Último Romance escrita por Marina R


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Então galera, estou nervosa, primeiro capítulo que eu posto... Espero que vocês gostem ♥



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Como toda adolescente em seu estado natural, eu não queria ir para o colégio. Ainda mais porque era o primeiro dia de aula. O primeiro dia do meu último ano escolar. A cada ano o primeiro dia era a mesma babaquisse planejada: todos os professores entravam na sala, apresentavam-se, ridicularizavam-se e faziam perguntas desnecessárias e vergonhosas sobre nós, pobres alunos; de vez em quando um aluno novato chegava; e sempre os alunos antigos se entreolhavam, e com um gritinho ou um gemido, iam se abraçar e começavam a perguntar compulsivamente sobre como tinha sido as férias de cada um.

Esses momentos de reencontros e novidades normalmente eram bem recebidos pela maior parte do colégio. Mas eu nunca gostei do primeiro dia. Ainda mais que para mim não tinha muita coisa pra se animar. Eu não era amiga nem de metade da sala, logo eu não tinha esses momentos de "Ai, amiga, que saudade!". Até porque só tinha dois amigos: Camila (nossa amizade começou em um certo dia na segunda série, quando Camila deixou o seu sanduíche de manteiga de amendoim cair no chão e eu, para fazer ela parar de berrar, dividi meus Chettos. Viramos melhores amigas instantaneamente) e Rodrigo (meu melhor amigo desde que eu me conhecia por gente, já que ele era meu vizinho. A janela de seu quarto era virada para a minha e etc). Então quando um ano novo começava, não tinha muito com o que se emocionar já que nós três nos víamos todos os dias, literalmente.

E além desse meu movimento contra o primeiro dia, estava garoando. E quem pode suportar um dia no colégio quando você está debaixo das cobertas, quentinha, e lá fora está chovendo?

Porém eu não podia ter o luxo da ideia de cabular a aula passar pela minha cabeça pois esse ano os meus pais estavam de olho em mim, já que minha irmã mais velha, Raquel, tinha finalmente ido para sua faculdade. Apesar que agora sem ela a casa estar muito mais tranquila, eu não podia nem espirrar em paz sem que os meus pais gritassem alguma coisa.

Além disso, já havia olhado para a janela e visto o Rodrigo descendo as escadas. Precisava me apressar.

Peguei uma maçã meio verde como café da manhã e sai de casa. Sorte que havia parado de chover, senão seria mais uma ida ao colégio cheia de tombos e roupas encharcadas.

– Bom dia, Ju - disse ele, apelidando-me. - Preparada para o primeiro dia de aula?

Olhei para o Rodrigo com uma cara séria e dei uma mordida raivosa na maçã. Ele riu.

– Ah, fala sério, você não está afim de ver como está a Fernanda?

Aquilo me rir tanto que quase engasguei com a mordida da maçã que dera.

– Claro! - falei - Quanto silicone você acha que ela botou esse ano?

Ele deu uma risada alta e sussurou:

– Como aquilo não explodiu até hoje? Não me leve a mal, eu não tenho nada contra peitões mas aquilo é anormal.

– Também acho - falei - Como a gente ainda não viu ela num cartaz de filme para mais de 18 anos no cinema? Quero dizer, como algum produtor de filmes pornô não contratou ela? Do jeito que ela ama chamar a atenção, aceitaria num piscar de olhos.

Ele deu mais uma risada.

– Tadinha, a gente sempre fica zoando ela, vamos parar - arrependeu-se - Além disso, ano novo, vida nova! Vamos começar do zero!

– Ah não, esse discurso de novo não, Rô!

– Mas tem que pensar assim, Ju - ele disse com seu sotaque carioca forte, olhando para o céu acizentado - Pronto, chegamos.

O colégio estava o mesmo, com aquelas paredes pintadas de laranja e branco e o chão escorregadio. Ao entrar na sala, tudo também era o mesmo. As mesmas carteiras com desenhos a caneta, com as mesmas pessoas - incluindo a Fernanda Peitão com aquele seu uniforme justo.

A Camila chegou um pouco atrasada, com a respiração ofegante. Achei que era porque ela tinha corrido para chegar no horário ou algo assim mas logo depois entrou o Bruno, com o rosto avermelhado e com um sorriso de satisfação enorme no rosto. Quando ele passou, senti nitidamente o cheiro do perfume da Cam, Tommy Girl, e também do gloss favorito dela, de morango. Ah, aqueles dois adoravam um contato físico.

Porque apesar da Camila andar comigo, ela não era nada anti-social. Ela conhecia praticamente toda a escola, assim como seu peguete, Bruno Soares. Eles eram umas das pessoas mais populares do colégio.

Por isso que quando, no segundo horário, um garoto chegou atrasado, eu não pensei duas vezes:

– Você sabe quem é ele? - falei, apontando discretamente para o tal garoto, depois que ele pedira a permissão do professor para entrar.

Seu cabelo era cacheado, com fios pretos e estava todo bagunçado. Seu rosto pálido estava levemente rosado nas maças do rosto, dando um ar angelical. Tinha uma barba mal feita e usava uma jaqueta de couro preta para combinar com sua mochila desgastada.

– Ih - sussurou Camila, interrompendo-me de meus pensamentos - O carinha mal entrou e você já está afim dele? Deus do céu! - riu ela, debochada.

– Não é isso... Eu só estou curiosa - falei, desviando o olhar - Vai falar que você não sabe quem ele é?

– Impressionantemente... Não - disse ela - Mas me dê até o final do dia, vou descobrir tudinho dele pra você, criança apaixonada.

Corei com a história de estar apaixonada. É, eu ficava vermelha com praticamente tudo. Era uma droga.

– Não estou apaixonada! - indignei-me - É só um leve interesse.

E foi bem nessa hora que o garoto de cachos olhou para mim. Não sei explicar o que houve. Foi como se existisse um imã entre nós, um imã que me fazia querer nunca parar de olhar no fundo dos olhos dele. E, ah, que olhos. Eram verdes, profundos e hipnotizantes. Não tenho certeza quanto tempo aquela encarada durara, só sei que só parei de olhar para ele quando a Camila estalou os dedos na frente do meu rosto.

Ao contrário do garoto de olhos verdes e cachos pretos, eu tinha os olhos mais desinteressantes do mundo: a íris preta, para combinar com o preto da pupila. Tem como ser mais sem-graça?

– Ai! Caraca, que susto Cam - berrei.

– Juliana, é legal flertar mas se passar de dez segundos o olho-no-olho o cara já perde o interesse porque vê que você é fácil - Cam explicou - Garotos que acham que te tem na palma da mão não tem atração por você.

Além de popular, Camila era a pessoa que mais sabia sobre garotos e como fazer eles gostarem de você. Ela sabia tanto que estava de caso com o cara mais gato e disputado do colégio, Bruno. Mas ela pelo jeito não sabia explicar direito pois ela me dava um conselho todo dia e eu ainda nem havia dado um beijo na boca.

– N-Nem estava flertando - gaguejei - Até porque eu não sei como fazer isso.

Uma gargalhada estrondosa saiu da boca de Camila, o que fez Rodrigo se aproximar.

– O professor tá de olho, é melhor vocês pararem de conversar - ele disse baixinho.

– A Ju não sabe como flertar, Rô - falou Camila, com aquele ar debochado de sempre.

Ao contrário dela, Rodrigo ficou sério e respondeu calmamente.

– Claro que sabe - ele falou, franzindo o cenho.

– Ela diz que não - falou Cam - Acho que alguém vai ter que te ensinar, Ju, se você pretende ter alguma coisa com o novato gato.

Eu já ia dizer que não queria ter nada com ninguém e era melhor nós pararmos de conversar porque o professor estava mesmo olhando para nós com uma cara enfurecida mas o Rodrigo falou primeiro.

– Hã - indagou ele - Que novato?

A Camila parou por um segundo, olhou para ele com um olhar estranho e disse vagarosamente:

– Bom, a Juliana tá meio que de olho naquele garoto ali - ela apontou para o menino. Ele estava escrevendo em um caderno rapidamente.

Rodrigo franziu a testa e depois fez uma cara bem assustada ao ver o garoto, como se tivesse visto um fantasma.

– Não estou de olho em... - eu disse até ser interrompida.

– Saiam da minha aula! - berrou o professor, fazendo os alunos adormecidos darem um pulo em suas cadeiras.

E lá fomos em direção a coordenação. Ganhamos uma advertência e mandaram-nos ficar todo dia depois da aula na detenção, por uma semana.

Mas acontece que naquele colégio, tudo dependia de quem você era. Então, naturalmente, as punições foram diferentes.

A Camila tinha um pai muito influente na escola, que doava todo ano uma tonelada de dinheiro para o colégio fazer melhorias gerais. Então era só ela falar "Oi, eu sou a Camila Campos" que as secretárias começam a riscar o papel de advertência.

O Rodrigo, querendo ou não, era uma figura importante na escola. Ele nem era muito popular, como eu, mas o nosso colégio tinha uma longa história de prêmios musicais. Deixe-me explicar melhor: ele sabia tocar violão como ninguém. Ele que levou o colégio a fazer um recorde de prêmios consecutivos. E levando em conta que as aulas de música eram exatamente no horário da detenção, livraram-o dessa. Mas como ele não carregava o sobrenome Campos, levou uma advertência.

Agora eu? Eu não fazia nenhuma atividade extra-curricular. Não tinha talento. Anti-social era o meu segundo nome. E acima de tudo, não tinha parentes tão ricos que iriam mandar uma quantia excelente anual para a sua instituição de ensino. Por isso eu ganhei uma advertência, uma ida à detenção e uma cara feia vindo da secretária do diretor.

Depois de todos os horários, o sofrimento do primeiro dia de aula tinha acabado. Almocei sozinha na cantina e fui à detenção.

Era mais uma sala típica do colégio, com desenhos pornográficos na parede, chiclete debaixo da carteira e quadro negro cheio de escrituras feitas por giz.

Sentei-me na última carteira, que ficava encostada na parede áspera de tijolos.

De cabeça baixa, eu não percebi quem estava entrando, só levantei meus olhos na hora que eu ouvi passos de salto alto. Com certeza era a Sra. Martins, professora de biologia. Ela só entrou, escreveu Celulares desligados, bocas fechadas e cabeça aberta no quadro (seja lá o que ela quis dizer com isso) e falou:

– Vocês já sabem os procedimentos. Eu vou sair para ir na sala dos professores e quando eu voltar, não quero ver ninguém conversando, mexendo no celular, escrevendo no quadro, etc. Entenderam? - todas as cabeças balançaram em afirmativa - Ótimo. E começa agora as duas horas de reflexão de vocês - ela virou a cabeça, empinando o nariz arrebitado e saiu com seus saltos altos de dez centímetros.

Foi só ela fechar a porta que começou um barulho ensurdecedor.

Fiquei incomodada até ver quem estava sentado duas carteiras na minha frente. Sim, era o garoto dos cachos. E do lado dele estava um garoto de cabelo loiro e traços finos que eu tinha a impressão de ser um novato da minha sala. Eles estavam conversando de um jeito bem animado até que o tal garoto loiro notou minha presença.

– Ei - disse ele sorrindo - Você é da minha turma né?

– Hm, não sei - falei - Você é da sala 505?

– Isso mesmo - sorriu.

–Ah! - lembrei-me - Você é o que fez a piada sobre o professor Carlos estar desafiando as leis da física por causa do peso dele né?

Ele começou a rir.

– Porque você acha que eu estou aqui? - disse ele, fingindo estar magoado.

– Mas foi maldade, de qualquer modo - falei.

Nessa hora que eu percebi que o garoto dos olhos verdes estava me olhando. Instantaneamente senti minhas bochechas queimarem. Além de seus olhos estarem num encontro maravilhoso com os meus, ele estava com um sorriso torto que, sinceramente, fez minha barriga dar um embrulho esquisito.

– Qual é o seu nome? - disse o garoto loiro, se ajeitando na cadeira.

– Juliana - respondi - Mas pode me chamar de Ju, ou sei lá.

– Ok, Sei Lá, meu nome é Rafael - brincou ele - Mas tem gente que me chama de Rafa.

– Bom, a mãe dele o chama de Moranguinho - disse o garoto de cachos, fazendo-me derreter com a sua voz aveludada e lenta. Ele começou a rir logo em seguida, fazendo covinhas surgirem em sua bochecha. Ah, eu estava enlouquecendo.

Rafael deu um empurrão no garoto com o comentário. Aí foi a minha vez de rir e tentar ser mais sociável.

– E você, hm, qual é o seu nome? - falei para o garoto, sem coragem de olha-lo nos olhos.

– É... - ele disse até ser interrompido por um trecho de Are You Gonna Be My Girl?, da banda Jet, pelo jeito o toque de celular dele - Ah, oi... Hã? Que isso! Ha, ha, para... Bom, eu estou na detenção. Nossa, que saf...

Então ele olhou para mim e para o Rafael e começou a sussurrar. Seja lá quem ele estava conversando, era uma pessoa importante. Logo depois dele desligar a ligação com a pessoa misteriosa, a professora voltou para a sala, como prometeu, e ficou lá até o fim, impedindo as possíveis conversas entre eu-Rafael-e-garoto-que-eu-estava-louca-para-saber-o-nome.

Peguei um ônibus de volta a casa. Quando dei o meu primeiro passo dentro de lá ouvi minha mãe dar um berro:

– Meu amor, é você? Tem visita!

Sempre quando tinha visita, minha mãe ficava automaticamente mais agradável. Nos dias comuns, quando eu chegava em casa, mal "oi" ela dizia para mim.

– Venha rápido, querida, estamos na sala!

E quando eu cheguei, era ninguém menos que...



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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?! Meu Deus, não importa se vocês acharam horrível, por favor comentem!... Espero que vocês tenham gostado do primeiro capítulo :) Beijos.