Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 132
Um trato imperfeito


Notas iniciais do capítulo

OLááááhh!! Tudo bão? Espero que sim!
Um feliz ano novo para todos, primeiramente! Hoje era para ser o último capítulo da fic, mas por problemas, hoje será o penúltimo mesmo! Por todos esses anos nunca achei que estaria perto do fim, mas hoje está aqui hahaha O capítulo não vai estar tão grande, eu acho. Vai ter luta contra Cazeaje, privisível! Porém, já aviso que a luta contra ela possa não ser tudo aquilo que esperam, porque eu acabei mais me focando na luta da Elesis contra o Gerard, porque ele acaba sendo mais importante. Então não decepcionem com a luta dela, por favor.
O final vai deixar todos bem surpresos, já aviso. E só no próximo, e último, veremos o que acontecerá hahah
Boa Leitura!



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Elesis olha para o ninja caído e percebe sua fraqueza para levantar. Ele estava apagado, não ouviria o chamado de Cazeaje mesmo que ela gritasse ao seu lado. A líder vinha na direção que estavam, provavelmente sentindo suas manas. A espadachim fica tensa, continuando a segurar firme o tronco da árvore enquanto assistia Cazeaje procura-los.

Você não está em condições para lutar. — Lembra as chamas.

Quis responder, lembrando-se que a líder a ouviria. Olha para as próprias pernas, todas cicatrizes servindo como um lembrete para sua situação. A cura que Ronan usou nela foi o bastante para se recuperar; mas não para uma luta. Lass estava em melhor estado do que ela, se não fosse pela magia que o mantinha apagado no momento.

Certo, você sabe quanto tempo falta para a magia sair do corpo do Lass? — Pergunta com o pensamento.

Não muito, mas é o tempo necessário para Cazeaje acabar com vocês dois.

Então cuide do Lass enquanto isso. Irei leva-la para longe dele.

Diferente de seus amigos, que discordariam dessa atitude, as chamas apenas concordam e “desligam”. Elesis apoia a testa contra a árvore e deixa a tremedeira sair de seu corpo e a coragem tomar conta. Olha para a espada de Ronan, apoiada ao lado de Lass. Pegaria e correria para a direção oposta.

Seus passos são largos e leves até o ninja. Pega a espada, abaixando-se para dar um beijo na testa do mesmo. Ele não reage. A espadachim fica de pé, determinada em deixar o rapaz sem se ferir mais.

Se alguma coisa acontecer, faça algo.— Pensa para as chamas.

Afasta-se com os mesmos passos silenciosos. Cazeaje tinha parado, olhando em volta para acha-los. Elesis respira e segura firme a espada, então corre para a direção oposta de Lass. Pisa com força nos galhos e bate com a espada em uma árvore, causando bastante barulho. Como se estivesse em uma caçada, sente o olhar de Cazeaje sobre ela.

Pedaços de madeira voam para os lados com os disparos da líder em sua direção. Elesis desviava, saltos e esquivas a todo tempo. Ao fundo ouvia a risada de Cazeaje, a gargalhada fina com um tom assustador.

— Parece que temos um carneirinho aqui. – Grita a líder.

Elesis espera que o combate seja apenas isso, correndo e escapando dos ataques. Está enganada ao esquecer que a mesma era uma maga poderosa. Em sua volta tinha natureza, a principal arma de um mago. O chão sob a espadachim começa a se mover ao lembrar disso.

A terra sobe de repente e Elesis é arremessada. A ruiva perde o apoio, voando em direção as próximas árvores. Encolhe o corpo antes de entrar entre as folhas e quebrar os galhos, que os cortam nos braços e pernas. Ao fim, cai sobre um arbusto.

— Como ela conseguiu me atingir tão longe? – Questiona, recuperando o fôlego.

Cai para o lado e levanta, sentindo a pesada energia se aproximar. À frente enxergava um campo aberto, não sendo uma boa opção para escolher. Correria para dentro da floresta, se não fosse pela dor sentida nas costas. Ela queima, em seguida explode. Elesis bate de lado em uma árvore e cai rolando para o meio do campo, totalmente exposta.

— É tola em achar que pode escapar de mim. – Dizia Cazeaje. Ela aparece com um cajado em mãos. – Quando eu tenho uma presa, nenhuma escapa de mim.

Elesis passa a mão no ombro atingido na árvore. A pele estava ralada, um pouco de sangue saindo. Ela não se importa, voltando a atenção para Cazeaje. A líder não parecia inteira, o vestido sujo por sangue e algumas partes rasgadas. Ela estava diferente, sentia Elesis enquanto mantinha-se ajoelhada.

— Como Gerard? – A espadachim pergunta. – Ou meu pai?

— Seu pai foi uma presa fácil, diferente de Gerard. Ele durou bastante tempo para atrapalhar meus planos.

— O plano de conseguir as chamas? – Olha com nojo. – Bem, ainda não as conseguiu.

— É o que você pensa, querida Elesis. – Um sorriso malicioso. – Acha mesmo que lutar pelos últimos minutos de vida vale a pena?

É a vez de Elesis ri, erguendo o rosto ferido.

— Não me matará. Precisa de mim para ter as chamas.

Cazeaje ri junto. Ela aponta o cajado e dispara contra a ruiva. Elesis é acertada na garganta, uma corda de energia se enrolando enquanto apertava. Ela cai para o lado, sufocada. Suas pernas balançam, a terra sobe com suas batidas.

— Você se acha muito importante, não é? – Fala Cazeaje, sem se preocupar com o sufocamento da espadachim. – Quem disse que preciso de você?

A força que usava para arrebentar a corda era inútil, a magia não se desmancharia tão facilmente. Sem pensar, as chamas roxas tomam conta de seu corpo. O aperto diminui, logo é arrebentado pelas chamas. Elesis tosse, puxando o ar com força.

— Antigamente, eu pensava que precisava da dona, não tinha outra escolha. – Dizia a líder em voz alta, dramática. – Por isso fiz tanta coisa para chegar até aqui. Mas percebi que, no final, só preciso de alguém obediente e que possa controlar as chamas.

Com a respiração voltando ao normal, Elesis encara Cazeaje. A definição que ela usou descrevia apenas uma pessoa, a única que importava para ela.

— Lass não te obedecerá. Nunca. – Diz Elesis.

— Sim, ele obedecerá. É só colocar um pouco de pressão e... – Passa a mão pelos lábios. – Meu querido Isolet será todo meu.

— Eu já disse, ele não vai te obedecer! – Grita ao ficar de pé. – Porque você estará morta antes disso.

— Por que acha isso? Você me matará? – Aponta, segurando a risada. – Não me faça rir, Elesis.

E não era uma piada. Ao levantar, o plano da espadachim muda repentinamente. Esperava apenas manter Cazeaje longe de Lass até que se recuperasse, mas ao ouvir as provocações da líder, desisti. Ainda restava força e mana da última luta que teve contra Gerard. Não gosta de lembrar do rapaz, fazia se sentir fraca pela decisão tomada.

Dessa vez, não teria arrependimento.

— Então, ficará parada enquanto me olha? Vamos, faça algo. – Diz Cazeaje de braços estendidos. – Mostre suas chaminhas para a tia Cazeaje.

Ela faria isso, deixaria as chamas roxas a contornarem enquanto o berserk a deixava de pé. Porém, percebe quem é seu adversário. Não era Gerard, se fosse, usaria as chamas à vontade. Cazeaje era diferente, todas as quatro chamas não fariam efeito na mesma, já que nem mesmo tocariam nela.

A chama acenderia e apagaria com um simples manejar da mão da líder. Sem dificuldade.

Olha para a espada que segurava, a única opção que tinha. Além dela, havia as chamas azuis, que não seria usada tão facilmente. Toda vez que as acendia, uma parte do seu corpo era consumido, enfraquecendo. Percebeu isso com a luta contra Gerard.

Sacode a cabeça, afastando-se da líder. Não podia lembra do ruivo.

— Vamos, Elesis. – Chamava Cazeaje. Ela se move. – Não tenho o dia todo. Ainda tenho que registrar a morte da dona das chamas para os outros Conselhos.

— Se eu não fizer isso por você. – Fala irritada, cansada de ouvir a voz da líder. – Não será apenas a mim que terá que enfrentar.

— Está falando dos seus amigos? Espero que estejam todos mortos.

Não deixa esse pensamento invadir sua cabeça, era um truque de Cazeaje para enfraquece-la. Segura a espada com as duas mãos, o aperto forte para não demonstrar o medo que sentia. Não sabia como reagir, as dores que ainda sentia dificultaria seus ataques. Precisava pensar, mas sob a pressão que sentia, não ajudaria muito.

Não usaria as chamas, mas um pouco do seu poder para continuar de pé. Seus olhos ficam vermelhos pelo berserk, sua postura fica firme pela leveza que sente. Não duraria tanto tempo.

Avança, os pés descalços batendo contra a grama. O próximo ataque não é tão preciso, o que ajuda a líder desviar. Ela gira o cajado e mira a ponta para a espadachim, bolas de fogo sendo arremessadas. Joga para o lado, criando um forte corte com o próximo alvo. O fogo é partido no meio, apagando-se.

— Belo vestido. – Elogia Cazeaje. – Mas não parece ser apropriado para uma luta.

De costas, Elesis estava ofegante. Os poucos movimentos a cansaram, quase tiraram todas suas energias. Do outro lado, Cazeaje não demonstrava um pingo de cansaço ao disparar as energias. Ela poderia seguir nesse ritmo o dia inteiro que não se cansaria.

Elesis gira e volta a atacar Cazeaje. A líder usa suas magias com um simples movimento com o cajado. As esferas de energias estavam próximas, porém a espadachim desvia facilmente. Ela salta o mais alto, descendo com as chamas azuis.

Cazeaje entrou em alerta antes de recuar. Por pouco, quase é pega pelas chamas. Fica surpresa pelo ataque repentino da espadachim. Não esperava vê-la usar tão cedo. As chamas azuis apagam após alguns segundos. Ela continuava fraca para usar.

— Se quiser me ver morta, terá que se esforçar um pouco mais. – Fala Elesis, apontando a ponta da espada. – E passar pelas chamas também.

Em pouca quantidade, as chamas azuis voltam. Elesis não tinha força para usa-las com tudo, mas um pouco para manter Cazeaje longe.

***

O tempo começava a esfriar, o ar que respirava pesava. Leva a mão até o único ponto quente de seu corpo. Sente mais dor, afastando os dedos rapidamente. O leve contato fez seu corpo despertar por completo, os olhos sendo abertos com isso. Havia muita claridade, demorando a se acostumar. A primeira coisa que percebe ao enxergar é a falta de alguém.

— Elesis? – Lass a chama, preocupado ao não ouvir um chamado. – Elesis?!

Não sentia a espadachim por perto, ela estava distante, era tudo que sabia. A espada que ela carregava tinha sumido, sendo deixado para trás com sua katana. Pega pela bainha e puxa a arma para perto, alertado.

Continua sentado pela dor sentida no machucado. O sangramento tinha parado, menos a magia que continuava a consumir suas energias. As chamas tinham queimado uma boa parte.

— Por que ainda estou assim? – Pergunta.

Não posso tirar tudo de uma vez. — Explica as chamas. – Não vai te fazer bem.

— Então eu mesmo posso tirar.

Tira a katana da bainha, gira a lâmina e enfia contra a ferida. Não dói tanto, mas rugi da mesma forma. Concentra-se na lâmina dentro de sua carne e invoca as chamas. Elas queimam por dentro, a dor sendo maior enquanto sentia a magia de Cazeaje queimar. Demora mais que esperava, os olhos lacrimejando pela queimação.

Cospe um pouco de sangue ao terminar. Joga a lâmina no chão ao retira-la. O próprio sangue sujava as mãos e o gramado. Fecha os olhos enquanto esperava a ferida cicatrizar, sem a magia de Cazeaje, o efeito era mais rápido.

Eu disse que não faria bem. — Fala as chamas.

— Para onde a Elesis foi? – Sem resposta. – Fala!

As chamas se calam e adormecem. Lass não sente mais sua presença, ficando mais irritado com a atitude delas. Tinha uma parte das chamas no corpo da espadachim, então deveria saber onde a ruiva estava no momento.

Sem um rumo, levanta com ajuda da árvore. Olha para os lados quando sente uma estranha energia pelo ar, uma mana pesada. Exatamente como de Cazeaje. Tenta não entrar em pânico com a ideia da líder estar por perto, o que explicaria o porquê de Elesis ter sumido. Não sabe por quanto tempo, mas não deveria ser muito.

Com ajuda das árvores, Lass se dirigia para o local com maior concentração de mana.

***

Quando percebeu que usar as chamas para dar força era um erro, Elesis começou a atacar fisicamente. Com ajuda do berserk, ela se movia sem o problema das pernas. Cazeaje disparava milhares de magias contra ela, movendo-se na mesma velocidade que ela. A espadachim tentava não permitir que ela fugisse, seus cortes sendo longos para acertar uma área maior.

Um fio de cabelo da líder é cortado. Elesis olha surpresa, sendo pega da mesma forma em seguida. O cajado gira na mão de Cazeaje até bater contra seu rosto. A ruiva recua, o dente ficando mole com a batida. Não tem tempo para notar isso com os próximos ataques da mesma. Ela não usa magia, mas o cajado servia como uma arma letal.

Elesis revida um ataque, Cazeaje girando para a outra ponta e acertando no estômago da ruiva. A energia é disparada, fazendo seu corpo voar para trás. Antes de acertar o chão, Elesis girava para trás a tempo de cair sobre o gramado para ficar de pé. A líder já estava na frente e uma magia roxa a contornava. A espadachim faz o melhor ataque no momento.

As chamas azuis criam uma barreira, então ela avança em outra direção. Cazeaje é pega de surpresa, atrasada para desviar. Um corte é feito em seu braço antes de recuar.

— Parece ser muito sensível a ataques físicos. – Diz Elesis. A líder olha a ferida e fingi não se importar. – O que foi? Não gosta de sentir dor?

Uma expressão séria se abre no rosto de Cazeaje. A espadachim sorri, gostando da reação.

— Não, parece ser algo mais fundo. – Continuava. – Eu até chutaria contato físico, mas Lass disse que você adora encostar nele. Eu diria que é mais... imperfeição.

— Hunf, que piada. – Ela gargalha. – Sou perfeita, não será alguns arranhões que me farão diferente.

Encosta na cicatriz do rosto, parecendo mais uma mania vindo de Cazeaje.

— É o que você diz. Mas as pessoas à sua volta não pensam assim. – Recebe um olhar nervoso, seu sorriso aumenta. – Para todos, você é uma aberração, por isso valoriza tanto a aparência! É o único jeito de enganar a si própria.

A líder encara, aperta o punho em volta do cajado. A espadachim percebe, sorrindo com a provocação. Cazeaje pretende falar, negando a si própria com um sorriso bobo.

Os olhos de Elesis piscam e a líder some de sua vista. Antes que visse a sombra à frente, cai para trás por uma rasteira. Impedindo que se levantasse, o aperto do salto de Cazeaje cai sobre seu peito. A mulher move a mão, após isso sente o corpo ficar mais pesado. A grama sob ela cria vida, crescendo e apertando em volta de seus pulsos e calcanhares.

— Uma aberração? – Cazeaje pergunta. Ela não parecia irritada pela risada que solta. – Eu? Acha que eu me importo com os pensamentos desses seres fúteis? Tão imperfeitos...

Elesis se sacodia para se soltar das raízes. Sua pele ardia com o aperto causado, enfraquecendo seu corpo com os esforços inúteis. Usaria as chamas para se soltar, porém Cazeaje não a permitia.

— Quando decidi me tornar líder, foi para consertar esse mundo. – Falava a mulher. – Para tirar criaturas como você. Eu quero limpar esse mundo de uma vez!

— Você é uma louca, isso sim! – Grita Elesis. – Limpar o mundo?! Perdeu mesmo a noção!

— Não, não, não! – Cai ajoelhada sobre a ruiva. As mãos geladas encostam em seu rosto, tentando evitar o contato. – Desde pequena, fui criada para saber o que é certo ou errado. Perfeito e imperfeito funciona da mesma forma.

Sem forças, Elesis para de se mexer, olhando assustada para a líder. Ela falava com um tom estranho, calmo demais.

— Criada? – A espadachim questiona.

— Sim, papai e mamãe me criaram assim. – Ela sorri, como se a conversa fosse familiar. – Eles eram tão perfeitos para mim, nada podia ultrapassa-los. Mas percebi que não era verdade, papai e mamãe eram imperfeitos. Feios. Aberrações.

O aperto aumentava, mas Elesis não notava. Assustada, olhava Cazeaje contar sobre ela, uma pequena parte que a ruiva nunca achou que ouviria.

— Então eu os matei. Se eles eram mais perfeitos que eu, tomei o lugar deles então. Eu era suprema. Mas não, tinha muitas pessoas nesse mundo, muitas magias. – Balança os ombros. – Alguém precisava tomar seus lugares.

Elesis arregala os olhos, trêmula. Como ela, as chamas também entendem o que ela quer dizer. Puxa as mãos presas, balança as pernas para fugir da teia que Cazeaje tinha a prendido.

Para a líder e sua loucura, as chamas azuis eram o ser e magia mais perfeita existente.

— Sai de cima de mim! – Berra a espadachim.

Cazeaje levanta, sem sair do lugar. Erguia o cajado para usar, disparar a magia contra a ruiva e acabar com o combate de vez. Está tão distraída que não sente as chamas serem invocadas e disparadas nela. Sua concentração era Elesis, nada além disso.

No entanto, as chamas veem de outro lado, não da espadachim.

Coberto pelas chamas, Lass avança contra a líder. Seu pé acerta sua cara, empurrando com força para longe de Elesis. Ela voa como quis, acertando a árvore e a partindo ao meio.

— Você está bem? – Pergunta o ninja.

As raízes a soltam, afastando-se antes que fosse pega novamente. Elesis arranca as partes que restaram, levantando com ajuda de Lass. Ela cambaleia para o lado, tonta tanto pelo sufoco quanto pela pequena história de Cazeaje.

— Você está? – Olha para Lass e sua camisa manchada por sangue. – Como se recuperou tão rápido?

— Usei as chamas. – Explica com a voz cansada. – Mais que o necessário.

— Não deveria ter feito isso. – Recupera a espada, sentindo o olhar de reprovação de Lass sobre ela. – O que foi?

— Não está em condições para isso. Deixe comigo. – Disse, indo em direção a Cazeaje.

A líder levanta enquanto ouvia as vozes dos dois. Ela se apoia nos destroços da árvore e levanta, as dores sendo prazerosas. Joga a franja do cabelo para o lado, enxergando o ninja a encarando.

— Como que você chegou aqui? – Pergunta Lass.

— Curioso em saber como cheguei aqui ou preocupado com seu querido Grandiel?

Era como tinha previsto. Grandiel era o único capaz de criar portais, mesmo Cazeaje sendo uma grande maga. Lembra que após sair do portal, ele tinha se fechado atrás. O que não impedia de ser aberto novamente, por vontade própria ou não de Grandiel.

Lass tira a katana da bainha.

— É bom que ele esteja vivo. – Ameaça, furioso.

— Existe uma vasta definição de vivo. – Dizia Cazeaje, olhando as unhas. – Vivo inteiro ou... – Olha o ninja, sorrindo. – pela metade?

Antes de avançar, as chamas contornam o rapaz. A líder, com um largo sorriso, estica os braços.

Elesis leva as mãos aos ouvidos quando o barulho estoura à sua volta. Enquanto via o grande brilho das chamas azuis, permanece no lugar. Sem forças ou coragem, ela não conseguiria seguir com aquela luta.

***

Jin apoia a mão no peito, tendo certeza que não tinha quebrado algum osso ou costela. Suspira aliviado. Não tinha nenhum machucado, mas havia dor para deixar alertado. Olha para o lado, para Ronan que usava o poder de cura em si. Ele parecia um pouco pior, já que usava a própria mana para isso.

— Grandiel está melhor? – Pergunta Jin.

— Ele vai ficar bem. – Diz Adel. – Cazeaje apenas usou uma magia para apaga-lo. Teria sido fatal se fosse pego no coração ou na cabeça.

— E quanto a Elesis e o Lass? – Ronan se esforça e fala. – Cazeaje entrou no portal para ir atrás deles.

Adel deixa Grandiel sentado no chão ao levantar. Ele apoia as mãos na cintura, virando o rosto pensativo. Ronan continua a esperar por uma resposta, interrompendo a magia que usava em si.

O rapaz de cabelos pálidos estica os braços para o lado. Ao se virar, sua face não demonstrava preocupação.

— Bem, agora é só esperar pela volta do Lass. – Disse Adel.

Jin e Ronan se entreolham. Escutaram o mesmo, o que deixa a dupla confusa e nervosa.

— O quê? – Ronan questiona. – A volta do Lass? E a Elesis?

— Não pretendem ir lá para ajuda-los?! – É a vez de Jin.

De mãos erguidas, Adel pede calma. Eles não ficam. O ruivo levanta, parando ao lado de Ronan, que permanece sentado. A desconfiança estava visível no rosto dos dois.

— Existe um detalhe a mais no plano que vocês não sabem. Apenas entre Lass e eu.

— Que detalhe é esse que não envolve a volta da Elesis? – Ronan levanta, apoiado na parede. – Não me diga...

— Ela voltará. Viva, se é isso que quer. – Corta o rapaz antes entendesse tudo errado. – O que eu propus ao Lass foi um acordo definitivo dos nossos problemas. A morte de Cazeaje.

— Estavam planejando matar Cazeaje o tempo todo?! Ficaram loucos?! – Ronan se aproxima agressivamente. Pega o rapaz pela camisa, soltando para conter a raiva. – O plano era prendê-la. Prender, só isso!

— E ainda é! Caso não dê certo, prendemos ela.

— Mas se o Lass não conseguir, ele será morto junto com a Elesis. – Menciona Jin, assustado.

— Ela não vai matar nenhum deles, só será um motivo a mais para ser presa. Ela é esperta, já deve saber o que está acontecendo. – Apoia na parede, logo estando tenso com as possibilidades.

Lembra de ter contado esse plano para Lass e ver as intenções bem claras do ninja. Ele não recusou ou aparentou, ao falar da possível morte de Cazeaje, o rapaz se interessou e ouviu até o final. Ficou pensativo por um tempo quando Adel mencionou o risco que Elesis poderia correr, mas após alguns segundos, ele fitou sério o amigo e assentiu.

— O que acontece se ele trazer Cazeaje morta? – Pergunta Ronan, curioso. – Os outros Conselhos não gostaram nada disso. A prisão é aceitável, mas a morte?

— Eu já entrei em contato com os demais líderes. – Satisfeito, sorri. – Eles aceitaram a proposta. Ninguém gosta da Cazeaje e todos querem se livrar dela.

— Eu... – Ronan tentava encontrar as palavras. – Não sei! Cazeaje é uma pessoa horrível, mas é uma excelente líder. Sem ela, quem ficaria no lugar dela?

— Isso podemos resolver depois. – Suspira, voltando a ficar sério. – Agora é só torcemos para o Lass conseguir vencer. Caso ao contrário...

Sem palavras, todos entendem o que terminaria a frase. Gerard não estava presente, mas se estivesse, a esperança seria maior. O ruivo estaria do lado deles, sendo a melhor peça do tabuleiro para ser usada. Mas que agora não estava mais em jogo.

A rainha estava prestes para finalizar o jogo de uma vez por todas. Tudo que restou foram peças pequenas para serem usadas contra ela, mas entre elas, Lass e Elesis. Se usadas juntas, como a torre e o rei, poderiam vencer.

***

Embora fosse uma maga e sua arma era um cajado, Cazeaje o usava para se defender dos velozes ataques de Lass. O ninja estava contornado por chamas e não as usava, apenas como uma espécie de armadura para evitar golpes da líder, tanto físico quanto mágico.

Ela era tão ágil para uma pessoa que usava um longo vestido e mantinha a pose enquanto desviava. Enquanto existia brutalidade no modo que Elesis lutava, havia graça em Cazeaje.

O próximo corte também é errado, porém acertando todas as árvores atrás. São partidas ao meio, caindo em sincronia. Afastada, Cazeaje move o cajado e sorri com o rugido de dor do rapaz. A terra se torna dura como pedra, ficando pontudas ao atravessarem a barriga do ninja. Ele cai para frente enquanto cuspia sangue.

Cazeaje se aproxima para encosta-lo. Um rápido brilho passa por ela e a dor em todos os dedos da mão ardem. Então não os sentem. A líder recua, sendo ela a gritar dessa vez. Segura a mão escorregadia e úmida, o sangue passando por entre seus dedos.

— Nem um dedo nele, Cazeaje. – Fala Elesis, parada na frente de Lass. – Não esqueça que continuo aqui.

A líder dá uma rápida olhada para a mão ferida. Os três dedos do meio não estavam mais ali, somente uma pequena parte deles. Ela fecha a palma em volta, o brilho saindo em seguida.

Elesis chuta a pedra que saía da terra, quebrando-a. Lass cai ajoelhado, ofegante enquanto suas feridas se regeneravam. Novamente, sua camisa sujava mais, o vermelho escurecendo.

— Vamos fazer isso juntos. – Diz Elesis, autoritária. – Não vou ficar olhando.

— Você não está...

— Em condições? – Revira os olhos. – Já ouvi isso. Agora, pare de rejeitar ajuda e aceite logo.

Não consegue pensar em um jeito de tirar a espadachim dali. Ela está ferida e pioraria com a luta, principalmente contra Cazeaje. Como na luta contra Gerard, Elesis não está vendo as consequências que pode ter no futuro. E não será apenas um remorso e lágrimas que ele terá, mas uma possível morte pelas mãos da líder.

Lass levanta com as feridas curadas, menos sua camisa com três furos. Não se importa com esse detalhe ao olhar Cazeaje. Seus decepados dedos pararam de sangrar e começavam a regenerar. Os ossos e carnes cresciam, a pele cobrindo por fim.

— Penso que tenho o caminho livre sem o Gerard pela frente. – Dizia a líder. Ajeita a postura, esticando os dedos da mão. – Mas estou errada. Muito errada. Ainda tem você para me provocar.

A espadachim é encarada sem temer o olhar ameaçador de Cazeaje. A líder fecha os punhos, sua aura intensificando em seguida.

— O que é isso? – Lass sente o clima pesar entre eles.

Sobre a cicatriz, os olhos ficam pretos até que não restasse mais o branco. A aparência humana some com esse simples detalhe, que faz o casal estremecer. Nunca tinham vista uma habilidade parecida, nem mesmo vindo de um asmodiano.

Cazeaje avança contra a espadachim. Sua reação é lenta, sendo acertada no estômago pela magia. Antes que sentisse seu corpo girar, a dor de atingir várias árvores pelo caminho é maior. Sem fôlego, Elesis rola pelo chão até achar uma boa posição para se recuperar. Distante, Cazeaje vinha com sua expressão fechada. A espadachim levanta e se prepara para a defesa.

Usando o cajado para atacar, Elesis sente mais dificuldade para se defender. A ruiva recua, saltando para trás, mas não sendo o bastante para evitar a líder. Em cada ponta do cajado, uma magia que fazia os ataques serem poderosos. Nem mesmo as chamas eram capazes de defender, além de serem apagadas com um sopro de Cazeaje.

Na mesma velocidade, Lass surge atrás. A líder se vira com o cajado na frente, que se parte pelo corte do ninja. Os próximos ataques não são suficientes para acerta-la, ela era rápida e usava barreiras mágicas para se defender. Por fim, recebe um ataque que o atrasa.

Cazeaje volta a Elesis, arremessando os dois pedaços do cajado. Sem nada, estica a mão para o lado e uma energia se acumula na palma. Um cajado de magia é formado. Sem o peso da arma, Cazeaje avança com a aura pesada.

O cajado é arremessado contra a espadachim, pegando-a pelo pescoço e parando ao bater em uma árvore. O cajado perde forma e vira uma espécie de corda.

Cazeaje não consegue avançar pela barreira de chamas à frente. Sem olhar, sentia um círculo azul de forma em volta dela. Elesis não conseguia controlar toda essa intensidade de chamas, mas Lass era mais que capaz. O ninja aumenta o fogo, encurtando a distância até a líder.

— Solte a Elesis. – Fala Lass.

A espadachim continuava presa, até que a magia diminuiu e pôde ser solta. Cai no chão enquanto esfregava o pescoço.

— Irá me matar assim? – Cazeaje pergunta, sem se abalar com as chamas. – Nenhum esforço a mais? Ou uma cena épica e emocionante?

A líder não permiti que Lass responda. Os braços são esticados para o lado, o calor das chamas batendo em suas palmas. Os dedos são movidos e as chamas também. Lass olha confuso, logo tenso ao ver o fogo se mover sem sua ordem.

— Dizem que apenas o dono das chamas pode a ter. Bem, é verdade. – Sorrindo, deixa as chamas entrar em seu corpo. – Posso não controla-las, mas posso ter a mana.

Assustado, Lass engole seco e percebe o perigo que Cazeaje começava a representar. Ela aparece na sua frente em um piscar, o punho da líder já se encontrando na sua face. Ouve um barulho de estalo vindo do seu pescoço e cai para trás.

Cazeaje ri com o ninja apagado aos seus pés. Seu humor muda de repente ao sentir suas costas queimarem. Olha para a espada atravessada em seu peito, estragando o tecido do vestido. Vira o rosto para Elesis atrás dela.

— Sério? – Pergunta entediada.

Movimenta a mão e a espadachim é arremessada contra a mesma árvore de antes. Retira a espada das costas, dirigindo-se até a ruiva.

Elesis levanta com ajuda da árvore. O nervosismo atinge seu corpo ao ver Cazeaje vim até ela com a espada. Prevendo, abaixa ao ver a lâmina em sua direção. A árvore é cortada, Elesis se levanta com um recuo. A espada nas mãos de Cazeaje é tão perigosa quanto na dela. Ela não sabia apenas usar magia e lutar fisicamente, mas como manusear uma arma de lâmina.

Recebe um corte na coxa que a irrita.

Uma brecha! — Pensa Elesis.

O berserk é ativado e a ruiva se prende no lugar. Sua palma da mão é cortada ao segura a espada, puxando a líder e enfiando o punho coberto por chamas roxas na bela face da mesma. Ela solta a espada ao ser arremessada para longe. Elesis pega a espada pelo cabo e corre até Lass.

— Tudo bem? – Pergunta, preocupada.

O ninja move os dedos da mão, em seguida vira a cabeça com dificuldade. Ele desperta assustado, levantando ao ver a espadachim. Reconhece Elesis, suspirando.

— Onde ela está? – Ele pergunta enquanto levantava.

— Lass, precisamos fazer isso juntos. – Elesis fala de repente. – Sozinhos somos inúteis.

— Eu não posso. Você está ferida, Cazeaje te matará! – Negava.

— Ela vai me matar de qualquer jeito! – Grita de volta. – Ela é muito forte, acha mesmo que pode fazer isso sozinho?!

— Por você, sim! – Isso cala a ruiva. – Eu tenho as chamas, determinação, força e o medo de te perder. É tudo que eu preciso.

O ninja recupera a katana e se vira para partir. Elesis corre e para à sua frente. Sem olha-lo, ela segura a espada com a outra mão e estica a que estava coberta por sangue. Lass se preocupa ao ver o machucado profundo em sua palma.

— Tudo que funciona contra ela são ataques físicos e as chamas. – Dizia Elesis. – Nesse vasto mundo, somos os únicos com as chamas. Os únicos para detê-la. Então, por favor, vamos fazer isso juntos.

— Elesis...

— Pelo menos uma vez, não me deixe ser egoísta! – Berra, o remorso visível. Ao olha-lo, o rapaz nota o brilho em seu olhar determinado. – Eu preciso de ajuda e você também. Então...

Olha sem uma expressão para a ruiva. Elesis não abandonava o egoísmo, ele continuava presente sem que ela percebesse. O que a motivava a pedir sua ajuda era bem mais profundo. Percebia ao olhar para a mão trêmula da mesma, o sangue pingando com isso.

Era medo. Como ele, Elesis sentia o perigo que a líder tinha no momento. Finalmente, ela notou o quão pequena é perto de Cazeaje.

Lass estica a mão, um som é ouvido. Como uma mente única, os dois se movem ao mesmo tempo. O cajado de magia de Cazeaje é bloqueado pelas duas lâminas, formando um “X”. À frente, Lass com a katana, atrás está Elesis com a espada.

Seus instintos apenas foram ativos pela preocupação que um teve com o outro. Não se protegiam, mas um ao outro.

As chamas contornam ambos e são expandidas. Cazeaje desaparece rapidamente, aparecendo metros à frente. A dupla avança com as lâminas para cada lado. Juntos, atacam a líder em sincronia. Os cortes são rápidos, a barreira que a mesma usava não suportando por muito tempo.

Ao ser quebrada, Cazeaje joga Elesis e Lass para cada lado. Aproveita que estão afastados e avança contra o ninja, que se ergue coberto por chamas azuis. A líder para e dispara a magia à distância. Lass queima todas e corre até ela, criando diversos cortes com a katana.

Não sendo preciso olhar, Cazeaje se agacha. As lâminas se batem sobre ela, deixando Elesis, que veio de trás, assustada ao ver Lass à frente. Rapidamente, a líder estira as mãos e cria um vento gelado por entre suas pernas.

— Droga! – Indaga a espadachim com as pernas congeladas.

A katana quase foi solta por Lass quando é recebido por um soco coberto de mana na costela. Cai para trás com um chute da líder, que o prende no chão com seu cajado mágico atravessando seu peito. Ela dá as costas para ele e ataca Elesis.

Pega pelo pescoço, é jogada contra o chão, tossindo sem ar. Cazeaje a arrasta pelo cabelo para longe do ninja, não conseguindo resistir com a magia da mesma dentro de seu corpo. Atingia seus nervos e causava uma forte dor por toda parte.

— Quanto mais se mexer, mas doloroso será. – Recomenda Cazeaje.

— Eu não me importo! – Disse antes de expandir as chamas roxas. A dor é maior.

Cazeaje solta seu cabelo quando as chamas atingem seu braço. Elesis rola para o lado e ergue a espada com um corte contra a líder. Ela se defende, os cabelos ondulados voando com o vento. Esse é o único ataque vindo da ruiva manchada pelas chamas, que se recuperava.

Mas Lass continua por ela. Acerta Cazeaje em meio ao peito com um chute e a impulsiona para longe. A poeira sobe com o corpo da mulher sendo arrastado no chão. Sem demonstrar dificuldade, a líder está de pé com uma aura escura sobre ela. Lass recua, tenso pela aura em forma de punho sobre a mesma.

Lass pula para trás quando socos começam a vim em sua direção. Sabendo que logo seria atingido, ele usa as chamas para anular a magia da líder. Funciona. Aproveita e avança com mais ataques. Espera vê-la se defender, mas Cazeaje permanece no lugar imóvel. Seus cortes estão próximos de a atingir.

No entanto, eles batem na barreira que ela cria e volta para o ninja. Não há tempo de reagir, ao ver, cortes estão sendo feitos em si enquanto caía. Mais feridas, menos mana e chamas para se usar. Começa a ser curado toda vez que é atingido por Cazeaje.

Elesis está de pé a tempo de impedir algum passo da líder. Ela avança com as chamas vermelhas. Cazeaje revira os olhos e apaga o poder da ruiva. A espadachim sorri, em seguida salta com um giro e arremessa as chamas douradas.

Seu sorriso aumenta. Cazeaje é atingida. É como pensou, existia um tempo que ela tomava para usar a habilidade novamente. Era bem pouco, segundos para ser exato. Para uma pessoa normal seria impossível acompanhar esse tempo, Cazeaje a mataria nesse mesmo segundo.

Mas Elesis não era uma pessoa normal.

Volta a invocar as chamas vermelhas ao continuar os ataques. Cazeaje sabe que se não apagar a magia da espadachim, o ataque será maior de qualquer jeito. Portanto, a líder contra-ataca. As magias pareciam ser o bastante para parar a ruiva, porém a barreira de chamas azuis sobe e anula completamente.

Atrás da cortina azul, Elesis surge junto com Lass ao lado. Cazeaje fica surpresa com a recuperação rápida do ninja, entendendo ao reconhecer sua teimosia. Suas mãos se movem e as magias são disparadas. Acertam o casal, que está protegido pelas chamas azuis. Eles se aproximam e a atacam ao mesmo tempo, sendo obrigada a recuar. Desvia das lâminas, porém era pega por finos cortes.

Um ataque sincronizado assusta a líder com o decorrer dos ataques. O ninja se abaixa e deixa Elesis pula com apoio de corpo. O corte da ruiva quebra novamente o escudo de magia. Ela joga a mão livre para trás e pega a katana arremessada por Lass. Como sabres, Elesis ataca a líder com mais intensidade. O golpe final a afasta pelo poder das chamas douradas.

— Meu pai dizia que os Cavaleiros Vermelhos eram conhecidos pelo “corte X”. – Elesis falava, jogando de volta a katana para Lass. – É um golpe para uma só pessoa. Mas seu verdadeiro poder vem pela junção de uma dupla.

As chamas azuis o ligavam, suas mentes eram uma só agora. Movem-se ao mesmo tempo contra a líder, o salto que dão é parecido. As lâminas ficam cobertas pela aura azul das chamas enquanto passavam por cima de Cazeaje. Giram no ar e os cortes são feitos.

A líder cai de joelhos pela dor nas costas. Sente sua carne rasga com dois cortes cruzados, como um “X”. Enfraquecida, os olhos pretos volta ao normal.

Os ombros da espadachim caem juntos com o sangue que escorre de seu nariz. O uso excessivo das chamas era prejudicial a ela, diferente de Lass que não demonstrava essa fraqueza. As energias de Elesis acabavam, as demoradas piscadas pareciam que sua mente se apagava durante isso. Seu corpo estava mole, ela desabaria em breve.

Mas se negou. Os olhos cobertos por raiva, a espadachim se dirigiu até a líder. Acerta um forte chute contra o estômago de Cazeaje. A mulher se encolhe no chão, as tosses tentando serem escondidas.

— Vai com calma, Elesis. – Sugere Lass.

A ruiva passa novamente a mão sob o nariz manchado por sangue. Ela não tinha mais forças, perguntava-se como que a mesma continuava de pé.

— Por que fez tudo isso? – Elesis pergunta. Sua voz parecia que iria sumir a qualquer instante. – Não só a morte de meu pai e Gerard, mas por que você fez tudo isso? Pessoas inocentes morreram por sua causa.

— É engraçado como você é tão facilmente manipulável. – Ri Cazeaje. Ela vira o rosto ferido para a espadachim. – Odiava Gerard por um desentendimento, agora que ele te contou o que realmente aconteceu você muda de lado. Parece uma criança.

— Não, você está enganada. – O ódio toma conta do tom. – Contanto ou não, depois de Gerard você seria a próxima. Agora eu só tenho um motivo maior para fazer isso.

— Que é... ? – Ela debocha.

— Por sua causa, eu sou essa pessoa. – Estreita os olhos. – Violenta, cruel, egoísta e persistente. O amor que você tirou de mim é insubstituível. E agora você saberá.

— Vamos acabar logo com isso. – Fala Lass, impaciente. – Falar não adiantará de nada, Elesis.

Quando se preparava para usar a katana na líder, a mão da ruiva é esticada. Ele abaixa a lâmina, confuso.

— Me dê seu sapato, Lass. – É o pedido de Elesis.

— O quê? Meu sapato?

— Sim, me dê ele, por favor. – Aponta para o calçado do rapaz.

Sem entender o motivo do pedido, Lass tira o sapato e entrega na mão de Elesis. Ela estava descalça, percebe, espera que ela calce e peça o outro. Ela não pede, apenas um é o suficiente para a espadachim, apesar de ficar maior como previa.

Cazeaje recua o rosto quando o pé de Elesis quase a acerta. Encara a ruiva, que fazia o mesmo com ela.

— Lamba. – Ordena a espadachim.

— Ficou louca?! – Indignada, Cazeaje grita. – Nunca farei isso!

A ponta do pé acerta o rosto da líder.

— Lamba!

Ao contrário da reação de Cazeaje, Lass parecia se interessar pela cena. Um sorriso despercebido se forma enquanto assistia a líder encarar furiosa a espadachim.

Sem fazer o que foi pedido, Elesis enfia a sola do sapato contra o rosto de Cazeaje. Sem forças, a mulher demora para se afastar, sendo tarde quando sua face está suja pela terra.

— Isso foi pelo Gerard. – Fala Elesis, séria.

Finalmente, ela ergue a espada para descer contra o pescoço da líder. Cazeaje não se abala ao ver a lâmina brilhar sobre ela, ao contrário, ela sorri.

— Continua sendo uma tola. – Ela sussurra. - Eu ainda não perdi.

Distante, Lass não consegue evitar o próximo movimento de Cazeaje. Elesis ainda estava para descer a lâmina, quando a líder avançava contra ela. Sua mão esguia e pontuda pelas unhas atravessa seu estômago, em seguida, um raio de energia sai por suas costas.

Nem mesmo o reforçado vestido consegui impedir o ataque de Cazeaje. Seu tecido branco é manchado pelo escuro vermelho do sangue.

— A vitória só é dada quando alguém está totalmente caído no chão. – Murmurou no ouvido da espadachim.

Cazeaje se afasta e a deixa cair no chão sem apoio. Ela continua a recuar quando Lass avança coberto pelas chamas azuis. Seus ataques impulsionam a líder para longe. Sem escolha, seus olhos ficam escuros quando ver apenas Lass como seu oponente.

Deixada para trás, Elesis olhava o céu escurecer. Não eram as pesadas nuvens que cobriam o céu, mas sua própria mente apagando. O mesmo sentimento que teve no circo ao ser acertada por Lass, sentia agora. Havia dor e o frio da solidão a abraçando. Mesmo com as chamas em seu corpo não era capaz de cura-la. Fraca do jeito que estava, enfraqueceria mais e...

Elesis não consegue continuar a pensar quando seus olhos fecham. O tempo sobre ela diminuía e a fazia ficar mais desesperada.

— Chamas?

***

Não sabe quanto tempo passou desde então. Minutos, horas ou segundos? Não pretendia descobrir, sua conversa com as chamas costumava causar esse efeito. Não havia tempo para passar.

Não posso te curar. — As chamas persistem.

— Cazeaje vai se regenerar novamente. – Murmura, sem forças para elevar a voz. – Não importa o quanto a atacamos, ela se cura no final. Ela é...

E só por isso quer copia-la? Há uma diferença entre vocês duas. Você é humana.

Nega com a cabeça. Elesis poderia a derrotar se tivesse um pouco mais de energia, confiava nisso. Precisa dessa força o mais rápido possível, caso demorasse, Lass levaria as consequências.

Vira o corpo para o lado, acabando ficando em uma posição dolorosa. A espada que usava tinha sido solta um pouco distante, nota ao vê-la à frente. Seria inútil pega-la no estado que estava.

— Por favor, chamas. – Implora com a voz engasgada. – Eu preciso...

Os barulhos aumentam em alguma parte da floresta. Sua visão falha consegue enxergar os tons azuis das chamas subindo e queimando as árvores. Como ela, Lass cairia em cansaço de tanto usar as chamas, embora estivesse acostumado mais tempo que a espadachim.

Suas mãos arrastam pela terra para tentar levantar, sendo em vão. Sob seu corpo, sentia o vestido ficar mais úmido e quente com o sangue que escorria. O tempo passava rápido demais.

Se não lutasse agora, Lass perderia e se tornaria um soldado de Cazeaje. Seus amigos, todos eles seriam presos e mortos. Todos os esforços para salvarem ela e o ninja não valeriam de nada. Cazeaje venceria, o pior detalhe.

Elesis precisava levantar, mesmo que fosse a última vez. Por seus amigos. Por Lass. Por Gerard. Por todos esses anos, o ruivo tentou matar a líder, mas fracassou no final. Ele sacrificou tudo, inclusive a própria humanidade para isso, o que o tornou forte. Porém, ele perdeu por não conseguir sacrificar a última coisa que o restou.

Elesis. A espadachim olha os braços enfaixados pela luta de Gerard. A dor sumia quando tinha um objetivo maior à frente, quanto está desistindo, como agora, elas se tornavam insuportáveis.

Você é fraca porque tem medo de sacrificar. — Disse Gerard uma vez para ela, não nas mesmas palavras.

— Eu não sou fraca.

O que disse? — As chamas perguntam.

Egoísta. Fraca. Medrosa. Teimosa. Tudo isso e mais tornava a irritante Elesis. Seus amigos se afastavam por isso. Deveria morrer como estava agora, sozinha como sempre quis estar. Não era isso que queria? Bem, aí estava.

Ela nega. Nunca quis se tornar essa pessoa, o desejo de vingança a transformou. Cazeaje fez isso com ela. E da mesma forma que a líder causou isso a ela, causaria para seus amigos. Não poderia deixar isso acontecer.

— Chamas, me deem todo seu poder. – Pede, determinada.

Eu já disse...

— Você pode fazer uma troca, não pode?! – Dizia, deixando o desespero tomar conta de si. – Um braço, uma perna, que seja! Você pode fazer uma troca?

Ao longo do tempo, Elesis sentiu que as chamas não eram mais o ser cruel que todos falavam. Elas tinha achado um lado, porém permaneciam neutras. Tudo que queriam era a morte de Cazeaje, após isso, o que aconteceria com elas? Não gostaria de saber.

No entanto, sua neutralidade não impedia que agissem como um ser ganancioso.

Eu não quero uma parte do seu corpo. — Elas falam. Sente o longo e macabro sorriso se formar. – Mas tem uma coisa que funcionaria como um combustível. Te deixaria mais forte por um tempo, o bastante para acabar com aquela mulher.

— Combustível?

Sim! Da mesma forma que os sentimentos me deixam mais forte, isso também deixará.

Um frio passa com o pensamento, que é ignorado pela pergunta.

— Certo, o que seja, aceitarei. – Sem arrependimentos, pensa. – O que precisa?

As chamas falam. Elesis não reage. A principal pergunta que vem em sua mente é: Conseguiria ter arrependimentos? Pois se tivesse, ficaria feliz em saber que foi uma decisão errada. Mas se não houvesse...

Não sabe que decisão tomar, qual a mais certa a escolher. Seu peito doía enquanto pensava. Há alguns segundos atrás estava disposta a fazer o que fosse preciso para vencer Cazeaje, agora questionava a si própria.

O tempo está passando. — Lembra as chamas.

Faria isso pelos seus amigos. Principalmente por Lass.

— Tudo bem, eu aceito!

Tinha cansado de ser a egoísta Elesis de sempre.

***

Lass cai no chão, seu corpo já estava sendo dominado novamente pela magia de Cazeaje. A mana era drenada junto com sua energia. Foi imprudente em atacar a líder sem pensar antes, além de ter deixado Elesis para trás. Ela precisava de sua ajuda.

Ao tentar se levantar, volta ao chão pela fraqueza. A magia de Cazeaje aumentava, ficando paralisado. Era observado com um largo sorriso pela mesma.

— Ela já está morta a essa hora. – Comenta a líder. – Só estará desperdiçando energia.

— Não estou me levantando para isso. – Dizia com a voz arrastada. – E sim para te matar.

As chamas estavam fracas para serem disparadas. Nem mesmo o maior poder do mundo conseguiu derrotar Cazeaje.

O esforço que usou foi muito, isso tudo apenas para se sentar em apoio de uma árvore. Sua katana estava distante. Cazeaje tinha feito o favor de tira-la de suas mãos antes que ele tentasse mais um golpe irritante.

— Não me olhe assim, Isolet. – Cazeaje sorria como uma vitoriosa, já sua aparência destruída não dizia o mesmo. – As chamas azuis são muito perigosas, mas elas nunca conseguirão me matar. Queime-me e irei regenerar no mesmo instante. Sou, basicamente, imortal.

— É o que veremos. – Quis poder ter levantado a mão, porém nem mesmo isso foi suficiente.

Ela gargalha. As dores que sentem com a risada são escondidas tão bem que fazia o ninja questiona-la de modo geral.

Lass olha para o lado quando ouve um barulho. Aos poucos, Cazeaje para de rir com a mesma sensação que o ninja começava a sentir. Era estranha, exatamente como a de Lass é. Somente uma pessoa poderia ter esse tipo de aura.

Elesis surge em passos vagarosos. Ela estava diferente, o olhar vazio para Cazeaje. Tinha algo de errado, Lass nota no mesmo instante.

— Como conseguiu ficar viva? – Questiona a líder. Apoia as mãos na cintura. – Acho que não importa muito.

A última palavra é dita e Elesis desaparece de sua vista. Cazeaje arregala os olhos quando sua barreira é quebrada pela ruiva. É acertada com um soco no rosto, tão forte que nem mesmo berserk seria capaz de se defender. Depois do ataque, mais outro golpe a acerta na costela. Não conseguia se defender, o poder estranho da espadachim era imparável.

— Elesis? – Lass pergunta, assustado.

Sem uma espada, apenas os punhos nus sendo usados na líder. Era como ver uma luta entre dois ursos, violenta e rápida demais. Elesis não tinha um limite, sua aura era grande demais para ser apenas as chamas azuis. Como via no rosto assustado de Cazeaje, sabia que ela pensava como ele.

O que estava acontecendo?

— Que droga é essa?! – Berra a líder.

O calor vem de baixo, então o brilho azul de expande. Cazeaje grita com as chamas a queimando, sua pele descolando enquanto o sangue escorria por cima. As chamas abaixam e ela volta a se curar rapidamente.

— Já entendi o que você é. – Fala Elesis. – Sua principal habilidade não é anular as demais. Você rouba a alma das pessoas e as come.

— Hã? Do que está falando?!

— Sua imortalidade é tão falsa quanto um truque de mágica.

Volta a ser queimada. Não conseguia se mover do lugar, a dor entrava em cada parte de seu corpo e a paralisava no lugar. Mais uma pausa, regenerando-se ao cair de joelhos.

— O que te torna diferente, Karina, é o fato de você roubar as vidas das pessoas. Então toda vez que morre, não é você exatamente. – Dizia enojada. – Isso explica porque quer as chamas azuis. Com seu poder você finalmente se tornaria imortal.

Não é preciso ouvir até o final da explicação para Lass entender. Ela pode não conseguir controlar as chamas, mas poderia pegar sua mana e se torna mais forte. Cazeaje, enfim, seria a pessoa mais forte do mundo.

— Onde quer chegar com isso? – Indignada, a líder pergunta.

Elesis sorri como uma sádica.

— Eu te matarei até que esteja na sua última vida.

Com isso, as chamas voltam a queima-la e gritos são mais soltos. Lass não se move ou ousa interferir. Ver a cena é chocante para o rapaz, principalmente quando Elesis opta por usar as próprias mãos para continuar. Mais chamas são usadas. Cazeaje tentava usar sua magia para escapar da tortura, porém eram anuladas pelas próprias chamas.

O jogo enfim tinha sido invertido.

— Elesis, pare. – Lass pede, preocupado.

Mais sangue escorre do nariz da ruiva. Ela usava mais que o permitido das chamas, o limite não existia mais. Enquanto matava Cazeaje, Elesis se matava junto.

— Elesis!

As chamas são usadas até que a espadachim vacilasse. Anda para o lado, a tontura aumentando. Seus lábios estavam vermelhos de tanto sangue que escorreu, não se importando ao olhar Cazeaje. Completamente destruída, a líder não se movia mais. As feridas não regeneravam como antes, era demorado demais.

— Só mais... um... – Estica a mão, notando a tremedeira que tinha. Como Cazeaje, estava tão fraca quanto ela.

Não há mais mana ou força, Elesis reconhece sua fraqueza. Ela recua com passos arrastados sobre a grama, o pesado sapato de Lass a fazendo tropeçar. Cai sentada, sem deixar a mão esticada abaixar. Precisava usar as chamas só mais uma vez, depois poderia descansar.

Cazeaje se move, levantando de forma torta. As feridas continuavam queimadas sem ser regeneradas. A líder ignorava enquanto encarava a espadachim caída.

— Você disse que eu roubava as almas das minhas vítimas. – Dizia Cazeaje com a voz arrastada. Não tendo mais mana, veias pretas contornavam seus olhos, passando pela cicatriz. O sorriso a deixa pior. – Então você é a próxima.

Elesis cai completamente no gramado. Não sente mais seu corpo, apenas as dores. Sua cabeça vira para o lado, para a mesma direção de Lass. Ela força um sorriso para o ninja preocupado, em seguida, fecha os olhos.

A beleza perfeita de Cazeaje é totalmente destruída após ser queimada diversas vezes pelas chamas azuis. Asmodiano são considerados a raça menos bela que existe, no entanto, Cazeaje conseguia ultrapassa-los. Tudo que restou sua verdadeira forma.

Um monstro.

Os passos que dava até a espadachim eram demorados, difíceis pelo seu estado. Não possuía mana para usar alguma magia nela, mas tinhas as unhas afiadas para rasgar sua garganta. Uma morte lenta como ela merecia.

Para na frente da espadachim, então mexe os dedos, empolgada. Levanta a mão preparada para perfurar a garganta da jovem ruiva. Teria feito no mesmo instante, porém leva mais um tempo para apreciar a cena de derrota de Elesis. Viu Elscud assim, logo Gerard. E agora era a vez da última pessoa viva da linhagem dos Cavaleiros Vermelhos.

Elesis olha Cazeaje observa-la, podendo ter terminado com sua vida de uma vez. Lembra do que Gerard disse sobre ela: Cazeaje gosta de brinca no seu jogo, ela gosta de mostrar que estar por cima. Nesse instante, ela fazia exatamente o mesmo.

O que é seu grande erro.

— Diga adeus, lixo! – Seu sorriso aumenta como seus olhos famintos.

O frio encosta no seu pescoço, que se torna quente. Sua visão escurece e todas as dores somem.

A fina lâmina da katana passa pelo pescoço de Cazeaje e a interrompe. Uma linha vermelha se forma e se torna espessa. Por fim, a cabeça da líder cai para o lado enquanto se corpo permanece de pé por poucos segundos.

— Adeus, lixo. – Fala Lass.

Tem a certeza que está morta pela falta de mana do corpo. Reconhece um morto por isso, quando há um sumiço repentino da magia, algo está errado. Mas nesse caso, o “errado” é considerado como “certo”.

Larga a katana de lado e salta o corpo de Cazeaje. Elesis o olha ao se aproximar, pegando o corpo da ruiva com cuidado. Ela estava gelada, embora houvesse usado as chamas há alguns minutos atrás.

— O que você fez? – Perguntava, pensando em alguma forma de salva-la. – Como conseguiu usar as chamas desse jeito?

— Trato... – Murmurava. – Eu fiz...

— O quê? Que tipo de trato?!

— Lass... Me despedir... – Machucava toda vez que sua voz saía. Ela persistiu. – Cazeaje...

— Ela está morta! Não se preocupe, você conseguiu mata-la. – Força um sorriso.

Um sorriso fraco e sujo pelo sangue é o que Elesis consegue.

— Bom.

— Olha, preciso te tirar daqui. Vamos voltar e você será curada!

Segura a mão do ninja. Elesis usa o berserk para isso. Os vermelhos olhos perdem a cor após isso.

— Obrigada. – Diz a espadachim. – Por favor... Não...

— Não o quê?

— Me deixe.

As confusas palavras deixam o rapaz cabisbaixo, como se algo de ruim estivesse para acontecer. Ele puxa para mais perto o corpo de Elesis, transportando seu calor para ela.

— Desculpa.... por ter sido tão... – Engole seco. – idiota. Amo meus amigos.

— Eles sabem disso.

— E-Eu posso vê-los? – Sob os hematomas e dores, Elesis tinha um fino fio de esperança.

— Claro! Você verá quando voltar. Agora vamos indo!

Pega a espadachim pelo colo e a ergue. O corpo de Elesis continuava a perder calor, deixando o ninja desesperado por alguma opção.

— Lass também?

— Irei te ver quando voltarmos, não precisa perguntar. – Continua a andar, as respostas sendo automáticas.

— Promete?

Os passos param com o som ouvido. Lágrimas escorriam dos cantos dos olhos da espadachim. Ela contrai os lábios para esconder a tristeza.

— Quero poder ver as estrelas com você outra vez. – Diz Elesis. – Ir em uma missão juntos. Fazer muitas coisas.

— Iremos...

— Ouvir você cantar. – As lágrimas continuavam a descer, passando pelo sorriso forçado da ruiva. – Pelo menos uma vez...

— Mas nós iremos...

— Então darmos um nome para o gatinho.

Cai ajoelhado, olhando Elesis sorrir como uma inocente criança. Ela não chorava mais, e sim ele. Não entende o motivo repentino de ficar assim. As lágrimas descem por suas bochechas e param no queixo.

Elesis estava mais gelada.

— Eu prometo! – Grita Lass. Ele fecha os olhos e as lágrimas descem com mais força. – Iremos fazer todas essas coisas juntos!

Um sorriso sincero, mas pouco visível. É o bastante para o ninja sorrir junto. Elesis fecha os olhos sem deixar o sorriso sumir.

— Adeus, Lass.

A fraca pulsação que sentia vim da espadachim desaparece, nada mais é sentido. Lass deixa as últimas lágrimas escorrem. O tempo parece retroceder para o dia que perdeu Gwen. Tinha se sentido fraco, incapaz de ajuda-la.

Ele range os dentes. Após perder Gwen, Astaroth foi o próximo. Não deixaria Elesis fazer parte dessa mesma lista.

— Chamas, usem tudo que tem para cura-la. – Ordena, sério. – E não importa as consequências, apenas faça!

***

O peso sobre seus braços não era maior que o de seu peito. Carregava sem protestar, mesmo pelos corredores longos por onde passava. Demorou chegar até ali, não esperou que o portal fosse ser criado, mas por sorte, foi. Seus olhos ardiam, vermelhos após tudo que aconteceu anteriormente. Estava exausto, tudo que queria era sair do prédio e se encontrar com seus amigos.

Passa pela entrada principal. No pátio, todos estavam reunidos em meio a destruição. Nenhum morto, apenas feridos. Desce as escadas com cuidado, então todos o notam.

— Lass! – Gritam, aliviados.

Chega no último degrau e a reação muda repentinamente. Olhos arregalados e mãos na boca para esconder a surpresa. Estão em choque, a cena parecia ser uma ilusão para todos. Mas não é. Um passo à frente e acreditam na dura realidade.

Lass se aproxima de Arme e Lire. Sem uma sequer palavra, ele entrega Elesis nos braços das amigas. Elas olham a ruiva, tocam em seu rosto. Arme é a primeira a desabar em lágrimas, ajoelhando no chão enquanto Lire deitava a espadachim no chão.

Lass se afasta. Arranca o casaco preso da cintura, que usava como uma bolsa para carregar algo pesado dentro. Seus amigos o observam passar por eles, apenas uma pessoa importando para ele. Inclusive Grandiel é ignorado.

Para de frente a Adel. Tira o casaco e joga para o lado, revelando a cabeça decepada de Cazeaje. Ergue pelos cabelos, não demonstrando algum remorso com isso.

— Temos um acordo. – Diz o ninja. – Agora cumpra.

***

Em meio ao grande jardim, todas lápides eram parecidas, suas diferenças eram os nomes esculpidos nelas. Diante de Lass, a lápide tinha um grande nome, como considerava. Afunda as mãos nos bolsos e espera que o frio passe. Pergunta-se como não sentia mais tristeza diante à lápide. Passou por tantas situações que não sabia mais como agir.

Não é preciso olha para o lado ao sentir Jin se aproximando. Para ao seu lado e observa a lápide junto com o ninja.

— Seria bom se ele estivesse aqui. – Comenta Jin. – Ele estaria orgulhoso de você.

Lass assente. Astaroth adoraria ter visto o que fez com Cazeaje, ele aplaudiria de pé e ainda daria um presente por isso. Sorri ao pensar nas possibilidades.

Lê mais uma vez o nome de Astaroth escrito na lápide e guarda esse momento com carinho. Jin vai na frente, logo Lass o acompanha ao terminar sua despedida com Astaroth.

— Ainda me pergunto como vocês conseguiram matar Cazeaje. – Falava o lutador. – Sabe, ela é bem forte.

— Foi demorado, mas quem conseguiu isso foi a Elesis. Ainda acho que ela não deveria ter feito aquilo.

— Ela é teimosa, sabe que isso aconteceria.

— Mas ela quase morreu por isso! – Grita, desculpando-se em seguida. Esfrega o rosto. – Foi muita sorte as chamas terem a deixado viva até que nós voltássemos.

— Agora é só torcer para que ela acorde logo e bem. – Suspira o ruivo.

Quando Elesis apagou em seus braços, Lass se desesperou e não deixou os sentimentos tomarem conta dele. Ele usou as chamas em certos pontos do corpo da espadachim para que ela se recuperasse e continuasse viva até que fosse tratada adequadamente. Arme chorou ao ver a amiga ser entregue de alívio, logo a curando imediatamente. Desde então, Elesis tem estado apagada no hospital enquanto se recupera.

— Eu não sei o que teria feito se ela morresse. – Diz Lass, parando aos poucos. – Fiquei com medo, muito medo quando ela começou a se despedir.

— Ela está bem, isso que importa. Em breve você poderá vê-la, ok?

Quando, essa era a pergunta.

— E falando em despedida... – Fala Jin. Cruzou os braços, nervoso. – Eu não te contei ainda, mas estarei de viagem com o Azin para Terra de Prata.

— Viagem? Por que tão de repente?

— O colégio vai fechar, então decidimos tomar um rumo enquanto isso. Não tenho uma casa além dessa.

— E você pretende ficar por quanto tempo lá?

Dá de ombros, sem jeito.

— Um ano ou mais. – Entende a tristeza do ninja. – Eu quero me encontrar, tomar um rumo de vez. Depois que a Cazeaje mexeu com a minha cabeça, não ando me sentindo muito bem. – Mexe as mãos vazios, tentando encontrar as palavras. – Eu quero ser o velho Jin de antes, entende?

Não é preciso uma pergunta para Lass compreenda sua situação. O próprio ninja estaria tomando uma longa folga após tudo isso, sem lutas ou problemas para resolver. Os demais Conselhos não estão mais no seu pé, por enquanto.

— Então, talvez essa seja a última vez que a gente se veja. – Menciona Jin. – Eu só quero que você saiba que você sempre será meu melhor amigo e a pessoa mais importante da minha vida. Isso é, depois da Amy, claro.

— Digo o mesmo. No começo, você foi apenas um garoto irritante. – Admiti Lass, sorrindo. – Mas percebi que eu precisava de um apoio e você era essa pessoa que eu sempre precisava. Apesar de idiota, continuava sendo um bom amigo.

Jin ri.

— Acho que vou sentir falta desses insultos, que na verdade são elogios. – Estica a mão. – Obrigado por tudo, Lass. Até uma próxima vez.

Olha para a mão do ruivo e a empurra para o lado. O abraço que dá em Jin demonstra mais afeto que nunca achou poder fazer. O lutador se assusta, mas retribui o abraço.

— Cuide da Elesis, certo? – Pede Jin. – Faça ela ser feliz como deve ser.

— Não precisa falar, idiota. Claro que farei! – Acerta um tapa nas costas do ruivo antes de se afastar.

Após tantas coisas que passaram, tudo que sobrou para Lass foi Elesis. Jin partiria, o mesmo para os demais rapazes. Não teria mais colégio, o lar de todos está fechado até que Grandiel tome alguma atitude. Levará tempo, sabe disso.

Eles se olham por uma última vez. O jovem e inocente Jin tinha crescido e amadurecido, agora sério e cobertos por cicatrizes. O carrancudo Lass havia deixado de lado o mau humor e começou a se abrir mais aos amigos em sua volta. A katana não era mais sua única companhia. Sim, tinha cicatrizes, mais que antes, mas todas valeram a pena.

Elesis tinha mudado suas vidas como uma montanha russa. A teimosa espadachim acabou sendo importante para a vida de todos.

— Vamos entrar. – Aponta Jin. – Talvez ela tenha melhorado.

Tinha pensando assim durante a semana toda. Visitava o quarto onde Elesis descansava e esperava ver a ruiva despertar. Nunca acontecia. Seu estado melhorava pelos remédios e magias que eram usados. Aos poucos, a espadachim se recuperava e logo estaria acordada.

Entram no prédio do hospital. Por onde passavam, olhares duvidosos caíam sobre eles. A notícia da queda do Conselho se espalhou. Cazeaje estava morta e o mundo sabia. Houve comemoração em algumas partes, inclusive Lass quis participar, porém ficou de fora enquanto continuava preocupado com Elesis.

Jin entra primeiro no quarto enquanto Lass se apoia na entrada. O ninja olha para o corredor esperando que alguma enfermeira se aproximasse para dar alguma notícia.

— Lass! – Exclama Jin.

— O que foi?

Não é preciso uma resposta. O ruivo estava sentado na ponta da cama, um sorriso largo marcando sua expressão. Não demora para que Lass esteja da mesma forma.

Elesis para de coçar o olho e olha para Jin. Ela tinha se sentado, olhando melhor o rapaz à frente. Não se move mais que isso pelas dores que ainda sentia.

— Elesis! – Jin pula para mais perto e a abraça.

A espadachim se encole por um momento, retribuindo o abraço ao reconhecer o ruivo. Mexe suas mãos enfaixadas para os cabelos espetados do lutador, lembrando cada detalhe do mesmo.

— O que aconteceu? – Ela pergunta.

Jin a solta, sem conseguir desmanchar o sorriso.

— Depois eu te conto. Estou tão feliz por você estar aqui. – Disse o ruivo.

Lass para na ponta da cama, nervoso ao ver a espadachim mais de perto. Elesis o nota, olhando curiosa para ele. Jin se levanta e deixa o espaço para o casal. Fazia tempo desde que estiveram juntos sem que estivessem sendo caçados. Finalmente, tinham a paz que tanto procuravam.

Lass a puxa para um abraço, apertando brevemente a ruiva. Seu corpo não estava mais frio como antes, não existia mais medo em seus olhos. O palpitar de seu coração enche o ninja de alívio e felicidade.

— Eu te amo tanto, nunca mais faça isso comigo.

Incomodada por causa dos machucados, Elesis o afasta. Lass está mais perto de seu rosto, vendo os pequenos machucados ainda se curarem. As mechas brancas de seu cabelo sumiram, voltando a ser totalmente vermelho.

Entretanto, em meio a tanta beleza existia um olhar confuso.

— Desculpe, mas que é você? – Elesis pergunta.

A pergunta é uma surpresa para o ninja. Ele ri sem jeito, olhando para Jin. O ruivo juntou as sobrancelhas, confuso pela pergunta.

— Como assim? – Fala Jin. – É o Lass, Elesis.

Sua expressão não muda. O ninja começa a ficar nervoso.

Não, de novo não. — Ele pensa.

— Tá, e... ? – Ela o olha. – Deveria conhece-lo?

Lass se contem para pegar a mão da espadachim. Os famintos olhos de curiosidade da mesma machucam o ninja.

— Você não me conhece?

A pergunta sai com um tom triste, tão repentino que até Elesis é afetada. É como se fosse uma obrigação.

Ela balança a cabeça em negação.

Após acreditar nas palavras da espadachim, Lass compreende. O poder que Elesis teve para derrotar Cazeaje era grande demais, para conseguir era necessário algo em troca. Algo de valor.

— Tem certeza que quer isso? – As chamas tinham perguntado.

— Tenho. – Elesis respondeu.

— Então diga adeus para suas memórias do Lass.

Confusa, ela ainda esperava que o ninja dissesse algo. Ele se levanta, o rosto afastado para que não o visse. O rapaz se dirige até a porta, sem falar com Jin.

Lass se vira e tenta achar as palavras que queria. Lembrar das estranhas palavras de Elesis antes de quase morrer o calou. Ela sabia que isso aconteceria, sabia que a consequência seria grande. Por isso de ter dito tudo aquilo, principalmente por ter se despedido.

Seu “adeus” fazia sentido para Lass.

— Me desculpe. – Pede o rapaz. – Não deveria ter te abraçado desse jeito.

Jin olha surpreso. O que Lass estava fazendo?

— Mas você parece me conhecer. – Diz Elesis.

O ninja estica a mão para que ela não continue. Ao ter o silêncio que queria, a mão se fecha e é abaixada. Seu sorriso parece tão falso quanto suas próximas palavras.

— Adeus, Elesis.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Cazeaje morreu... E a Elesis esqueceu. Tá, não é momento para piadas, massss hahaha Espero que tenham entendido o porquê da Elesis ter esquecido o Lass, se não, leiam de novo, pelamor!
* Como já estão vendo, o próximo é despedida dos personagens, então será bem triste e feliz ao mesmo tempo. Estou tomando cuidado com as cenas para que sejam bem bonitas, principalmente a última :3
* Estava feliz para que o Review chegasse aos 1000, mas infelizmente não acontecerá. O final é semana que vem, então comentem ou apareçam aqueles que nunca deram as caras. Isso ajudaria muito ^-^



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