Silêncio escrita por KeykoSakura


Capítulo 9
Recomeço


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer à kaa_Uchiha pela recomendação! o/



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O estranho e alto som atravessou o corredor inteiro. E a fez parar. O choque a congelou. Era o som da voz dele. Com exceção de raríssimas risadas, Sakura nunca tinha ouvido a voz de Sasuke e apesar de ter sido um grito muito estranho, isso a tocou a ponto de fazê-la parar. E olhar pra ele.

Sasuke estava no meio do corredor e havia parado também. A mão esquerda massageava o pescoço. Sasuke não estava acostumado a usar suas cordas vocais e o esforço em gritar havia machucado sua garganta. Mas funcionara. Ele conseguiu por pra fora toda a dor que estava sentindo e ela ouvira. Ela havia parado e agora o olhava.

E então havia o silêncio.

Silêncio este que parecia ainda mais silencioso depois do som da prata sendo atirada ao chão, dos passos apressados e pesados pelo corredor e de um grito de agonia. Agora tudo estava quieto.

Mas não havia paz.

Antes que ela fugisse novamente Sasuke diminuiu a distância entre eles, o tempo todo mantendo contato visual com ela. Ônix prendia esmeralda no lugar para que ela não voltasse a correr. Assim que o brilho verde se ausentou de seu olhar, o garoto foi rápido em agir. Enlaçou a cintura dela e a manteve no lugar; por pouco ela não escapara novamente.

Sakura se debateu dentro dos braços dele. Estava com raiva. Tinha sido tocada pela demonstração de dor dele, mas isso não mudava o fato de que ele havia beijado outra garota. Ele a havia traído. Machucado. E a dor dela? Onde ficava? Sasuke lutou pra segurá-la; ele não iria perdê-la, não podia perdê-la. Usando sua força de homem, o rapaz quase a arrastou, terminando por carregá-la até fazê-la sentar no parapeito largo de uma das enormes janelas do corredor. Encostou as costas dela no vidro fechado e a encurralou com as mãos de cada lado da janela e forçando um pouco seu corpo pra ficar entre as pernas dela, sem lhe dar uma mínima chance de escapar. Eles tinham que conversar, eles iam conversar.

A garota ficou com um pouco de medo da atitude dele e chegou até a fechar os olhos esperando alguma coisa ruim, que coisa ruim ela não sabia, mas algo viria. No entanto, abriu uma de suas esmeraldas ao perceber que Sasuke não estava fazendo movimento algum. Arriscou olhar pra ele e o viu fitando-a de volta.

Foi o suficiente pra partir de vez o pequeno coração de Sakura.

Os olhos dele estavam vermelhos e ela sabia ser da vontade que ele segurava de chorar. Nunca se passou pela cabeça da garota que um cara forte, frio e autossuficiente como Sasuke pudesse chorar, ainda mais por aquele motivo. Por ela.

Mas ele estava à beira das lágrimas e logo quem começou a soluçar foi ela. Sakura desabou no choro enterrando sua cabeça no peito dele que a abraçou ainda lutando pra não chorar. A garota agarrou a camiseta dele quase a torcendo em seus punhos cerrados enquanto soluçava livremente. Sasuke a puxou pra mais perto e enterrou sua cabeça no cabelo dela, reforçando seus braços ao redor da figura pequena da garota. Ela já tinha desistido de lutar contra ele. Aos poucos ele foi se acalmando, até ser capaz de pensar com mais clareza e começar a afagar o cabelo dela para confortá-la.

Funcionou. As mãos de Sakura perderam a força em seus punhos e aos poucos ela foi relaxando nos braços dele ainda encostada em seu peito. Então conseguiu abraçá-lo de volta. Ela não queria perdê-lo. Mesmo ele a tendo traído assim, ela não queria que tudo acabasse. Permaneceu reclinada nele, sentindo o cheiro dele que ela tanto gostava, se lembrando de como era bom se entregar em um abraço dele e conseguiu se acalmar.

Ambos se olharam novamente. Alheios ao que quer que estivesse acontecendo ao redor, não importava, eles tinham um relacionamento pra salvar. Deixaram que os olhos falassem por eles. Nos orbes de ambos havia de tudo: amor, dor, medo, desespero. O olhar durou até Sasuke soltar o abraço e segurar as mãos de Sakura nas suas. O garoto baixou a cabeça e respirou fundo. Então soltou as mãos dela para poder falar.

Mãos que tremiam, mas que estavam determinadas.

-Perdoa eu.

Sakura pôde sentir mais lágrimas começarem a banhar seus olhos, mas nada fez, apenas o fitou.

-Você pensar eu fazer coisa, eu não fazer. Não fazer. Eu jurar. Perdoa eu...

Sakura não era boba. Ela tinha visto Karin e Sasuke se beijando, ele não poderia dizer que não tinha feito; ele tinha feito sim. Mas algo nele doeu ainda mais nela. Talvez fosse arrependimento, talvez... Talvez fosse sabe-Deus-o-que... Ainda não sabia o que fazer, nem o que dizer.

-Eu não querer Karin, eu não ver ela perto muito e eu só sentir Karin beijar. Não afastar porque não querer machucar Karin. Karin não merecer.

Merece sim! Disse a inner de Sakura que logo foi calada rudemente pela Sakura externa como sempre. Como Sakura poderia duvidar do que tinha visto? Mas ao mesmo tempo Sasuke a olhava nos olhos, não desviava o olhar dela em nenhum momento. A garota sentiu que ele não estava mentindo. E se tivesse sido isso mesmo antes que ela chegasse? Como poderia saber? Tantas dúvidas na cabeça... A garota permanecia quieta, até Sasuke baixar a cabeça e ela perceber que sua falta de resposta o estava afetando. A rosada tentou pensar em algo a dizer, mas antes disso ele voltou a falar. Ainda de cabeça baixa, ele sinalizou devagar.

-Se você querer Gaara, tudo bem. Poder ir.

As esmeraldas de Sakura se arregalaram com a frase. Como assim? Não, ela não queria nenhum Gaara, nem Lee, nem ninguém. Ela só queria Sasuke. E com esse pensamento em mente ela ergueu o rosto dele com as mãos para que ele a olhasse. Ela balançou a cabeça tentando conter novas lágrimas que ameaçavam rolar.

-Não Sasuke. Eu não quero o Gaara. Nunca quis. Você que assumiu as coisas. Seu ciúme cegou você. Eu nunca tive nada e nunca quero ter nada com o Gaara... Eu quero você.

-Não parecer.

Os olhos dele ficaram sérios... E frios. A resposta dele a confundiu.

Vendo a confusão na expressão do rosto dela ele começou a explicar.

-Você não procurar mais eu. Nós não ficar mais junto. Você sempre ocupada, tarefas, amigas, mas não eu. Você nem beijar mais eu. Eu achar você cansada de mim. Tempo pro Gaara você ter. Eu achar você querer cara normal... Você perceber cara surdo problema, agora querer outro normal... Eu entender...

Sasuke tinha começado a série de sinais e agora não olhava mais pra ela, já tinha começado a se afastar dela quando Sakura o segurou pela camiseta e o puxou de volta pra posição anterior. Ela tinha que dizer a ele que não era assim, mas ele não olhar pra ela era o mesmo que tapar o ouvidos para não ouvir. A realização do mal entendido atingiu Sakura como um nocaute e só então ela percebeu como tinha agido errado. Ela não deveria ter se afastado, deveria ter conversado com ele, como Ino disse. Mas não... A garota tinha que ser teimosa só pra facilitar as coisas. De fato ela tinha relaxado completamente em cuidar de Sasuke. Ela o havia jogado de canto sem nem ao mesmo explicar por que. Não foi justo. Não tinha como ser justa sem diálogo. Ela não tinha a menor noção do quão rejeitado ele havia se sentido, ainda mais porque ela tinha começado a se afastar logo após aquele dia em que eles quase aumentaram o grau de intimidade. Sasuke até tinha achado que eles conseguiriam formar um laço mais forte naquele dia, uma ligação mais profunda e talvez assim eles não se separassem nunca, mas o tiro pareceu ter saído pela culatra e ele imaginou que talvez Sakura não o quisesse assim... Talvez não se sentisse atraída por ele assim. Sasuke havia sofrido dois golpes: um, em seus sentimentos pela garota; dois, em seu orgulho. Ao ver Gaara ele não teve dúvidas: ela não se interessava mais por ele, mas sim por aquele ruivo.

-Por que diz isso, Sasuke?

Sasuke hesitou pra responder.

-Você não querer eu... Daquele jeito... Tudo bem...

Sakura precisou pensar um pouco pra ligar um ponto ao outro e entender qual era o jeito ao qual ele se referia. A ficha caiu. Ele achou que ela estava o afastando por não o querer de verdade. Ela não pôde deixar um pequeno sorriso de alívio aparecer.

Devagar a garota puxou pra mais perto ainda o corpo dele entre suas pernas e o fez olhar bem pra ela. O garoto o fez com os olhos um tanto arregalados pela atitude dela.

-Não é isso, Sasuke. O problema é justamente eu te querer demais.

Agora era a vez dele de ficar confuso.

Sakura corou enquanto lutava com os sinais para não dizer nada errado.

-Eu te quero Sasuke, de todos os jeitos, de todas as formas possíveis. Eu só não me sinto pronta pra isso ainda. Eu deveria ter conversado com você, eu sei, mas eu fiquei com medo de te magoar ou de você não me querer mais. Fiquei com medo de me achar boba ou de perder o interesse, ou de...

Sasuke a interrompeu segurando as mãos dela. A garota o olhou, pega de surpresa.

-Só isso? –ele perguntou.

Sakura anuiu. Sasuke conseguiu dar uma pequena risadinha. Tudo tinha sido tão estúpido.

-Sakura boba. –ele disse. –Eu poder esperar.

A garota arregalou os olhos.

-Eu não querer forçar você, eu só... Querer você. Se você não querer já, eu esperar. Se quiser primeiro casar, eu esperar e casar.

As esmeraldas se arregalaram mais ainda, se é que era possível...

-Eu só querer você. Querer você toda pra mim. Perdoa eu? Eu perdoo você. Voltar pra eu...

Sakura conseguiu sorrir, mesmo com finas lágrimas nos cantos dos olhos.

-Claro, Sasuke. Eu fui uma idiota... E você também! –ela deu um leve tapa do braço dele.

-Eu jurar eu não beijar Karin...

-Ela que te beijou. –Sakura interrompeu. De repente a ideia fazia sentido, conhecendo o temperamento de Karin... –O que ela é pra você?

-Amiga. Anos já. Mas só amiga.

E então tudo pareceu se acalmar. Ambos já estavam bem aninhados, emaranhados um no outro, com a sensação de que era assim que tinha que ser.

-Eu não forçar você, Sakura. –ele repetiu. –Mas não ficar longe de mim... –ele a puxou para ainda mais perto. –Eu sentir saudade.

Sakura já começara a ficar entorpecida. O cheiro dele, a pele dele, o corpo dele tão perto... Sasuke sinalizava tudo com uma mão só para não soltá-la e já traçava toda a linha do maxilar dela, e também do pescoço, com seu nariz pra sentir de novo o aroma dela. A garota sorriu. Ambos precisavam matar a saudade um do outro. Como ela tinha aguentado ficar longe dele? Mistério... Até ele parar abruptamente.

-Mas você ser minha. Entender? Minha, só minha, toda minha... Ninguém chegar perto você, eu não deixar...

A garota sorriu novamente com isso enquanto ele lhe beijava o pescoço. E não resistiu nem um pouco quando ele voltou a olhá-la e bateu de leve seu indicador em sua boca com um pequeno sorriso, num pedido mudo por um beijo.

No final do corredor, Karin resolveu que já havia passado da hora de ir embora dali.

A calmaria depois de uma tempestade é sempre reconfortante. No caso de Sasuke, ele chegou a achar que tinha morrido e estava no paraíso. Sakura tinha voltado ao normal com ele e até estava mais carinhosa do que nunca, fazendo-o desejar estar com ela o tempo todo. Os dois estavam prestes a completar seis meses juntos e estavam se entendendo cada vez mais. Sakura ainda não era a mestre da língua de sinais, mas agora eram raras as ocasiões em que ela não entendia algo que ele dizia. Além dos momentos nas monitorias e nos fins de semana, agora Sakura estava passando um pouco mais de tempo no dormitório de Sasuke ajudando-o a ler um livro que fazia um bom tempo que ele estava tentando terminar de ler.

Sakura havia percebido há alguns meses que Sasuke parecia ler sempre o mesmo livro e não acabava nunca. Então lhe ocorreu que ele poderia estar com dificuldades de leitura devido à barreira do idioma. A língua materna de Sasuke era LJS, japonês era como um segundo idioma. Ele tinha as leituras da faculdade, mas os intérpretes sempre o ajudavam a entender o que estava escrito. Porém Sasuke era um tanto teimoso e suas leituras fora de sala de aula eram sempre sem ajuda. Ele não queria que ninguém o ajudasse em nada. Até o dia em que ele estava lendo sentado na cama e Sakura se esgueirou por entre os braços dele e ele não quis afastá-la. Ela ficou ali em silêncio lendo junto com ele até perceber que ele ainda não tinha virado a página. Ao perguntar se ele estava com algum problema, Sakura o viu esconder um vermelhinho nas bochechas com sua franja. Não demorou muito pra ele admitir que talvez seria legal se ela o ajudasse com uma palavra ou outra. A garota não pôde deixar de sorrir do embaraço dele e o beijou ternamente, quase o fazendo esquecer-se da leitura em questão. Mas logo ela voltou à sua posição original deitada nele e ele começou a apontar os trechos que não entendia muito bem. Desde então ele passou a ler com ela e descobriu que era uma atividade muito agradável de fazer com a garota. Sakura sempre fora atenciosa com ele e ele não conseguia mais se imaginar sem ela.

Sakura também observava a calmaria através de seus orbes esmeralda e sorria por dentro. Ela e Sasuke ainda tinham algumas briguinhas ocasionais, mas nada que um bico dela com uma carinha triste não resolvesse. Sasuke não conseguia ficar bravo com ela por muito tempo. A garota também achava no mínimo curioso o fato de que os quatro garotos haviam se arranjado com as quatro garotas. Kiba e Ino tinham voltado e estavam bem. Neji nunca fora muito a favor de demonstrações públicas de afeto, mas seus pequenos gestos, como afastar a cadeira para Tenten se sentar, demonstravam o amor e cuidado que ele tinha com ela. Naruto e Hinata finalmente se livraram da ira do Hyuuga e por mais atrapalhado que fosse, o loirinho era todo da tímida garota que fazia de tudo pra ficar perto dele. Já Sasuke... Ele era sempre mal humorado e quieto. Respondia pouco e só acompanhava o grupo sem se enturmar de verdade, mas com Sakura ele mudava. Só Sakura sabia o quão doce ele era quando queria ser. Sasuke encontrava qualquer desculpa pra encostar nela, pra puxá-la de canto e beijá-la como se fosse o último beijo de sua vida. Vivia repetindo sinais de palavras de afeto e se entregava pra ela, pra estar nos braços dela. Esse Sasuke só Sakura conhecia. E ela amava saber disso. Talvez fosse o tal destino sobre o qual Neji vivia falando. Fosse o que fosse Sakura estava grata por estar incluída no destino de Sasuke e queria garantir que seus caminhos permanecem cruzados até o fim. Era nisso que ela pensava enquanto afagava o cabelo de um Sasuke adormecido com os braços ao redor da cintura dela e cabeça afundada no vão do pescoço da garota. Foi isso que o sorriso dela demonstrou a Kiba quando este entrou no quarto e observou a cena. O garoto também sorriu de volta pra ela. Kiba estava feliz por Sasuke ter encontrado Sakura. O garoto observava seu melhor amigo e a namorada e via como ela cuidava bem dele, via como ela era apaixonada por ele e via como Sasuke mudava perto dela. E mesmo longe dela ele estava ficando diferente. O moreno já não andava tão de cara amarrada como sempre e estava até um pouco mais sociável. Kiba sabia que eram os efeitos colaterais do relacionamento dele com a garota do cabelo cor-de-rosa. E isso era bom.

As férias de fim de ano finalmente chegaram. O alvoroço de malas e ônibus saindo do campus da faculdade era enorme e desconcertante. Todos os amigos estavam arrumando suas próprias malas pra passar as festas em casa com a família – e era isso que estava deixando o coraçãozinho de uma garota de cabelos róseos apertado; ficaria aproximadamente um mês longe de Sasuke, assim como passaria o Natal e o Ano Novo sem ele. Por mais que estivesse feliz de poder voltar pra casa pra ver seus pais e os antigos amigos, ela não queria passar todo aquele tempo longe do namorado. Infelizmente, não havia muito o que fazer, já que Sasuke também passaria as festas com a família dele.

Foi então que Sakura criou a curiosidade de perguntá-lo sobre sua família. O máximo de informação que ela extraiu dele era que ele tinha os dois pais e um irmão mais velho, mas Sasuke não falava muito sobre isso; ao contrário, também voltava as perguntas à Sakura que era filha única e não tinha muito a dizer sobre si mesma. Mas dentro da garota a vontade de conhecer a família de Sasuke crescia e ela se perguntava se um dia isso aconteceria, ou se de repente só fosse acontecer ao término da faculdade.

Fosse como fosse, lá estavam os dois na estação de trem. As malas da garota no chão e ela sem querer soltar Sasuke, o abraçando por longos minutos. O garoto estava mais tranquilo do que ela, ou assim Sakura achava, e isso a deixava inquieta, parecia até que ele não iria sentir falta dela e por isso estava tranquilo daquele jeito. Não era essa a questão, Sasuke estava sim já sentindo a falta dela, mas ele sabia que seria só por um mês, não estava levando tão a sério quanto ela. Logo eles estariam juntos de novo, não havia motivo pra drama. Mas Sakura era dramática, Sasuke já estava acostumado com isso e com os bicos dela.

Eventualmente o momento do embarque de Sakura chegou. A garota deu um abraço em Naruto e em Kiba, ambos estavam acompanhando o casal na estação. Ao abraçar Sasuke este aproveitou para beijá-la daquele jeito que a deixava sem fôlego, sem realmente se importar com quem estava por perto. Normalmente, Sasuke não dava a mínima para as pessoas ao redor dele...

A garota entrou ainda com dificuldade em respirar e logo se assentou em seu lugar ao lado da janela do trem. O engraçado é que ela ainda era capaz de conversar com Sasuke, já que a conversa era por sinais. Algumas pessoas observaram a estranha interação de dentro do vagão, mas Sakura estava tão empolgada em ainda poder conversar com ele que nem ao menos percebeu. Logo, porém o trem começou a se deslocar e a garota teve que se contentar com a imagem dele ficando cada vez menor e se afastando até desaparecer. Logo que saiu de sua vista, a garota se arrumou melhor na poltrona e tratou de se recriminar. Desde quando ela era tão menininha pra ficar assim com relação ao namorado? Sakura era uma garota não tão jovem assim pra sonhar acordada com ele. Ela não deveria se sentir tão infeliz só por se separar dele por um tempo. Se a intenção dela era se casar com ele um dia, ela precisava guardar um pouco pro casamento. Se ver tanto assim não poderia fazer bem...

A garota suspirou e colocando seus fones de ouvido, se preparou para dormir na viagem de volta pra casa.

Sasuke chegou em sua própria casa já um tanto irritado com seu irmão mais velho. Itachi Uchiha o havia perturbado a viagem inteira de carro perguntando da garota que era namorada de seu irmão caçula. Haja paciência! Itachi não era surdo, mas por ter um irmão assim ele dominava a língua de sinais a ponto de conseguir dirigir e conversar ao mesmo tempo. Sasuke preferia que seu irmão não fosse tão habilidoso. O pior é que Itachi não conseguia se segurar e tinha que fazer piadinhas sobre o irmãozinho do tipo "Olha só como ele cresceu! Até já tem namorada!". A Sasuke só restava revirar os olhos e se concentrar na paisagem monótona fora da janela pra se desviar da conversa chata do outro Uchiha. Mesmo assim Itachi ainda parecia se divertir. Na verdade, Itachi Uchiha se divertia com qualquer coisa.

Por mais que o tempo passasse, os abraços de Mikoto Uchiha permaneciam mortais. Sasuke precisou dar leves soquinhos nas costas de sua mãe para que ela não o matasse asfixiado. Ser caçula era um problema sério. Seu pai, Fugaku não tinha o mesmo carinho que sua mãe, mas o garoto percebeu pelo olhar do homem que este lhe dava as boas vindas e estava feliz por ter o filho novamente em casa. Sasuke havia aprendido desde pequeno a ler a expressão das pessoas, principalmente de seu pai.

Logo tudo já estava em seus devidos lugares e Sasuke passou a responder calmamente as perguntas sobre seu ano acadêmico e também sobre uma garota de nome Sakura que havia passado a fazer parte da família. Tecnicamente, mas Sasuke já considerava.

Um abraço apertado nos pais parecia não ser suficiente pra matar a saudade da garota de cabelos róseos ao chegar em seu lar. A senhora Mebuki Haruno não podia conter-se de vontade de perguntar à filha todas as novidades do primeiro ano de faculdade, um ano que parecera um século com a garota fora de casa. Sr. Kizashi Haruno era mais contido, mas quem o conhecia bem sabia da sua inclinação para conversas tipicamente femininas e apesar de não parecer, também estava curioso. Mas o que o casal mais queria saber mesmo, era esse tal de namorado que Sakura havia lhes contado ao telefone, há alguns meses, que havia arranjado. Sakura nunca fora uma garota namoradeira, e embora eles desconfiassem dos rolos dela aqui e ali, eles nunca tiveram de fato um genro, portanto a excitação dos dois era grande pra saber quem era o tal.

Sakura conhecia bem seus pais e ela sabia que eles estavam se segurando para não bombardeá-la de perguntas a respeito de Sasuke. Isso a deixava nervosa, principalmente porque a garota não havia lhes contado que Sasuke era... Bem, surdo. A garota sabia que seus pais não ligariam, mas ela não sabia como eles iriam reagir a esse pequeno detalhe. Ela também sabia que deveria já ter contado no dia em que contara que estava namorando, mas por algum motivo (leia-se medo) ela achou melhor deixar pra contar pessoalmente. Quem sabe a reação fosse melhor. De qualquer forma, agora seria a hora.

O casal acomodou Sakura novamente em seu quarto e sua mãe a ajudou a desfazer as malas. Não muito depois o jantar estava servido e os três se sentaram à mesa para comer e conversar. Quando perguntada sobre Sasuke, Sakura respirou fundo e largou seu garfo no prato pra poder conversar melhor.

-Bom... Sobre ele... Tem algo que vocês precisam saber.

A cabeça do casal Haruno já havia começado a imaginar mil e uma coisas que Sakura deveria querer dizer, das mais inocentes até coisas terríveis tipo: "meu namorado é um traficante". Nenhum dos dois se atreveu a dizer qualquer coisa, porém, apenas esperaram que ela falasse o que tinha pra dizer.

-O Sasuke... Ele é surdo.

A princípio um certo alívio percorreu os pais da garota, deu até pra sentir de seu assento à mesa. No entanto, poucos segundos depois ambos lhe perguntaram:

-Como assim surdo?

Sakura se lembrava de um dia já ter feito a mesma pergunta idiota; procurou ignorar esse fato, mas não conseguiu deixar de revirar os olhos.

-Surdo, oras... Ele não ouve nada.

-Então ele fala com as mãos? –perguntou a Sra. Haruno.

-Ele fala linguagem de sinais, mãe... Não é "falar com as mãos"...

-Como você conseguiu um namorado surdo se você não sabe falar essa língua aí? –foi a vez do Sr. Haruno de perguntar.

-Eu aprendi. Entrei numa monitoria de Língua Japonesa de Sinais e aprendi a falar com ele. Tá certo que ainda empaco e erro algumas coisas, mas Sasuke até que tem paciência comigo, me corrige e me ensina o que eu não sei. Ele é bem calmo e gentil...

Ambos os pais da garota perceberam o brilho nos olhos dela ao falar do garoto. A coisa era séria, mas essa agora do garoto ser surdo os havia pegado de surpresa. Já que Sakura nunca havia namorado seriamente antes, os senhores Haruno não sabiam muito bem o que esperar de um genro, mas com certeza nunca esperariam um genro surdo. Naquela noite, Mebuki e Kizashi se deitaram em suas camas, mas permaneceram um bom tempo trocando suas impressões sobre o novo "agregado". Não era ruim, mas era... Complicado. Os dois não sabiam falar LJS, como fariam pra se comunicar com o genro?

-E essa agora da sua filha... –resmungou Kizashi puxando os cobertores ao mesmo tempo em que tentava não descobrir seus pés.

-Por que agora ela é só minha filha? Você fala como se ela tivesse feito alguma coisa errada. Que culpa tem o garoto por não ouvir e ela por ter se apaixonado mesmo assim? Até estou me sentindo orgulhosa da minha filha, amar sem se apegar a essas coisas...

-Ah, então agora ela é só sua filha?

-Ai, Kizashi deixe de ser ignorante, homem!

-Não sou ignorante. Fiquei até curioso pra conhecer o rapaz, mas não seria melhor se ela tivesse nos poupado de tanto trabalho. Eu não sei nem dizer um "oi" nesses sinais aí...

-A gente aprende, oras... Vamos esperar pra ver no que vai dar esse namoro. Se for mesmo sério a gente tenta aprender. Você conhece nossa menina, sabe que pelo gosto pessoal dela ele deve ser um bom menino. Além do mais, ele está na faculdade. Sakura disse que ele cursa psicologia. Psicólogos ganham bem...

-Como ele vai ser psicólogo se é surdo, mulher?

-Nada é impossível. Ele pode ser psicólogo pra surdos ou arrumar um intérprete... Isso não muda o fato de que pode ser que nossa criança se case com um doutor... Muito chique! Como será a família dele? Esse sobrenome Uchiha não me é estranho... Onde foi que eu já ouvi antes? Mas não é um lindo sobrenome? Imagina só, Kizashi, "Sakura Uchiha"! Ah! Adorei! Kizashi? Kizashi! Não durma enquanto eu falo!

Em seu quarto, Sakura estava agradecida pela boa reação de seus pais. Obviamente, eles nada sabiam sobre surdez ou qualquer convívio com pessoas especiais, mas eles poderiam aprender... Na verdade, eles teriam que aprender. Sakura estava decidida a fazer seu namoro com Sasuke dar certo. Ela se casaria com ele. Um dia.

Fim do cap. 9


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Notas finais do capítulo

Não se esqueçam de comentar. Dá a impressão de que não estão lendo quando não me dão um "oizinho" ^_^