Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 130
Confronto (Parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Oláááá´hhhh! Tudo bão? Espero que sim! Então, cap de hoje, como puderam ver, estar meio grande, só uns 15k de palavra... SÓ! Masss tem explicação, porque será hoje, sim, você leu certo, HOJE será revelado tudo que aconteceu! Segredos explodiram, arrependimentos aconteceram? Leia e descubra!
Capa: Hirunaka no Ryuusei (Feita pelo Paarthurnax)
Boa Leitura!



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Naquela noite, acordou com um alto barulho e uma luz que atravessava as cortinas de seu quarto. Coçou os olhos, confusa, e percebeu algo de estranho do lado de fora. Saiu de sua cama e seguiu descalça para o lado de fora, o chão estando mais gelado que o comum. Desce as escadas com cuidado e percebe o vazio que sua casa causava.

— Pai? – Chama. Sem sinal. – Pai?! Onde você está?!

Foi no quarto do mesmo, esperando vê-lo dormir na cama. Fica parada na porta ao ver nada além das cobertas caídas para o lado e ninguém sob elas. Os barulhos ficam maiores do lado de fora, e assustadores. Pensa em voltar para sua cama, mas continua parada até a sensação de solidão a incomodar.

Volta a descer as escadas, passando pela sala. Ao sair de casa, o frio da noite que esperava é tomado pelo calor do fogo ao longe. Dá alguns passos à frente, seus pés descalços sendo sujos pela terra da rua. Não percebe, corria em direção ao barulho. Ao fogo.

Corria para sua guilda.

— Pai! Papai! – Grita, desesperada.

O calor aumenta, e o frio de não ter alguém por perto também. Para de correr quando está de frente a guilda. As construções ao lado estão destruídas, em chamas. Olha para o chão, para o sangue de alguns corpos por perto. Seus olhos arregalam, reconhecendo os corpos de seus queridos companheiros de guilda.

— Jaret? – Chama o rapaz caído. Aproxima-se e cutuca. Nenhum sinal. – Jaret?!

Seu corpo estava morno, nota ao encostar no seu rosto. Afasta com medo, os barulhos fazendo a mesma estremecer. Todos vinham de dentro da guilda. Eram sons agudos, estridentes.

Ela entra. Engole seco e mantem o olhar reto. Passa pelos corpos caídos, tropeçando em um sem querer. Abraça a si própria, querendo continuar o caminho o lugar de onde veio o barulho. Estranha, não ouvi mais nada desde que chegou na guilda. O silêncio acaba sendo pior.

Chega no último salão, parando na entrada. Não estava tão escuro pelas chamas que crepitavam no canto. Enquanto isso, enxerga a silhueta da pessoa parada de costas a ela. Reconhece pelos seus cabelos ruivos, longos o bastante para cobrir a nuca.

— Tio Gerard?

Ele congela, os punhos fechando. Nota uma espada coberta por sangue, a lâmina completamente vermelha de tanto ser usada. As mãos do ruivo estavam feridas e sujas. Tudo nele parecia estranho.

Gerard vira o rosto sujo por sangue. Fica assustada, acalmando-se ao perceber que era ele mesmo. A expressão estava tomada por um vazio, os olhos vermelhos e inchados.

— O que está acontecendo? – Pergunta, aproximando-se.

Gerard estica a mão rapidamente, parando-a no lugar. Olha confusa, até virar o rosto para frente e conseguir ver mais alguém no salão. Ele estava caído contra a parede, o sangue sujando suas roupas e a própria parede atrás.

Demora a reconhecer seu pai. Sua respiração falha, algo dentro de si é quebrado. Corre, escorregando sobre o piso sujo de sangue. Chega até seu pai, ajoelhando-se e puxando o corpo do mesmo.

— Pai! Pai?!

Suas mãos ficam pegajosas com o sangue. Continua a chama-lo, querer ouvir sua voz. Seu pai dormia, como sempre fazia no final de um dia cansativo. Quando não há uma resposta, os lábios tremem e a visão fica embaçada.

As lágrimas pesam quando caem. Lentamente, vira o rosto para Gerard, logo olhando para a espada que o mesmo segurava. Sente mais alguma coisa se quebrar dentro de si; e outro surgir com uma certa intensidade.

Encara Gerard, as sobrancelhas se juntando. Entende, a expressão do ruivo fazia sentido para ela. O mesmo estava tão cansado e sujo por algo, e todos aqueles corpos e a destruição que viu foram causadas por alguém.

Levanta, com alguma força que nem mesmo sabe de onde tirou. Sente uma espécie de calor a contornar, seu sangue ferver de dentro para fora.

— Elesis, me ouça. – Pede Gerard. – Por favor.

— Por quê, Gerard? – Pergunta, trêmula pela mistura de sentimentos – Todo mundo...

— Me escute.

— Todos gostavam de você!

— Eu...

— Eu gosto de você! – Fecha os olhos. As lágrimas transbordam sobre suas bochechas. – Então por que fez isso?!

Olha para o rapaz. Gerard não sabia o que fazer, sua mente deveria estar uma confusão. Apesar disso, ele não solta a espada, a única ligação com a realidade.

Sem uma resposta, olha furiosa para o rapaz. Grita, avançando com os próprios punhos. Soca o estômago de Gerard, tentando causar alguma dor. Ele se afasta, acertando um leve empurrão nela.

— Morra! Idiota! Gerard idiota! – Gritava, a garganta arranhando pelos berros.

Machuca para o ruivo ver essa cena. Ele continua a se afastar, evitando tocar na ruiva com o sangue que o cobria. Até um momento, ela para, cansada.

Suas mãos tremem sobre seus joelhos. Encolhe-se, chorando enquanto desabava no chão. Pensa ser um pesadelo, porém a dor no peito é grande demais para não ser real. Volta a ficar de pé, engolindo as lágrimas quentes.

Ao levantar, Gerard tinha largado a espada, mas pegado um pedaço de madeira. Seu olhar estava vazio, pensativo com algo profundo. Vira-se para ela, durando poucos segundos antes de mudarem repentinamente.

Como se fosse outra pessoa.

— É, eu matei ele! – Ele fala. – E o resto dessa guilda! Já estava na hora, de qualquer jeito.

— Hã? – Olha confusa.

— Desculpe, Elesis. – Um sorriso se forma entre seu rosto coberto por sangue. – Mas hoje não é o seu dia.

Foram as últimas palavras que ouviu do ruivo. Ele deu apenas um passo e atacou com a madeira. Sua cabeça dói, e seu corpo cai para o lado.

Depois disso, não lembra de mais nada. Tinha acordado fora da guilda com várias pessoas em volta, Lothos sendo uma delas.

Pela pancada na cabeça, era difícil ter memórias exatas sobre o passado. Aos poucos, elas eram recobradas nos sonhos ou quando cochilava.

Mas mesmo que não lembrasse exatamente como foi, lembrava do sentimento que teve.

Vingança.

***

Nada mudou desde aquele dia. Lá estava ela e ele, distantes e com as mesmas expressões. A diferença era a idade de cada, a força adquirida; além disso, nada mudou.

No passado, não conseguiu ter forças para lutar, a fraqueza falou mais alto. Agora seria diferente, com seus sabres afiados, o final não seria o mesmo. Após tudo que passou, depois de tantas cicatrizes, não aceitaria ser a mesma Elesis de sempre.

Seria a garota que terminaria seu trágico destino.

— Soube que você anda muito por esse colégio, então vim fazer uma visita. – Diz Gerard. – Espero não estar interrompendo nada.

— Não vim para conversar, Gerard. – Um tom seco e direto. – E você também não.

— Vim justamente para falar algo de importante com você. Espero que esteja disponível para uma conversa. – A expressão da espadachim não muda. – Tomar um pouco de chá também.

— Após tudo que você fez, espera mesmo que eu sente e converse com você? – Mesmo que quisesse, não conseguia ser sarcástica no momento. – Não temos muito para conversar.

Gerard olha para o lado, a resposta não sendo como desejava. Esperava uma assim, porém continuava a se decepcionar da mesma forma.

Com sutileza, tira a espada das costas e a coloca no chão. Elesis olha confusa, querendo perguntar o que fazia. Ergue as mãos, olhando a ruiva sem o sorriso de antes.

— Vim apenas para conversar. – Volta a repetir.

— Você ataca o Grandiel e meus amigos. – Tenta encontrar as palavras, indignada. – Depois fala que tudo isso foi para conversar comigo?!

— Eles me atacaram primeiro.

— E você os feriu primeiro!

Mesmo que não tivesse atacado seus amigos, não seria capaz de ouvi-lo. Não deixava a raiva tomar conta de si, agia um pouco mais racional que sua antiga eu. Enfrentaria Gerard e não haveria outro motivo que a impediria.

— Já aconteceu muita coisa, Gerard. – Dizia a espadachim. - Eu pensei muito e não vejo outra escolha além de enfrenta-lo. Então, vamos resolver isso de vez, porque você não é o único da lista que merece ser morto.

O ruivo fica surpreso. Não era o único que Elesis queria matar, pensa curioso.

— Quem é a outra pessoa?

— Cazeaje. Como você, ela é só mais um verme nesse mundo. – Não sabia se teria as forças necessárias quando chegasse a hora, mas gosta de acreditar que tudo ficaria bem. – Quando terminar com você, ela será a próxima.

Cazeaje tinha conseguido, provocou a pior pessoa do mundo para isso. Além dela, Lass era outro que queria vê-la morta. A única diferença entre o ninja e a espadachim era um ser mais racional que o outro.

Gerard olha em volta, esperando achar Lass. O rapaz não tinha aparecido, nem conseguiu sentir sua mana por perto, que era tão chamativa quanto a de Cazeaje. Queria vê-lo, ao menos, ele seria capaz de convencer Elesis.

Mas como ele não estava, Gerard não vê outra escolha. Pega sua espada, ajeitando a postura para o combate. Toma um pouco de ar antes de aceitar isso, olhando Elesis com um pouco de seriedade.

— Certo, então. Você não vai me ouvir, então terei que te obrigar. – Disse com firmeza.

— Que seja, se me derrotar, eu ouço o que tem a dizer. – Brinca com os sabres, o olhar sério se virando ao ruivo. – Mas isso não acontecerá.

Gerard agradece mentalmente, sabendo que teria uma chance. Não seria tão difícil derrotar a ruiva, ela continua com os problemas nas pernas e logo cairia por isso. Arruma a espada nas mãos, decidindo resolver tudo isso o mais rápido possível. Como a espadachim, ele teria o ombro para impedi-lo de lutar como deveria.

— Certo, vamos...

Para de falar, surpreso com a ruiva à frente, um dos sabres erguidos. Defende com a espada, os próximos golpes fortes e rápidos demais para vim de alguém ferido como Elesis. Joga-se para trás quando as chamas douradas quase o acerta. Rola pelo chão, ficando de pé.

Seu coração está acelerado, surpreso pelo ataque. Olha para as pernas de Elesis, não entendendo como ela se moveu tão rápido desse jeito.

— Ok, isso foi uma surpresa. – Admiti. – Parece ter treinado bastante esses últimos dias.

— Dias, meses, anos. Que diferença faz?

— Acha mesmo que pode me derrotar? Se nem Grandiel conseguiu, o que te faz pensar que pode?

— Simples: estou disposta a sacrificar o que for necessário para te derrotar. – Fala sem expressar alguma emoção. – Aqui estou eu.

— Ficará louca com isso.

— Como você? – Gerard parece se incomodar com a seriedade da mesma. – Talvez.

Alguma coisa não estava certa. Elesis agia diferente, porém algo dentro da ruiva fazia Gerard tomar cuidado com sua aproximação. Era uma aura que mudava constantemente.

É como se houvesse duas pessoas.

Volta a postura de combate, sabendo que teria uma luta mais difícil que esperava. Elesis estava decidida em derrota-lo, o que tornava a situação pior.

A ruiva cansa de esperar, avançando com os cabelos dourados. Gerard se assusta, saindo dos pensamentos com sua aproximação. É rápida com os dois sabres, obrigando o ruivo recuar. Rola para o outro lado, usando as chamas.

Não importa o quão fosse rápida, Gerard conseguia acompanha-la. A espada pesada parecia leve nas mãos do ruivo, que manuseava com tanta agilidade. Se quisesse acerta-lo, precisava surpreendê-lo nos ataques. De repente, salta para trás e dispara as chamas em grande quantidade. Com um ataque, Gerard apaga todas com a larga lâmina. Esse é o tempo necessário para Elesis avança e soca-lo, acertando sua espada e o jogando para trás.

Balança a mão machucada, deixando o berserk esvaziar lentamente. Gerard para distante dela, abaixando a lâmina da espada após o ataque recebido.

— Quanto tempo para que fique pronto? – Murmura Elesis, andando de forma aleatória em volta de Gerard.

Olha, estou fazendo o meu máximo aqui. — Fala as chamas. – Talvez demore um pouco.

— Estarei morta até lá se continuar demorando. – Diz com os dentes colados, não querendo que Gerard leia seus lábios.

Não gosta quando o olhar do ruivo analisava cada passo que dava, como se estivesse esperando um movimento previsível. Precisava agir o mais rápido, Gerard logo entenderia como sua forma de combate funciona e a atacaria primeiro.

Elesis avança, sem um plano, apenas com o próprio instinto. Ao contrário de um corte, ela usa a ponta do sabre para atingir Gerard. Recua ao ver o rosto do ruivo desviar para o lado, e sua mão segura firme a espada para acerta-la. Elesis se joga para trás, caindo sentada antes que a lâmina passasse sobre sua cabeça. Tenta acerta uma rasteira, porém Gerard salta, descendo junto com a lâmina apontada para ela.

A espadachim rola para o lado, fugindo de ser perfurada como o chão rachado. Levanta, defendendo dos ataques repentinos de Gerard. São rápidos para uma espada tão pesada. Quando pretende usar as chamas, é lenta, sendo acertada pelo lado cego da lâmina. Voa, rolando pelo chão.

Como que ele consegue ser tão rápido?!

Deitada no chão, a sombra de Gerard cai sobre ela. O ruivo está na sua frente com a espada em movimento. Elesis se empurra e recua alguns centímetros. Não sendo o suficiente, abre as pernas e sente a lâmina parar entre elas, quase acertando sua pele.

Gira para trás, cortando o ar com os sabres. As chamas douradas saem intensas com ajuda do berserk. Todas atingem Gerard no peito, porém não foram o suficiente para derruba-lo, mas para Elesis recuar. Durante isso, seu corpo prende no chão, uma força caindo sobre ela.

Ela sabia o que era, encarando Gerard, que parecia gostar de ver seu sofrimento.

— Vamos ver se é tão forte quanto aparenta. – Disse ele.

A espadachim arfa, a pressão aumentando enquanto persistia continuar de pé. Seu corpo estava sendo esmagado, suas pernas começam a doer com todo esforço que fazia para não cair. Sentia os sabres escorregarem, porém não os solta. Gerard queria vê-la desarmada, indefesa. Não deixaria isso acontecer.

Cai de joelhos. Sua cabeça é inclinada para frente, impossível de evitar. Fincou os sabres no chão, ao menos, queria parecer de pé, mesmo caída. Sabia que logo a magia dele acabaria, logo as forças dela. O suor rolava por sua testa, os dentes rangiam. A pressão aumentava ou suas forças diminuíam.

Ouve Gerard se aproximar. Ele a mataria com um simples golpe. Na situação atual, estava exposta.

O chão racha sob a espadachim. Gerard para, achando que sua magia estaria causando isso. Percebe que está enganado ao ver as fagulhas de chamas saírem da ruiva, que se transforma em loira e morena em segundos. Primeiro surge as chamas douradas, então as roxas quebrando sua magia.

Por fim, o olhar vermelho do berserk.

Ao pôr o pé no chão em apoio, Gerard coloca a espada na frente. O poder das chamas atinge a lâmina, apenas o calor da magia causando isso. Quando Elesis avança, sente a intensidade de sua mana, uma mistura de diversas que resultava nisso. Prepara para receber o impacto do ataque, que não chega ao ver a espadachim sumir diante seus olhos.

Gira, jogando a espada na frente, conseguindo se defender de Elesis. Ela atinge com um sabre e troca pelo outro coberto pelas chamas. Demora a perceber a intensidade do ataque, sendo tarde quando é atingido e jogado para trás.

Gerard cai. Sua queda é logo afastada ao ficar de pé, distante da espadachim, que reunia mais mana para o próximo ataque. Pode até ter conseguido defender, mas não conseguiu evitar a dor de se encontrar contra o chão e rala o braço. Fazia tempo que um ataque direto o derrubava desse jeito.

— Como conseguiu todas essas chamas? – Gerard pergunta.

— De uma forma mais limpa de como você conseguiu esses poderes. – Responde, ofegante. O ruivo usava as magias e conseguia continuar de pé, diferente dela, que enfraquecia a cada chamada usada.

— Eu peguei emprestado.

— E como foi isso? Matou os donos e arrancou suas magias à força? – Questiona com o olhar afiado. - Do mesmo jeito que fez com a aquela de Xênia?

Entende a surpresa que Gerard tem. Ela estava lá, mas não como Elesis. Nos olhos do ruivo, era mais um garoto como Sieghart e Dio.

— Não peguei o poder dela para mim. – Fala Gerard.

— Mas a matou.

Tinha feito isso por Regis, lembra. Queria que ele conversasse com Lass, mas precisa convencê-lo de alguma forma. Não achou outra forma além de conseguir algo raro para atiçar a ganância do haro.

Mas como podia explicar isso para Elesis? Que tudo que fez foi por ela? Os poderes que carregava não era para si, mas para protege-la. Com os pensamentos, vacila suas atitudes na luta. Os ombros caem junto com a espada que encosta no chão. Não poderia continuar a lutar, tudo que queria era desabafar com a espadachim.

No entanto, lembra de quem era Elesis. A teimosa e nervosa espadachim. Do mesmo jeito que ela avançava contra ele agora, faria quando tentasse conversar. Poderia deixar o ataque acertar seu peito e acabar com tudo. Um fim. A história termina e o final que desejava ficaria no mistério. Os créditos subiriam e, talvez, alguma cena aparecia depois. Seria um bom filme de sua vida.

Sem reviravoltas ou surpresas. Somente um fim.

Rebate o ataque da espadachim, arrancando um sabre de sua mão. Puxa a mesma pelo braço vazio e acerta um rápido chute contra seu estômago. Ela tenta tossir, sendo impedida com o próximo ataque de Gerard. A aura do ruivo toma forma de um punho e a soca. Nunca gostou de usar essa magia por ser tão injusta contra seus adversários, mas nota que era preciso para derrotar Elesis e poder conversar com a mesma.

Sem olhar, ouve a espadachim colidir contra a parede do colégio. Suspira e a mana perde forma. Mesmo após anos, não sabia como lidar com a magia que roubou de um asmodiano.

Como Elesis falava, ele é um monstro.

***

O que você vai fazer quando crescer, Elesis? – Perguntou Gerard.

— Me tornar a guerreira mais forte de Ernas! – Ela disse, fazendo a pose heroica que costumava fazer.

Gerard riu.

A pequena ruiva olhou para ele, curiosa.

— E você? O que fará no futuro, Gerard?

Quando fez essa perguntou, o ruivo pareceu desconfortável. A resposta demorou a ser dita.

— Também ser forte. Mas quero enfrentar alguém no futuro e sei que será uma luta muito difícil. – Disse sorridente.

— E quem é ela?

Gerard nunca respondeu sua pergunta. Apesar disso, não entenderia de qualquer forma, era jovem demais. E mesmo agora, a resposta parecia distante de ser respondida.

Pensa que era ela. Quando atacou o ruivo, viu em seu rosto um olhar morto. O mesmo de uma pessoa triste. Por que agia assim se planejava desde sempre?

Elesis abre os olhos, sem conseguir tirar o pensamento da cabeça. Se Gerard queria enfrenta-la, por que não lutava com vontade? A ruiva se irrita pensando na covardia do mesmo. Se ela não era a pessoa escolhida, outra deveria ser.

Mas quem?

Você não parede bem. ­— Menciona as chamas.

— E sua voz na minha cabeça não ajuda muito. – Resmunga. Tenta levantar, não conseguindo com a dor. – Quando poderei te usar?

Minha querida, você está fraca. Não será uma boa ideia me usar nesse estado

— Eu já disse que não tenho muita escolha! – Soca o chão. – Se não vai ajudar, é melhor calar a boca.

As dores aumentam quando levanta entre os escombros. Cambaleia para o lado, apoiando-se na parede ao lado. O ataque de Gerard foi tão forte que a fez parar dentro do colégio. Por sorte, usou as chamas douradas no tempo certo de evitar um impacto maior.

Consegue achar seu sabre entre as pedras. Arrasta até a parede destruída pelo seu corpo, parando na beirada para assistir Gerard no pátio. O ruivo estava com o rosto abaixado, porém continuava com a espada em mão. Exatamente como naquela noite. Evitava olha-la enquanto rejeitava soltar a arma.

Você não está dando tudo de si. — As chamas voltam.

— Estou! – Arrasta a voz.

Algo está te impedindo. Tem medo de se arrepender? Talvez sua vingança seja apenas uma fachada para essa sua saudade.

Fecha os punhos. Não sabia como ignorar as chamas, o que precisava no momento. Seu sangue começava a ferver em raiva.

É por causa do Lass? Não se sente bem em trai-lo assim?

— Calado.

Ah, entendi! Você está se sentindo exatamente como o Gerard. ­— As chamas gargalham. – Um monstro lutando contra outro.

O corredor se ilumina pelas chamas roxas descontroladas. Elesis não percebe enquanto a raiva tomava conta de seu corpo. Passa a mão pelo rosto, evitando que as unhas cortassem suas bochechas. Precisava se controlar, se não perderia o controle como no seu último combate.

É disso que você precisa. — Continua as chamas. – Um pouco de fogo nessas chamas.

Elesis contorce os lábios. Não queria isso.

— Vamos, se você quiser vencer aquele cara, precisa de um pouco mais do que determinação.

O sabre pesa. Encara Gerard, ainda parado. A força, as chamas ou a habilidade que tinha com os sabres não seriam o suficiente para enfrentar o rapaz. Ele tinha tudo isso e mais.

Inspira fundo e mantem o sangue ferver. As chamas a lembram algo importante para essa luta. Precisava arriscar, ser inconsequente.

Ser a Elesis.

***

Depois de tanto se perder nos próprios pensamentos, Gerard decidi erguer o rosto para enfrentar Elesis. Vencer a luta, qualquer que fosse, era fácil. Quando entrava em combate não tinha o que temer, dores e machucados seriam curados, uma derrota não. A regra continuava a valer agora.

Após anos, chegou o momento de resolver de uma vez. Não recuaria ou pegaria leve. Elesis era seu oponente, nada além disso.

— Gerard! – O grito furioso é um susto para o mesmo.

Não vira o rosto, mas move o corpo para trás quando Elesis arremessa o sabre em sua direção. Joga os braços na frente para se proteger da ventania, que cobre sua visão por um instante. Apesar de não enxergar, defende os ataques de Elesis, os socos e chutes mais fortes que esperava. A ruiva recua em direção aos sabres, pegando antes que avançasse.

Gerard usa a eletricidade para se mover. Elesis se esquiva e revida com rápidos cortes, o vento passando e criando finos cortes por onde passava.

Cansado, começa suas próprias sequências. A espadachim não consegue revidar, as chamas são apagadas todas vezes que eram despertadas. Os cortes causados nela são maiores, mais profundos. Num rápido movimento, acerta Elesis com a espada. A ruiva é jogada para trás, erguendo-se com as chamas em apoio.

Volta ao chão, as costas ardendo ao encontra-lo. Gerard desce a pesada lâmina contra ela, mas Elesis consegue usar os sabres como um escudo, cruzados na frente enquanto tentava empurrar o ataque de Gerard.

O ruivo cai para o lado junto com sua lâmina afundando no chão. Elesis o prende com os sabres, então abre um sorriso sádico.

— Queime, maldito!

As chamas roxas explodem à sua volta.

Perde uma grande quantidade de mana com o ataque surpresa. Sente o peso da lâmina de Gerard sumir. A dor que ele sente é a mesma que sentia em seu corpo, a queimação das chamas se espalhando e tirando suas forças. Elesis se levanta e recua, um pouco atrapalhada pela rápida tontura.

Olha para seu braço e assisti a mancha sumir lentamente. O problema de ser atingida pelas próprias chamas ainda a incomodava. Em pouco tempo estaria curada, ao contrário de Gerard. Espera ver o ruivo exausto pelas manchas cobrindo seu rosto, porém é surpreendida ao ver as manchas sumirem de sua face. Ele as absorvia, a expressão tomada pela dor de fazer isso.

— Posso não ter as chamas roxas, mas terei um pouco de mana para mim. – Comenta, sorrindo ao terminar.

Elesis olha irritada pela sagacidade do ruivo.

— Vamos começar a luta de verdade. – Ele fala.

***

Corria com todas forças que tinha. Precisava chegar o mais rápido nela, contar tudo que descobriu. Tinha que falar a Elesis quão errada esteve todo esse tempo. Sabia que seria difícil convencê-la, porém tinha provas para isso. Finalmente, entendia Gerard e todo seu jeito estranho sobre ele.

Lass entende todos seus motivos e sente um grande peso por isso. Ele não merecia todo o ódio das pessoas, principalmente de Elesis. Ela tinha o direito enquanto não soubesse o que aconteceu, o que mudaria tudo com sua chegada.

Por favor, não faça nenhuma besteira!

Após a quinta chamada não atendida, Lass guarda o celular no bolso. Ela não atendia e algo parecia acontecer. O tempo começava a ficar nublado, porém nenhum sinal de chuva até o momento. Nunca gostou da mudança de clima repentina, o frio que causava era mais gelado que qualquer outra coisa.

Qual é o problema? Deixa ela fazer isso.

— Eu não sou idiota de fazer isso! – Diz nervoso. – Alguém precisa parar aquela idiota.

Olha, você só vai ganhar um soco na cara com isso. Desiste logo.

Não escuta mais as chamas falar, sua preocupação em chegar no colégio era maior. Não sabe quanto tempo levaria, ou perderia na velocidade que estava. Deixou Elesis no pior estado, a ruiva estava com tantos problemas físicos quantos mentais. Conhecia a espadachim para saber que ela era capaz de fazer uma loucura quando sofria um trauma.

Um abraço e seria o bastante de impedi-la de entrar nessa loucura. Se ao menos tivesse a levado junto não estaria tão preocupado quanto agora.

Me espere mais um pouco, Elesis.

***

Gerard dá os primeiros sinais de cansaço durante o combate. As espadas não paravam de se mover, a mão de cada dolorida pelo impacto entre elas. Elesis não demonstra isso, girava e se esquivava dos ataques do ruivo; o mesmo vindo dele. A luta entre ambos era agitada e estridente, parecendo não haver um fim.

O sabre voa da mão da espadachim. Ela salta para trás, esticando a mão e pegando de volta. Gerard tenta atingi-la, falhando ao bater contra a barreira de chamas douradas e recuar. Elesis aproveita o afastamento do rapaz e cria os cortes no ar. O chão não aguenta a intensidade do ataque, mas Gerard defende um e desvia de outro.

Ao ficar parada, Elesis percebe a falta de ar enquanto ofegava. Suas pernas tremiam, doendo e ficando enfraquecidas. Fica frustrada ao notar seu cansaço em comparação ao ruivo. Gerard respirava pela boca, limpando o suor que escorria, mas além disso, ele parecia bem. O rapaz sempre foi resistente, suas lutas eram demoradas pela persistência e resistência que o mesmo tinha.

Arruma a postura e se move para o lado. Atacaria pela lateral, assim teria menos trabalho de evitar a defesa do ruivo. Deu dois passos e sentiu o frio passar por todo seu corpo. É paralisada pelas pernas, caindo no chão. Os sabres escorregam, rolam para fora de seu alcance.

Gerard abaixa a mão após ter usado sua magia. O simples vento congelou o chão e as pernas da espadachim. Ela se movia, tentando quebrar de alguma forma o gelo. Enquanto isso, aproximava-se da mesma.

— Isso já é uma derrota. – Dizia Gerard, cansado. – Desista, Elesis.

— Fique longe!

Ela joga a mão para frente, então as chamas roxas surgem como uma barreira. Para de se aproximar, olhando a espadachim lutar com as poucas forças que ainda restava.

— Eu posso lutar ainda!

— Você está fraca, acabará se matando assim.

— Calado!

A barreira de chamas cresce com o grito. Movido aos sentimentos.

Elesis encara o chão antes de tentar se levantar. O gelo nas pernas rachava, porém crescia no mesmo instante. Usa as chamas vermelhas para quebrar o gelo, aumentando a intensidade quando não sentia efeito.

Gerard permanece parado. Observa a espadachim se erguer com a próprio força de vontade, sentindo milhares de dores enquanto isso. Ela fica de pé e quando apaga as chamas, quase desaba. Suas pálpebras estavam caídas, os olhos sem vida além da chama de vingança.

— Não me subestime. – Fala Elesis. – Eu posso morrer, mas não deixarei ser tão fácil.

— É uma pena então.

Gerard leva a espada para o lado. Elesis olha atenta, as mãos vazias e o corpo fraco criando uma tensão enquanto observava. Move o pé para trás, pronta para recuar do ataque. Porém, é impedida pela fina camada de gelo que a faria escorregar, principalmente com as pernas fracas.

Gerard avança. A lâmina some quando voa em direção a espadachim. Pegaria Elesis na lateral, no pior caso, partiria em dois.

O trajeto é interrompido. Força a lâmina, que continua parada contra as palmas da ruiva. Gerard não sabe como reagir ao ver a espada sendo segurada pelas mãos nuas da espadachim. Ela mostra os dentes, segurando a dor enquanto o sangue derramava entre seus dedos.

— A dor que você me causou anos atrás... – Resmungava Elesis. Seus olhos estão avermelhados, tão brilhantes quanto seu sangue. – é bem maior que essa. É por isso que terá que se esforçar mais se me quiser derrotada.

O aperto aumenta contra a lâmina. Em um rápido puxão, Elesis arranca a espada da mão de Gerard. Gira a arma e a pega pelo cabo, avançando contra o rapaz desarmado.

Fecha o punho ensanguentado e acerta contra o peito do ruivo. Gerard é arremessado pelo berserk da espadachim. Após isso, corre até o mesmo com sua pesada espada, que se torna leve enquanto no uso do berserk.

Gerard desperta com Elesis à frente, sua espada na posse da mesma. Apoia as mãos no chão e se arrasta com a furiosa espadachim fazendo seus cortes, todos atingidos perto de seus pés. O desespero se torna real quando Elesis muda a direção dos cortes e ele é obrigado a desviar para o lado, erguendo-se com um pulo para trás. Não é o bastante, a velocidade da ruiva não muda mesmo com uma pesada espada. Gerard desvia e aproveita o momento certo.

A lâmina bate contra o chão e ele joga o pé sobre, prendendo Elesis na posição desfavorecida. Corre sobre a espada e salta contra a espadachim, acertando seu joelho na face da mesma. Ela recua, soltando a espada. Gerard estica a mão e segura seu pescoço, erguendo seu frágil corpo.

Elesis sente a garganta esquentar, em seguida, uma forte e quente luz sair da palma de Gerard. A dor atinge o local, inclusive seu peito e ombros. Ela voa, batendo contra o chão enquanto uma fumaça saía de sua pele ferida.

— Isso vai demorar mais que eu pensava. – Comenta Gerard, recuperando a espada.

Elesis se esforçava para levantar, a dor da explosão dificultando a simples tarefa. Gerard não se move enquanto ficava de pé. Por sorte, pega um sabre próximo, já que o outro estava distante.

Passa a mão sob o nariz, tirando o sangue que escorria. Felizmente, o golpe não foi tão forte para quebrar ou ferir tanto.

— Concordo. – Diz Elesis, pela primeira vez, de acordo com o ruivo.

***

— Elesis! – Grita Arme, correndo pelos corredores do colégio.

Como tinha pressentido, algo não estava certo, e a mudança de clima era a prova disso. Quando viu Lothos sair preocupada de sua sala, teve certeza. Ela não explicou o motivo de vários garotos aparecerem no seu colégio, mas a preocupação que cobria seu rosto foi rapidamente ligada a Elesis.

Lire e a maga correram para o colégio dos garotos, Lothos iria após resolver os problemas no seu colégio. Após uma longa corrida pelas ruas, as duas chegaram e entraram, logo notando o vazio do lugar.

— Algo está vindo do fundo. – Menciona Arme. Corre na frente. – Rápido, Lire!

— O que é? – Pergunta com preocupação.

— Sinto uma grande quantidade de mana. É como se tivesse mais de uma pessoa.

— Elesis deve estar por lá.

— Acho que sim.

Ao decorrer do caminho, notam certas destruições e barulhos aumentarem com a aproximação. Chegam na entrada do pátio, parando antes ao verem os rapazes feridos. Zero carregava Sieghart para dentro, sua camisa manchada pelo vermelhando chamando a atenção das duas.

— O que aconteceu?! – Perguntam juntas.

Ronan, que parecia adormecido, olha surpreso para Arme. A maga se senta ao seu lado, olhando o estado que se encontrava. Ela encosta em seu rosto, enquanto Lire olhava os demais rapazes.

— Vocês precisam ir embora. – Fala Grandiel, os olhos caídos em cansaço. – Não é seguro para vocês.

— O que aconteceu, Grandiel? – Pergunta Lire. Encosta na testa do rapaz, sentindo a pouca mana que tinha. – Está ferido?

— Só um pouco fraco. – Afasta gentilmente a mão da elfa. – Agora, precisa levar os garotos para fora daqui.

— Ainda não sabemos o que está acontecendo. – Debate Arme.

A maga olha Ronan quando o mesmo a segura pelo ombro. Ele tenta se levantar, mas como Grandiel, o rapaz estava fraco e ferido.

— Gerard está aqui. – Continua antes de ouvir algum questionamento. – Elesis está o enfrentando agora.

— Precisamos para-la! – Fala Arme. – Gerard irá...

— Elesis é a única que está conseguindo segura-lo. – Fala Jin, de repente. Ele estava de pé, apoiado contra a parede. – Estamos todos fracos para isso.

— Vai deixa-la mesmo lá? – Lire olha indignada. – Alguém precisa tirar a Elesis de lá!

— Onde está a Lothos? – Grandiel pergunta. – Cadê ela?

— Já está vindo.

Grandiel não parece bem com a resposta. Da mesma forma que as duas estavam preocupadas, o loiro também está, principalmente por não ter forças para ajudar a espadachim.

De repente, Arme se levanta e corre para o lado de fora. Ronan se assusta, levantando e correndo atrás da maga. Segura a mesma pelo braço, porém, já estão do lado de fora. Ao longe, conseguem ver Elesis e Gerard.

— É ele mesmo. – Arme murmura, incrédula.

— Volte para dentro, aqui não é seguro. – Pede Ronan. Fica nervoso olhando a espadachim lutar, desviando a atenção para a maga. – Por favor.

— Mas a Elesis...

— É a Elesis e ela sabe cuidar de si. Se ela precisar de ajuda, vamos interferir.

Arme não tinha forças para dar as costas para a espadachim. Conseguia ver os machucados nela, o mesmo para Gerard. Estavam cansados, mas não paravam a luta; Elesis não pararia.

Segura Ronan pela camisa e o deixa a levar para dentro. Enquanto isso, ouvia ao fundo o barulho das espadas se encontrando, os pés arrastando no chão. Não gostava de ouvir, estava prestes a tampar os ouvidos.

Mas não fez. O som aumentou repentinamente, mesmo distante.

Está enganada. O som não aumentava, e sim se aproximava.

— Não! – Elesis berra.

Ela se vira junto com o Ronan, os dois congelando no lugar ao verem Gerard próximo. A espada seguia eles, atingiria os dois.

Elesis avança pela lateral, acertando ambos os pés contra o ruivo. Gerard é jogado para longe deles, batendo contra o chão de forma agressiva. Arme e Ronan olham assustados, sem se moverem.

— O que estão fazendo?! – Fala Elesis. – Saíam!

— Elesis, venha com a gente! – Fala Arme – Você acabará se matando se continuar.

A espadachim vira o rosto para Gerard. Ele já tinha se levantado, agora seguia até eles. Elesis se move automaticamente contra seus amigos quando o ruivo desaparece. Empurra ambos contra o chão, porém é tarde para ir junto.

Gerard chega nas suas costas. A dor que sente em seguida a arremessa para dentro do prédio. Atravessa a parede e cai sobre os escombros, rolando até bater na parede próxima.

— Elesis! – Ouve várias vozes ao mesmo tempo.

A dor desperta quando movia alguma parte do corpo. Solta um baixo gemido, levantando-se contra vontade. Ao abrir os olhos, seus amigos estão distantes, olhando-a caída. Ao fundo, a silhueta bloqueia a luz da entrada. Todos ficam tensos e se afastam.

— Saiam! – Grita Elesis. – Agora!

Gerard avança, o ataque mais forte que o anterior. A espadachim recua enquanto se defendia. Usa as chamas para rebater, porém é impedida ao perder um dos sabres. O ruivo continua a atacar, aumentando a velocidade dos cortes.

De repente, o rapaz gira o cabo da espada, então a pesada lâmina desliza em sua direção. Salta para trás, assustada. Era uma distração, e conseguiu cair como ele desejava. Com uma espada mais leve, o corte feito é rápido demais para Elesis ter conseguido prever.

Um corte na diagonal é feito no peito da espadachim. Cai para trás pelo impacto, tossindo ao atingir o chão. Apoia a mão livre sobre a ferida, sentindo uma queimadura no local ao encostar.

— Elesis! – Os grito ao fundo aumentam.

O mundo parece parar, os sons se tornam abafados. Ao piscar, tudo fica embaçado. Enxergava o rosto de Gerard com dificuldade, a lamentação pouco visível no rosto do rapaz. Ele dá um passo à frente para se aproximar, outros são ouvidos ao fundo. Fecha os olhos por um instante, ouvindo apenas o som do salto e um estrondo a seguir.

Seus olhos se abrem após um tempo, que duraram segundos. Gerard tinha sumido, no lugar dele, suas amigas se aproximavam. Depois disso, sua consciência apaga até não sentir mais dor.

***

— Então?

Não lembra de como chegou naquele lugar, ou de como achou a cadeira que sentava. Fitava as mãos entrelaçadas, curiosa em saber onde os machucados foram parar. Não existia dor, barulho ou tormento naquele lugar. Tudo em sua volta era escuro, mas apesar disso, não temia a escuridão.

Levanta o rosto. Havia uma pessoa à frente, também sentada como ela. Era como um espelho, mas com diferenças que tornava outra pessoa.

— Como se sente? – Eléo volta a perguntar.

— Diferente. – É honesta. – O que eu devo fazer agora?

— Espere um pouco. – Cruza as pernas. – Logo chegará seu momento.

— Mas não posso continuar aqui. Preciso ir embora.

— Paciência.

Por que deveria continuar ali? Tinha um compromisso importante, lembra. Mas o que era, não sabia.

— Está mesmo disposta a isso? – Pergunta o rapaz.

— Já disse que sim.

— Sabe que quando voltar, terá que carregar um fardo maior, certo?

— Eu sei...

— Não é esse tipo de fardo. – A espadachim não entende. – Mas outro.

Qual fardo seria maior que carregar as chamas? As intenções de Eléo não ficam clara, criando um certo mistério no ar. Espera que ele responda, porém ele desvia o olhar.

Ficam em silêncio por um tempo. Elesis tenta não se focar nas palavras ouvidas, apenas criaria uma preocupação a mais que não gostaria de ter no momento.

Eléo levanta da cadeira.

— Certo, tá na hora. – Ele fala.

Elesis não sabe o que fazer. Levanta, esperando alguma instrução.

— Você saberá o que fazer quando chegar o momento. – Diz Eléo, sentindo sua dúvida. – Só não deixe isso te levar. É perigoso.

— Entendi.

— É sério. Qualquer deslize e será fatal.

Engole seco, finalmente entendendo o perigo. Assente sem pensar muito. Eléo abre um sorriso e volta à cadeira.

— Nos veremos em breve. – Diz com um tom estranho. – Até lá.

***

— Elesis! Elesis, acorde. – A voz chorosa a chamava.

Demora a despertar, suas memórias se colocarem em ordem. Move as mãos, que eram seguradas com força. Ao se mexer, para pela dor em todo o corpo.

Demora para que sua visão volte, a luz do local invadindo sua vista. Pisca, confusa. Vira o rosto para os lados, vendo Lire e Arme de cada lado. Quando a notam, sorrisos são abertos.

— Você está viva! – Diz Arme, secando as lágrimas. – Ainda bem!

As mãos da maga estavam sujas com seu sangue. Arme deve ter usado alguma magia nela, que não teve um bom resultado. Pelo tempo em que esteve apagada, minutos devem ter passado, mesmo achando que foram dias.

— Elesis, não levante. – Pede Lire.

A ruiva já se sentava, usando o ombro delas em apoio. Num sinal de afeto, a mão da espadachim passa no seu rosto. Quando percebe, Elesis está de pé. Ela anda devagar em direção aos sabres.

— Elesis, descanse! – A elfa volta a repetir.

Pretendem levar, porém permanecem no chão. A aura de Elesis mudou, existia uma intensidade que as impediam de se aproximar.

Elesis pega os sabres e os carregam para o lado de fora, as pontas da lâmina arrastando pelo piso. Passa pela entrada do pátio, decidindo não parar para olhar os rapazes. Sente a surpresa deles sobre ela, principalmente de Jin.

— Elesis! – Quando a espadachim passa, sente algo de diferente. Sua preocupação volta. – Elesis?

Não existia mais dor que a impedisse de continuar. A ruiva seguia para o lado de fora, o som das espadas aumentando a cada passo. Seu despertar não tinha sido de um sono profundo, mas do seu verdadeiro potencial. As chamas que usava se tornam inferiores ao sentir o real poder dentro de si.

Para de andar. O aperto no cabo dos sabres é forte, determinado.

Lothos lutava contra Gerard, no momento, ela apenas sobrevivia. Mais um golpe e a comandante cairia. Embora estivesse no limite, por causa dela, a loira continuava a luta. Como todos seus amigos, não deixaria Gerard se aproximar dela. Lothos era sua responsável e agia como uma ao enfrentar o ruivo.

A comandante é atingida, caindo sem ter forças para evitar. Elesis se aproxima em passos largos, parando na frente da mesma para impedir Gerard. O ruivo não se move, deveria estar surpreso, mas escondia sob a expressão de concentração. Não demora muito até um sorriso aparecer no rosto do rapaz.

— Deixe comigo, Lothos. – Fala Elesis sobre o ombro. – Você já faz sua parte.

— O quê? Você quem deve sair, Elesis. – Persiste. Quando pretende continuar, para, sem palavras.

A espadachim possuía um sorriso sereno. Sente dentro da mesma uma confiança que nem ela mesmo tinha. Uma aura forte e determinada, era isso que sentia.

— Ficarei bem. Pode ir. – Fala Elesis.

Sente o receio da comandante em ir. Confirma com o olhar que tudo ficaria bem. Lothos desejava ficar, porém, lentamente, afastava-se. Elesis agradece com um aceno, virando-se para Gerard quando a comandante está distante.

— O que é isso? – O ruivo pergunta, movendo a cabeça como um gato. – Algo está errado.

— Não. – Balança a cabeça, sorrindo. – Algo está certo. Muito certo.

Gosta de ver Gerard tentar descobrir o que era. O rapaz fica incerto, com medo de desvendar o mistério que tanto o incomodava. Chega um momento que ele desiste, fingindo não se interessar mais.

Gerard avança, seus movimentos não parecendo tão rápidos agora. Fica parada e espera o momento certo. O vente bate contra seus cabelos, então os sabres são erguidos.

Olha surpreso para a espadachim. Ela se defende, porém não se esforçava tanto para segurar o ataque. Rebate contra a espada do ruivo, avançando com outro sabre. Gerard desvia para o lado, para a mesma direção da perna erguida da espadachim. É acertado na costela, sendo impulsionado pelo berserk.

Cai de pé, recebendo outro ataque de Elesis. Tudo que consegue fazer é defender, a espadachim não deixava uma brecha com os pesados ataque. Precisa escapar dessa pressão, recuando com um salto enquanto dispara as chamas.

Elesis salta contra as bolas de fogo e some entre elas. Consegue enxergar sua silhueta entre as chamas, então um brilho surgir no interior. Gerard desvia para o lado quando enxerga aquela cor voar em sua direção, em forma de chamas.

Elesis cai no chão após ter errado o ataque. A fumaça escapa de sua boca. Ela se vira para Gerard, sorrindo enquanto deixava as chamas azuis crepitar sobre seus ombros. O poder que tanto procurava estava em mãos, dando a força que sempre sonhou ter.

Gerard percebe isso, tenso.

— Eu não esperava por isso. – Ele fala num tom brincalhão.

As espadas voltam a se colidir. Gerard é pego de surpresa pela ruiva, porém está mais esperto com os ataques da mesma. Ela usa as chamas para atingi-lo, esquivando-se o mais rápido para evitar qualquer toque. Não seria como as chamas roxas, as azuis o queimariam, levando a morte dependendo do local atingido.

Elesis salta sobre Gerard, que joga a espada sobre como escudo. Ela usa a lâmina como apoio e salta o mais alto. Gira o corpo, ao descer, criando cortes com as chamas.

Gerard rola para o lado, recuando das chamas disparadas. Elesis desce, usando ataques físicos para atrasa-lo. Ela está mais forte, não precisando usar o berserk para isso, já que as chamas substituíam a magia.

A espadachim passa direto com um ataque. Gerard usou a eletricidade para escapar, a atingindo pelas costas. Vira-se e avança contra o mesmo. Seu corpo é preso no chão, um peso descomunal caindo sobre ela. Ao mesmo tempo, o ruivo a atingi com um chute no peito. Elesis rola para trás, levantando em um salto e defendendo os próximos ataques.

O combate segue em alta velocidade, os ataques e movimentos fora do limite humano. Chamas voam para os lados e magias aleatórias para o outro.

Impaciente, Elesis dispara uma enorme quantidade de chamas contra o ruivo. Ele recua e faz um rápido movimento com a mão, então uma parede de pedra sobe na sua frente. A espadachim o perde de vista, achando quando Gerard está caindo sobre ela. Pula para trás, desviando dos ataques do rapaz.

Recuando, Gerard alcança seus passos com um corte da espada. Atingi sua costela, sendo obrigada a criar uma barreira de chamas para evitar outro. Afastada, apoia a mão na ferida. Apenas um pouco do sangue mancha sua palma, o que é uma surpresa. Sente a ferida cicatrizar.

Gerard também percebe a regeneração da espadachim e a ataca. Não pode deixar que haja uma recuperação da mesma, por isso aumenta os ataques, usando magia quando necessário. Percebe, ao longo da luta, que as chamas azuis vão aumentando com os ataques de Elesis. Ela começa a perder a calma, ficando agressiva de uma forma que é obrigado a recuar e usar ataques a longa distância.

Em um momento, ao se afastar, Elesis avança com os sabres. Não poderia ataca-la naquela distância, então optou por usar a espada. Faz o corte na mesma direção que a espadachim, as lâminas se chocariam e a ruiva recuaria pelo impacto.

Deveria ter acontecido dessa forma, porém não. As chamas contornam a lâmina do sabre no último segundo. Gerard não sente as lâminas se chocarem, mas algo mais áspero e profundo.

Elesis corta a espada do ruivo com um rápido golpe. A pesada lâmina é partida ao meio, uma linha perfeita se formando entre as duas partes. Gerard arregala os olhos, sem reação. Antes que Elesis o atacasse com o outro sabre, recua com a espada na frente em defesa. A lâmina, já partida, é atravessada pelo punho da espadachim.

Presa, Gerard gira a espada e a puxa, encostando a mão em seu peito. A explosão é maior que a anterior, voando mais alto antes de atingir o chão. Finalmente, começa a sentir as dores.

Seu corpo chegava no limite.

— Não agora... – Resmunga Elesis.

Seus braços tremem ao força-los contra o chão. Demora para ficar de pé, as dores aumentavam a cada músculo usado. Ainda restava um pouco do poder das chamas para ser usado, porém deveria ser usado com sabedoria.

Ao olhar para Gerard, nota o cansaço do mesmo. Ele solta a lâmina pesada, estando apenas com a simples espada, que por sorte estava inteira. O ruivo respira fundo antes de direcionar o olhar para ela.

Elesis segura a última parte das chamas que sobra e parti contra Gerard. Pelo cansaço, ambos não se movem como deviam, estão mais lentos e fracos. A espadachim continua a usar as chamas, disparando contra o ruivo. Quando sua mana está acabando, usa uma quantidade maior e ataca Gerard. O rapaz defende um sabre, porém esquece o outro.

A carne de seu ombro é perfurada pela lâmina e o calor das chamas. A dor não surge no instante, apenas quando olha. Trica os dentes e ataca furiosamente Elesis. A ruiva é atingida por uma forte joelhada no estômago. Ela cai para trás, sem muita força para levantar após.

— Chega. – Enquanto levantava, olha Gerard. Ele encarava no chão enquanto segurava o sangrento ombro. – Chega disso.

De repente, um vento gelado passa por ela. Olha assustada para o chão sob o rapaz, congelando e se expandindo. Elesis fica de pé, mas não se move quando o gelo passa sob ela e não a congela. Aos poucos, uma parede se forma em volta deles.

— E-Ei! – Grita Elesis, uma fumaça saindo de sua boca. – O que está fazendo?!

Quando percebe, estão sendo presos em uma cúpula de gelo. Elesis observa o topo se fechar e o frio tomar conta do local. Abraça o corpo, começando a tremer. A luz atravessava o gelo como um vidro, a iluminação vindo distorcida por isso.

— M-Me matará de frio? – Os lábios tremiam ao perguntar. – Es-Essa é sua ideia?

— Não quero mais lutar. – A voz de Gerard sai direta. – Já chega para mim.

— Acha mesmo que é tão simples assim? Eu não...

Tosse, engasgada quando algo sobe pela sua garganta. Cai de lado no chão pela fraqueza, as forças escapando de seu corpo. O gosto de ferro que sentia é o bastante para saber o que escorria por entre seus lábios.

— Que droga é essa? – Murmura Elesis contra o vidro.

Seu corpo não aguenta mais. Você usou muito meu poder. — Explica as chamas.

— O quê? Eu nem usei você direito. – Disse indignada. – Cadê o resto?

Eu disse que daria um pouco para você lutar, se eu desse mais, você não aguentaria. Eu fiz isso para te manter viva.

— Você só pode tá de brincadeira?! – Grita. Sua voz ecoa pela cúpula. – Isso não é o suficiente, eu preciso de mais!

Desculpe, mas já deu para você.

Elesis encara seu próprio reflexo no gelo, furiosa ao sentir as chamas a deixarem sozinha. Chama mais uma vez, não ouvindo mais sua voz. Seu corpo pesa ao ter consciência de seu estado.

Senta-se, vendo Gerard olha-la sem expressão. Ele deveria estar confuso pelos seus gritos, mas prefere não demonstrar no momento.

— Eu não preciso das chamas para lutar. – Indaga Elesis. – Os sabres são o suficiente.

— Elesis, pare. – Gerard fala. Cansado, não conseguia usar um tom elevado. – Já chega.

A espadachim levanta, usando as próprias pernas em apoio. Seus sabres estavam distantes, precisou forças alguns passos até alcançar. Ao chegar perto de um, cai de joelhos e estica a mão.

— Acabou, Elesis! – Grita Gerard atrás dela.

Puxa a ruiva pelo braço, que se vira com o sabre contra ele. Seu rosto se contorce pela dor na barriga, empurrando a espadachim com força. Elesis bate contra a parede de gelo, caindo sentada. Antes que conseguisse falar, olha para baixo, vendo a espada cravada na sua barriga.

— Você não é humano. – Fala Elesis. Os olhos arregalam enquanto assistia o ruivo tirar o sabre e joga-lo de lado. Gerard joga uma mão sobre a ferida e a outra permanecia segurando sua espada, o que restou dela. – Que tipo de monstro é você, Gerard?! É imortal, por acaso?

— Eu sinto muito! – Ele grita de volta. Elesis se encolhe pelo eco causado. – Desculpe, ok? Nunca quis que as coisas terminassem assim.

A espadachim se cala. Impotente, não teria o que fazer além de ouvi-lo. Seus ombros abaixam, mas seus punhos continuam fechados.

— Elscud era meu amigo, meu irmão. – Gerard falava, olhando o chão. Para si próprio. – Eu nunca seria capaz de mata-lo... Eu... Me desculpe.

— É tudo isso que tem a dizer? Um pedido de desculpa?!

Gerard balança a cabeça.

— Então o que é tão importante?! Você matou meu pai, qual é a desculpa para isso?! – Balançava os braços, nervosa. – Matou todos da guilda! Destruiu minha vida! Agora diga, qual foi o motivo para ter feito isso?!

— Cazeaje. – Sussurra.

— O quê?

Gerard ergue o rosto. Não havia sorriso ou um olhar de deboche, apenas o Gerard que conheceu anos atrás. Elesis olha assustada, como se visse uma máscara cair.

— Eu amei sua mãe. Ela era única, nunca consegui achar uma mulher parecida com ela.

— O que isso tem a ver? Por que está falando da minha mãe?

— Ela é o motivo de tudo. – Elesis continua sem entender. – Sua mãe era a dona das chamas, você já sabe disso. No entanto, ela escondia isso de todos, tanto que se isolou do mundo. Ela temia ser achada, ser vista como uma aberração como todos falavam. Mas eu não a via dessa forma. – Seus lábios se movem, um pequeno sorriso sendo formado. – Penelope era simples, amável e teimosa. Muito teimosa. Eu amava cada parte dela.

Era verdadeira as palavras de Gerard, notava Elesis. Do mesmo jeito que ele mencionava sua mãe, Lass falava dela. Ficavam sem jeito e desviavam o olhar por um instante.

— Eu prometi que iria protege-la, que ninguém a feriria por causa das chamas. Meu pai também aceitou Penelópe, era como uma filha para aquele cara. – De repente, solta uma risada sem jeito. Elesis sente-se mal vendo as diversas reações do ruivo diante dela. – Então seu pai a conheceu e... – Sem palavras, Gerard não tira o sorriso do rosto. – Eles se deram bem.

— Você o odeia por isso? Por ter tirada a garota que amava das suas mãos?

— Não, seria bobo da minha parte se sentir assim. Aliás, Penelope estava melhor com ele, então eu decidi superar isso. – Pausa a história. Usa a espada para continuar de pé, evitando tossir. – Eu tentei, vou ser honesto.

— Tentou? – Não consegue evitar de lembrar Lass. Sente um incomodo com o decorrer da história.

— Já devem terem dito para você sobre o perigo das chamas, prevejo. – Evita a pergunta da espadachim. – “Não faça isso, não sinta isso. Bla bla bla”. Grandiel tem cara de ficar repetindo isso. Mas naquela época não tinha ele por perto, então foi uma surpresa quando sua mãe começou a ficar doente.

— Doente? Meu pai nunca falou sobre isso. – Até porque, era uma criança e ele evitaria de contar algo parecido.

— Ela estava grávida de você.

A dor no corpo aumenta ao descobrir uma parte da história de sua mãe. Seus braços se movem sozinhos, abraçando o trêmulo corpo pelo frio e fraqueza. Abaixa o rosto. Não gosta de causar dor nas pessoas, principalmente as mais próximas. Sua mãe, que nunca conheceu, é querida da mesma forma.

— Ela estava fraca e as chamas fizeram mal a ela. – Adivinha Elesis. – Foi por isso que ela morreu? As chamas...

Contrai os lábios. Não precisa ouvir uma resposta, o silêncio do ruivo mostra isso. Elesis sabia do que as chamas são capazes, seu corpo estava no limite por causa delas. Ao fundo, sentia as chamas desvia o olhar, evitando que a culpa caísse somente sobre elas.

— Era época de guerra, sabe. – Gerard menciona. – Seu pai tinha sido chamado para participar, a guilda toda, aliás. Sua mãe não estava bem, então fiquei no lugar do Elscud para cuidar dela. Eu e o Astaroth.

— Astaroth?! Meu pai não pôde ficar, mas Astaroth sim? Achei que ele fosse importante para a guerra.

— Ele é... – As palavras prendem na garganta. Coça a nuca. – Quer dizer, era. Ele só estava de passagem, porque eu pedi. Você iria nascer, sua mãe não resistiria e as chamas poderiam ser libertadas. E se fossem libertadas, a guerra só pioraria para o nosso lado. Então quando você nasceu... Enfim, precisávamos ser rápidos, senão as chamas tomariam conta do corpo dela.

— O que fizeram? – Pergunta, curiosa. Gerard ou Astaroth nunca tiveram as chamas, nem mesmo ela, até agora.

— Chamamos um velho amigo. Regis Wild, ou seu sogro. – A espadachim olha nervosa por um instante, voltando ao normal com o continuar da história. – Ele ficou com as chamas durante esse tempo, depois passou para o filho bastardo dele.

— Não fale assim do Lass!

Gerard se mantem firme quando as chamas azuis despertam em Elesis. Não dura muito até sumirem e a espadachim desabar contra a parede de gelo. Ela se recompõe, fingindo estar bem.

— Enquanto as chamas estavam distantes, ainda tínhamos problemas em mantê-la discreta do Conselho, ou da líder dele, Cazeaje. Aquela mulher é como um cachorro, sentiu cheiro do rastro das chamas não sei como. – Fala irritado. – Elscud e eu tínhamos que te esconder, porque se ela descobrisse quem você era, todos nós estaríamos ferrados.

Outro peso da culpa. A raiva, a cada palavra do ruivo, era substituída por esse peso desagradável. Sabia que era verdade ao lembrar do passado, vendo Cazeaje invadir sua guilda e perguntar sobre ela. Gerard e seu pai brigavam pela tensão que a líder causava. Desde de muito tempo, Cazeaje tem feito um plano especialmente para ela. Nega para si. Não para ela em específico.

Gerard persistia em continuar de pé, a mão tremendo sobre o cabo da espada. É inevitável lembrar da líder perguntando sobre ele no passado, de uma forma provocativa. Mesmo nos dias atuais, Elesis ainda percebe esse mesmo olhar de Cazeaje ao mencionar Gerard.

Estreita o olhar sobre o ruivo. Tenta descobrir sob sua exaustão alguma coisa que respondesse as dúvidas de Elesis.

— Gerard, o que Cazeaje fez? – Pergunta, o gosto salgado ao mencionar o nome da líder invadindo sua boca.

O ruivo cai de joelhos no chão. Elesis se assusta, batendo contra a parede de gelo. Pensa ser um ataque do mesmo, porém é apenas ele desabando sem forças. Fica por um tempo assim, o rosto abaixado enquanto ainda usava a espada em apoio.

— Cazeaje fez todos meus amigos ficarem contra mim. – Disse, a voz arrastada. Olha para a espadachim, para a preocupação que ela começava a ter por ele. – Principalmente você.

— Gerard, o que ela fez? – A irritação que arrasta sua voz não é causada pelo ruivo, mas pela líder.

Ele sorri, satisfeito em ver a curiosidade da espadachim. Finalmente tinha sua atenção, mesmo sendo o pior momento para explicar. Segura com mais força a ferida na barriga, cuspindo um pouco do sangue que se acumulava na boca.

— Bem, foi assim... – Diz, os dentes manchados pelo sangue.

***

Não sabia o que esperar dessa vez. Tinha sido chamado ao anoitecer, o que foi uma surpresa para mim. O que Cazeaje queria a essa hora? Meus encontros com a ela sempre foram pela parte da manhã. Tentei não pensar muito no assunto, acabaria ficando tenso na frente dela.

A porta da sala abriu. Eu me assustei, porém permaneci com o rosto para frente. Cazeaje passa por mim, observando minha postura. Odiava quando ela fazia isso, sempre quando nos encontrávamos.

— O que foi? – Perguntei. – Me chamar aqui a essa hora nunca é bom sinal. Se é sobre a guilda, fale com o Elscud amanhã.

— Não é sobre a guilda. Bem, tem um pouco a ver. – Ela balança os ombros.

— Então... – Fiquei sério ao perceber o sorriso de Cazeaje. Quis recuar, mas permaneci no lugar.

— Eu já te fiz milhares de propostas para fazer parte do Conselho e nenhum deu certo. Já te ameacei, mas também não deu certo. – Falava com um tom dramático. – E mesmo após tudo isso, você continua achando que sou uma idiota, Gerard. Você e o Elscud acham que sou cega, não é mesmo?

— Você vive repetindo sobre essas chamas, mas não sabemos! – Estava impaciente, acabei elevando a voz. – Você já foi na nossa guilda e achou nada, então pare de persistir!

— E quanto a pequena ruiva? – Os dentes aparecem, satisfeita pela minha tensão. – Seria interessante vê-la no Conselho, trabalhando junto comigo, já que você recusou.

— Elesis é uma criança. – Era difícil controlar a raiva, naquele instante. – Não a coloque no meio.

Cazeaje riu, gargalha o mais alto possível. Ela para de repente, sem tirar o sorriso.

— Percebi que você é diferente, Gerard. Elscud pode ser o líder que quiser, mas você tem algo a mais. Por sinal, eu gosto disso.

— Se me chamou apenas por isso, estou de saída.

— Espere, espere! – Meu maior erro foi ter parado e virado de volta. – Como eu dizia, você tem algo a mais, que o torna mais forte que qualquer pessoa. É como seu pai, só que mais inconsequente.

— É, estou prestes a cometer algo inconsequente se não falar de vez. – Disse em um tom ameaçador, que não surgiu efeito nela.

— Você é uma pedra no meu caminho. Uma rocha que não se moverá tão cedo. – Cazeaje ficou séria de repente. – Até que eu chegue onde quero, você irá me atrapalhar, e muito.

Uma pesada aura invadiu o salão. Eu sabia de onde vinha, por isso, tentei não ficar tenso diante a líder.

— Isso é uma ameaça? – Levantei uma sobrancelha.

Com um semblante sério, Cazeaje formou um sorriso sádico.

— Quem é a pequena Elesis?

— Vai se ferrar!

Não continuei para ouvir o resto. Saía do salão, porém fui parado pela voz de Cazeaje ao fundo. Precisei respirar fundo antes de encara-la novamente.

— Seria uma pena se seus amigos descobrissem que você me serve. – Ela menciona em um alto tom. – Ou de que todos acham que você está os traindo.

— Eu sirvo porque você me ameaça! Eles entenderiam isso.

— Entenderiam mesmo?

Cazeaje andou na minha direção. Estava perdido enquanto pensava sobre a ameaça da mesma. Ela se aproximou e apoiou a mão sobre meu peito, olhando com o rosto próximo.

— Junte-se a mim e seus amigos não se machucarão. – Disse com completa calma. – Nem mesmo a pequena ruiva.

Agarrei o rosto de Cazeaje com força, apertando em irritação. Agradeci por não ter uma espada por perto, ao mesmo tempo, lamentei.

— Toque neles e você é uma mulher morta. – Rosnei.

— Essa é a sua resposta, então. – Afastou a mão de mim, voltando um passo. – Que pena.

Percebi que a ameaça tinha sido feita desde o início, pela calma que ela tinha, esperava algo acontecer. Minhas mãos coçaram para se fecharem na face dela, porém, me contive. Não perderia tempo ali.

Voltei para minha guilda correndo, desesperado pelo que podia acontecer. Quando cheguei, estranhei a tranquilidade do lugar. No entanto, tinha uma certa mudança de clima em volta.

Todos me olhavam, pareciam furiosos. Fiquei assustado, esperei ouvir alguém explicar o que acontecia.

— Gerard. – Um deles me chamaram, enquanto todos não soltaram as espadas desde minha chegada.

— O que foi? Por que todo mundo está com essa cara? – Eu ri, achando que era uma brincadeira.

Então, uma pilha de papeis foram jogadas contra mim. Olhei confuso, descartando a ideia de piada ao perceber a seriedade de todos. Olhei para os papeis caídos sobre meus pés. Preferia não ter visto, mas já olhava as fichas de missões que fiz para Cazeaje. Todas estavam ali, até as mais pesadas.

Então finalmente entendi o que ela tinha dito para mim. Rejeitei todos seus pedidos, agora era visto como um traidor.

— Me escutem. – Pedi, nervoso. – Isso tem uma explicação.

— Gerard, você estava servindo àquele monstro.

— Eu precisei! Agora me escutem, é importante. – Comecei a fica nervoso. Não sabia o que dizer.

— Todas essas missões... – Um amigo apontou para os papeis. – Você fez?

— Sim, mas...

— Então você pretendia fazer essa?!

Um papel dobrado foi arremessado contra mim. Olhei confuso, sem saber o que dizer. Decidi abrir o papel para saber o que tinham deixado todos tão nervosos.

Era uma missão para eliminar uma guilda.

A minha guilda.

— Não, eu nunca faria...

Então parei de falar. Eles não me escutariam, seria impossível de explicar para todos. Só tinha feito os favores a Cazeaje para esconder o segredo das chamas, para que a minha pequena ruiva não fosse descoberta. Eu tentei tanto e no final, de nada adiantou.

Cazeaje tinha me jogado contra eles. Além das milhares de cartas que enviou para a guilda, um aroma estranho estava impregnado nos papeis. Fui descobri depois de anos que era uma poção. Apenas com seu cheiro fazia as pessoas se alterarem, ficarem nervosas com qualquer bobagem.

Meus amigos, todos eles, tinham inalado o aroma por horas. Com um motivo, todos me fitaram como um inimigo.

Eu amo eles. Mas quando peguei uma espada e olhei para todos, o amor que sentia tinha ficado no passado. Eles avançaram contra mim. Que escolha eu tinha?

Eu amava eles.

Então com o barulho da confusão, Elscud chegou na guilda. Ele me viu, balançou a cabeça em negação. Quis explicar, mas não pude. O aroma já tinha me afetado também.

Em um momento, estava olhando meu irmão. No outro, seu corpo estava estirado no chão, coberto por sangue. O meu e o dele. Meu ombro latejava, queimava de dentro para fora.

Você apareceu. Já tinha ficado consciente, arrependido. O que eu fiz foi te deixar para trás, nas mãos de Astaroth quando fugi com Arthur. Meu pai me acolheu, entendeu o que aconteceu. Apesar disso, nunca interferiu na minha vida.

Eu estava sozinho. Perdi tudo. Apenas havia uma coisa que me deixou vivo: Cazeaje. Eu a mataria, pegaria as chamas azuis e usaria nela. Faria de tudo. Seria o cara frio, o homem mais procurado de Ernas apenas para chamar sua atenção. Foi um erro ter me deixado viver naquela noite.

Eu faria ela se arrepender.

***

Todos olharam Elesis enfrentar Gerard e uma luz estranha sair dela. Demoraram a descobrir que eram as chamas azuis. O poder atingia a todos, mesmo distantes. Era surpreendente como ela lutava. Por um momento, tiveram esperanças que ela ganharia.

No entanto, Elesis caiu e uma parede de gelo começou a se erguer atrás dela. Todos ficam assustados ao verem a grande cúpula de gelo se formar.

— Elesis! – Grita Arme. A maga pretende ir, mas fica por medo.

Lothos segue em frente. Segura firme o florete para destruir o gelo e salvar a espadachim. No meio do caminho, seus passos são interrompidos pela forte dor. Fraca, caía para o lado. Lire e Arme a pegam antes de se encontrar no chão.

— Tudo bem, Lothos. – Garante a maga enquanto usava sua magia.

Jin se prepara para levantar, porém volta ao chão. Não conseguiria chegar até a cúpula, cairia antes disso.

— O que faremos? – Pergunta. – Elesis vai morrer se ninguém interferir.

Ela poderia ter as chamas azuis, mas não valeria muito contra Gerard. O ruivo a derrubaria mesmo com o maior poder em mãos.

Ninguém responde sua pergunta. O ruivo já aceitava o destino da amiga, sua cabeça abaixava em lamentação. Queria ganhar forças para ir até Elesis e tira-la de lá.

Mas ele não aceitou.

— Ora ora, quem temos aqui. – Ouve Lupus comentar.

Sem vê-lo, abre um sorriso. Olha sobre o ombro, grato por não ser uma alucinação.

Lass era o único de pé, embora estivesse ofegante. O ninja olha para todos caídos, ficando sem entender no mesmo instante. Logo a cúpula de gelo chama sua atenção e o faz entrar em mais questionamentos.

— O que está acontecendo?

— Lass! Você precisa entrar lá! – Aponta Jin.

— Alguém me explica o que está acontecendo! Por que todos estão machucados? E que droga é aquela?!

— Gerard está aqui. – Ronan responde, quase desmaiando. – Agora, dentro daquela cúpula, está a Elesis e o Gerard.

O que menos esperava é dito. Lass sentiu que algo de errado, mas esperava ser outra coisa. Gerard e Elesis juntos, lutando era uma péssima notícia. Achou que poderia evitar todo o problema se encontrasse a espadachim antes, aparentemente, chegou atrasado demais.

— Seu idiota! – Gritou Lire antes de acertar um soco no ninja.

A dor enche sua bochecha, cai um pouco para o lado e se recompõe. Olha confuso para Lire. A elfa é segurada pela maga, que a puxa para longe dele.

— Você deu as chamas para ela, não é?! – Dizia Lire.

— As chamas? Que chamas?

— Lass. – Olha para Grandiel. Ele estava encostado na parede, em um estado parecido com o de Ronan. – Por que a Elesis está com as chamas azuis?

A situação já estava confusa demais, com essa notícia, Lass não sabe o que fazer. Pela expressão de todos, sabe que é verdade. Elesis estava com as chamas azuis, porém tinha um problema.

Quando foi que entregou as chamas para ela?

— Eu não dei as chamas para ela. – Não convence. – Eu não dei! É sério, gente!

— Então como explica isso? – Questiona Lire, ainda sendo segurada. – Como explica a Elesis ter as chamas?

— Eu não sei! – Grita de volta.

Jin levanta entre eles. Empurra Lass para trás, queria evitar mais confusão naquele momento.

— Esse não é o problema agora! – Jin rebate para os dois. – Lass, você precisa tirar a Elesis de lá.

Ele assente. Desvia da elfa enquanto seguia para a distante cúpula. Porém, para ao ouvir um chamado ao fundo.

— Pessoal. – Zero aparece após sua saída mais cedo. – O Conselho está vindo para cá.

— O quê?! – Todos falam juntos.

— Impossível. – Lothos fala, perplexa. – O que fazem aqui? Agora?!

Cazeaje não poderia descobrir de repente sobre a chegada de Gerard no colégio. Todos ficam tensos enquanto tentavam descobrir o motivo da líder ali.

— As chamas. – Comenta Grandiel. – Elesis usou as chamas azuis.

Ela não apenas usou, a espadachim abusou do poder e deixou que se tornasse chamativo para a pessoa mais distante. Cazeaje deve ter visto, agora vindo pela ruiva; ou por Lass, como pensava.

Olham para o ninja, que já corria em direção à cúpula. Não é preciso muito tempo para ele descobrir o que aconteceria.

— Elesis! – Grita o ninja, preocupado.

***

Gerard tinha terminado de contar a história fazia alguns minutos. Da mesma forma que se mantinha quieto, Elesis estava olhando para o ruivo. Não tinha palavras para serem ditas, sua boca se abria, então fechava. Existia uma dor estranha após ouvir a história. Vira o rosto para o lado, evitando olhar Gerard. Quando percebe, está olhando para o próprio reflexo no gelo. É surpreendida pela expressão vista na sua face.

Tristeza. Não tinha lágrimas, mas seus olhos demonstravam esse sentimento. Volta o olhar para Gerard, sabendo que o mesmo continuava vivo pela fumaça que escapava de sua boca.

— Diga alguma coisa, não termine a história assim! – Fala Elesis. – É mesmo verdade? Cazeaje te obrigou a matar meu pai? – Sem resposta. – Me responda, Gerard!

Elesis levanta, cai e persisti em ficar de pé. Suas pernas tremem, o que esquece ao correr até o rapaz. Desaba na frente de Gerard, pegando o mesmo pela camisa. Puxa até que seu rosto seja levantado.

— Me diga! – Gritava a ruiva, a fumaça batendo contra a face de Gerard. – Está inventando isso? A história não pode ser só isso!

— Infelizmente, é. Sabe por quê? Eu sonho com ela todo dia, mesmo acordado. – Abre um sorriso sem graça.

Seus dedos soltam a camisa do ruivo, lentamente, suas mãos caem sobre seu colo. Havia um estranho vazio que Elesis não sabia como interpretar. Acreditava? Não sabia, mas por dentro, uma parte de seu corpo aceitou.

— É mentira! – Soca o rosto de Gerard. Ele continua ajoelhado, sem se mover. – Você nunca se importou com o meu pai!

— Eu me importei, sim! – Grita, sem olha-la. – Elscud era meu irmão, como acha que eu me senti ao mata-lo?! Eu me senti... senti tão vazio. – Segura a camisa com força. Sua voz falha quando tenta continuar. – Ele não lutou, não queria me machucar...

— Hã? – Os lábios de Elesis tremem. Não era o frio, dessa vez. – O-O quê?

— Seu pai não lutou contra mim, porque acreditava que eu continuaria vivo para te proteger. Ele já tinha aceitado o maldito destino que Cazeaje escolheu para ele. – O aperto aumenta.

— E por que Cazeaje faria tudo isso com vocês?!

Gerard passa a mão no rosto, logo na camisa. Ele se recupera rapidamente, erguendo o rosto coberto por machucados.

— Ela queria você. Ela não pôde ter a Penelope, então foi atrás de você. Todos esses anos, Elscud e eu estávamos te protegendo... – Seus olhos desviam por um instante. – Até cairmos na armadilha dela. De todo jeito, todos da guilda estavam fadados à morte.

— Poderiam ter fugido.

— Então Cazeaje teria um motivo para nos matar. Seu erro foi querer brincar com a presa antes de pega-la. Todos morreram, porém aqui está você e eu. – Não ganha ânimo nas últimas palavras. – As duas maiores ameaças para ela.

Elesis cruza os braços, negando com a cabeça. Rejeitava tudo que vinha do ruivo, suas palavras eram mentirosas. O ódio que sentia por ele ainda era real, o remorso era apenas uma manipulação do mesmo.

— Elesis! – Ouvem a voz abafada do outro lado.

A sombra ao lado do gelo chama outra vez. Os olhos da espadachim brilham quando reconhece Lass. Ele socava o gelo, sem sucesso algum.

Seu rosto é segurado delicadamente, virando novamente para Gerard. Ele afasta a mão antes que Elesis fizesse.

— Acreditando ou não, quero que apenas se foque em Cazeaje agora. – Falava Gerard. As palavras pareciam difíceis de serem ditas. – Se não fizer nada, ela fará.

— Do que você está falando? Você pode derrota-la. Você é mais forte que eu, Gerard!

— Não mais. – Solta a risada seca que o faz tossir.

Nada mais faz sentido. Não sabe no que acreditar, o tempo corria e Elesis criava uma própria pressão sobre si. Seu peito aperta.

— Se tudo isso é verdade, por que não disse antes?! – Indaga, trêmula. – Por que deixou que eu te odiasse por todo esse tempo?!

— Porque você não acreditaria em mim. Ainda não acredita. Por isso, precisei de algo para que prove.

— Do mesmo jeito, você matou meu pai. Não consigo...

— Não quero que me perdoe. – O brilho de seus olhos sumia aos poucos. – Quero que acredite quando digo que Cazeaje fez isso.

Elesis estremece com o barulho da espada caindo. Ela escorrega da mão de Gerard, que cai pesadamente contra o gelo. Seu corpo caía de um lado para o outro, não conseguindo se manter reto.

— E-Eu não sei. – A espadachim gagueja. Segura Gerard pelos ombros, mantendo seu corpo parado. – Eu não sei no que acreditar! Todos esses momentos que nos encontramos, você me machucou de algum jeito. Tirou meu pai, machucou meus amigos e a mim. – Segura com mais força o ombro do rapaz, querendo sua atenção. – Como quer que eu acredite em você após tudo isso?! Após todas as pessoas que você matou!

— Eu já disse, não vim pelo seu perdão. – Levanta as mãos sujas por sangue. Sob o casaco que usava, Gerard puxa um tecido vermelho. – Deixe-me com os meus pecados, ok?

Elesis reconhece o cachecol que Gerard usava. O ruivo se aproxima e enrola no seu pescoço, não ficando como deveria. Joga a parte que sobra sobre a cabeça da ruiva, que parece não perceber enquanto o olhava surpresa.

Era de seu pai, que foi dela, parou em Lass e foi devolvido depois. Ao se encontrar pela primeira vez com Gerard, ele pegou seu cachecol. Agora, no seu último encontro, ele o devolvia.

— Eu só queria me sentir em casa. – Ele explica, dando de ombros, ou mexendo apenas um. Sem causar expressão na espadachim, ele força um sorriso. – Eu só vim para que minha ruivinha não sentisse tanto frio. Vai ser bem gelado quando enfrentar Cazeaje.

As lágrimas que descem são quentes. Elesis não percebe, mas o sorriso do ruivo deduz isso.

Ouvem um barulho vim do alto. Antes que pudesse ver o que era, Lass desce junto com os pedaços de gelo. O ninja cai de lado, soltando um rápido rugido antes de se virar para eles.

— Elesis! – Ele corre e a abraça, soltando ao notar os machucados. Olha na mesma direção que ela, Gerard dando um leve aceno com a mão. – Gerard, seu bastardo. Só consegui descobrir isso agora. – Aponta para as costas.

Em meio ao olhar morto, Lass enxerga uma satisfação no mesmo. Os machucados do ruivo são graves, entendendo seu estado.

— Precisamos sair daqui agora. – Dizia Lass. – Cazeaje está vindo.

— Mas como? – Elesis olha surpresa. – O que ela faz aqui?

— Não tenho tempo para explicar, mas temos que sair daqui!

Levanta, puxando Elesis junto. A ruiva permanece no chão. Não a questiona ao ver seu olhar direciona a Gerard, que também não se moveu. Solta a mão da espadachim, quieto. Demora a enxergar o que acontecia, respeitando a decisão de Elesis.

— Vai logo. – Murmura Gerard, o máximo que conseguia falar. – Vai ficar olhando para a minha derrota?

— Eu não posso deixa-lo. Depois de tudo, sinto que é minha responsabilidade ficar.

— Não seja boba. Não ficará muito tempo, de qualquer jeito.

Elesis engole a dor das palavras de Gerard. Ele percebe que não sairia até que dissesse algo, o ruivo decidi então mover. Ele estica a mão e a pega pela nuca. Fica assustada quando é puxada para perto, tranquilizando-se ao sentir Gerard apoiar o rosto sobre seu ombro.

Lass olha para o gelo, vendo as rachaduras começarem a se formar. Alguns pequenos pedaços caíam, outros evaporavam. A mana de Gerard acabava, causando na destruição de sua magia.

— Não fique triste por seu pai e eu termos feito tudo isso por você. – Dizia Gerard. – Apesar de ser teimosa, valeu cada machucado por você, ruivinha.

— Cala a boca. – Disse, trêmula. Morde o lábio para segurar a dor. – Eu vou te curar.

Afasta para usar as chamas brancas, sendo puxada novamente pelo ruivo. Ele a prende naquela posição, incapacitando a espadachim de usar alguma magia.

— Quando se encontrar com Cazeaje, irá fazer aquela mulher pagar por tudo que fez, ouviu? – Continuava Gerard, o tom diminuindo. – Faça ela lamber seu sapato.

— Gerard...

— Eu sei que ainda não acredita em mim. Mas... – Elesis sente ele tirar algo do casaco. Como se fosse um objeto pesado, empurra contra a espadachim. Ela segura, assustada. – Isso te convencerá.

— O que é isso?

— Descobrirá em breve.

O barulho do gelo se rachando ecoa. Lass fica em alerta, enquanto os dois pareciam ignorar o perigo sobre eles.

— Gerard, por favor, diga que é tudo uma mentira. – Elesis fecha os olhos, segurando os trêmulos lábios.

— Eu te contei a verdade.

— Eu não quero descobrir que a maior parte da minha vida foi odiando a pessoa errada. – Abaixa o rosto, o calor das lágrimas voltando a passar pelas bochechas. Elas queimam, seu peito arde. – Eu... sinto muito.

— Você se tornou tão sentimental nesses últimos anos. – Ri, tossindo em seguida. Olha Lass sobre o ombro da ruiva. Ele não parecia bem em vê-lo daquele jeito. – Obrigado.

Ele olha surpreso, sem o que dizer, assente e desvia o rosto. Gerard sorri, não conseguindo evitar de comparar Lass com Astaroth. Ambos não sabem como se despedir.

— Está na hora de deixar nas suas mãos, Elesis. – Reuniu coragem para dizer isso.

— Eu não posso! – Balança a cabeça. – Eu não vou conseguir.

— Você vai. Porque você é a Elesis. Agora prometa que fará isso.

Apenas soluços saem da ruiva. Ela ergue o rosto, tomando o ar necessário e segurando o peso que Gerard estava a entregar.

— Eu prometo! – Sua voz ecoa no gelo.

Gerard solta uma risada falha.

— Que bom ouvir isso. – Sem força, passa a mão pelo cabelo ruivo da espadachim. – Seus pais estariam orgulhos em que te ver assim.

Elesis assente. Ela sabe que estariam, embora não conhecesse sua mãe, gostaria de ter sua aprovação. E ela tinha

Gerard se mexe, erguendo o rosto com dificuldade. Ele se aproxima de seu ouvido, sentindo sua respiração fraca. Antes de murmurar, o ruivo solta um agradável som de risada, sabendo que havia um sorriso torto naquele instante.

— Na próxima, iremos tomar um café juntos. Como eu tinha prometido.

Sua cabeça cai contra o pescoço de Elesis, até parar em seu ombro. Ela sente o peso dobrar quando Gerard termina de falar. Ela o segura, evitando que caísse. Espera por uma resposta, mas nada ecoa dentro da cúpula. Leva sua mão até as costas do rapaz, suja por sangue e suor.

A última lágrima escorre, a última rachadura quebra o gelo antes de sentir o corpo sem vida de Gerard. A cúpula explode em pequenos pedaços, criando o barulho que Elesis não procurava. O frio desaparece, em troca de um maior.

A dura realidade esmaga seus sentimentos, fazendo que a dor de seu peito se espalhe. Após anos aguardando por esse momento, ele causa um efeito indesejável a espadachim.

Saudade. Arrependimento. Tristeza. E aquele que não era direcionado a Gerard: ódio.

Lass se debruça sobre a ruiva e usa as chamas para derreter o gelo que caía. Em volta, os enormes pedaços explodiam no chão. O ninja se afasta quando não há mais perigo, até ver os soldados do Conselho.

Elesis está presa em seu mundo, segurando firme o corpo de Gerard. De repente, é puxada pelas costas com força. Grita, tenta alcança-lo ao ser arremessada no chão. Ao seu lado, Lass também é empurrado pelos guardas, que avançavam contra o corpo caído do ruivo.

— Não! – Grita Elesis. Levanta para impedi-los, sendo abraçada por Lass enquanto a puxava. – Fiquem longe dele! É tudo um engano!

Em meio aos furiosos movimentos da espadachim, Lass é acertado por uma cotovelada na costela. A dor quase o enfraquece, mas permanece forte, puxando Elesis para fora da confusão.

Ela cai de joelhos no chão, enfraquecida para se manter de pé. Desnorteada, olha para as próprias mãos, entre elas, um objeto dentro de uma sacola de pano. Pelo formato, era uma pequena esfera.

— Isso é uma grande surpresa!

Lass congela no lugar antes de olhar na direção de Cazeaje. Surpresa preenche sua face antes do medo. No meio do belo e perfeito rosto da líder existia uma grande cicatriz que passava sobre seu nariz. Era estranha, não era somente uma simples linha, tinha algumas partes em volta que a tornava maior.

Sua atenção volta para os lados, à sua volta, diversos soldados com armas apontadas para ele. Enxerga seus amigos no fundo, os olhares preocupados sobre eles.

— Venho por um alerta das chamas e encontro Gerard. – Dizia ela com empolgação. – Aparentemente, morto.

O corpo do ruivo era cutucado pelas espadas, sem qualquer delicadeza ao checarem seu estado. Cazeaje observa a cena sem conter o largo sorriso.

— Parabéns, Lass. – Ela fala. – Fez muito bem em usar as chamas nesse homem.

— Não fui eu que fiz isso. – Disse, irritado pelo elogio.

— Não? – Olha surpresa. Olha abaixo, notando o estado de Elesis. – Ah, claro! A cavaleira vermelha tinha que fazer isso, não é? Que destino maravilhoso.

Espera ouvir algo da espadachim, mas ela parecia distante. Cazeaje não se importa, seu sorriso permanece largo como antes.

— Parabéns, Elesis. Sinto que deve estar bem satisfeita com o resultado. Pelo seu estado, deixarei nossa conversa para depois.

A espadachim não ouve. Em sua volta, não havia som ou qualquer outra distração. Estava perdida, distante de qualquer ajuda. Seus olhos não se moviam, continuavam parados sobre o objeto que Gerard a entregou. Mesmo com um pano entre suas mãos, existia algo de familiar ali. O calor, a sensação que causava.

Era como se tivesse em casa. Lembrava seu pai.

Levanta o rosto. Cazeaje se afastava, prestes a ir embora. Lembra de quem ela é. A líder do Conselho de Canaban. A responsável por tudo. Pela morte de seu pai. De seus companheiros. Agora, de Gerard.

— Elesis? – Questiona Lass quando a ruiva levanta.

Ela empurra a sacola contra o rapaz. Ele pega, confuso enquanto olhava para o objeto e para Elesis seguindo em frente. Vai segui-la, impedir a espadachim de alguma besteira.

É tarde mais.

— Cazeaje!

O grito vem de trás. A líder vira sem interesse, surpreendendo-se ao ver a espadachim coberta pelas chamas azuis. Seus guardas entram na frente para atacar, desaparecendo segundos após uma onda de chamas passar por eles.

— Então finalmente deu as caras? – Comenta Cazeaje, sorrindo.

Elesis soca o ar e as chamas voam contra a líder. Ela desaparece antes mesmo de estarem próximas. Para de avançar, encarando Cazeaje metros à frente, andando tranquilamente enquanto seus soldados entravam na frente.

— Volte aqui! – Grita, avançando.

Lass olha perplexo para as chamas azuis, pela primeira vez, vendo de outro ângulo. Não era ele que usava, mas a verdadeira dona. Vira-se para Gerard, o corpo do ruivo ainda sendo olhado pelos soldados. Ele tinha partido, e somente agora Elesis tinha percebido isso. Além dele, quem seria capaz de parar a espadachim nesse estado?

— Elesis, pare! – Corre na direção da ruiva. Guarda o objeto de Gerard dentro do casaco, evitando de perde-lo. – Elesis!

A espadachim tinha perdido a sanidade. As chamas se misturavam, algumas vezes sendo as douradas, outras as roxas. O cabelo de Elesis mudava a cor, a intensidade de seu poder aumentava e diminuía. A cada soldado, um ataque mais violento que o outro.

Suas amigas não conseguiam olhar. Arme começa a chorar ao ver a espadachim fora de controle, como um animal. Lothos não sabe se fica assistindo ou olha para o lado.

— Elesis, o que você está fazendo? – Murmura Lire. As mãos cobriam sua boca, logo seus olhos.

Jin, que estava de pé, volta ao chão, sem reação. Leva sua mão até o ombro, lembrando do dia que as chamas despertaram. Elesis agia da mesma forma, porém mais violenta.

— Pare. – Pede Jin. Fecha os punhos, sentindo-se impotente. – Por favor.

Lass alcança a espadachim, agarrando seu corpo e a puxando para o chão. As demais chamas o machucam, porém ignora enquanto tentava impedir Elesis. Ela se move bruscamente, acertando socos e chutes nele.

— Elesis, pare! Olha no que você está se transformando! – Gritava Lass, desesperado.

— Me solta!

Lass cai quando é acertada por um forte golpe. Elesis volta a correr contra a líder, que saía do lugar sem se importar com ela. A espadachim volta a atacar mais soldados pelo caminho, sem sentir remorso ao ouvir seus gritos.

De repente, ela para. Começa a tossir, cuspindo uma grande quantidade de sangue. Uma forte tontura quase a derruba, sua visão fica turva.

Pare, você vai morrer! — As chamas gritam. – Está no limite, se continuar...

São ignoradas. Elesis continua a avançar, usando todas as chamas disponíveis. A cada ataque, mais sangue era cuspido ou derramado pelo seu nariz. Não tinha mais sentidos, o que a movia era a ira.

Cazeaje para, virando-se para ela. A líder ri ao ver seu estado. Elesis também para, reunindo as chamas azuis para disparar. Um golpe e aquela mulher desaparecia para sempre. Todos seus problemas seriam resolvidos, a vida de todos melhoraria.

— Elesis, já chega!

Seus punhos se abaixam. No meio do caminho, Arme esticava os braços. Via como a maga tremia em medo, mas como a coragem a mantinha ali.

— Já deu. – Fala Arme, soluçando. – Agora, desista.

Lire se junta a maga. Ela fica do lado, o olhar sério sobre a espadachim. Não disse, mas implorava para que desistisse.

— Elesis. – Fala Jin, um pouco mais distante. – Isso não está certo. Por favor, escute a gente e desista.

Percebe então o motivo de todos estarem com medo. Ela era o motivo. As chamas azuis assustavam, porém suas atitudes eram piores. Não queria ser vista dessa forma. Encara Cazeaje, sabendo que precisaria mais que isso para derrota-la.

As chamas diminuem, seu rosto se abaixando.

— Me desculpe. – A voz vem de trás.

Lass enrola seu braço no pescoço de Elesis e o prende enquanto a enforcava. A espadachim se debate para escapar, mas já estava fraca demais para isso. Lentamente, ela apaga nos braços do ninja.

Lass a pega no colo, deixando o corpo da ruiva próximo. Os olhares ameaçadores caem sobre a ruiva, armas sendo apontas ao mesmo tempo. O ninja encara cada soldado que tentava se aproximar.

— Eu sabia que uma hora ou outra ela não se seguraria. – Comenta Cazeaje. Via no jeito da líder a emoção de ter ganhado duas vezes no dia. – Só não achei que fosse tola de se entregar assim. – Dá de ombros. – Enfim, entregue-a, Isolet.

Lass recua quando Cazeaje dá um passo. Fecha a expressão em aviso, ameaçando com o olhar sério. A líder suspira por sua teimosia.

Lothos se coloca na frente da dupla. Ela tira uma parte do florete, preparada para qualquer aproximação de Cazeaje. É olhado com raiva, porém, sua pose firme não se quebra. Logo, Grandiel fica ao seu lado para ajuda-la.

— O que pensam que estão fazendo? – Questiona Cazeaje. – Já basta a teimosia de Astaroth, agora são vocês? Novamente?!

— Não deixaremos que toque na Elesis. – Diz Lothos. – Ela não fez nada de errado.

— Não fez?! – Ela ri. – Não sei se você viu, mas a sua querida Elesis matou a maior parte do meu exército e ainda tentou me matar. Sem falar da sua perda de controle das chamas, o que é um grande perigo a todos.

Encurralada pelos argumentos da líder, Lothos segura firme o florete. Não sai do lugar, nem mesmo Grandiel. Estão errados e sabem disso.

— Direi pela última vez. – Fala Cazeaje. Joga uma mexa de sua franja para o lado, sem paciência. – Saiam da frente ou prenderei seus alunos por isso.

O cetro da líder é apontado para os rapazes. Eles recuam, assustados. Lire e Arme fazem o mesmo, a ameaça valendo para ambas.

Estala com a língua e guarda o florete, Grandiel se juntando a comandante enquanto se afastavam. É ruim deixar Lass e Elesis nas mãos da líder, sentem-se fracos diante da mesma.

— Agora só falta você, Isolet. – Sorri para o ninja. – Solte a garota.

— Para você prendê-la? – Arrasta a voz. – Não.

— Vamos, sabe que isso não adiantará de nada. Só piorará para o seu lado e dos seus amigos. – Volta a apontar o cetro para eles.

Lass fica tenso, indeciso em meio a pressão que Cazeaje colocava nele. Olha para Elesis, a ruiva ferida enquanto descansava em seus braços. Tinha deixado a espadachim ao partir para viagem, agora se arrependia em não ter ficado ao seu lado para protege-la.

Olha de relance para Gerard sendo carregado pelos guardas. Não entendia a pequena esperança que tinha pelo mesmo. Ele estava morto, viu com os próprios olhos.

— Vamos, Lass. – Cazeaje começava a perder a paciência.

Entregar Elesis seria dizer adeus a mesma. Viu como Jin voltou do Conselho, não gostaria de imaginar o estado da ruiva, principalmente por ser a portadora das chamas. Com os pensamentos, segurava mais firme seu frágil corpo.

A luz que se acumula no centro de Cazeaje o desperta. Ela estava pronta para disparar contra seus amigos. Eles não se moveriam no estado que estavam.

— Tudo bem! – Grita, desesperado. – Abaixe o cetro, primeiro.

Um sorriso vitorioso se forma no rosto da líder. Ela abaixa o cetro, a luz desaparece.

— Sua vez.

Olha para o rosto ferido de Elesis por uma última vez. Aproxima-se da ruiva, dando um leve beijo na sua testa. Após isso, é difícil se virar e entregar a espadachim nos braços de um soldado. Quando suas mãos não estão mais em contato com ela, Lass range os dentes. Uma forte magoa o atinge.

Elesis desaparece ao ser levada. Do mesmo jeito que se sentia quebrado, seus amigos olhavam para o soldado que a levava.

— Prendam-no também. – Ordena Cazeaje.

— O quê? – Lass se vira, indignado.

A pergunta também é dita por seus amigos. Antes que houvesse uma resposta, uma descarga de energia atinge Lass pelas costas. Ele cai de joelhos. Os demais soldados avançam, descarregando a magia sobre ele.

— Parem! – Grandiel tenta interferir. Os rapazes o seguram a tempo.

O silêncio quando as magias param é pior. Em meio aos soldados, assistem Lass serem erguidos e puxado para a mesma direção que Elesis. Correntes são colocadas em seus pulsos e calcanhares.

Ele é levado como um animal perigoso.

— Agora, se me dão licença. – Disse Cazeaje, calma após a cena. – O Conselho precisa de mim.

Sem coragem, sem forças, o grupo assiste a líder partir. O único som ouvido é o passo dos soldados, aqueles que sobraram, seguindo a mesma. No meio deles, Gerard era levado. Com isso, todos percebem o que acontecerá depois.

Sem Astaroth. Sem Gerard. Sem Lass. Sem Elesis.

Cazeaje finalmente tinha derrubado as principais peças do tabuleiro. Agora, a rainha, era a única que sobrava.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Vamos lá! Gerard contou tudo, tacou a merda no ventilador... então, comecem os julgamentos! Ele teve mesmo culpa, assim... É mais da Cazeaje! Enfim, deixem nos comentários o que acharam.
* Acho que muitos deveriam estar se perguntando: Por que ele não contou isso logo para Elesis? Forçava a falar mesmo! Porque Gerard teve um problema no ombro, como puderam ver no flashback, só que ele acabou não se cuidando e prejudicou sua saúde... E MUITO! Então ele sabia que morreria uma hora, então decidiu deixar isso nas mãos da Elesis, como um presente para ela. Acho que quem assistiu Naruto e sabe da história do Itachi entende bem o que aconteceu.
* Espero que a luta tenha sido boa! Sério, eu não quis prolongar, mass era a luta final e precisei fazer isso!
* Elesis e Lass foram presos, Cazeaje está no comando... E aí?!
* Avisando: SOBRAM APENAS 3 CAPS PARA O FINAL DA FIC!
Então terá o próximo, que já está escrito (11K de palavras) e o outro que será o penúltimo e por fim, o último! Então, até lá, vamos tentar chegar aos 1000 reviews?! SERIA BOM! A fic está acabando, então comentem :3 Ou recomendem ou favoritem!



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