Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 131
Insanidade


Notas iniciais do capítulo

OLááááhahah! COmo vão? Tudo bão? Espero que sim. Então, cap de hoje era para ser uma coisa bonita por causa do natal.... Mas não! Muitas coisas tensas acontecem, então boa sorte!
Capa: editada pelo Paarthurnax
Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/346733/chapter/131

Desde o início, Jin apenas assistiu. Ficou imóvel, olhando seus amigos se machucarem e serem levados para longe dele. Não pôde fazer nada. Ao menos, tinha tentado, e falhado como os demais. Ninguém teve a força necessária para ajuda-la.

Apenas ela tinha essa força.

Como todos à sua volta, Jin entrou em desespero ao ver Elesis ser entrega ao Conselho. Mas não a Elesis que conheciam, a dona das chamas. E para piorar, Lass é o próximo a ser levado. O lutador se segurou no lugar, sabendo que sua intromissão pioraria a situação. Assim, assistiu seu amigo ser pego à força e levado junto com a espadachim.

Quando os soldados se vão, um vazio é deixado para trás. O que fazer a seguir?

— O que vamos fazer agora? – Pergunta Dio. Olha para todos, a expressão de cada deixando uma resposta vaga. – Vamos apenas assistir?

— É o Conselho. – Grandiel fala. Lentamente, cai sentado no chão, quase desabando para o lado. – Não podemos fazer nada.

Lothos joga as mãos na cabeça. Ela se afasta enquanto murmurava algo para si.

Jin assisti seus amigos caírem no chão, virarem os rostos ou simplesmente continuarem apagados. Pelo seu grande ferimento, Sieghart permaneceria daquele jeito por um tempo. Graças a Arme e sua magia, o sangue de seu machucado parou de escorrer.

O dourado de seus olhos, que perderam o brilho faz tempo, viram-se para frente. Mesmo que a cada passo que desse, um sinal de dor, Jin seguiu até o objeto caído no chão. Percebeu que era um casaco preto. Abaixou-se, lembrando que Lass usava antes de ser pego. Em meio a confuso, o ninja deve ter retirado.

Mas por quê?

Ao mexer, percebe ter outra vestimenta por baixo. Jin pega o cachecol vermelho que Elesis usava. Não sabe ao certo, mas a espadachim já estava sem antes de ser levada. Provavelmente, Lass tirou ao desmaia-la.

— Hã?

Quando pega o casaco de Lass, sente um peso incomum. Mexe nos bolsos até achar o motivo do peso. Estava dentro de uma sacola de pano. Não entende ao pegar o objeto em mãos, seu brilho sendo tão confuso quanto o sentimento que causava em Jin. Vira diversas vezes tentando entender, no final, a esfera com uma energia vermelha dentro continua sendo um mistério para o mesmo.

Fecha a mão em volta. Lass não tinha deixado o casaco cair sem querer, não teria como fazer isso enquanto era atacado. A esfera que segurava deveria ser importante, tanto que o ninja evitou de todo jeito entregar a Cazeaje. Nas mãos da líder, o simples objeto se tornaria perigoso.

— Vamos trazer a Elesis e o Lass de volta!

Olha assustado sobre o ombro. Apesar das lágrimas secas marcarem suas bochechas, Arme mantinha uma expressão de determinação. A única a vestir uma armadura e fingir que estava bem.

— Eles precisam da nossa ajuda, não podemos ficar lamentando. – A maga exaltava, os braços balançando de um lado para o outro. – E daí se é o Conselho? Por que devemos ter medo deles? Por que podem nos prender? – Espera que alguém responda. Grandiel e Lothos olham em silêncio. – Então não vamos ser presos! Como a Elesis faria, jogaria tudo para o alto e faria o que acha correto. Eu acho que o correto é tira-los de lá! E vocês? O que é correto?

Durante o discurso, Jin abre um sorriso e permanece quando termina. Apesar da baixa estatura, Arme é corajosa. Sem alguém para gritar com eles, o que os motivaria? Ela percebeu isso e tomou o papel que Elesis faria sem pensar duas vezes.

— Quer que façamos o correto? – Lothos questiona. Ela parece exausta, porém força uma expressão séria para esconder. – Certo, faremos. Tiraremos Elesis e Lass de lá, com ou sem o consentimento de Cazeaje.

— Astaroth faria o mesmo. – Fala Grandiel, levantando. – Ele queria isso, que quebrássemos essa corrente com Cazeaje. Agora é a hora perfeita para isso.

Os rapazes sorriem entre os hematomas e machucados. Não é preciso perguntar para saber a resposta de cada em relação a isso.

— Concordo plenamente. – Diz Ronan. Seu sorriso calmo é coberto pelo seu olhar malicioso. – Está na hora da tirarem a rainha do trono.

***

O motivo de continuar de pé foi a magia que a jovem maga usou em Grandiel. As dores passaram, mas sabia que o efeito seria temporário. Tinha aceitado apenas para ficar de pé durante um tempo, que seria necessário para ajudar Lass. O mesmo para Lothos, porém a mesma decidiu ficar em seu colégio cuidando das alunas e alunos novos. Novamente, Grandiel agradeceu a ela por essa ajuda.

Não sendo o único, Jin, Ronan e Lupus o acompanharam até o Conselho. Entendia o motivo deles, menos do haro, que sofria com o machucado na perna. Quando perguntou, Lupus foi breve com a resposta.

— Estou aqui para ajudar, só vocês não serão o suficiente. – Ele disse.

Não questionou a bondade do mesmo. Ficava contente em saber que dentro do frio coração do caçador havia uma pequena preocupação pelo meio irmão.

Para o alívio do grupo, Adel aparece no corredor que descansavam. A notícia de que o rapaz estava presente na cidade foi de grande ajuda para eles. Adel era o único líder que estava completamente ao lado de Lass, portanto, sua ajuda seria indispensável.

— Então? – Pergunta Grandiel, nervoso.

— Eles estão presos em celas separadas. O Lass está por perto, mas não consegui ter a mesma sorte com a Elesis. – Explicava Adel. – Cazeaje a colocou em algum lugar bem secreto, aparentemente.

— Mas por que o Lass foi preso junto? – Questiona Jin, irritado. – De acordo com as leis, não foi ele quem liberou as chamas nem atacou Cazeaje. Então por que ele foi preso?

— Cazeaje conseguiu inventar uma desculpa. Disse que como Elesis estava com as chamas, Lass entregou uma parte para ela. É por isso que ele foi preso. – Dizia, insatisfeito da mesma forma. – Mas não será por isso que ele será julgado, apenas preso até tomarem uma decisão.

— E os outros Conselhos? O que eles disseram? – Pergunta Grandiel.

— Infelizmente, decidiram deixar isso nas mãos de Cazeaje. Caso haja alguma decisão importante, eles interferirão.

— Até lá, Lass e a Elesis estarão mortos por ela. – Comenta Lupus ao fundo, emburrado. – É melhor interferirem agora, antes que seja tarde.

O caçador rugi ao ser acertado na nuca. O tapa cria um estalo alto pelo corredor, chamando a atenção dos demais. Ele apoia a mão no local acertado, virando ao ouvir a suave voz da jovem.

— As coisas não são tão fáceis quanto pensa, idiota. – Diz Edel, séria. – Ela é a líder dos líderes no momento. Não podemos fazer nada em relação a isso.

— Talvez possamos. – Fala Ronan. Entre todos, ele era o único sem expressar alguma emoção, por simplesmente fingir. Vira-se para Adel. – Elesis pode estar presa atrás de várias portas, mas quanto o Lass? Podemos vê-lo?

— Sobre isso, consegui 30 minutos de conversa com ele. – Levanta a mão, interrompendo a ansiedade de todos. – Mas apenas uma pessoa pode ir. Sem armas ou qualquer objeto do tipo.

Viram-se para Grandiel, deixando o mesmo nervoso com os olhares. Ele cruza os braços para manter uma postura séria.

— Eu não sei o que dizer a ele. – É honesto. – Tem que ser outra pessoa.

— Nem olhem para mim. – Lupus adianta o aviso. – Não vim para conversar com ele. – Disse, jogando-se contra o banco ao lado. Estala com a língua ao ver o olhar de reprovação de Edel sobre ele. – Não enche. – Resmunga.

De repente, Jin não entende a pressão que cai sobre ele. Grandiel e Lupus não falariam com Lass, sobraria ele para esse trabalho. Teria que ser corajosa para enfrentar os guardas e dizer para o ninja sobre o plano, de uma forma tão discreta que nem percebesse. Suas mãos cobertas por cicatrizes estremecem, afundando no bolso do casaco. Fechou os olhos e concentrou na respiração que vacilava.

Não gosta de sentir o mundo girar à sua volta. Passaria por Cazeaje e fingiria o olhar mais firme que poderia. Isso se não desmaiasse no caminho.

Olha assustado ao sentir um peso no ombro.

— Eu falo com ele. – Fala Ronan. – Será mais prático assim.

— Não precisa fazer isso, Ronan. – Pede Jin, quase gaguejando. – Você tem que ajudar o Lupus com o mapa do Conselho.

— Não é preciso. – Olha para o caçador sobre o ombro. – Lupus, Edel te ajudará nisso.

— Hã?! – Exclama com uma sobrancelha erguida. – Por que com essa aqui?

— Edel sabe todos os cantos do Conselho melhor que eu. – Explica, calmo. – Ela será mais útil.

Enquanto o caçador lançava um olhar de repúdio, a jovem cruzava os braços com o olhar para o outro lado. Ambos continuavam a não se entender.

Ronan volta a Jin, que aparenta estar mais calmo.

— Quero que você fique no colégio e se recupere. É o mais ferido, então preciso que faça esse favor para mim. – Tentou ser gentil o máximo possível.

O ruivo abre a boca para debater, percebendo que as dores o incomodava mais quando lembradas. Ele suspira, assentindo.

— Certo, vamos lá. – Fala Adel ao ver tudo resolvido. – 30 minutos.

— Resolverei em menos. – Confiante em saber que a conversa com Lass seria direta. Apesar dos desentendimentos com o ninja, ambos sabiam se comunicar bem quanto planejavam algo juntos.

***

Lass descansa a cabeça sobre a mesa, tomando esse pouco tempo para esvaziar a mente de todos os problemas. Tinha acordado algumas horas atrás dentro de uma cela, as correntes apertando seus pulsos. Não tinha dito nada, ficou calado até que alguém aparecesse para tira-lo dali. Felizmente, era apenas um guarda qualquer, e não Cazeaje para piorar seu dia. Não lutou contra ao ser levado para a sala e ser trancado nela.

Agora, após alguns minutos, sentou-se à mesa no centro da sala e repousou suas mãos acorrentadas sobre ela. As correntes fizeram um barulho sempre que se movia, como um alarme para mantê-lo por perto.

A porta à frente abre, um som de alívio. Abre um sorriso forçado para não mostrar seu nervosismo diante Grandiel. Porém, a máscara se desmancha quando Ronan sente à sua frente.

— Achei que fosse o Grandiel. – Fala, ainda confuso.

— Ele está cuidado de outras coisas. – Enquanto falava, caía contra o encosto da cadeira. Esteve tanto tempo de pé que tinha esquecido como era descansar.

— E por que você veio? Logo você?

— Porque esse será o único momento para eu te explicar... – Para de falar. Lass balança as mãos, esperando ouvir o resto. – Lembra daquela missão que fizemos? Tinha um cara com uma audição muito boa e a gente teve que se comunicar por sinais.

Lass assente, sem entender a pergunta aleatória. Percebe o comportamento estranho do rapaz, as mãos expostas sobre a mesa. Seus dedos se moviam, parando quando olha.

— É, eu lembro. – Falava o ninja. As correntes fazem barulho ao mover as mãos. – O que tem?

— Só estou falando. – Balança os ombros, sem afastar as mãos.

De um jeito discreto, Lass olha para os lados. A sala poderia estar vazia, mas sabia que atrás das paredes haviam ouvidos. Cazeaje não era tão bondosa em deixar ele e Ronan conversarem a sós sem querer algo em troca. Volta o olhar para o rapaz e entende seus sinais com as mãos.

— Antes, como está a Elesis? – Não consegue evitar a pergunta. – Ela está bem?

— Não tivemos acesso a ela. – Lamenta. – Elesis está presa, só sabemos disso.

— Não podem solta-la? – Debruça sobre a mesa. – Estou preso, faço o que eles quiserem.

— Não adianta. Elesis despertou as chamas e atacou a Cazeaje, mesmo que fosse outro líder, ela estaria presa pelo que fez. – A espadachim tinha cometido um erro grande demais para ajudarem simplesmente. – Adel está tentando achar alguma forma de liberta-la, mas até lá...

Bate os dedos na mesa, chamando a atenção do ninja. Ele suspira pelas narinas e assente, os olhos caindo sobre as mãos do mesmo.

— Ah, o Jin pediu para falar que ele pegou o seu casaco. – Ronan fala, não sabendo o significado. Porém, percebe um alívio no ninja ao ouvir. – Enfim, o tempo é curto. Preste bem a atenção. Terei que te pedir algo... difícil.

— É só falar.

— O problema não é só você. – Coça a nuca. – Terei que pedir a outra pessoa. Não exatamente uma pessoa.

Ronan não usa palavras ou sinais, mas Lass entende pelo olhar de medo do rapaz.

***

As vozes não paravam mesmo que tampasse os ouvidos. O chão gelado sob ela era como uma cama de espinho. A temperatura em volta ficava quente, mas logo esfriava até sentir uma fumaça sair de sua boca. As dores se espalhavam por todo seu corpo, dos pés à cabeça. Queria vomitar, tirar algo dentro de si que a matava lentamente.

É por isso que falei para não me usar demais. — Em meio a tantas vozes, a das chamas era a única compreendida. – Agora seu corpo está pagando por isso.

— Faça parar. – Resmunga. As palavras saem confusas, distorcidas. – Está doendo.

Foi mal, mas não posso fazer nada.

As dores aumentam, Elesis gira no chão. As chamas não falam mais, sua presença some aos poucos. Não sabe o que fazer, gritar ou ficar calada. Olhava em volta e a sala escura não a parecia familiar. Até questionaria, porém se calava a cada nervo se contorcendo por seu corpo.

Embora estivesse composta por dores de todos os machucados, nenhum superava aquele quando parava de gemer e sentia o frio do chão. Lembrava o chão da cúpula, o gelo e o piso gelado na mesma temperatura. Não havia luz, porém não fazia diferença ao lembrar de Gerard. Seu corpo estava pesado, o rapaz quieto demais para seu jeito tagarela.

Fecha os olhos, a luz que sai da porta aberta a incomodando. Maior que isso, apenas o barulho de seus saltos.

— Após anos, décadas, eu finalmente consegui vencer esse jogo. – A suave voz é estridente para a espadachim. – Cada plano, cada detalhe e sacrifício valeram a pena.

Vira o rosto para o outro lado. Talvez assim poderia ignora-la.

— E como eu esperava, seria você quem fracassaria. – É, estava enganada em achar que poderia ignora-la. – Tão nervosa, seu pai não teria orgulho disso.

Ela se vira com a mão erguida. As chamas azuis que saem se apagam antes mesmo de se formarem. Ajoelhada, sente o sangue escorrer por seu nariz. Elesis volta ao chão, mais fraca.

Cazeaje fica mais visível ao se agachar ao seu lado. A luz da porta ilumina uma parte do seu rosto, enquanto a outra era coberta pela escuridão da sala. Em meio a isso, tinha sua cicatriz passando pelo rosto

— Não ache que fará algum efeito em mim nesse estado. – Dizia a líder. – E por favor, não se mate. Quero você bem viva.

— Não enche! – O grita sai falho.

É segurada pelo rosto, os dedos e unhas da líder apontando contra suas bochechas. Elesis olha irritada, sem temer qualquer ameaça que viesse.

— Você causou a morte do meu pai. – Rosna Elesis. – Dos meus amigos. Do Gerard!

— Gerard era para estar morto há muito tempo.

— Você era para estar morta há muito tempo! – Cospe de volta. – Causou todas essas mortes por causa de uma chama! De um poder que nem mesmo pode controlar!

Seu rosto é apertado com o sorriso da líder maior.

— Quem disse que não posso controlar? – A espadachim tenta não demonstrar medo nas palavras, mas Cazeaje consegue sentir. – Eu controlo quem eu quiser, e não será uma pirralha que me falará que não pode.

— Então espere, essa mesma pirralha fará você lamber o sapato dela. – Ameaça, não tendo forças para atacar com as próprias mãos.

Cazeaje ri, soltando seu rosto bruscamente. Volta ao chão, o frio sendo melhor que a mão sem vida da líder.

— Voltarei mais tarde para vê-la. – Levanta, afastando-se da ruiva. – Deve estar morrendo de dor, não é? Talvez se for uma boa garota, eu te dê uma poção para isso.

Elesis encara o chão, evitando deixar a raiva tomar conta dela. Sem uma resposta, Cazeaje ri e vai embora. A luz some quando a porta se fecha, e o calor que ela causava desaparece com toda esperança que a espadachim tinha. Para ser honesta consigo, não acreditava muito que poderia escapar daquele buraco.

— Eu tenho que sair daqui. – Sussurra contra o piso. Seu frio esfriava o calor de sua pele. – Preciso me recuperar para isso.

Não ache que te darei meu poder para isso. Já disse, você se mantará.

— Então me diga outra forma de sair! – Grita. – Porque não ficarei aqui esperando Cazeaje fazer o que quiser comigo.

Primeiro, descanse. Será o melhor a se fazer no momento.

A espadachim tenta debater, não conseguindo ao sentir as pálpebras pesarem. Não era sono, mas a exaustão de persistir em continuar acordada. Seu corpo não se movia sem energia, o mesmo para sua mente.

Sentia falta de seus amigos. Perguntava-se se todos estavam bem após toda a confusão. Deveriam estar preocupados com ela, tinha certeza. Ri sozinha, ou uma tentativa de soltar algum som, enquanto tudo que saía era um sorriso manchado pelo sangue.

Aos poucos, sua sanidade era tomada pelas chamas. A única forma da espadachim descansar era apagar, não importa o tempo que levasse.

— Lass. – Murmura.

Apesar de tudo, o ninja era o que mais fazia falta.

***

— Odeio aquele velhote! – Gritou o mais alto, sua voz sendo abafada pela chuva.

Encara o céu escuro e coberto por pesadas nuvens. A chuva forte caía sobre seu rosto e ardia ao passar por seus machucados. O corte na bochecha era limpo, tirando a terra que a cobria junto com seu corpo.

O dia tinha começado ruim. Seu pai disse que teria um treino para ele. Não negou, já que não tinha muita opção para escolher. Após todo o treino, exausto, foi jogado de um penhasco. Nem ele mesmo acreditava, porém, a marca do sapato nas suas costas era uma prova concreta de que isso tinha acontecido.

Passa a mão no cabelo, bagunçando enquanto tentava secar da chuva. Tinha se perdido do caminho, agora vagava entre as enormes árvores e torcia para achar alguma coisa para orienta-lo.

Ouve um barulho à frente, o arbusto se move. Leva a mão para o cabo da espada nas costas. Deveria ser algum animal feroz ou um inimigo. Estava preparado de toda forma, invoca as chamas vermelhas como uma defesa.

— Pode vim!

Assustado, recua ao ver a grande sombra sair do arbusto. Cai para trás, na poça de lama que bate contra seu rosto. O inocente cervo olha para ele, correndo quando se move. Bate com a mão de lama na testa.

— Como eu me assustei com isso? – Murmura para si.

Abaixa o rosto. A lama escorre por um de seus olhos. Deixa a chuva limpar a sujeira, o que não demora pela intensidade.

Um grito ecoa pela floresta. Levanta o rosto, alertado. Era um grito de dor de uma garota. Esse deve ser o motivo do cervo está tão assustado. Levantou, pegou sua espada e correu na direção do grito.

Os passos diminuem ao ver um brilho adiante. Era intenso, quente mesmo sob a chuva. O azul que ilumina por poucos segundos é assustador para o rapaz. Passa por sua cabeça recuar, mas ele faz o oposto. Continua a correr.

Estava enganado em achar que o brilho tinha sumido. Ele continuava, porém mais baixo enquanto repousava sobre o corpo da jovem. Tinha um formato estranho, como das suas chamas vermelhas. Porém, existia um poder maior que as suas, de uma forma que não poderia contar sua intensidade.

A garota o nota, assustando-se. Ela tenta recuar, parando ao expressar dor com um baixo grito.

Seu pé estava preso entre os dentes de uma armadilha de urso. Ela tentava se soltar, falhando pelas dores sentidas.

— O-Oi. – Fala o rapaz. Guarda a espada, movendo-se para ajuda-la.

— Não chegue perto! – Ela grita.

— Eu vou te ajudar, relaxa. – Continua a se aproximar.

— Eu disse para não se aproximar.

As chamas azuis ganham forma entre eles, uma parede se formando. Ele para. O poder que sentia aumenta absurdamente. Felizmente, a parede não dura muito e se desmancha com outro grito de dor da jovem.

Ergue as mãos abertas.

— Só quero ajudar. – Volta a repetir, sem a mesma intensidade. – Não vou te machucar.

— Não preciso de ajuda. – Ela fala, ofendida.

Assisti a jovem tentar se soltar sem sucesso. A chuva fazia suas mãos escorregadias, misturando-se com o sangue das feridas abertas nas palmas.

— Olha, isso só vai piorar. – Menciona. A cada grito da mesma, era uma dor nele. – Deixe-me te ajudar.

Anda até a jovem. Ela não gosta de sua aproximação, porém não usa as chamas. Quando está perto, ela encolhe os braços para que as chamas não encostem nele. Abaixa-se e apoia as mãos em cada lado, segurando firme para que não escorregue.

— Quando eu abrir, você tira a perna rápido, certo? – Avisa, sabendo que seus machucados não ajudariam com a força.

Empurra os dentes da armadilha, precisando mais força do que pensava. Sente seus dedos escorregarem, segurando mais firme, causando feridas em cada parte. A jovem segura os gritos, porém arfava à espera de ser libertada. Sua perna é solta, ela puxa e cai para trás. Finalmente, solta a armadilha e se afasta.

O barulho dos dentes se juntando o estremece.

— Tudo bem? – Ele pergunta.

A jovem segurava a perna ferida, olhando o estado de sua carne. Não parecia bem, ele sente pela expressão da mesma. As estranhas chamas azuis continuavam acesas sobre seus ombros e cabeça. A baixa iluminação revelava um pouco de sua aparência. Os cabelos com um estranho tom de ruivo, é todo que consegue enxergar.

— O que estava fazendo no meio da floresta a essa hora? – Ele pergunta. – É perigoso.

Ela não responde.

— Poderia ao menos agradecer, sabe?

Continua a ser ignorado. Ele se arrasta até ela, assustando ao chegar do lado.

— Deixa eu ver esse machucado.

Por um momento, ela recua. Ele estica as mãos para mostrar que não tinha uma arma para machuca-la. Desliza a perna para o rapaz, sem tirar a desconfiança.

Pega a perna da jovem com cuidado. Não gosta de ver a ferida, evitando fazer uma careta para não assustar a mesma. Ao olhar bem, quem se assusta é ele. Fica sem palavras com a ferida se fechando, sem o uso de uma magia ou poção.

— Não precisa se preocupar. – Ela fala. – Isso é normal.

— Normal? – Olha para o machucado e para a garota. – Como que isso é normal?

A dor passa, então puxa o pé de volta. O rapaz, como uma pessoa normal, estava surpreso com sua habilidade.

— É por causa... – Ele aponta para as chamas. – dessas coisas?

— As chamas?

— É... Eu nunca vi uma chama dessa cor.

— Elas são diferentes. – Desvia o olhar.

Não sabia como explicar. Não estava com forças para levantar e fugir do rapaz, a dor permanecia para atrapalha-la.

— São bonitas. – Ele fala, sorrindo.

— Hã?

— As minhas são vermelhas. – Ele acende na mão. – São bem chatas. As suas são bem legais.

Não sabe se era a febre de uma gripe ou a vergonha que fazia seu rosto esquentar. O garoto de cabelos vermelhos ri com sua reação.

Ele estica a mão.

— Qual é o seu nome?

Olha para a mão do rapaz, desconfiada. Não sabe ao certo, mas segura sua mão molhada pela chuva.

— Penélope.

— Sou Gerard!

***

Os olhos da espadachim pesam para abrir. Os cílios grudam quando molhados. Passa a mão, notando algumas lágrimas escorrendo pelo canto.

— O que foi isso? – Elesis pergunta.

Memórias da sua mãe e do Gerard. Não sei como tenho as lembranças desse cara, mas não importa. — As chamas responde.

— Quando foi isso? – Sussurra. Não se sentia bem com as memórias de outra pessoa, sua cabeça doía em consequência.

Esse foi o primeiro encontro deles. As outras memórias são mais cortadas e confusas.

— Eu não quero ver. – Coça os olhos. – Não faça isso novamente.

Mas não fui eu que fiz isso. Seu corpo está exausto, sou poderoso, é claro que terá alguns efeitos colaterais.

— Então evite que isso aconteça! – Grita, sem a paciência para lidar com as chamas. – Eu não quero ver isso de novo. Não quero saber da minha mãe ou do Gerard.

As chamas sentem o corpo da ruiva estremecer e seu pulso diminuir. Ela está fraca de uma forma que não consegue nem pensar direito. As memórias de sua mãe devem ter a cansado mentalmente.

— Quanto tempo estou aqui? – Pergunta. Não aguenta o silêncio, embora exista mesmo com as chamas falando.

Uma semana. — Sente a surpresa da espadachim. – Ou mais.

— Por isso estou tão fraca.

Apoia a mão contra o chão e tenta levantar. Seus braços balançam, em seguida seu corpo volta ao chão. A escuridão aos poucos esclarece, podendo notar alguns curativos por seu corpo. As dores não estavam tão intensas, porém queimavam de uma certa forma.

— Por que não me cura?

Será que estou falando a língua dos elfos? Você está fraca, muito fraca! Só piorará com a minha cura.

Elesis piora com a notícia. Sua barriga roncava, estava faminta e com sede. Cazeaje fazia isso de propósito, queria vê-la implorar por comida ou um simples copo d’água. Elesis não faria isso, de repente, sente que alguém viria para a ajudar.

Confiava em seus amigos. Eles a tirariam dali.

***

— Vocês querem o quê? – Sieghart pergunta, confuso.

Girava o braço para ter certeza que estava tudo bem. Via em seu peito uma parte da cicatriz que passava por seu ombro, e terminava no início das costas. Até que se tornasse apenas uma cicatriz, poções e magias foram usadas para que melhorasse em menos de uma semana. Nesse meio tempo, esteve de cama, no outro pôde levantar. Somente agora se sentia melhor.

— Entre nós, você tem o melhor ataque. – Menciona Jin. – Será o melhor para isso.

— Ainda estou confuso. Elesis e Lass foram presos pelo Conselho e vocês querem tirar eles de lá?

— É, isso mesmo. Agora coloque uma camisa. – Fala Dio com os braços cruzados.

— Se sente ofendido pelos meus mamilos? – Como uma brincadeira, coloca a mão sobre o peito.

— Eu vou arrancar eles se não parar com a brincadeira. – O asmodiano tem estado muito nervoso nos últimos dias, com o desperta de Sieghart, a situação piorou.

— Não vai pagar nem um jantar antes?

— Chega. – Sem animação, Jin fala.

O tom baixo e cansado é ouvido. Dio bufa, virando o rosto para o lado. Sieghart puxa uma camisa ao lado e a veste.

— Você será quem começará o ataque, Sieg. – O ruivo volta a explicar. – Depois, é só deixar com a gente.

— É, eu posso fazer isso. O problema é o meu braço, sinto que está um pouco travado.

Como se fosse um chamado, Mari entra no quarto com diversas peças. Ela não cumprimenta, chega na mesa próxima e deposita o equipamento nela.

— É por isso que pedimos para Mari te ajudar nisso. – Falou Jin, apontando para a jovem.

— Mari, que surpresa! – De repente, Sieghart fica agitado. – Você e eu, no mesmo quarto. Não pode ser só coincidência.

— Na verdade, eles me chamaram aqui. – Fala a jovem com sua naturalidade.

Isso não é o bastante para tirar o sorriso largo do rapaz. Jin observa a cena, abrindo um sorriso torto em ver a tranquilidade que ambos tinham com a situação.

— Mari vai cuidar de você, depois voltamos para discutir sua parte no plano. – Fala Jin, saindo do quarto.

Ouve Sieghart dizer algo sobre a azulada, o que não é ouvido enquanto se distanciava. Dio o segue, não aguentando mais ouvir a voz do rapaz.

— Ainda acho estranho essa parceria com as garotas. – Menciona o asmodiano. – Não é preconceito, mas elas são mesmo capazes de lutar junto com a gente?

— Bem, sabemos que uma delas derrotou o Gerard e está presa. – Jin joga os braços para o lado.

— É, mas a Elesis é diferente. Ela se vestiu de garoto por todo esse tempo, não se esqueça.

— Elesis é a Elesis e continua sendo uma garota, não importe o quê. – Quis concordar com o asmodiano, negando no final. – Tudo que ela fez a torna forte.

Nunca esperou conhecer uma garota que ultrapassasse todas suas habilidades. Elesis era única com determinação o suficiente para enfrentar todos seus medos, mesmo machucada, ela continuaria de pé.

— Sinto saudade de antigamente. – Dio fala de repente. – Era tudo mais simples e o único problema eram as notas.

— Vamos fingir que é a mesma coisa. Resgatar a Elesis e o Lass é a nota máxima. – Ri sem graça.

— Não sei, acho muito difícil.

O lutador tenta convencê-lo, se não fosse pela aparição repentina de outra asmodiana. Dio é jogado contra a parede com o empurrão de Rey. Jin se afasta, quase sendo atingido pelo corpo do amigo.

— Saia do caminho, lixo. – Fala Rey. – Já basta dividir o mesmo teto com você, agora tenho que me esbarrar no mesmo corredor.

A parede continua intacta, menos o humor de Dio. Ele se afasta da parede, o olhar nervoso para a jovem de nariz empinado.

— Estou fazendo um favor para você! – Falava Dio, segurando-se no lugar. – Poderia ao menos contribuir em algo, em vez de ficar criticando os outros.

— Estou fazendo, mané! – Segura o asmodiano pelo chifre, aproximando seu rosto fechado. – Quero fazer parte desse plano.

Ao mesmo tempo, Dio e Jin reagem surpresos. Desde que chegaram, não conseguiram parar de ver Rey fugindo do plano. Ela já tinha avisado que estava fora.

— Por que tão de repente? – Dio pergunta, desconfiado. – O que você quer?

— Elesis me ajudou bastante no passado, quero ajuda-la agora. – Joga a mão para o lado, um ar de inocente saindo da mesma. – Não posso?

Solta a mão da asmodiana de seu chifre e se aproxima de Jin.

— Ela quer dinheiro. – Dio sussurra.

— Eu posso te ouvir. – Diz Rey.

— É, ela pode fazer parte do plano. – Jin entre na discussão.

— Quê?! – O asmodiano pergunta. Seu grito chama a atenção de algumas pessoas no corredor. – Ficou louco?

— O quê? Como o Sieghart, ela também será útil para a parte do ataque. – A asmodiana sorri com o comentário do lutador. – Quanto mais pessoas, melhor.

Dio o segura pela camisa, afastando da jovem.

— Ela não é uma pessoa. – Dizia o rapaz. – É o demônio.

— Ainda consigo te ouvir. – Fala Rey no fundo.

— Viu, poderes sobrenaturais. – Aponta Dio.

— Você está dentro, Rey. – Jin o ignora.

Enquanto a jovem comemorava vitoriosa, o asmodiano cai de lado contra a parede. Durante todo o plano, serio Dio quem sofreria explicando tudo para Rey. Ele bufa, prevendo como seria todo seu estresse.

Felizmente, ela se vai, mas está provocando enquanto se distancia. Dio se afasta da parede quando não houve mais, encarando Jin que sorria.

— Eu te odeio. – Fala o asmodiano, seguindo o ruivo.

— Lass fala a mesma coisa, só que ele me ama.

Dio ri, apontando adiante.

— Não, ele te ama.

Jin entende o sorriso bobo que Dio abre. Ao ver para onde apontava, o ruivo suspira. Toma um pouco de fôlego antes que fosse tarde demais.

— Parece estar se afogando. – São as primeiras palavras de Azin ao se aproximar.

— Essa é a sensação que você causa quando está perto. – Sem o ânimo de antes, Jin falava.

— Eu tiro o fôlego das pessoas, que bonito!

Jin vira o rosto para Dio, um pedido de ajuda estando visível na face do mesmo. O asmodiano joga os ombros, sorrindo.

— Me mata e a Rey está fora do plano. – Murmura o lutador.

— Desculpe, tarde demais.

Dio se vai, soltando uma alta gargalhada. Ele tenta alcançar o asmodiano, sendo impedido ao ser puxado por Azin. O braço da raposa enrola em seu pescoço e o puxa para perto.

— Faz tempo que não andamos juntos. – Dizia Azin. – Vamos colocar o papo em dia.

Jin não debate nem assente. Estava distante, ou queria estar.

***

— Todos estão prontos? – Pergunta Grandiel.

Pelo que via, considerou um não como resposta. Seus rapazes vestiam a roupa e procuravam por suas armas. O único pronto por completo era Ronan, que se aproxima com o mesmo olhar do diretor.

— Estão quase terminando. – Responde. – Como estão as garotas?

— Mais preparadas que vocês. Por que a demora?

— Eles só estão nervosos. Não é todo dia que invadimos o Conselho.

Grandiel suspira.

— Certo, estarei esperando lá fora.

Grandiel não estava animado com o plano, mas Ronan entendia o motivo. A principal pessoa que gostaria de estar fazendo isso não estava por perto, nem estaria em breve. Astaroth fazia falta tanto para ele quanto para Lothos. Diferente do loiro, ele seria um líder perfeito para liderar o plano.

— Por acaso, estão se arrumando para uma festa?! – Indaga Ronan. – Vamos, não temos o dia todo.

— Eu não sei onde está a minha soluna! – Ouve Sieghart gritar ao fundo.

— Está na enfermaria, idiota. – Dio grita em outro canto.

Jin se aproxima, notando o nervosismo de Ronan com a discussão sem fim dos dois. O ruivo bate em seu ombro, indo para o lado de fora. Segue o lutador, o silêncio do corredor sendo melhor que o barulhento quarto.

— Lass saberia lidar com isso. – Menciona Ronan. Encosta na parede, preparando-se mentalmente. – Nas missões, ele sempre tinha as ordens certas.

— Lass pensa rápido demais. – Ronan olha confuso para o sorriso do ruivo. – Ele sempre enxerga uma forma para sair dos problemas, não importa qual. Menos aqueles que envolve a Elesis.

— É, ele não sabe lidar com ela. – Sorri junto.

— O mesmo para a Elesis. – Cansado de esperar de pé, Jin se senta no chão contra a parede. – Lass sempre tentava chamar sua atenção mas nunca era o suficiente para ela. Elesis sempre estava te notando para isso, Ronan.

O rapaz esquece que por um tempo, Elesis gostou dele. Bem, era o que achava até vê-la beijar Lass. As lembranças desse dia voltavam aos poucos, era difícil ignorar. Porém, não sentia raiva ou remorso por isso, ver a espadachim sorrir era o bastante para ele.

— Foi mal. – Pede Jin. – Deve ser chato lembrar disso.

— Não se preocupe com isso, Jin. Temos coisas mais importantes para nos importar. – Volta a sorrir.

— É. – Levanta, esticando as pernas. – Vamos indo na frente, essas garotas estão atrasadas demais. – Debocha, apontando para onde os demais estavam.

Ronan concorda, indo com Jin para o lado de fora. Fica mais surpreso ao ver as garotas prontas e preparadas com suas armas. Lothos estava ocupada arrumando a nova armadura.

— Onde estão os outros? – Lire pergunta. Ela guarda o grande arco quando não vê o resto dos rapazes. – Ainda estão se arrumando?

— Por incrível que pareça, sim. – Responde Jin.

Ronan se afasta ao ver um vulto rosa se aproximar. Jin quase cai para trás ao ser abraçado pelo pescoço. Como todas as outras garotas, Amy está bem arrumada, até mais para a ocasião. A jovem pediu para participar do plano, porém Jin quis negar por sua segurança. Após vários minutos de discussão, ela estava dentro do plano como as demais garotas.

— Depois reclamam de nós, lindas e delicadas damas. – Fala Amy, jogando os cabelos para o lado. – Hunf, bobões. – Dá a língua.

— Sieghart está com problema no braço, por isso que ele está demorando. Já os outros, devem estar pensando no combate. – Responde Ronan. – Eles ficaram com a parte mais importante, não se esqueça.

— Enfrentar Cazeaje? Buh, quanto perigo!

— Tivemos problemas para enfrentar Gerard, será bem pior com Cazeaje. – Debate Jin.

— Vocês são um bando de mocinha! – Joga a mão contra a boca do ruivo. – Reclamem menos e façam mais. É o que Elesis diria.

— É, mas a Elesis não está aqui. – Diz Ronan, chateado.

— Claro que ela está! – Apoia a mão no peito, sorrindo. – Ela está bem aqui, bem no meu kokoro.

Elesis estava distante, mas sua presença continua ali, era o que Amy queria dizer. A espadachim possuía um carisma tão grande que nem mesmo a situação atual era capaz de apaga-la.

Ronan sorri, finalmente entendendo as confusas palavras de Amy.

— Acho que isso deve ficar com você.

Ouvem a voz neutra de Mari, mas não a veem. Jin olha para trás e se assusta com sua presença, o mesmo para Amy e Ronan. A jovem de cabelos azuis não reage.

— Não me encontrarei com a Elesis, mas você sim. – Continua Mari.

— É, eu vou. – Fala Jin, sem ter se recuperado do susto.

— Então entregue isso a ela. – Estica uma maleta de ferro.

O lutador pega a maleta, o peso menor do que esperava. Pretende questionar o que há dentro, porém Mari já se afastava. Mesmo tendo passado esses dias com a mesma, não conseguiu se acostumar com o seu jeito.

Como um chamado divino, os rapazes aparecem. Estão usando roupas simples, diferente de suas armas afiadas ou amedrontadoras. As garotas riem com a pose séria que tentam se colocar diante delas, o que falha completamente pelo atraso.

— Vamos logo. – Grandiel anuncia. – Sieghart e Rey, quero vocês na frente para se posicionarem antes. Ronan e Jin, fiquem comigo. O resto será explicado lá.

Então todos andaram em direção a saída do colégio. Apesar de ter sido chamado, Jin permanece com Amy ao lado. À frente, Ronan via Rey esperar pela chegada de Sieghart, que corre até a mesma.

— Isso tá parecendo um passeio escolar! – Comenta o rapaz, o único animado com tudo que acontecia.

Ronan fica contente pela agitação do amigo, é sempre bom ter o mesmo assim durante uma luta. Ele acaba se empolgando.

É segurado de leve pela manga do casaco. Olha para trás, para a única pessoa que estava por último.

— Algum problema, Arme? – Pergunta, preocupado pelo jeito quieto da maga. Ela está assim desde a prisão de Elesis. – Se não quiser ir, é só falar.

— Não! – Ela parece assustada, nervosa ao desviar o olhar. – Eu quero ir, muito. Só queria falar algo com você antes.

— Poderia ser durante o caminho? Preciso estar na frente com o Jin.

Ela segura seus braços, as mãos firmes para que ela não saia do lugar. Entende, esperando que a maga diga algo.

— Tome cuidado com a sua tia. – Ela falava. O rosto continuava abaixado, sem olha-lo. – E traga a Elesis e o Lass vivos, por favor.

— Faremos isso. E não se preocupe comigo, você deveria estar assim com as suas amigas. – Dizia positivo. – Terá que protege-las com sua magia.

Ela balança a cabeça. Espera que ela diga mais alguma coisa, porém permanece parada e em silêncio. Move o pé para seguir o grupo, mas Arme balança a mão. Ele abaixa o rosto, não ouvindo bem o que ela murmurava.

— O que tem eu?

É pego pela gola da camisa e puxado. Consegue enxergar o rosto da maga, estava tomado pelo vermelho. Parecia nervosa, mas entende quando ela o puxa para mais perto.

Arme fica na ponta do pé, sua baixa estatura não sendo o suficiente perto de Ronan. Mas esse não é um problema para que seus lábios se encontrem. Ela o beija, nervosa para tomar um passo maior que esse.

A maga o solta, sua altura caindo quando desce das pontas do pé. Está surpreso, não como Arme, que está surpresa consigo mesma. Ela o olha, envergonhada, esperando que dissesse algo.

— E-Eu gosto de você. – Repete a maga.

São as palavras que o fazem ficar sem jeito. Quando tenta falar, ela sai correndo em direção ao grupo. Não se move, a confusa mente o prendendo no lugar. Encosta a mão nos lábios, o calor que sentiu ainda ali.

Não se permiti pensar muito no assunto, senão o atrapalharia na missão. Sacode a cabeça e coloca um semblante sério. Seu único foco era Elesis e Lass, nada além disso.

***

Os guardas ficavam tensos a cada hora que se passava e não ouvia um som emitido pelo ninja atrás das grades. De vez em quando, olhavam para dentro, vendo se ele continuava vivo. O rapaz estava deitado na cama, os olhos fechados. Ele dormia, o que não significa paz para os guardas.

Lass não via, mas sentia os olhares dos soldados do outro lado das barras. De início, não se importava, porém com o tempo começou a incomodar. Gostaria de gritar para os guardas, não fazendo pela consciência que teria das consequências.

Está um pouco tenso. — A única voz que ouviu durante esses dias foram dos guardas e, principalmente, das chamas.

Lass se remexe, um sinal para que as chamas se calassem. O efeito é ao contrário. Ouve a gargalhada provocativa delas.

Certo, está na hora. Move, man!

Seus olhos se abrem. Levanta da cama e para diante das barras.

— Chamem a Cazeaje. – Fala Lass.

— Não temos essa permissão. – Responde o guarda.

— Chamem logo! Preciso falar com ela! – Ordena.

O tom que uso deixa os guardas assustados. Eles se entreolham, então um se afasta para chamar alguém que faça esse favor. Enquanto isso, Lass cruza os braços. As chamas voltam a falar dentro da sua cabeça.

A porta da cela se abre. Lass estica os braços para as algemas que o guarda usa nele. Como sempre, bem apertadas. Além disso, o selo nelas não ajudava a se sentir bem. Sua mana era prendida, seus movimentos limitados. Tudo isso apenas para ver a líder.

Lass é levado para fora, passando pelos corredores em direção a sala de Cazeaje. Já tinha decorado o caminho com apenas uma caminhada pelo lugar. Subiu várias escadas, percebendo então que estava abaixo do Conselho.

Com os longos passos, logo chega na sala da líder. A porta é aberta para ele, em seguida, é empurrado para dentro. A porta se fecha atrás, sentindo-se como na cela novamente.

A diferença era que não estava sozinho.

— Disseram que você queria falar comigo. – Diz Cazeaje, apoiando-se na mesa. – O que foi, Isolet?

— Vim fazer um acordo. – É direto. – E você vai aceitar.

— Mesmo? Então o que é?

Lass se aproxima da mesa. Olha para as algemas, impedindo de tentar algo contra a líder.

— Serei seu soldado, ou o que você quiser. Mas em troca, libertará a Elesis.

— Ora ora! – O sorriso é largo e prazeroso. Cazeaje se interessa, debruçando sobre a mesa. – Finalmente se renderá?

— Não chamo isso de rendição, mas uma troca justa. Solte a Elesis e serei seu.

Ela analisa o ninja. O sorriso continua enquanto havia uma certa desconfiança no rosto da mesma.

— Onde está a pegadinha, Isolet? Não pode ser só isso.

— Eu só quero ver a Elesis livre, é pedir muito?

A líder levanta da cadeira. Lass tenta recuar, mas é segurado pelo rosto antes. As mãos geladas de Cazeaje estão sobre suas bochechas. Ele se encolhe, fechando os olhos quando a ver se aproximar.

— Claro que não. – Dizia Cazeaje. – Mas só isso não será o suficiente, Isolet. Custará mais caro do que pensa.

Um sorriso se forma enquanto apoia as mãos sobre as de Cazeaje. Ela olha satisfeita, superior para o ninja.

Lass ri. Cazeaje olha assustada para o tom mais grave da risada do rapaz.

— Sim, você tem razão. Um custo maior.

Os olhos vermelhos são revelados, então o sorriso se alarga. A líder tenta recuar as mãos, porém as chamas não permitem.

— O que foi? – As chamas debocham com o tom distorcido. – Com medo?

Não deixa a líder responder. Solta uma mão, com a outra arremessa Cazeaje para o lado. Ela bate contra a parede, fazendo os quadros caírem com o impacto.

As chamas jogam os braços para o lado. A corrente se parte, apesar das algemas permanecerem. Avança contra a líder com o punho erguido. Sua velocidade é pouca para acertar a líder, que desvia, acertando então a parede. Seu braço atravessa a estrutura, rachando em determinadas partes.

Cazeaje fica de pé. Seu sorriso sumiu para um olhar de reprovação. O barulho e tremedeira que sente em seguida a deixa surpresa. Fita Lass, ou as chamas.

— Chegou a hora. – Anuncia as chamas. Retira o braço da parede, derrubando um fio de sujeira.

— Hora de quê? – Pergunta, irritada.

— Da sua queda. – Abre o sorriso pontudo ao responder.

***

— Hum, então é aqui que vai começar a festa? – Sieghart pergunta. Apoia a soluna sobre o ombro.

— Aparentemente, sim. – Responde Rey. Sentava no ar, seu corpo flutuando como de costume.

— Quando poderemos atacar mesmo?

— Quando terminar os dois minutos. Faltam 30 segundos.

— Ah, ok.

Haviam sido os primeiros a chegar na entrada do Conselho. Grandiel, Ronan e Jin entraram, enquanto os demais foram deixados para trás. Eles dois estavam mais à frente, encarando a longa escada que dava acesso ao prédio.

— 10 segundos. – Avisa Rey. Desde que dito o tempo que deveriam esperar, a asmodiana contava mentalmente.

Ela estica a mão e estira os dedos. Ao seu lado, Sieghart prepara a soluna, apoiando a pesada lâmina no chão. Uma menor sai ao puxar da lateral. Rey não presta muita atenção no rapaz, a contagem termina e ela é a primeira a avançar com um passo.

Ela voa mais alto e para em determinada parte, assim reunindo a mana em cada mão. Empolgada, Rey arremessa as esferas de energia contra o prédio do Conselho. Sua mira acerta os locais mirados. Todas janelas da construção são destruídas, nem mesmo as paredes aguentando o impacto de seu ataque.

Sieghart observa a asmodiana atacar na frente, seu ataque parecendo disparos de canhões. Ela desce e com a mão esticada, é o sinal para ele ir. Enche seus pulmões com o ar, seu cheiro baseado no recém destruído prédio.

Como Grandiel tinha falado, os guardas se alertam com o ataque de Rey. Enquanto continuava o caminho à frente, ela recuava. Os soldados avançavam, armas e cajados sendo mirados para ele. Sieghart não se intimida, como eles esperavam, ele avança coberto pelas chamas roxas. Os disparos de energia somem ao bater na sua proteção de chamas, nada sendo o suficiente para para-lo.

— Então segurem essa! – Grita em alta exaltação.

Freia, deslizando com os pés no chão. Junta as lâminas da soluna e reunia as chamas nela, atacando uma onda da mesma contra os soldados. Eles são atingidos antes que pudessem reagir, logo uma parte acertando o prédio do Conselho. Mais destruição, aumentando o que Rey tinha feito.

Cai sentado no chão, tomando um tempo para se recuperar da grande perda de mana. Seus amigos passam por ele, correndo para invadir o prédio. Dio se aproxima de Rey e pergunta algo para ela, então recebendo uma resposta que o irrita. Sieghart levanta o polegar para o asmodiano ao passar, mostrando que estava bem. A cicatriz começava a arder, pois não havia se recuperado como devia.

— Recuperem as energias. – Recomenda Lothos quando se aproxima. – Agora será a vez da Lire e o Lupus de cuidarem do ataque a distância.

Após a ordem, a comandante se junta ao grupo para dentro do Conselho. Lire aparece ao lado de Rey, o arco já em mãos e a flecha sendo disparada. Um soldado ao longe desaba ao ser acertado no peito.

— É melhor tirarem logo o Lass de lá. – Sieghart se assusta com Lupus ao lado. O mesmo segurava um rifle, customizado como suas demais armas. – Meu pai não vai gostar de saber que ele foi pego pela Cazeaje.

— Preocupação? – Sorri enquanto pergunta.

— É mais um fardo que tenho que levar mesmo. – Suspira antes de disparar.

***

Grandiel corria na frente, atrás estavam Ronan e Jin. O trio passava por todas as salas à procura de Lass. Não sabiam que caminho tomar quando ouviam o barulho dentro do prédio, porém os sons de destruição do lado de fora se misturavam. Sabiam que Lass tinha feito sua parte em segurar Cazeaje por um tempo, já que a mesma não tinha aparecido desde então.

Param ao verem uma pessoa vindo no final do corredor. Ficam mais calmos ao verem Lass, assim armas sendo abaixadas com a presença do ninja.

— Lass, finalmente! – Fala Jin, aliviado. – Por que demorou tanto?

Ao parar perto do trio, notam o estado do rapaz. As roupas sujas e cobertas por sangue, inclusive uma parte de seu rosto. Ele estava sério, sem expressar dor como esperavam.

— De quem é esse sangue? – Ronan pergunta.

— Não é meu. – Olha para a camisa, ignorando ao continuar. – Consegui parar Cazeaje por um tempo, mas ela escapou. Precisam se apressar se quiserem pega-la.

— Os rapazes darão conta disso. – Explica Grandiel. – Agora precisamos achar a Elesis.

Prosseguem o caminho, Lass interrompendo ao esticar a mão.

— Eu vou sozinho, fiquem aqui. – Explica.

— O quê? – Ronan indaga. – Não, a gente precisa ir com você.

— Elesis não está presa nesse andar. – Aponta para baixo. – Está lá, na última cela. Será inútil irem comigo, só irão se cansar.

Ronan lembra do mapa do Conselho que viu. Existia um andar abaixo do prédio, uma espécie de cela ou salão isolado. Para todo tempo, Cazeaje não tinha feito para Lass, mas para Elesis.

— Ficaremos aqui em cima enquanto você busca a Elesis. – Grandiel concorda. – É mais rápido, se formos iremos apenas te atrasar.

Lass agradece com um rápido sorriso. Ronan o chama ao se afastar. Tira da cintura e joga a katana para o ninja.

— É melhor trazer ela inteira. – Soa como uma ameaça, sem que quisesse.

— Ah, e a Mari mandou isso para a Elesis. – Avisa Jin ao entregar a maleta para o ninja. – Não sei o que é, mas deve ser importante para ela.

Lass tenta identificar pelo peso, sabendo que não eram os sabres por isso. Ignora e corre para o caminho antes que fosse tarde para a ruiva. Sabia por onde passava pelo comando das chamas, que não falavam mas davam sinais para onde ir.

Bate contra a porta de metal. Era resistente e pesada, nem os socos eram capazes de amassar. Lass olha impaciente e usa a katana. A linha é formada, então a porta se parte em duas. Empurra o último pedaço que continua de pé e atravessa a entrada, dando de cara com uma longa escadaria em espiral. Não conseguia enxergar bem pelo escuro, mas não percebeu enquanto descia correndo.

Lass demora a chegar no final das escadas, sem paciência, saltando os degraus para diminuir o tempo. Encontra uma grande porta no final, sabendo que Elesis estava do outro lado pela estranha sensação que sentia.

— Elesis! – Grita, batendo contra a porta. Não ouvia algum sinal da espadachim. – Elesis, me responda! Sou eu, Lass!

Mais batidas e nenhuma resposta. Lass larga a maleta no chão, ocupando a mão apenas com a katana. Os cortes feitos não fazem efeito. Devolve a lâmina à bainha, optando pela última opção.

Ao apoiar as mãos contra a parede, o brilho das chamas ilumina o local. Ela não aguenta o calor das chamas, a fechadura se rompendo com um simples empurrão. Lass quase cai para dentro da sala escura, recuando a tempo.

— Elesis?

As luzes acesas no corredor iluminam o interior da sala. O pouco da claridade é o bastante para revelar um corpo caído no chão. Lass se aproxima com cuidadosos passos, sua mão sobre o cabo da katana.

— Elesis? – Pergunta ao parar de andar.

O chamado desperta a pessoa caída no chão. Ela se move, as mãos tateando o chão para levantar. Ela estava fraca, porém consegue levantar o rosto.

— Lass? – Com a visão embaçada, Elesis pergunta.

A trêmula voz da espadachim o atinge. Lass se enche de alívio e saudade, largando a katana de lado e caindo ajoelhado perto dela. Abraça Elesis, puxando contra seu corpo para tira-la do chão frio.

— Você está bem? – Pergunta Lass, sem conseguir a soltar. – O que Cazeaje fez com você?

— Estou bem. – Ela consegue dizer, o tom bem baixo.

Abre um pouco de espaço entre eles, mas sem deixa-la voltar ao chão. Enxerga a face cansada da espadachim, que está escondida com um largo sorriso. Ela leva as mãos até seu rosto, o contato trêmulo de seus dedos o divertindo. Lass ri, logo Elesis.

— Você é real. – Ela fala.

— E você também.

A enfraquecida Elesis lembra ele quando foi preso no circo. Em meio a toda escuridão, ela apareceu para tira-lo de lá. O mesmo fazia com a espadachim, dando um fim no sofrimento da mesma.

Pega Elesis no colo, sabendo que a situação não a permitiria andar. Saiu da sala, finalmente ficando sob a luz do corredor. Elesis se incomoda, jogando o rosto contra seu peito. Olha para a espadachim, a surpresa o pegando ao perceber as mechas brancas no seu cabelo ruivo. Eram poucas, mas chamativas.

Não questiona, deixaria isso para depois. Olhou para maleta de Mari caída no chão e a puxou para perto.

— Espere um pouco. – Pede, abaixando-se perto da maleta. Deixa Elesis sentada no chão, que olhava confusa para o local em volta.

— Onde estamos?

— Embaixo do Conselho. Cazeaje te prendeu aqui.

— O que ela quer tanto com as chamas? O que ela quer comigo?! – A raiva preenchia seu peito quando as memórias começam a recobrar. – Quando eu ver essa mulher...

— Não fará nada nesse estado. – Elesis abaixa os punhos fechados, sentindo as poucas dores que ainda restavam. – Deixe isso para o pessoal lá em cima.

Elesis olha para o alto, ouvindo os barulhos vim do andar de cima. Estavam baixos de onde se localizava, sabendo o que os causava. Volta a atenção para Lass, esperando ter alguma resposta do rapaz.

— O que é isso? – Ele pergunta enquanto abria a maleta. – Mari te mandou.

Empurra para Elesis. Da mesma forma que olhou, a espadachim olhava enquanto tirava da maleta. A vestimenta se solta ao ser erguida, o olhar de confusão da espadachim aumentando como o sorriso de Lass.

— Por que a Mari te mandaria um vestido? – Pergunta o ninja, curioso. – De casamento, por sinal.

— Não é bem um vestido de casamento. – Diz Elesis, sem conseguir tirar o olhar de repúdio. – Eu acho.

Os barulhos no andar de cima fazem Lass se levantar e voltar para pegar a katana. O tempo passava e era preciso levar a espadachim até Grandiel. Não gostaria de saber o que Cazeaje faria ao pega-los, já que não conseguiria deixar as chamas no comando no estado que estava.

— Vamos, temos... O que você está fazendo? – O ninja para, surpreso. Elesis tirava a roupa suja e deixava de lado.

— Não é um vestido comum. – É tudo que fala.

— E...? Só por isso tem que vesti-lo? Agora?!

Ela veste a roupa por cima, atrapalhada com a saia que não estava tão longa quanto antes. Puxa o vestido até que esteja adequado em seu corpo. O tecido aperta como uma armadura, as mangas funcionando da mesma forma. Gosta do sentimento de segurança que ele causava, exceto a cor branca que poderia ser manchada facilmente.

Elesis levanta, ainda enfraquecida, e consegue se manter de pé. A saia cai até seus joelhos, o peso sendo menor. Mari tinha feito as alterações que pediu.

— Onde estão os meus sabres? – Pergunta, olhando para o paralisado Lass. – Eu preciso deles.

— Vai mesmo usar isso? – A pergunta quase não sai.

— Não trouxe minha roupa, vou ter que improvisar. Aquelas estão fedendo e rasgadas. – Aponta para as vestimentas no chão.

— Certo. – O corpo da espadachim estava coberto por hematomas e feridas, entretanto, existia beleza sob o vestido de casamento. Era a Elesis, apenas isso importava. Da mesma forma que ela era louca para se vestir de Eléo, ela fazia agora com um vestido. – Vamos indo.

Lass chega perto da espadachim antes que ela tentasse andar. Esquece que cairia pela fraqueza das pernas, e do corpo inteiro. É pega no colo, não recusando a ajuda ao ver o tamanho da escada que subiria. Lass é mais rápido, saltava três degraus sem expressar dificuldade com o peso que carregava.

Como esperava, não demora para chegar no topo. Passa pela porta destruída, a iluminação do corredor sendo maior que o anterior. Elesis fecha os olhos até que se acostumasse. Lass a leva como se soubesse o caminho.

— Elesis! – Grita duas vozes.

Jin corre até eles, Ronan permanecendo no lugar com um sorriso largo. O ruivo encosta mas afasta ao ver os machucados da espadachim.

— Demorou, Lass! – Ronan fala atrás.

— Não enche! – O ninja grita de volta.

Desce Elesis com cuidado. Ela dá alguns passos para o lado, os pés descalços estando firmes no chão.

— Que vestido é esse? – Jin percebe.

— Depois eu explico. – Responde sem jeito. Ronan olhava da mesma forma ao ver a vestimenta.

— Cadê o Grandiel? – Lass interfere no assunto. Acerta um soco no peito de Ronan para desperta-lo. Ele tira os olhos de Elesis, assustado, vira-se para Lass. – Cadê ele?

— Foi ajudar os rapazes. Parece que Cazeaje encontrou eles. – Responde, tenso.

— Mas ele tinha que está aqui! Teremos que esperar?

Também não gostou da atitude de Grandiel, porém não pôde negar ajuda aos seus amigos. Lass rugi, caindo contra uma parede. Ele desliza até que estivesse no chão, largando a katana pela companhia deles.

— Ronan. – Chama Elesis, indo até ele. Segura seu ombro para evitar uma queda. – Me cure enquanto isso, por favor.

— Grandiel seria melhor para isso, mas como ele não está. – Segura a espadachim até que ela se sentasse. Fica ao lado, deixando a magia fazer o trabalho.

Elesis joga a cabeça para trás e fecha os olhos. As dores sumiam, seu corpo relaxava após dias sem ter conseguido isso. Com seus amigos em volta, finalmente estava segura das garras de Cazeaje.

***

Grandiel não gostava da posição que se colocava. Observava seus queridos alunos lutar contra Cazeaje. Ela estava fraca, não usando tanta magia quanto esperava. As chamas fizeram um bom trabalho em enfraquece-la.

Parou de assistir a cena pela janela e voltou a atenção para Adel. Ele apareceu no Conselho como prometido, apenas para olhar a situação e falar para os demais líderes. Inventaria uma desculpa para que Cazeaje fosse vista como a vilã.

— Bem, ela terá que pagar por algo. – Fala Adel. – Prender Lass e a Elesis no estado que desconfiamos é contra as leis, principalmente para ela, uma líder.

— Enquanto isso, manterei eles dois longes. Preciso ir antes que Cazeaje perceba.

Grandiel deixa Adel no comando enquanto se vai. Pelo tempo que deixou Ronan e Jin, Lass deve ter voltado com Elesis. A espadachim pelos dias que passaram nas mãos de Cazeaje deve estar mal, precisando de sua ajuda.

***

Elesis se sentia melhor após a cura de Ronan, principalmente com o conforto de Lass. Deitava contra o peito do ninja, usando esse tempo para reunir as energias que perdeu naquela sala. Ele passava a mão sobre sua cabeça enquanto deixava o calor das chamas a aquecer. Mesmo tendo uma parte delas, o frio não deixava seu corpo.

— Não conseguirão prender a Cazeaje. – Diz Lass de repente.

— Como não? – Ronan pergunta, sentado do outro lado. – Os outros Conselhos terão que fazer algo com ela.

— Mas esse não é o problema. Prender Cazeaje não será o suficiente. – Fita os dois. – Entendem?

— Se já vai ser difícil prender Cazeaje, imagina mata-la. – Comenta Jin, suspirando.

— Eu poderia fazer isso. As chamas azuis são mais fortes que ela.

— É, enquanto você mata uma líder, terá outros para te prender ou torturar. – Menciona Ronan. – Podem não ser tão malucos quanto Cazeaje, mas possuem um pouco de insanidade.

— Mas nenhum deles querem as chamas como ela.

Elesis se remexe. O assunto não estava sendo agradável para a espadachim. Falar de Cazeaje e chamas a faz lembrar de Gerard, que continuava a lembrar de sua morte. Sentindo sua agonia, Lass a abraça.

— Se eu tivesse o escutado antes. – Murmura.

— O que disse? – Pergunta Lass.

Abre os olhos, entristecida.

— Se eu tivesse escutado o Gerard, eu não o teria matado.

— Talvez ele quisesse isso desde o começo. Eu vi as cartas que ele escrevia, principalmente as últimas. Ele queria ter um propósito para viver, mas Cazeaje tinha tirado dele.

Fecha o punho contra o peito do ninja, cerrando o olhar. Levanta, olhando Jin e Ronan, que pareciam preocupados com seu despertar.

— Onde estão meus sabres? – Faz a pergunta para os três.

— Estão guardados. – Lass fala, entendendo a intenção da pergunta. – E deixe isso para depois, Elesis.

— Cazeaje arruinou com a minha vida! – Fala, irritada. – Não posso deixar que ela se livre disso tão facilmente!

O som a seguir interrompe a conversa do casal rapidamente. Primeiro, a fumaça invadi o corredor, então o barulho de explosão. Automaticamente, Lass puxa Elesis para perto e olha atento. Fica surpreso ao ver Grandiel caído contra a parede, levantando-se e correndo em sua direção.

— Levantem, rápido! – Ordena. Assustado, olhava para trás e para eles.

— O que aconteceu, Grandiel? – Pergunta Ronan enquanto ficava de pé.

Cazeaje surge no final do corredor antes que pudesse responder. Apesar das lutas, ela continuava inteira, menos o sangue que sujava seu vestido. Todos machucados foram curados em uma velocidade que nem mesmo Ronan conseguia com sua magia de cura.

— Morra! – Elesis grita, furiosa.

Solta-se de Lass e dá um passo à frente. O soco desferido no ar enche o corredor por uma força que faz as paredes racharem. Um pouco das chamas azuis atinge a líder, que é afastada. Elesis abaixa o punho e sente seu corpo cair junto. Os braços de Lass contornam seu corpo e a puxa para perto.

— O que pensa que está fazendo?! – Questiona o ninja.

— Jin, Ronan! – Chama Grandiel, dando lugar para os dois. – Lass, para trás!

Elesis é levada no colo, enquanto via seus amigos avançarem em direção a Cazeaje. Preocupada, sabia que não seriam capazes de enfrenta-la, mas apenas atrasar para que fugissem.

Jin dispara suas chamas, que não fazem efeitos contra a barreira da líder. Cazeaje avança, pegando pela camisa e o empurrando contra a parede ao lado. Seu ataque ocorre com tanta leveza que nem mesmo o ruivo soube como aconteceu.

Ronan ignora o ataque sofrido por Jin e avança com determinação. Estira a mão livre e forma um selo sob a líder, paralisando a mesma no lugar. Com a espada na outra, forma uma energia na lâmina e ataca.

— Deveria ter te matado antes. – Fala Cazeaje.

O selo se quebra e uma barreira é criada à sua frente. O ataque do rapaz atinge e recua com os passos atrapalhados. Cazeaje avança antes que Ronan pudesse criar outro ataque, conseguindo ser mais rápida que o mesmo. A esfera de energia criada é jogada e acertada no peito do rapaz.

Ronan cai contra o chão, a energia entrando em seu corpo e o paralisando. Cazeaje passa por ele e pega a espada de sua mão. A líder estava prestes a ataca-lo, mas seu olhar é virado para Elesis e Lass no final do corredor.

Grandiel para quando estão distantes da mulher. Suas mãos dançam no ar, a magia sendo acumulada nas palmas. O portal é criado à sua frente pela grande quantidade de mana que gastava.

— Atravessem. – Ordena o loiro.

Enquanto Elesis desejava ficar, Lass tomava o caminho para o portal. Precisava apenas saltar e estaria longe de Cazeaje. Enquanto corria em direção ao portal, sente algo se aproximar pelas suas costas. Elesis grita, enxergando o que se aproximava. Ela tenta se soltar para se colocar na frente, porém a segura firme.

A dor atravessa suas costas antes de saltar no portal. O chão some, seus pés procuram por apoio. A luz do corredor some por um instante, trocada pela intensa luz do sol que cega a ambos. O cheiro de destruição não é mais sentido, o clima pesado se torna mais leve e limpo.

Elesis abraça o corpo do ninja ao ver a colina abaixo deles. Fecha os olhos e o mundo gira, então finalmente encontram o chão com violência. A colina termina brevemente, a queda sendo forte para separar o casal para cada lado. A espadachim gira para o lado, tonta.

— Ele poderia ter jogado a gente em um lugar plano. – Diz Elesis. Olha para a colina atrás, seu tamanho sendo maior que esperava. – Tudo bem, Lass?

O ninja estava deitado para o outro lado, Elesis conseguindo ver a espada atravessada nas costas do rapaz, quase em seu ombro. O sangue já se espalhava por sua camisa.

— Lass? Lass?!

Tonta, levanta e corre até o ninja. Ele estava acordado, olhando a espadachim quando está próxima. Ela passa a mão no seu rosto e dá um leve tapa para que ele não apagasse.

— Não apaga, eu vou tirar essa espada. – Fala Elesis.

O ninja deita a cabeça no chão, ofegante enquanto continuava com a lâmina atravessada em sua carne. A espadachim se posiciona e segura o cabo com as duas mãos. Um rápido puxão é o bastante. O sangue espirra na grama e em seus pés. Elesis coloca a espada de lado, a mesma que Cazeaje tirou das mãos de Ronan e arremessou no ninja.

— O que foi? – Elesis pergunta, confusa. – Por que não está se curando?

— Tem alguma coisa... – A dor impedia que falasse normalmente. – Deve ser magia da Cazeaje.

Elesis olha para a lâmina coberta por sangue e não enxerga algo de incomum. Não desconfia que houvesse alguma magia negra no ataque da líder. Nervosa, puxa a camisa de Lass até poder ver a ferida e as veias negras em volta. Olha aterrorizada, nunca tendo visto algo parecido.

— Deve ser algum veneno. – Chuta o palpite. – E-Eu não sei!

— As chamas não estão queimando. – Arrastava a voz. – Não é um veneno, deve ser alguma magia daquela vadia!

Deita para o lado e empurra o chão para se levantar, suas forças estavam sendo sugadas com os poucos esforços.

— Calma, só vai piorar! – Fala Elesis, ficando de pé.

Lass se move, caindo para o lado. A ruiva o segura, deitando o ninja no chão com cuidado.

— Eu posso queimar com as chamas, mas vai demorar. – Fala Lass. – Não podemos ficar parados, temos que andar.

— Deixe-me usar as chamas brancas. Posso tirar...

— Nem ouse! Passará para você e eu não quero isso. – Corta rapidamente a ideia da espadachim.

A teimosia de Lass muita das vezes superava a de Elesis, apesar de ser mais preocupação que o orgulho falando.

Volta a levantar com a ajuda da espadachim. Ela contorna seu braço no ombro dela, usando o corpo de Elesis em apoio. Não gosta da necessidade, principalmente por ela estar tão fraca quanto ele. Ao menos, a katana estava amarrada no cinto da calça, enquanto a ruiva carregava a espada de Ronan, caso precisasse.

Andam por uma trilha dentro da floresta. Ainda tentavam se localizar, o lugar onde foram jogados sendo desconhecido. Por dentro, torciam para que não estivessem longe.

— Você não parece bem. – Nota Elesis. – Vamos dar uma pausa.

Confirma quando não há uma resposta do ninja. Sai da trilha e procura uma área mais fechada. Chegam perto de uma árvore, apoiando Lass contra o tronco até que ele estivesse sentado. Fica ao lado do ninja, esperando que ele diga algo.

Lass fecha os olhos, porém respirava.

— Vamos ficar bem. – Sussurra perto do mesmo. – Eu prometo.

A camisa do ninja está manchada por sangue, uma mistura de sangue, percebe. Antes, ele já estava sujo, agora, encontrava-se com uma camisa com outra cor. É impossível não olhar.

Não consegue se segurar, invoca as chamas brancas. Apoia contra a ferida e usa as chamas, sentindo um mau estar em seguida. Tira um pouco, o bastante para que as chamas azuis façam o resto do trabalho.

Diferente de Lass, Elesis não fica tão mal, sente as próprias chamas queimarem a magia de Cazeaje. Aproxima-se do ninja, mantendo a espada de Ronan por perto. Tinha limpado o sangue da lâmina antes de seguir com Lass.

— Se aparecer algum problema, eu resolvo. – Diz Elesis, esperando que ele estivesse ouvindo. – E me desculpe por ter traído sua confiança. Nunca quis isso.

— Depois... – Olha surpresa. Lass tinha dificuldade para falar, mas persistia. – Depois resolvemos.

A palavra “depois” não parece agradável para a espadachim. O olhar do ninja cai sobre ela, então finge não se abalar por isso. Sorri, aproximando-se do mesmo. Um beijo breve e calmo.

Lass sorri.

— Sempre me surpreendo quando isso acontece. – Ele murmura. – Nunca estou acostumado.

— Isso é ruim?

Apoia a cabeça sobre a ruiva, voltando a fechar os olhos.

— Não, nunca.

Elesis sabe que Lass está mal quando ouve um barulho e o rapaz não reage. Estava distante, mas os passos são ouvidos pelos sentidos aguçados da espadachim. Ela se afasta de Lass, correndo para outra árvore mais próxima. Desliza o rosto para o lado, tensa.

— Se acham que podem fugir de mim, estão bem enganados!

Os olhos da ruiva arregalam. Segura firme a árvore para que não caísse pelas pernas moles. Quando acha que estavam sozinhos, outro problema surge para piorar seu dia.

— Não irei repetir de novo. Onde estão vocês? – Pergunta Cazeaje.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Review?
* Não vou comentar muito, mas próximo cap é o penúltimo e já sabem o que esperar.
* FELIZ NATAL! Estou me dedicando tanto ao final dessa fic que estou passando o natal escrevendo os últimos caps. Espero que tudo dê certo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.