Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 49
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

EU SEI QUE VOCÊS QUEREM LER O EPÍLOGO LOGO E NÃO LIGAM PARA ESSES RECADOS, MAS POR FAVOR ME OUÇAM AGORA! Tenho umas coisinhas pra dizer. Começarei com:
Muito, muito obrigada a quem acompanhou minha fic até o fim. Quem comentou, me mandou mensagem, ou favoritou minha história. Eu nem acredito que consegui escrever algo tão longo! Valeu tanto a pena! Vocês me fizeram sentir como se eu estivesse participando de algo muito especial.
Vai demorar um pouco para eu escrever outra fic, principalmente porque eu estou no segundo ano do ensino médio, ou seja, lotada de deveres e provas! Porém sempre vou escrever diariamente, para não desistir do meu sonho de virar escritora.
QUEM QUISER SER AVISADO QUANDO EU COMEÇAR OUTRA FIC (Não sei se continuarei no Nyah!) COMENTA NA REVIEW QUE QUER, OU ENTÃO ME MANDA UMA MENSAGEM DIRETA, PARA EU TER UMA IDEIA!
Espero que gostem do final o mesmo quanto eu gostei de escrevê-lo. Foi uma jornada longa (principalmente porque eu demoro um ano e meio para terminar um capítulo) e eu amei mais que tudo.
Obrigada do fundo do coração, Marina.



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Abri meus olhos ao sentir uma brisa de verão. A janela estava dois palmos aberta, e a cortina flutuava. Meus olhos ainda estavam tentando focar o teto branco, com a luminária bege e preta em cima de mim. Um lençol branco cobria meu corpo até a metade, e eu sentia frio nos dedos do pé. Peguei o celular, o qual estava no chão por causa do curto fio do carregador. Depois de confirmar que tinha acabado de carregar, apertei o botão inicial.

Quatro notificações: uma mensagem da Camila - perguntando onde eu estava, alertando que eu estava dez minutos atrasada -, uma curtida no Instagram, uma ligação da minha mãe e uma mensagem do Alex - "Me passa o endereço da Camila". Respondi as mensagens.

O calendário, pendurado na parede, estava atrasado alguns dias. Por isso, caminhei até ele e marquei a data certa: era dia 22 de março.

Eu estava atrasada para o encontro com Camila, então precisava apressar as coisas. Fui até a cama e cheguei perto do anjo que estava esparramado no lado direito. A paz que seu rosto me trazia era indescritível. Suas bochechas estavam amassadas sobre o travesseiro. Eu coloquei meu corpo sobre o dele, do jeito mais bruto possível e comecei a beijá-lo pelo rosto todo. Rodrigo abriu os olhos e sorriu.

– Bom-dia, linda.

– Bom-dia. Estamos atrasados. Camila nos espera.

– Ah não! - resmungou, colando nossos corpos nus num abraço - Porque não aproveitar nossa falta de roupas e ter um repeteco da noite passada?

– Rodrigo - sorri -, estamos parecendo coelhos esses dias.

Ele riu e deslizou suas mãos até meu bumbum.

– Esses dias? Desde a formatura, você quer dizer.

– Verdade. Olha, eu queria - confessei -, mas nós estamos atrasados mesmo. E nós combinamos com a Cam.

Ele gemeu e eu forcei-o a sair da cama.

– Juliana, eu passei as férias todas naquele apartamento! Já decorei cada centímetro, não estou animado de ir.

– É importante para ela! É como uma comemoração de que o apartamento está pronto.

– Eu já sei que está pronto, fui eu que pintei todas as paredes e ajudei na mudança!

– Eu também tive participação, então não reclame.

– Eu só não sei porque temos que comemorar de manhã!

– Você está nos atrasando.

Obriguei ele a tomar banho, algo que ele insistiu fazer comigo. Tivemos que ser discretos, pois os pais dele não sabiam que eu estava lá. Já tivemos flagras por todo o verão, sempre na manhã, e Valéria estava quase me proibindo de entrar naquela casa. Fazia questão de me envergonhar com perguntas como "Que camisinhas vocês usam?".

Depois de nos vestirmos, caminhamos até o novo prédio da Camila. Como era a apenas um quarteirão de distância, estávamos lá em poucos minutos. Fomos até o sexto andar, apartamento 604. Apertamos a campainha, e Rafael atendeu.

– Bem-vindos a nossa casa! - disse ele, sorrindo - Vou fazer um breve tour para vocês. Isso daqui é uma parede, e pendurado vocês podem ver um relógio. Creio que vocês nunca viram um, porque estão quase trinta minutos atrasados.

Eu e Rodrigo nos entreolhamos e seguramos o riso.

– Desculpa, Rafa. É porque eu pedi para alguém colocar despertador, só que esse alguém é obviamente surdo.

– Não - discordou Rodrigo -, esse alguém não foi notificado e acha injusta a acusação.

– Tanto faz - disse Rafael, balançando os ombros - Só a Camila que está estressada com isso. Ela está na cozinha. Antes de vocês irem lá, é melhor eu checar se ela está perto de alguma faca.

Assim que o loiro virou as costas, começamos a rir, até vermos Cam se aproximar com pressa. Eu fui pra trás do Rodrigo, meu escudo pessoal.

– Vou estrangular os dois! - gritou ela - Esse namoro não está fazendo bem! Só pensam em vocês!

– Tenho que te relembrar que passamos metade do verão aqui na sua casa? Fazendo o que mesmo, Rodrigo?

– Ah, acho que ajudando a arrumar tudo! - completou ele - Somos amigos ingratos.

– Vocês ajudaram muito. Ainda mais quando ficavam sentados no chão se beijando, já que não tinha móveis, transformando meu novo lar num estúdio de filme pornô!

– Calma aí, gente - falou Laura, aproximando-se por trás - Que tal parar essa discussão? Por mais que eu ache ela hilária, acho melhor conversarmos sobre tudo está lindo aqui! Parabéns, Rafa e Camila. Estou quase convencendo Alex a nos mudarmos para esse prédio.

O cabeludo finalmente se juntou a nós, usando uma regata cinza, como se tivesse acabado de acordar.

– Isso mostra a vocês como ela é apaixonada por mim - disse ele - Namoramos a dois meses e ela já quer morar comigo. Uma fofa.

– Idiota - gargalhou ela, exibindo bochechas coradas, e beijando o garoto.

Camila nos levou até a cozinha, onde exibiu sua nova cafeteira. Rodrigo introduziu o assunto cadê-o-café-da-manhã-porra com sutileza. Rafael jogou uns pães cansados e apontou para a torradeira.

Estávamos conversando sobre planos e algumas coisas aleatórias, quando Laura quase engasgou, dizendo:

– Vocês ainda não me contaram como está a faculdade de cada um!

Fizemos um coro de preguiça: já tínhamos repetido aquela história mil vezes, para cada familiar, cada amigo. Era exaustivo só pensar em falar de novo.

– Parem de resmungar! Juliana, você é a primeira. Alex me contou que você vai ser escritora.

Gemi de modo estranho, como se não fosse bem assim.

– O plano é virar escritora, mas caso dê algo errado, virarei professora de português, já que o curso de Letras é mais voltado pra isso. Mas imagina só eu sendo professora, que desgraça!

– Relaxa, amor - falou Rodrigo, colocando sua mão na parte interna da minha coxa - Nós confiamos em você. Seus livros vão ser tão bons, que começará uma revolução literária aqui no Brasil.

– Cala a boca - e ri.

– Também acho! - disse Camila, ajeitando-se na cadeira vermelha - Só me promete que quando seu livro virar filme, eu vou ser a atriz principal.

– E eu vou ser a diretora! - gritou Laura - Não sei se vocês sabem, mas eu estou fazendo faculdade de Cinema. Sei que o Alex nem comenta meu nome, então tenho que atualizar vocês pessoalmente.

– Menina, se você soubesse o quanto que ele é orgulhoso de você por isso - falei a verdade - O Alex se gaba toda hora por causa da sua namorada cineasta.

Todos afirmamos com a cabeça e ela sorriu como se tivesse ouvido a melhor coisa do mundo. Alex fingiu que nunca tinha dito tal coisa, o que fez a namorada o empurrar.

– E você, Rodrigo? - perguntou ela - Como está a faculdade?

– Mal. Terrível. A pior coisa que já participei. Pensando em virar mendigo.

Coloquei minhas mãos no rosto dele, tampando completamente.

– Ele está brincando, Laura - falei - O Rodrigo não entrou em faculdade nenhuma.

– Porque? - lamentou ela - Não encontrou uma que gostasse?

Senti a boca dele abrindo-se e sua língua lambendo a palma da minha mão, fazendo-me reclamar de nojo, e esfregar sua saliva na minha calça. Agora, livre de minhas garras, ele respondeu por si.

– Na verdade, eu entrei para várias universidades excelentes, mas preferi dar uma chance para o meu sonho verdadeiro: virar musico. Sei que é muito complicado, sei mesmo, mas meus pais tem fé que eu vou conseguir. De vez em quando, eu fico meio em dúvida se estou indo pro caminho certo, aí vem essa galera aqui e me convence. Sei que metade do que eles dizem é mentira, mas o que importa é a intenção.

– Isso aí - apoiou a ruiva - Mas eu achava que sua banda tinha acabado... The Beginners, certo?

– Acabou por um tempo, porque a vocalista se mandou, e era ela que bancava tudo, tinha todos os contatos. Mas no ano novo eu encontrei com uns caras da banda e nós conversamos e decidimos voltar. Fizemos audições e não encontramos nenhum cantor bom. Então umas semanas depois uma prima minha veio visitar a cidade e eu peguei-a cantando durante um passeio no lago, e ela é bem melhor que a Sarah. Depois de dias tentando convencê-la, ela aceitou e está tudo dando certo.

– Que sorte!

– Sim. É bom porque ela é uma pessoa bem responsável. Tenho certeza que ela não vai nos deixar na mão, por isso que ela demorou pra confirmar: ela pensa bem antes de tomar uma decisão. E ela é fotógrafa, então tem um emprego mais flexivel. O mais legal é que ela confessou querer ter uma carreira musical, mas nunca achou uma equipe boa o suficiente.

– Uau. Incrível, tudo está dando certo pra vocês dois! Um casal de uma escritora foda e um guitarrista foda.

– Ou então - disse Alex -, um casal de uma futura escritora fracassada e um musico que toca em um bar sujo nas quartas.

Olhamos para ele, até o garoto começar a rir e jurar ser uma brincadeira. Todos nós sabíamos, porém fingimos indignação.

– Peço desculpas pelo desmiolado do meu namorado. Que bom que eu entrei na vida dele para balancear esse pessimismo.

Concordamos. Laura fizera um bem notável em Alex. E ele fazia nela também.

Camila foi pegar um suco na geladeira e distribuiu copos para nós. Enquanto colocava o líquido para nós bebermos, a ruiva voltou a perguntar sobre nossas vidas.

– E quanto a você, Cam?

– Eu não entrei em nada que eu gostasse. E sinceramente, não fiquei tão chateada, porque eu ainda não me encontro em um lugar onde eu sei o que eu quero da minha vida. Tipo, todo mundo dessa sala tem uma ideia, por mais vaga que seja, mas eu não tenho. Aí quando eu comento isso, as pessoas falam "Porque não Medicina? Porque não Direito? Porque não sei-lá-o-que?" e eu digo não a tudo! Eu sei o que eu não quero fazer.

Ficamos calados olhando para os lados, todos imaginando o que dizer para ajudar. Eu estava sem frases feitas, já tinha as gastado nas milhares conversas sobre o assunto que eu tive com Camila. Vi Rodrigo observando o local todo, as cores vivas nas paredes, combinando harmoniosamente com os objetos abstratos. Ele olhava a simetria das coisas, como tudo foi tão planejado, e mesmo o apartamento não sendo grande, parecia maior do que realmente era. Rodrigo abriu a boca e eu soube o que ele ia falar.

– Camila, foi você que escolheu tudo aqui? Que cores usar, que móveis comprar, onde colocar e toda essa porra?

Ela estava prestes a responder, tirando uma mecha do olho, quando Rafael disse primeiro.

– Sim. Tudo ela. Eu não pude nem dizer A.

– Isso não é verdade! - disse ela, exaltada - Você escolheu... Essa mesa de centro, por exemplo.

– Não. Eu queria uma maior e verde.

– Ah - frustrou-se - Não é minha culpa que seu gosto é péssimo. Se fosse maior, não daria para cobrir o tapete de modo que as estampas ficassem na mesma distância, e tudo ia ficar acumulado! O ambiente iria ficar sobrecarregado! E o tapete tem esse tom meio amarelado. Eu não queria uma sala à la bandeira do Brasil!

Rodrigo e eu nos entreolhamos. Bingo.

– Você já pensou em fazer Design de Interiores? - perguntei, vendo os olhos delas brilharem na hora.

– Design? - repetiu ela, franzindo o cenho - Não, nunca passou pela minha cabeça.

– Amor - começou Rafa, sorrindo -, confesso que sempre admirei sua escolha quanto a ambientes. Sempre acha móveis modernos e bem desenhados, sempre procurou uma composição harmônica do lugar... Achava que era um dom, agora vejo que pode ser uma profissão!

– Vocês estão loucos... - disse ela, com as maçãs do rosto avermelhadas - Acham mesmo que daria certo?

O grupo balançou a cabeça e fez a menina sorrir.

– Vale a pena tentar - falei.

Ficamos por um tempo conversando sobre isso, e cada vez mais Camila aderia a ideia. Realmente, ela sempre teve facilidade nisso, e adorava ter uma revista de decoração no criado mudo. Depois de uns dez minutos no assunto, Laura voltou para sua pergunta inicial.

– Agora só falta o Rafael.

– Bem, - iniciou ele, depois de beber o suco de caixa - eu irei honrar a minha família e virar médico. Praticamente todos os meus tios são, então eu sempre me familiarizei com o meio. Aos quinze eu decidi que seria pediatra.

– Algum motivo porquê? - indagou Alex.

– Acho que deve ser um emprego mais leve e o salário não é nada mal... Eu só não quero viver estressado que nem meu pai, que é cardiologista, e o meu tio Anderson, neurocirurgião.

– Isso é pesado - comentou Rodrigo, e Rafael concordou.

– Ninguém vai perguntar como está a minha faculdade?! - resmungou Alex, levantando os braços rígidos.

– Como está sua faculdade? - dissemos em uníssono.

– Eu saí.

Laura berrou um o quê gigante no ouvido do namorado, fazendo-o gemer de dor. Começamos a falar simultaneamente, até que o próprio nos calou com um berro.
– Gente, eu não queria aquilo. Minha mãe ainda não sabe.

– Alex, como você pôde sair sem mais sem menos - tagarelou Laura, sendo interrompida em seguida.

– Olha pra mim, gente. Eu? Advogado?

Três pontinhos definiriam bem o silêncio que veio.

– Não tinha sentido eu continuar naquela merda de curso. Nem sei como sequer entrei. E isso tudo é uma putaria, porque eu estudei que nem um condenado pra entrar num curso que eu nem quero. Meus pais podem me bater o quanto querem, eu sou maior de idade e não vou fazer algo que eu odeio. Eu não sou um cara que julga, eu que sou o julgado da história.

Mais silêncio.

– Que profundo, cara - disse Rodrigo, e nos gargalhamos.

Bem nesse instante, ouvimos um toque de telefone. Como era uma música de uma boyband, sabíamos que era da Camila. Ela se aproximou do celular e deu um gritinho, mostrando-nos o que tinha recebido.

Era uma imagem do João, em frente a uma casa pequena e bela. O jardim tinha arbustos com flores, e o gramado estava alto. O céu por trás era azul bebê, com apenas uma nuvem perdida e pequena no centro. Raios de luz solar invadiam a foto e tampavam centímetros do corpo do garoto. Do seu lado, Manuela repousava com um braço envolvendo. A mulher nunca esteve tão bonita, seu sorriso radiava, segurando uma chave com a ponta dos dedos. O casal tinha comprado uma casa.

Eu fiquei muito alegre. Comuniquei-me apenas duas vezes com o garoto desde o último dia de aula. Não o vi nem na formatura, já que João quis voar para a Alemanha o mais rápido possível. Nas nossas poucas conversas, João deu poucos detalhes, como sempre, apenas garantindo que tudo estava incrível. Confirmei o fato quando vi seu sorriso imenso na foto. Eu estava meio sentimental naquele dia, impressionada como tudo estava correndo bem. Aquilo me fez ter vontade de chorar.

Fiquei ainda mais emocionada quando, no meio do almoço, Hugo me ligou. Eu estava numa churrascaria lotada, e o garçom estava sem paciência. Depois de olhar pela terceira vez o cardápio, meu bolso vibrou. Ao ver o nome, pedi ao garçom para ele esperar um pouco. Ele virou de costas e foi atender outra mesa.

– Alô?

– Juliana!

– Hugo! - berrei - Que bom que você me ligou! Pensei um dia desses em você, quando eu fui sequestrada no parque, por um homem de dois metros com o coração partido.

Ele deu uma gargalhada alta e soltou um grunhido.

– Sacanagem. Achei que você estava feliz mesmo em ouvir notícias.

– Claro que estou - falei alto - Eu te liguei umas três vezes, sem retorno até este exato momento.

– Desculpa, eu estive bem ocupado estes dias.

– Problemas com a lua-de-mel? - e rimos juntos.

– Voltamos ontem da viagem. Foi incrível.

– Viu? Economizar o salário da Sarah foi um bom negócio.

– Foi sim - disse ele, enquanto eu olhava para meus amigos, conversando sobre algum assunto rotineiro.

– Você me ligou para dar alguma notícia ou só pra ser legal mesmo?

– Duas notícias pra contar.

– Ótimo - vibrei - Diga.

– A primeira, é que eu arranjei uma entrevista de emprego. Na verdade, a minha esposa arranjou - ele disse "minha esposa" com tanta convicção que foi revigorante ouvir - É de uma empresa do primo de segundo grau dela. Ele disse que quer me dar o emprego de cara, mas é preciso essa formalidade para ver se eu tenho as habilidades necessárias e etc. O cargo é alto e eu vou conseguir um salário maior do que eu ganhava com a Sarah.

– Nossa, que bom! Estou muito feliz por você! - e eu estava - Em falar na loira oxigenada, você sabe onde ela está?

– Ih, meu único amigo do ex emprego disse que ela se mudou pra sei lá onde na Europa. E foi decisão dos pais, depois de receberem reclamações de uns colegas do colégio. Sim, contaram pros pais sobre a história da Senhorita X. A parte superficial, o do senso comum, que é um blog maldoso de fofocas. Isso foi suficiente para eles ficarem putos e obrigarem uma mudança definitiva.

– Uma cidade sem aquela garota. Parece um sonho.

– Talvez seja. Juliana, não sei se eu já lhe agradeci por ter me convencido a sair daquele lugar. Foi tão importante pra mim, não tenho palavras suficientes! Eu estou vivendo a melhor fase da minha vida, nunca estive tão sorridente.

Meus olhos começaram a arder.

– Que isso, Hugo. Muito bom ouvir isso.

– Muito bom falar isso. Porque se você nunca tivesse sido sequestrada, eu nunca estaria aqui te contando a notícia dois.

– Ah, é! Me diz logo!

– No último dia da viagem, minha mulher descobriu que está grávida.

Eu quase tive um ataque no meio do restaurante. Tentei reduzir minha animação num simples chacoalhar de corpo, e uma mão cobrindo a boca.

– Você está brincando?

– Não, nem um pouco! Um filho, Juliana! Eu vou ser pai! Vou ensiná-lo a jogar futebol!

– Ou uma filha.

– Uma filha - pausou - Imagina ter uma princesinha perambulando pela casa, toda vestida de rosa? Eu posso ensiná-la a não se meter com caras perigosos e mau-intencionados. Caras que nem eu.

Depois de rir sobre isso, conversamos um pouco mais no celular, até que o garçom voltou, perguntando meu pedido. Desliguei a ligação no segundo que vi como o homem uniformizado me olhava.

Após comermos, eu e Rodrigo decidimos ir para casa. Caminhamos pela calçada decorada por sombras das árvores, rachadas em suas extremidades. A terra sujava meu calçado e eu gostei disso. Eu me sentia tão leve, e era estranho. Sempre teve algum problema pra resolver, e agora eu percebia que era inútil se preocupar com isso. Talvez a clareza do amadurecimento tinha finalmente atingido, e grande parte por causa do Rodrigo.

Oh, Rodrigo. Sua face clara com tons amarelados pelo sol forte, seus olhos penetrantes que enxergavam minha alma, seu maxilar duro e quadrado, suas mãos doces e longas, seu corpo viciante. Oh, Rodrigo. Não podia ser normal querer tanto alguém. Era doentio. Nossos olhos se encontravam por milésimos e aquilo era suficiente para eu querer beijá-lo. Eu o queria o tempo todo, e talvez fosse só uma fase, mas parecia mais. Sempre me pareceu mais.

Quando chegamos na casa dele, tivemos a felicidade de encontrar um bilhete na mesa, os pais avisando que voltariam dentro de duas horas. Rodrigo virou-se para mim com o sorriso mais engraçado e tarado do mundo.

– Duas horas. Sobra tempo a beça, caralho.

Pulei no colo dele e nos beijamos até chegarmos no porão, onde ele me jogou no colchão e já quis tirar as roupas com rapidez. Neguei com a cabeça e fiz-o deitar.

– Hoje a gente tem bastante tempo.

– Ah não, preliminares não.

Sorri enquanto tirei meu sapato com calma. Nos beijamos por uma meia hora, e tivemos a melhor transa que já tínhamos feito. Terminei ofegando bastante, e Rodrigo parecia exausto. Entrelacei nossos corpos e senti sua pele quente perto da minha. Ficamos apenas nos olhando por um tempo, até que eu fiquei envergonhada e virei o corpo. Rodrigo abraçou-me por trás e nós ficamos de conchinha por um tempo, até que ele colocou uma bermuda e foi até um CD Player, clicando no play. Botei uma camisa larga que repousava ao lado, e ouvi o violão tocando.

(Vocês sabem como funciona http://www.youtube.com/watch?v=8nOEO7Hm7rg )

– Me concede essa dança? - perguntou ele, e eu sorri.

Rodrigo me puxou para fora da cama, colocando sua mão em minhas costas. Eu me sentia segura. Balançamos nossos corpos semi-nus, até a voz melódica preencher nossos ouvidos.

– Não consigo olhar no fundo dos seus olhos e enxergar as coisas que me deixam no ar, deixam no ar. As várias fases, estações que me levam com o vento, e o pensamento bem devagar. Outra vez, eu tive que fugir, eu tive que correr, pra não me entregar... Às loucuras que me levam até você, me fazem esquecer que eu não posso chorar.

O ano anterior me marcara de dez mil formas, e eu nunca iria esquecê-lo. O primeiro beijo, a primeira paixão... O primeiro coração partido. Pessoas maravilhosas passaram por mim, e outras nem tanto, mas todos deixaram seu nome estampado na minha história.

– Olhe bem no fundo dos meus olhos e sinta a emoção que nascerá quando você me olhar... O universo conspira a nosso favor. A consequência do destino é o amor. Pra sempre vou te amar... Mas talvez, você não entenda essa coisa de fazer o mundo acreditar que meu amor não será passageiro. Te amarei de janeiro a janeiro até o mundo acabar.

Pensando bem, houve uma evolução não só em mim, mas em todos a minha volta. Não éramos mais os adolescentes descuidados e medrosos. Agora, éramos jovens adultos... Ainda descuidados e medrosos.

Era doloroso olhar para trás e ver essa parte indo embora. Desde pequeno você está acostumado com o colégio, e todo seu sistema. Meu maior medo era saber o que aconteceria quando isso acabasse. Se eu me sentiria perdida, sem rumo. Agora eu enxergava melhor. Nos braços de Rodrigo, notei que crescer era tudo que eu sempre quis. As possibilidades eram infinitas. Era libertador.

Eu me sentia como um pássaro pequeno e frágil, o qual tentaria dar seu primeiro voo. Ajeitou as patinhas infincadas no tronco, e sentiu a brisa passando por sua face. Agradeceu por estar vivo. O animalzinho sabia: haveriam quedas, machucados e obstáculos ao longo do caminho... Mas foi para isso ele treinou tanto. Todo aquele tempo serviu para prepará-lo para ter coragem de dar o grande pulo. Estava confiante, feliz. Pronto para abrir as asas.

– Até o mundo acabar - sussurrou Rodrigo.

– Até o mundo acabar - confirmei, sorrindo.

A música foi deixando o cômodo de pouco em pouco, e eu não queria soltar o corpo dele. Rodrigo segurou meu rosto e depositou um beijo no canto esquerdo dos meus lábios.

– Devia ser proibido amar alguém desse tanto - disse ele, como se estivesse indignado.

– Sim. Você deveria escrever uma música para chamar a atenção do governo, pra ver se criam uma lei ou algo assim.

– Ah. Ótimo, mais uma coisa para fazer hoje.

– E qual é a outra?

– Me declarar pra você pela quinquagésima nona vez.

– Oh não! - brinquei - Me livra dessa, vai.

– Não mesmo - respondeu, limpando a garganta em seguida - Juliana, você sabe o que eu sinto por você, não é? E também sabe o quanto eu estou feliz que estamos juntos, certo?

– Certo.

– Você me faz muito, muito alegre, e eu estou já cansado de tanto sorrir. Meu maxilar dói!

– Peço desculpas por isso - e ri baixinho.

– Por mais irritante que você possa ser, eu te amo pra caralho e não quero viver um segundo sem estar do seu lado.

– Meio psicopata da sua parte.

– Cala a boca! - resmungou ele, rindo - Deixa eu terminar isso logo.

Percebi que suas mãos tremiam.

– Todo dia você me surpreende, me mostra uma parte sua que eu não conhecia. É excitante estar com você. Você me motiva de um jeito que ninguém mais consegue... E eu... Eu fico muito animado quando percebo que te encontrei. Quer dizer, mais da metade da população mundial passa a vida tentando achar o amor da sua vida. Grande parte não acha. Eu sou tão novo, me sinto tão sortudo e tão abençoado por ter você.

Ele colocou a mão no bolso e ajoelhou-se no chão de madeira. As emoções transbordavam por sua voz trêmula.

– Todo mundo diz que a morte é a única certeza que temos. No meu caso, além disso, tenho a certeza absoluta e inquestionável que eu vou sempre, sempre te amar.

E com isso, pegou uma caixinha preta e segurou minhas mãos. Meu coração estava batendo mais rápido que tudo. Senti lágrimas correrem para fora de meus olhos, quando ele disse:

– Juliana, você quer se casar comigo?


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