oráculo, se levantou e seus olhos brilharam em um tom de verde assustador.

O que mais apavorou Caleb foi que ela caminhou diretamente até ele. Alguns filhos de Apolo se levantaram e pegaram um banquinho enquanto ela se dirigia ao garoto.

- Aproxime-se, você que busca, e faça sua pergunta. – Ela falou deixando todos em choque.

Caleb sentiu o empurrão suave das mãos de Alícia junto com o sussurro: “Vai, ela não vai te fazer mal.”.

Ele se levantou e se pôs de frente aquela garota.

Caleb respirou fundo antes de falar:

- Qual é a minha missão?

A garota desmaiou e um filho de Apolo a amparou antes que ela caísse e a firmou no lugar antes que ela falasse as linhas que assustaram Caleb mais que qualquer outra coisa:

Criança da Lua, cuidado.

No oeste o que busca está acorrentado.

O deus que está preso deve encontrar,

E de sua prisão irá o libertar.

A vergonha de Creta mostra o caminho,

Porém em certo momento acabarás sozinho.

Quando disser em desespero

Não sou um nobre guerreiro.

A esperança surgirá,

E alguém igual a você ela será.

A garota desmaiou novamente, mas dessa vez quando acordou ela parecia ter voltado a si. Os dois filhos de Apolo a levaram para a Casa Grande enquanto o acampamento inteiro olhava para Caleb em espanto e ele viu que seus momentos de paz haviam acabado.