Silêncio escrita por KeykoSakura


Capítulo 8
Mar de rosas é um mito


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer a recomendação que recebi da Moon. Obrigada flor!!



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Ele podia ler os lábios dela chamando o nome dele. Podia sentir as mãos dela percorrendo seu corpo; trêmulas. Podia ver o luar entrar pela janela deixando a pele dela ainda mais branca; leitosa. Sem resistir, ele a mordeu, ganhando de presente alguns arranhões fortes em suas costas nuas; nuas como os dois. Ele estava prestes a dar sua primeira investida nela...

Espera.

Tem algo errado...

Sasuke se sentou em sua cama num movimento extremamente rápido. Olhou ao seu redor e viu seus três amigos dormindo tranquilamente. Sentiu algo escorrer de seu nariz. Passou o dedo e mesmo na pouquíssima luz disponível ele pôde perceber. Era sangue. Ele havia sonhado com ela. De novo. O sangue que deveria ter se concentrado num certo ponto abaixo de sua cintura, fez o caminho inverso, causando a hemorragia nasal. Maravilha...

Se levantou com certa dificuldade, meio bêbado de sono, e foi ao banheiro. Acendeu a luz, quase ficando cego com a claridade, e se dirigiu a pia pra lavar o rosto. Em seguida pegou um pouco de papel higiênico pra tentar parar o sangramento.

Suspirou. Sonhar com ela estava virando rotina. E isso não era bom. Já fazia um mês desde aquele domingo e Sakura estava estranha. Eles só conversavam por mensagens de celular e desde então ela parecia não ter mais tempo pra ele. Agora sempre tinha trabalhos pra fazer, provas pra estudar, tinhas coisas marcadas com Ino ou as meninas... Ela o evitava. Mesmo com todo mundo junto nas refeições, ela dava mais atenção aos outros do que a ele; ela estava fria.

Sasuke chegou à conclusão que seus sonhos refletiam a falta que ele estava sentindo dela. Ela não o ignorava, respondia todas as mensagens dele, sorria pra ele, mas era só isso. Nem mesmo mais do que selinhos tinham acontecido entre eles naquele tempo. E por mais que a visse todo dia, a saudade crescia. Saudade do toque dela, dos beijos dela. Saudade de abraça-la, praticamente escondê-la em seus braços. Saudade do cheiro dela.

Ele sabia. Sabia que se cedesse aos seus sentimentos, se eles começassem a namorar, isso poderia acontecer; eles poderiam se desentender. O garoto não queria admitir, mas tinha medo. Medo de perdê-la. Medo de um dia eles brigarem, terminarem, se afastarem. E o medo ia mais além. Medo do que ele sentia. Sasuke nunca tinha se apaixonado antes. Ele até tinha gostado de sua segunda namorada, sim ele tinha gostado dela, mas aquilo não era nada comparado ao que ele sentia por Sakura. Ele a amava, já tinha consciência disso e isso o apavorava. Esse era o resultado de se entregar assim. Se entregar ao que se sente é sempre perigoso. E se eles terminassem? Não. Para. Era melhor não pensar assim. Só o pensamento já doía. Doía se imaginar sem ela.

Não dava pra continuar assim. Estava doendo e ele não queria que doesse. Eles tinham que conversar. Ela estava fugindo dele, ele tinha que saber por quê. Talvez ele a tivesse assustado. Talvez agora ela estivesse com medo de ficar com ele, mas Sasuke nunca faria nada que ela não quisesse. Nunca. Sakura era tão delicada. Às vezes Sasuke até tinha medo de abraçá-la muito forte, dava a impressão de que ela poderia quebrar.

Há quanto tempo ele estava ali, sentado no chão do banheiro abraçando os joelhos? Ele não fazia ideia. Assim como ao entrar para a faculdade ele não fazia ideia de que iria se apaixonar. O plano era simples: entrar na universidade, cursar psicologia, se formar... Não fazia parte desse plano perder o sono por causa de uma garota. E que plano ele tinha agora? O que havia mudado uma vez que ela fazia parte da vida dele agora?

Eram tantas perguntas que fizeram Sasuke enterrar seus dedos entre seus fios de cabelo como se os fosse arrancar. Estava decidido, amanhã mesmo ele precisava falar com ela. Ele precisava dela de volta. De volta por inteiro – como tinha que ser.

[...]

Como ela podia ser tão desastrada?

Sakura corria de volta ao seu quarto pra trocar sua saia de última hora, já estava atrasada para sua monitoria e ela tinha que derrubar suco de maçã em sua saia não é? É, tinha sim. Quando já estava quase de saída, sentiu seu celular vibrar. Ao olhar no visor ela viu que era uma mensagem de Sasuke. Ignorou. Por certo ele deveria estar perguntando onde ela estava já que ainda não tinha chegado à monitoria. Nem adiantava responder. E foi quando estava guardando o celular de volta em sua bolsa que ela trombou com alguém no corredor. Antes de abrir seus olhos pra ver quem era, a garota já tinha começado a repetir uma espécie de mantra em sua cabeça: "que não seja a Karin, que não seja a Karin..."

-Opa... –disse a pessoa.

Sakura franziu as sobrancelhas. Aquela voz não era feminina como ela esperava. Arriscou abrir os olhos e viu que tinha esbarrado em um garoto ruivo que tinha olhos verdes bem mais claros que os dela.

-Desculpe. –disse ela.

O garoto deu um pequeno sorriso como o que Sasuke costumava dar.

-Tudo bem. Não foi nada. –o tom de voz dele era baixo, calmo e ele parecia ser bem sério. –Está muito ocupada? –ele perguntou antes que ela tivesse qualquer reação.

Sakura piscou duas vezes deixando a pergunta se registrar em sua cabeça. Sorriu um tanto sem graça; deveria estar parecendo uma retardada. E antes que respondesse, mais uma vez ele falou primeiro.

-Desculpe, moça. Eu perguntei porque precisava de uma informação...

Sakura sorriu novamente, dessa vez um sorriso de verdade.

-Não, não estou não. O que você precisa? –Sakura não tinha se esquecido da monitoria, mas até aquela altura do campeonato já estava quase no fim e ela não se recusaria nunca a ajudar alguém que estivesse precisando.

O semi sorriso dele apareceu novamente.

-Eu estou procurando um dormitório. Você conhece uma garota chamada Temari?

Sakura o observou enquanto ele falava. Ele era bonito. Seu jeito lembrava bastante o de Sasuke. A garota não se recordava de já tê-lo visto antes em algum lugar. Se tivesse visto ela com certeza se lembraria. E Temari? Seria ele... Namorado dela?

-O dormitório dela é do lado do meu, mas não sei se ela está. –a garota respondeu enquanto se dirigia ao quarto em questão. Deu duas batidas de leve na porta e a abriu quando não obteve resposta. Percebeu o garoto se aproximar por trás dela para espiar o quarto. –É, não tem ninguém mesmo. –Ela fechou a porta e se virou percebendo que ele não tinha se afastado resultando em deixá-la presa entre ele e a porta atrás. Sakura chegou a arregalar os olhos pela proximidade, mas não se sentiu ameaçada; parecia até que o garoto não tinha percebido o que tinha feito.

-Qual é o seu nome? –ele perguntou.

-Sa... Sakura...

Mais uma vez o sorriso de canto de boca dele.

-Sakura... Como a flor de cerejeira. Combina com você.

Ela não sabia muito bem como reagir. Corou.

-O... Obrigada. Minha... Minha mãe gosta... De cerejeiras...

O semi sorriso se alargou um pouco mais.

-Você é bonita como as cerejeiras em flor... Sakura.

[...]

Onde ela estava? A monitoria já estava prestes a acabar e nada de Sakura aparecer. Tampouco responder suas mensagens. Onde. Ela. Estava?

A aura de irritação em torno de Sasuke era perceptível até de longe. Ninguém ousou tirá-lo de seus pensamentos, nem mesmos suas fãs burras pedindo ajuda, e ele acabou não participando de nada naquele dia. Observava o enorme relógio de parede da sala inquietamente, só esperando dar o último segundo.

Chegou.

O garoto atravessou a sala e saiu pela porta com a mesma velocidade de um furacão, bem como a mesma fúria. Obviamente esse comportamento não passou despercebido por Kakashi e Lee. O último havia percebido que Sasuke estava nervoso. Nervoso do tipo que poderia morder apenas se você desejasse boa tarde a ele. Será que ele e Sakura tinham brigado? O sobrancelhudo balançou a cabeça. Poderia ser outra coisa que o havia deixado com aquela raiva toda. Quer dizer, o mundo de Sasuke não poderia se resumir apenas à Sakura, certo?

Já o professor tinha observado o garoto surdo durante todo o período da monitoria. Para o mais velho e mais experiente, não foi difícil descobrir o motivo daquele comportamento; era só reparar que uma certa cabeleira rosada não havia aparecido naquele dia. Restava saber se ela não tinha ido por ter brigado com ele ou se ele estava bravo por ela não ter ido. De qualquer forma, Sasuke estava bravo e o motivo era ela. Sem dúvida.

[...]

Ino percebeu os olhos opacos de Sakura. Não brilhavam mais. Sua amiga estava com problemas, ela sabia. Mas a rosada não costumava falar abertamente sobre tudo. No entanto, a loira estava decidida a pelo menos tentar.

A tarde de sábado se arrastava. Sakura estava deitada em sua cama fitando o teto branco e ignorando os livros e o fichário abertos e espalhados em volta dela sobre o colchão. Ino sentou-se em sua cama, que era a do lado direito, e fitou Sakura por um tempo. Percebendo o olhar constante da amiga sobre si, a outra garota virou o rosto em sua direção.

-O que foi?

-O que foi pergunto eu, testuda. O que está acontecendo?

Sakura virou o rosto novamente para o teto desejando não estar ali, desejando não ter que falar sobre o que a afligia. Porém ela já sabia que Ino não a deixaria escapar tão fácil. Suspirou.

-Nada demais. Vai passar...

-É o Sasuke, não é?

Sakura mordeu o lábio inferior. Ino falou novamente:

-Sabia. Vocês têm andado meio estranhos já faz um bom tempo. O que aconteceu? O que foi que ele fez?

Mais um suspiro pesado.

-Ele não fez nada. Eu que sou uma idiota.

-Se você está brigada com ele porque ele não fez nada de errado, então é óbvio que você é mesmo uma idiota...

Sakura encarou Ino. A loira ergueu as mãos em sua defesa.

-Quer me explicar logo o que aconteceu?

A rosada fitou o teto mais uma vez, tentando escolher as palavras.

-Estava tudo bem até que... Bem... Eu e o Sasuke... Hum...

-Desembucha...

-É que... Eu e ele... Nós quase... Quase... Ah, você sabe!

Sim, Ino sabia, mas não ia dizer enquanto Sakura não criasse coragem de falar a verdade com todas as letras.

-Não faço a menor ideia. –Foi a resposta da loira.

Sakura se remexeu na cama incomodamente. Claro que Ino sabia, ela tava era de brincadeira com ela.

-Nós quase transamos da última vez que estivemos juntos e sozinhos. Pronto! Tá feliz?

Ino sorriu de canto.

-Foi tão difícil assim?

Sakura bufou de raiva. Ino ignorou.

-Se foi "quase", o que houve pra interromper?

-Shikamaru. Entrou no quarto de repente. Deve ter pensado que os meninos estavam lá.

-Ai que estraga prazeres... Aposto que acabou com o clima.

-Exatamente.

-Ok. Onde está o problema?

A rosada sentou-se na cama. Abraçou os joelhos.

-Não sei se estou pronta pra isso... Se Shikamaru não tivesse aparecido, teria rolado. Saber disso me dá medo. Não gosto de perceber que ele me convenceu, mesmo sem intenção, a fazer algo que eu não estou certa se estou preparada, se é mesmo o que eu quero. Ao mesmo tempo em que quero ser dele, pra sempre, não gosto de me sentir sendo levada por ele assim. Acho que eu precisava ser mais firme nas minhas próprias decisões, mas... É tão difícil...

Ino observou sua amiga por uns instantes.

-Me responda uma coisa... –Ela disse por fim. –Foi bom? Digo, até antes de te interromperem, foi bom?

Sakura arregalou os olhos.

-Bom? Aquilo foi maravilhoso! Ele é do jeito que eu gosto e tem um modo tão diferente de me tocar! Parece até que ele sabe exatamente onde e como encostar em mim pra me fazer receber até choques e... Outras coisas mais...

-Já entendi qual é o problema. Depois daquilo você resolveu se afastar um pouco dele com medo de acabar cedendo e ir além dos seus limites, porque você sabe que ele te excita além do que você consegue aguentar.

Sakura arregalou os olhos mais uma vez em direção a Ino e corou violentamente. Uma Ferrari vermelha passaria despercebida ao lado da garota... Ino ergueu as sobrancelhas como se não tivesse falado nada demais.

-Ai, Sakura, pelo amor de Deus, quantos anos você tem? É a verdade não é?

A rosada não tinha como negar que, a grosso modo, sim era aquilo mesmo. Levou as mãos ao rosto.

-Você já conversou com ele? Explica pra ele que você não quer, pelo menos não agora. Se bem que na verdade você quer sim, você só é uma tonta. Mas explica. Eu sei que ele vai entender. Além do mais, em nenhum momento você disse não pra ele, disse?

Sakura balançou negativamente a cabeça sem tirar o rosto das mãos.

-Se você não estabeleceu um limite, não pode acusá-lo de ter ultrapassado... Você precisa conversar com ele.

Nesse momento a rosada ergueu a cabeça e encarou Ino. Logo a loira percebeu que não ia rolar. Se Sakura quase não conseguia conversar com ela sobre isso, falar de sexo com Sasuke estava totalmente fora de cogitação.

-Testuda, não tem outro jeito de resolver isso. Se você não explicar pra ele o que está fazendo, daqui a pouco ele vai começar a fazer mil e uma suposições pra explicar seu comportamento. Ele pode achar que você não o quer mais, ou que tem outro, ou...

-Eu sei. –Sakura interrompeu. –Acho que ele já está com "ideias" na cabeça.

-Que ideias?

-Ele acha que eu estou interessada em outra pessoa...

-Sakura... O que você fez?

A rosada começou a protestar.

-Eu não fiz nada! O que houve é que no dia que eu não fui à monitoria ele veio me procurar e me viu conversando com o Gaara no corredor.

-Gaara? –Ino forçou sua memória a se lembrar.

-O irmão da Temari.

-Ah sim. Aquele que você me apresentou ontem. O Sasuke te viu com ele?

-Viu. E o resultado não foi nada bom.

Sakura não ia mesmo detalhar o que tinha acontecido, porém Ino demonstrou querer saber. A garota suspirou mais uma vez.

-Ele chegou me abraçando, quase me escondendo da vista do Gaara. Dava pra sentir a hostilidade dele de longe. Mal quis cumprimentá-lo. A sorte é que o Gaara percebeu a situação e resolveu sair. Logo que ele virou a esquina, Sasuke começou a fazer mil perguntas. Quem é esse cara? Por que eu não fui na monitoria? Se eu não tinha ido por causa daquele cara. E então começou a dizer que não era pra eu falar mais com ele, que ele não queria mais me ver dando conversa mole pro Gaara. Sabe Ino, eu sei que o Sasuke é ciumento, mas até então ele nunca tinha me proibido de nada. Eu não achei legal. Comecei a reclamar e... Ele interpretou isso como um sinal de que eu ou estava tendo algo com o Gaara, ou queria ter.

-E o que ele fez?

-Disse que se eu precisava de um tempo pra me decidir ele me dava. Mas nem esperou eu responder. Se virou e saiu andando.

Ino coçou a cabeça.

-É... A situação tá pior do que eu imaginava... Sabe o que eu acho que você deveria fazer?

Sakura a olhou esperando.

-Deixar de ser boba. Fazer as pazes com ele e ter um maravilhoso sexo de reconciliação. Pode ter certeza que curaria todos os seus problemas.

Sakura até tentou, mas não conseguir evitar uma pequena risada de escapar através de seus lábios.

-Ino, você não presta mesmo. Duvido que você nunca tenha tido nenhuma dúvida do tipo com o Kiba. Isto é... Acho que vocês nem chegaram tão longe antes de acabar, né?

-...

-Ino?

-...

-AH MEU DEUS! Ino! Não me diga que... Não me diga que você já transou com o Kiba!

Ino não respondeu a princípio, mas logo começou a rir.

-Sua sem vergonha! Por que é que eu nunca fiquei sabendo disso? Quando isso aconteceu?

-Pouco antes de você e o Sasuke começarem a namorar. Acho que foi isso que o convenceu a querer namorar comigo.

-E como foi?

Ino suspirou.

-Incrível...

-Eu ainda não entendo porque você o recusou. Aliás, está na sua cara que você ainda gosta dele.

-Sakura, eu já disse que tenho meus motivos.

-Ok. Mas vamos entrar num acordo: eu converso com o Sasuke se você conversar com o Kiba. Pode ser que vocês não voltem, mas eu acho que pelo menos uma explicação decente ele merecia.

Ino hesitou um momento, pensando nos termos do acordo.

-Tá certo, testuda. Tudo bem. Eu vou conversar com ele. E você... Vá logo atrás do Sasuke.

[...]

Mais uma coisa que Sakura viria a descobrir: Sasuke não era ciumento. Ele era extremamente possessivo. Mais tarde ainda descobriria que isso é uma característica até que comum entre os surdos, o problema era se acostumar com isso. Dois dias após a conversa com Ino, Sakura ainda não tinha tido coragem de conversar com Sasuke e ter sua discussão de relacionamento e ele até tinha se afastado um pouco mais dela, respeitando o "tempo" que eles estavam tendo. Isso deixava tudo mais difícil.

A garota andava desanimada pelo corredor onde ficava seu quarto em uma tarde de sexta, e era pra lá mesmo que ela ia, deixar os livros de lado e pensar no que fazer. Provavelmente tomaria uma ducha pra ajudar a pensar. Chegando perto do lugar ela percebeu algumas pessoas no corredor. Duas ela logo viu que eram Temari e Karin. –Pausa para um pequeno momento de desgosto- Junto delas estava... Gaara. O que é que tinha com esse cara que uma vez aparecido, resolveu frequentar o lugar? Ah, esquece.

Sakura se aproximou e cumprimentou todo mundo. Antes que entrasse no quarto, Gaara a puxou pra uma conversa.

-Olá, Sakura.

Ela sorriu sem graça.

-Olá Gaara. Tudo bem?

-Sim. Você que não parece muito bem, o que foi?

Sakura concentrou seus pensamentos no fato que fazia apenas alguns dias que Gaara a conhecia e já estava perguntando coisas como se fosse um velho amigo. Seus pensamentos não a deixaram perceber que Temari e Karin haviam saído andando pelo corredor, sabe Deus pra onde. Se esforçou pra inventar alguma coisa que justificasse sua falta de bom humor.

-Só estou um pouco cansada. Você sabe... Os estudos consomem.

Gaara respondeu alguma coisa na linha, não que ela de fato estivesse prestando atenção, já que estar cansada não era totalmente mentira... Porém foi só depois de um sorriso e uma baixada de cabeça sem graça por um elogio do garoto que ela viu. O canto de seus olhos o viu no meio do corredor quando ela ergueu novamente a cabeça. Sasuke. Parado e observando os dois. Droga. Gaara virou a cabeça na direção que Sakura olhava e logo sentiu o clima ficar pesado. Sasuke não olhava pra ele. Os olhos do garoto não deixavam nunca os de Sakura. Até se desviarem para o chão deixando um rastro de algo parecido com tristeza e logo ele havia se virado em seus calcanhares e estava caminhando de volta, dando as costas a eles, cabisbaixo.

Sakura suspirou e murmurou um "droga" baixinho, mas Gaara pôde ouvir.

-Namorado complicado esse seu, hein... –ele comentou.

-Ele tem ciúme de você.

Gaara deu um semi sorriso. Céus... Como ele lembrava Sasuke!

-É bom que ele tenha. –Sakura ergueu a cabeça para olhar o garoto à sua frente assim que ouviu essa frase. Gaara se abaixou aproximando um pouco mais sua boca do ouvido dela. –A única coisa que me impediu de te beijar na primeira vez que eu te vi, foi essa aliança no seu dedo. –Tendo dito isso, ele simplesmente pôs as mãos nos bolsos e saiu andando na direção oposta à que Sasuke tinha saído, como se nada tivesse acontecido.

Sakura sentiu um arrepio subir-lhe a espinha. Porém não pôde dizer se era do tipo bom ou ruim de arrepio. Por essa ela não esperava.

[...]

Enfim, tinha acontecido. Ela havia se desinteressado. Ela não gostava mais dele. Tudo havia desencantado. É claro que isso ia acontecer um dia, mas Sasuke não esperava que fosse logo ao cabo de dois meses e meio. Droga, ainda nem tinham completado o terceiro...

Sasuke tinha consciência que a visão que Sakura tinha dele era meio turva devido à própria paixão que ela sentia por ele. Ela o achava o máximo. Ele não era tudo isso. Não, não era. Ele era só um garoto, com defeitos como todos os outros, talvez até mais que os outros. Era fato que quando ela o conhecesse melhor aquela paixão ia morrer. Mas ele sabia disso desde o começo, não sabia? Sim, sabia. Então por que resolveu ficar com ela? Porque um dos seus defeitos era ser idiota. Tudo o que fez foi se dar uma licença pra sofrer. Ela ia perceber que namorar um surdo não é tão legal quanto ela achava. Ela ia perceber que era problemático. E ia se cansar dele. Aí, um outro alguém melhor do que ele, ia aparecer pra mostrar na prática que era isso mesmo. Talvez ela sentisse falta de uma pessoa que pudesse sussurrar um "eu te amo" bem baixinho no ouvido. Sasuke? Ele não poderia fazer isso. Nunca soaria do jeito que ela deveria estar acostumada. Ele não sabia falar. O garoto olhou para suas mãos. É, ele não sabia falar. Ele usava as mãos. Fazia uma série de sinais e torcia pra que ela entendesse. E dava o que fazer pra explicar quando ela não entendia. Atraía olhares estranhos de todos ao redor quando em público. Era meio estranho mesmo. Talvez as pessoas tivessem razão. Talvez ela tenha percebido que preferia ficar com alguém mais... "normal". Talvez... Talvez fosse melhor assim, no fim das contas. Poderia até ser que... Tudo tivesse sido melhor se ele a tivesse deixado ir com o Lee naquele dia.

Sasuke só percebeu que ainda estava com as mãos erguidas na altura de seu peito quando viu outras mãos cobrirem as suas. Erguendo o olhar ele a viu. Cabelos vermelhos, olhos banhados de preocupação por detrás das lentes dos óculos. Ela o puxou para se sentarem no parapeito largo de uma das janelas na esquina de um dos corredores do alojamento feminino. Ele se deixou levar. Devagar, Karin sinalizou:

-Não te disse que ela estava lá com ele?

Sasuke balançou a cabeça.

Sim. Você disse.

Karin suspirou.

-Nunca quis te ver triste assim. Mas você precisava saber a verdade. Você disse pra ela não conversar mais com aquele cara, mas ela não fez o que você pediu. Ela te machucou. Você não merece ser machucado assim, por ninguém.

Sasuke nada respondeu. Apenas observava os sinais que Karin fazia, absorvendo a mensagem.

-Sakura não entende muito bem suas necessidades. Acho que ela pensou que era simples lidar com você. Ela não te entende. Ela não te conhece há tanto tempo como eu. Eu sei que não é bem assim. Sei que não é simples. Sei como lidar com você...

Sasuke baixou a cabeça. Não queria continuar o monólogo dela. Sendo assim ele não viu quando ela tinha se aproximado um pouco demais...

[...]

-Você queria me ver? –Kiba perguntou nervosamente obsevando a loira se mover à sua frente, se sentando em um dos bancos de pedra brancos, próximos da estufa. A noite já começava a se formar no céu.

-Sim. Acho que... Eu deveria conversar com você. –Ino evitava olhá-lo no rosto ou nos olhos; Kiba evitava criar expectativas. Depois de três meses separados, talvez ela quisesse voltar, ou talvez não. Era melhor não esperar muito para não se machucar. Sentou-se ao lado dela. E esperou. –Eu queria que você soubesse, Kiba, que eu sinto muito. Sinto muito mesmo pelo que te causei. Mas, acredite em mim, foi melhor assim.

-Ino... –Kiba suspirou. –Vamos ser sinceros aqui, ok? Você sabe que eu te amo. –a loira não pôde evitar sentir seu coração se revirar dentro do peito ao ouvi-lo dizer aquela frase. –Como ficar longe de você pode ser o melhor?

Ino mordeu o lábio inferior. Ela precisava ser forte. Ela não ia ceder. Não ia chorar.

-Porque eu não sou o melhor.

-Pra mim? Você não é o melhor pra mim?

Ino concordou com a cabeça.

-É. Não sou. Você merece alguém melhor do que eu. Eu... Fiz coisas demais na vida. Se você soubesse... Não me olharia do mesmo jeito.

Kiba franziu o cenho e tentou olhá-la nos olhos para quem sabe, ter um vislumbre do que ela estava escondendo. Sem sucesso. De repente, ficou com medo. Hesitou. Não sabia se queria ouvir, mas... Ela não podia realmente acreditar naquilo, acreditar que ela não era a melhor garota pra ele por ter cometido erros no passado; era isso mesmo? Ele tinha entendido direito? Decidiu.

-Por que não me conta? Então nós descobriremos minha reação.

Ino mordeu o lábio mais uma vez com mais força. Era isso que ela não queria. Não queria ter que contar. No entanto, não haveria outro modo, ele tinha que saber. Respirou fundo.

-Eu... Quando eu estava no colégio, lá pelos catorze anos, eu era bem popular. Todos me amavam, ou me odiavam, pra mim tanto fazia. Eu era animadora de torcida, tinha dinheiro, as melhores roupas, as melhores amigas, os melhores namorados... Era um inferno. Mas era a vida que eu conhecia. De uma forma ou de outra eu era o centro das atenções. Mas ninguém sabia de muita coisa... Meu pai me batia, na maioria das vezes ele estava bêbado demais pra perceber o que estava fazendo, então eu me vingava pegando o cartão de crédito dele. Torrava tudo. Todos queriam ser meus amigos porque eu sempre pagava tudo. Vivia dando presentes. Bolsas, acessórios, roupas caras. Minha mãe não se importava. Ela me achava linda e quando eu tinha algum hematoma dos tapas do meu pai, ela cobria com maquiagem, ignorava e dizia que eu continuava linda. Eu acreditava nela. Quando eu completei quinze, meus pais deram uma mega festa e eu convidei muita gente do colégio pra irem. Meu namorado, o terceiro que eu tive naquele ano, também foi e me convenceu a ir para o meu quarto com ele porque ele tinha um presente pra me dar, mas queria que fosse a sós comigo, num momento especial. Ele me deu uma correntinha de prata, muito bonita. Mas não era só isso o que ele queria.

Ino parou e suspirou. Kiba se aproximou um pouco mais dela.

-E então?

-Eu recusei. Ele ficou furioso porque eu não quis dormir com ele. Cinco minutos depois ele estava pegando minha melhor amiga na minha festa de aniversário, dentro da minha casa. Expulsei os dois. Alguns dias mais tarde, descobri que ele tinha espalhado pra todo mundo que havia transado com ela e que eu era uma idiota virgenzinha que não agradava a ninguém. Resolvi me vingar. –pausa pra mais uma respirada funda. –Transei com o melhor amigo dele no dia seguinte. O cara espalhou pra todos na primeira oportunidade. Minha "amiga" não era virgem, eu era, portanto o maior troféu foi pra ele e não pro meu ex. A fama corre rápido, sabe... Em pouco tempo havia boatos de que eu era melhor que uma profissional. Então toda a atenção voltou pra mim novamente e dessa vez eu saboreei cada segundo... No fim de semana seguinte um amigo da sala deu uma festa. Ele me encontrou lá e me deu algo pra eu beber. Sou fraca pra álcool, eu só não sabia disso. Acordei na cama dele no dia seguinte, com ele dormindo jogado do meu lado e eu tentando encontrar minhas roupas no chão.

Kiba sentia o coração apertar mais a cada palavra dela. Ele tinha a sensação de que sabia onde aquilo ia chegar. Mas não interrompeu, foi-se aproximando dela devagar, ao ver que ela estava começando a se perder nas memórias.

-A partir daí eu comecei a perder o controle. Eu bebia sempre que podia, era legal, me deixava mais leve. E ia a todas as festas possíveis; quanto mais tempo longe de casa, menos chances pro meu pai me espancar. Bebia e sempre, sempre, acordava na cama de alguém. Às vezes... –Ino hesitou. Fechou os olhos pra tentar recuperar a coragem. –Às vezes tinha mais de um cara no quarto...

Aquilo estava começando a ultrapassar os limites do que Kiba tinha imaginado. Ele não queria mesmo saber, ele não precisava saber, mas algo o impeliu a perguntar.

-Quantos, Ino?

A garota soluçou de repente. Então não aguentou mais. Começou a chorar. Kiba segurou a vontade de abraçá-la. Ainda esperava a resposta. Enquanto lutava contra as lágrimas, a loira tentou olhá-lo, olhos incertos tentando ver a expressão no rosto dele.

-Eu não sei...

O rosto de Kiba se contraiu com o choque e a dor. Ino chorou mais ainda ao ver a reação dele.

-Eu não faço ideia... Às vezes nós íamos pra casa de alguém que os pais deram mole e saíram. Comprávamos umas bobeiras, contrabandeávamos umas garrafas. Eu e mais uma ou duas meninas e alguns garotos... Eu ficava tão bêbada que... Eu não sabia dizer quais deles tinham... Feito aquilo comigo e quais não...

Kiba enterrou os dedos por entre seus fios de cabelo. Tentava manter a calma, tentava não ser tomado pelo choque de tudo aquilo.

-Tá... –ele disse. –E então?

Ino ainda lutava pra normalizar a respiração.

-Foi assim até eu completar 16 anos e meio.

"Céus!" Pensou Kiba. "Mais de um ano assim? Não é de se admirar que ela tenha perdido a conta..."

-O que houve pra te fazer parar?

-Eu engravidei.

Kiba voltou seu rosto pra fitá-la no mesmo segundo. Mais choque ainda.

-Você tem um filho?

O choro desesperado voltou. Ino apertou os olhos novamente.

-Aí é que está o pior. Eu deveria ter... Mas não tenho.

-Ino, o que aconteceu? –A garota ainda tentava parar de chorar pra poder continuar. –O que aconteceu com o bebê?

-Eu descobri que estava grávida e fiquei desesperada. Não contei pra ninguém. Meu pai me espancaria mesmo estando sóbrio se descobrisse. Então procurei ajuda num ambulatório público. Não podia ir no particular sem meus pais, mas lá eles ajudavam adolescentes grávidas... A maioria sem o apoio da família. Foi lá que eu conheci a Sakura. Ela era assistente de enfermagem e cuidava das garotas que iam fazer o pré-natal.

-Sakura trabalhava no ambulatório?

-Sim. Ela tinha feito um curso técnico de enfermagem junto com a escola e fazia uma espécie de estágio supervisionado lá, já que na época ela ainda era menor de idade. Ela era da sala ao lado da minha no colégio... Mas eu não me lembrava de já tê-la visto alguma vez... A verdade é que eu não prestava atenção em quem não me dava atenção. Mas ela não fez perguntas, ela sabia quem eu era e me ajudou mesmo assim. Ela me dizia que um bebê era sempre uma benção e que um dia eu iria amá-lo tanto que não viveria mais sem meu filho. Mas eu não queria ser aquelas adolescentes grávidas que nem conseguem terminar o colégio e criam o filho sem pai. Até porque naquela situação eu nem saberia...

-Dizer quem era o pai. –Kiba completou. Ino concordou com a cabeça enxugando mais algumas lágrimas com a manga de sua blusa.

-Um dia eu fiquei ainda mais desesperada ao perceber que a barriga estava mesmo crescendo. Dali a pouco eu não teria mais como esconder. Então eu... –ela hesitou. –Eu... Tomei três garrafas de Jack Daniels e esvaziei duas caixas de analgésico.

-Meu Deus... –ela ouviu Kiba murmurar baixinho.

-Eu sobrevivi, mas...

-Você abortou... –ele completou mais uma vez.

O choro desesperado voltou e mais forte do que antes. Dessa vez, Kiba não segurou sua vontade e a abraçou, envolvendo-a ternamente e deixando que chorasse. Em meio às lágrimas, ela murmurava algumas coisas quase inaudíveis.

-Eu não queria isso. Foi sem querer... Eu nunca faria isso a um bebê. Ele não tinha culpa... Não tinha...

Kiba afagava o cabelo dela tentando confortá-la.

-Shhh... Aconteceu. Eu sei que não foi sua intenção. Estou grato por você ter sobrevivido, assim eu pude conhecer você...

Ino o olhou nos olhos tentando entender porque ele não estava bravo, porque não tinha se afastado dela, a chamado de "vadia" ou qualquer nome do tipo. Não fazia sentido.

-Talvez não fosse mesmo pra você ser mãe. Talvez aquele bebê não fosse pra nascer, fosse só pra te salvar. Foi o que mudou sua vida, não foi?

Ino hesitou por um momento ainda chorando.

-É... Eu consegui parar com tudo quando vi que ainda estava viva... A Sakura, ela cuidou de mim. Eu nunca mais voltei a ser quem eu era. –mais alguns soluços. –As pessoas diziam que eu tinha tido uma overdose, mas ninguém ficou sabendo da gravidez. Só Sakura sabe, nem mesmo Hinata soube disso. E agora você sabe. Mas... Dói tanto saber como eu fui inconsequente. Como eu pude? Como?

Kiba segurou as mãos de Ino. Ele estava prestes a dizer algo quando ela falou novamente.

-E ainda errei com você.

O garoto franziu as sobrancelhas.

-O que quer dizer?

-Pode ser difícil de acreditar, mas desde que aquilo aconteceu, eu nunca mais me envolvi com ninguém. Então você apareceu e foi impossível não te querer, mas eu deixei que fôssemos longe demais. Me perdoa. Eu nunca quis que você fosse mais um... –Ino não pôde dizer mais nada sendo novamente tomada por uma onda de dor.

De fato, agora que Kiba sabia de tudo, ficava bem difícil não se sentir usado, apenas acrescentado a uma lista já maior do que o normal, mas não era assim que ele se sentia.

-Não diga besteiras. –ele disse.

A loira o olhou nos olhos no mesmo instante, um tanto surpresa com a resposta ríspida.

-Nós dois sabemos muito bem que você me ama. –ele continuou. –Eu te amo. É besteira você dizer que eu fui mais um porque eu sei que não fui. Mesmo agora que eu sei de tudo, revisitando aquele dia, eu me lembro bem do que eu senti. Não Ino... Você não se entregou pra mim por hábito... –Kiba começou a acariciar o rosto dela. –Você fez porque quando o amor é sincero e muito grande ele precisa transbordar de alguma forma. Até encher novamente e precisarmos esvaziar de novo. –ele sorriu. Ela esboçou um sorriso. –Você precisa se perdoar... Todo mundo comete erros; você também não conhece meu passado. Portanto não diga que você não é a minha melhor opção.

A garota já estava quase aninhada no peito de Kiba quando se endireitou novamente pra olhá-lo melhor.

-Como assim? O que aconteceu... No seu passado?

Kiba respirou e a puxou pra si novamente, arrumando o corpo dela entre seus braços enquanto se preparava pra contar.

-Você sabe... Eu e o Sasuke somos amigos desde pequenos. Eu nunca me importei com o fato de ele ser surdo, mas muita gente não encarava isso muito bem... Quando nós tínhamos dez anos havia uma espécie de gangue de uns garotos no nosso bairro. Eles eram o máximo. Faziam arruaças, furtavam bebidas, usavam umas roupas bem loucas e caras e tinham muitas meninas... Eu queria ser do grupo. Ser um cara daquele jeito e principalmente ter aquelas garotas brigando pra ficar comigo. De tempos em tempos eles abriam um "processo seletivo" pra escolher mais um ou dois pra entrar. Quando isso acontecia eu começava a fazer de tudo pra eles me acharem legal. Eles eram incríveis, mas eram muito cruéis. Eles zoavam o Sasuke por ele ser surdo. Diziam que ele não ouvia por ter problemas mentais. Zoavam os sinais que ele usava pra se comunicar. Eu sabia que se eles soubessem que eu era amigo do "mudinho", "surdinho", "retardado", eles nunca me deixariam entrar no grupo. Então eu escondi. Quando encontrava com eles, sem o Sasuke, eu também o zoava. Também fazia piadas.

Ino se remexeu um pouco nos braços de Kiba. A ela estava sendo difícil imaginar que um dia Kiba tinha sido assim com Sasuke. O garoto apoiou o queixo no topo da cabeça dela e suspirou antes de recomeçar.

-Eu estava quase lá. Eles já estavam me chamando pra andar com eles, era questão de tempo até me aceitarem. Um dia eu estava jogando vídeo-game com Sasuke na casa dele e a mão dele pediu pra gente ir no mercado pra ela. Ficava perto, nós descemos a pé e compramos o que ela queria. Mas quando estávamos voltando, eu vi os caras da gangue se aproximando do outro lado da rua. Antes que eles nos vissem, eu sinalizei rápido pro Sasuke ir na frente que eu precisava resolver uma coisa. Ele estranhou, mas não discutiu. Seguiu na frente com as sacolas. Eu me afastei rápido pra eles não perceberem. Mas Sasuke sabia o que eu queria fazer. Ele foi na frente, mas ficou me observando. Eu só me lembro da buzina alta, som de freada de pneu e então os gritos.

Ino ergueu a cabeça para o olhar.

-Ele foi atropelado?

-Foi. Uma van. É claro que ele não tinha ouvido a buzina. Ele se distraiu, querendo ver se eu ia mesmo de encontro àqueles caras... –Kiba apertou um pouco os lábios à medida que as lembranças vinham à mente. –Eu me desesperei e corri até ele, pedindo pra alguém chamar uma ambulância. Ele desapareceu embaixo do carro. Só as sacolas espalhadas no chão ainda podiam ser vistas. Eu achei que ele estava morto quando o tiraram de lá. Ele quebrou o braço e a perna esquerdos e várias costelas, uma delas perfurou o pulmão. –os olhos de Ino se arregalaram. –Os médicos até suspeitavam de um traumatismo craniano. Ele ficou vários dias internado. –Kiba pôde sentir os olhos arderem pelas lágrimas que começavam a surgir. –Droga, ele tinha só dez anos. Éramos pequenos. Quando ele acordou, eu me senti aliviado, não só porque meu amigo estava vivo, mas porque...

-Você se culpava pelo acidente.

Kiba fitou os olhos azuis de Ino.

-É. Eu senti que, com ele vivo, eu talvez conseguiria me redimir da minha estupidez. Disseram que ele sobreviver tinha sido um milagre. E quando ele me viu no hospital, a primeira coisa que ele fez foi me perguntar se eles tinham me aceitado no grupo. Foi só então que eu descobri que ele sabia. Sasuke sabia quem eram aqueles caras, sabia de tudo o que eles diziam dele e sabia que eu mentia, dizendo que não era amigo dele pra poder entrar. Mas ainda assim, Ino... Ainda assim, ele queria que eu conseguisse. Ainda assim ele disse que eu era o melhor dele. Eu respondi que não tinha sido aceito e ele nunca mais tocou no assunto.

No rosto da garota aninhada entre seus braços e pernas, que agora estavam sobre o banco, algumas lágrimas finas, solidárias ao sofrimento dele, escorreram nos cantos dos olhos azuis.

-Percebe, Ino? Eu o reneguei. Fingi não o conhecer. Neguei nossa amizade. O usei de piada pra todos, só pra parecer legal... E quase o matei.

De fato a culpa que Kiba carregava era tão pesada quanto a dela.

-Mas ele me perdoou. E eu percebi que eu precisava me perdoar também e seguir em frente. É por isso que hoje eu sou capaz de matar e morrer pelo Sasuke. Porque ele nunca mereceu tudo o que já passou na vida, ainda por cima tendo um amigo traidor como eu. Todo mundo erra, Ino. Eu não sou um cara perfeito, nem você é a senhora certinha. É isso o que nos torna reais. E mesmo depois de tudo o que você me contou, eu ainda te quero. Eu acho que nunca te amei mais do que amo agora. Se você também conseguir perdoar minha estupidez e crueldade, volta pra mim...

Ino olhou-o nos olhos. Em seguida o abraçou. Ele retornou o abraço.

-Passou, não é? –ela disse. –Você tem razão. Eu sinto muito por tudo isso. Eu te amo demais pra ficar mais tempo longe de você.

Ela se lançou sobre ele em um beijo que há tempos eles não tinham.

[...]

Sakura corria desesperadamente pelos corredores tentando encontrá-lo. Ela não podia perdê-lo assim. Sasuke não poderia acreditar que ela o estava traindo com o Gaara.

Nem com o Gaara nem com ninguém! Gritou sua personalidade interna, dentro de sua cabeça.

Cala a boca! Foi a resposta da Sakura externa. Aquilo nem vinha ao caso no momento. Tudo o que importava era encontrá-lo, pedir desculpas, explicar tudo pra ele e torcer pra ele perdoá-la, pra não terminar com ela. O coração apertou. O medo ameaçava afogá-la num mar de incertezas e a dor quase não a deixava respirar.

Mas aquilo não era nada comparado ao choque que ela teve ao finalmente encontrá-lo...

...beijando Karin.

"Não. Não. Não. Não." Repetia em sua cabeça. "Não pode ser..."

Era isso então. Sakura não era páreo para aquela ruiva. No fundo ela já deveria saber. Era desajeitada demais pra ficar com Sasuke. Mas desde quando Karin? Era assim? Mal ele assumia coisas erradas sobre ela e já estava afogando as magoas com outra? Isso não era justo. Mas as lágrimas que rolavam não se importavam se havia alguma justiça ou não, rolavam, expressando a tristeza que já não se continha dentro de um pequeno coração apertado.

[...]

Arregalou os olhos aos sentir os lábios dela nos dele. Ela estava mesmo fazendo o que ele achava que estava? Sim, estava. Sasuke tentou pensar em uma saída, mas todas as que lhe vinham à mente poderiam magoar Karin e ele não queria isso. O garoto conhecia a ruiva já há alguns anos e até gostava dela como amiga, não queria que ela ficasse triste com ele. Porém, ele não poderia retribuir. E foi o que fez. Ou melhor, não fez. Sasuke não a beijou de volta, mas deixou que ela tentasse. O jeito seria falar calmamente com ela e lhe explicar que, mesmo ferido, o coração dele continuava pertencendo à Sakura.

Infelizmente a sorte não estava do lado dos dois amantes, pois assim como ele havia aparecido em um momento ruim, Sakura tinha acabado de aparecer em um momento impróprio. E ele só percebeu porque Karin se afastou bruscamente. Olhando na mesma direção que ela olhava, assustada, ele a viu.

Sakura. Chorando. De novo.

Deveria haver uma maldição pairando sobre ele que o impedia de fazê-la feliz e/ou de ser feliz com ela. O coração deu o recado: apertou e passou a bater devagar, dolorosamente como um paciente morrendo de câncer esperando que cada batida possa ser a última.

Os olhos verdes outrora tão brilhantes, agora o olhavam com descrédito e dor, muita dor. Pareciam até falar com ele, transmitindo a mensagem. Como você pôde, Sasuke? Por quê? Ela com certeza tinha acreditado que ele havia acabado de traí-la. Não era verdade. Mas será que ele também não tinha a julgado mal? Ele havia acreditado que havia algo entre ela e o tal de Gaara, se não concreto pelo menos na intenção, mas será mesmo? Sakura parecia tão desesperada e em tanta dor naquele momento, que era impossível conceber a ideia de que ela poderia estar interessada em outra pessoa. E como se fosse pra confirmar seus pensamentos, a próxima atitude dela fez o mundo dele começar a desabar. Sakura havia tirado sua aliança, dedos e mãos trêmulas, e com muita força, a jogara no chão.

Sasuke se levantou no mesmo instante e correu. Correu até alcançar a aliança e pegá-la do chão, em seguida correu mais uma vez pra alcançar Sakura, que também correndo, já estava quase na outra extremidade do corredor. Ele não podia perdê-la. Ele tinha sido estúpido, ela também, era verdade, mas aquilo não podia acabar assim. Ele não ia deixar. Poderia até ser que ele não fosse mesmo a melhor opção pra ela, mas tudo podia ir pro inferno, ele poderia passar a vida inteira lutando pra se tornar a melhor opção que ela poderia ter, ele ficaria com ela. Ela era dele e de mais ninguém. Todo o desespero dentro dele passou a aumentar quando ele viu que ela não diminuía a velocidade, parecia até que ela correndo pra sair da vida dele o mais rápido possível. Dor. Dor. Dor. Dor. Dava vontade de gritar. E foi o que ele fez. Com todo o ar que tinha nos pulmões:

Sasuke gritou.

Fim do cap. 8


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de me contar o que acharam desse capítulo! Beijos!



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