Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 128
Último momento de paz


Notas iniciais do capítulo

Oláááááhhhh! Tudo bão? Espero que sim! Então, finalmente chegamos no arco final e falta pouco para acabar. O cap de hoje será bem tranquilo, só que o final vai mostrar o que vai acontecer nos próximos. Estejam preparados.
Capa: Sugars (Editado por Paarthurnax)
Boa leitura!



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Leva suas mãos até a cabeça e espera que a dor diminua. Sente sob a pele suas veias palpitando, o sangue passando por elas e o calor que emanava. Cada detalhe, menor que fosse, era sentido. Range os dentes. A dor aumentava, suas pernas se enrolando.

— ... arec... ue... está... funcion...

Aperta o colchão, ouvindo um barulho em seguida enquanto exercia mais força. Abraça o próprio corpo para se impedir, virando-se de um lado para o outro. O grito que solta não consegue ser ouvido, mesmo que sua garganta doesse. Suas pernas se movem rapidamente, batendo contra a parede. Empurra a si própria, até não sentir mais nada sob ela.

— Elesis! – Alguém parece se assustar.

Seus olhos se abrem. O teto do quarto parecia distante, de início, tudo parecia longe. Respira e vira o rosto, sua bochecha gelando ao encostar no chão. Reconhece seu quarto depois de um tempo, logo sua cama que estava à sua frente.

— Tudo bem? – Lire se agacha ao seu lado. – Começou a se debater de repente.

Confusa, pisca os olhos. As dores sumiram, as sensações não eram mais sentidas. Senta-se no chão, segurando o colchão de sua cama. Ao jogar o lençol para o lado nota nada de diferentes. Nenhum rasgou ou sinal de um.

— Acho que tive um pesadelo. – Sussurra.

— Que surpresa, faz tempo que você não tem um.

A elfa passa a mão sobre sua cabeça antes de se afastar. Elesis tenta fazer o mesmo, caindo de joelhos. Lire volta para ajudar a se sentar na cama.

— Peça ajuda quando precisar, Elesis.

— Não precisava. – Continuava a tentar ficar de pé. Desiste ao notar a tontura repentina. – Onde está a Arme?

— Saiu cedo. Também vou precisar ir, então...

O olhar que recebe da elfa é uma ofensa. Fala antes que ela oferecesse ajuda.

— Pode ir, não preciso de uma babá. – Diz emburrada. – Posso cuidar de mim mesma.

— Só não quero que se machuque mais ainda.

— Então me deixe sozinha. – Suspira.

Ela gostaria de negar. Elesis era sua amiga e sempre se ajudaram quando era preciso. Porém, Lire apenas concorda com um olhar baixo. De um tempo para cá, a espadachim tem estado alterada, fechada com todos à sua volta. Percebia o esforço que ela fazia tanto para se manter de pé quanto para não se distanciar mais delas.

— Se precisar de ajuda é só chamar. – Disse com um sorriso breve.

A espadachim permanece em silêncio até sua ida. Como despedida, acenou rapidamente com a mão. Quando volta a ficar sozinha, no quarto tomado pelo sol que entrava pela janela, sente uma espécie de frio. Abraça o corpo trêmulo.

Era real. Embora sob a luz do sol, não existia calor sobre sua pele. Não entendia de onde vinha aquela temperatura tão baixa, ou do porquê de apenas ela ser afetada. Abaixa a cabeça, encolhida sobre suas pernas. A dor voltava, porém, sem estar na mesma proporção.

Tenta pensar que é loucura, lembrando da noite passada. Lass esteve em seu quarto, conversou com ela e se despediu. No momento, não consegue lembrar suas exatas palavras, apenas seu tom triste. O que tivesse dito era importante.

— Droga. – Resmunga com a dor aumentando.

Antes de ir, Lass a beijou. Tinha gostado, querendo mais. O ninja havia falado algo por ter se afastado, em relação aos seus machucados.

Olha para as próprias mãos, surpresa. Elas continuavam feridas, porém os machucados haviam diminuído. Seu corpo não se curava tão rápido de um dia para o outro. Move os dedos, gira as palmas. Algo estava diferente.

Aos poucos, lembra de como terminou a noite passada. As dores e sensações deveriam ocorrer por um motivo, e ele estava dentro dela o tempo todo. Tinha feito um trato com as chamas azuis.

Agora elas estavam dentro de si como qualquer outra chama.

***

Seu olhar não desviava dos punhos, fechados firmemente. Faz meia hora que estava esperando algo acontecer, ou sentir um poder para se agarrar. Nada vinha, apenas algumas tonturas repentinas. Coçava os olhos e voltava a fitar os punhos à procura da cor azulada sobre eles. Era como invocar qualquer outra chama, pensava irritada.

Soca o ar. Dá alguns passos atrapalhados para o lado, seu corpo quase tendo caído ao atacar. Furiosa, soca com outra mão.

— Droga! – Elesis grita.

Sente alguém se aproximar, o barulho da grama se movendo apontando isso. Vira-se para Ronan, um pouco emburrada para se encontrar com o rapaz.

— Por que está treinando? – Ele pergunta. – Não deveria estar descansando?

— Não posso perder tempo com essa bobagem.

Usa os joelhos para se apoiar. A visão fica embaçada de repente, uma tontura surgindo aos poucos. Fecha os olhos e espera para que passe o mais rápido o possível. Quando percebe, está sentada no chão com o rosto abaixado.

Fica irritada com o olhar que Ronan fazia sobre ela. Mesmo não vendo, o rapaz sorria por sua teimosia.

— Bobagem? – Ele pergunta. – Até quando vai ser uma bobagem?

— Não enche, rabo de cavalo. Não estou no clima para isso.

Com uma inspiração profunda, ergue o rosto. Ronan estava mais perto, sentado à sua frente.

— Faz um bom tempo que você não me chama assim. – Diz com um pequeno sorriso. – Se bem que não faz mais sentido.

— Se deixasse o cabelo crescer poderia voltar a fazer sentido. – Aponta para os fios curtos.

Ronan passa a mão no cabelo, pensativo sobre a sugestão da ruiva. Nunca esperou ouvir um pedido desse vindo dela. Quando pequenos, Elesis constantemente o mandava cortar, já que o mesmo se parecia com uma garota. Entre eles, a espadachim era a mais corajosa, parecendo que os papeis haviam sido trocados.

— Mas é melhor assim. – Fala Elesis. – Seu cabelo te atrapalhava nas lutas, então assim é melhor.

— Mesmo? Sempre achei que fosse coisa da minha cabeça.

— Não, é porque a franja sempre estava cobrindo sua visão para enxergar isso.

— E quanto a você? Olha esse cabelo, que por sinal, é bem maior que o meu!

Elesis abre seu sorriso, passando a mão pelos fios vermelhos. Gostava do jeito que era, como cobria suas costas e entrava na sua boca quando passava um vento. Apesar de ser trabalhoso, nunca foi um incomodo durante os combates. Prendia ou quando não podia, esquecia que existia uma cortina vermelha sobre ela para atrapalhar. Quando queria ganhar, nada seria capaz de atrapalhar.

— Eu posso, você não. – Mostra a língua.

— Mesmo que quisesse curto, não poderia. Ele sempre cresce quando usa alguma chama. – Diz um pouco sério.

Abraça com mais força as pernas.

— É um pouco mais difícil que parece. – Fala com um tom baixo. – Gostaria que fosse apenas uma mudança de cor.

— É só esse o problema de tudo? Ter várias chamas?

— Ultimamente, está sendo difícil decidir qual é o maior problema. Tudo que faço é errado e quando pretendo fazer alguma coisa certa, só pioro a situação. – Esfrega as mãos, os dedos passando pelas feridas. – Talvez eu seja o problema.

— Eu quero concordar, mas você é a minha amiga. Sempre estarei do seu lado.

— Mesmo quando eu enfrentar o Gerard? – Olha com medo de ser rejeitada.

Ronan não responde, olha para o lado. Como para ela, o rapaz também tinha um certo problema com o ruivo após tudo que fez. Confiou e cresceu com ele, mas logo se destruiu em um piscar de olhos. Poderia não ter a mesma raiva que Elesis tinha, o que não impedia de sentir um pouco disso.

— Eu enfrentei o Gerard antes. – Comenta. – Ele é bem forte, é tudo que digo.

— Posso lidar com isso.

— Vai se machucar.

— Estou preparada.

— Não nesse sentido! – Olha irritado. Inspira fundo, soltando o ar pesado. – Chega de machucados, Elesis. Chega de mentiras. Pare de fingir que está tudo bem!

Seus ombros se movem quando encolhe diante as palavras do rapaz.

— Você tem amigos, aceite nossa ajuda. – Continua Ronan. – Você nos ajudou, está na nossa vez de fazer o mesmo por você.

Sente um aperto no peito, uma fraqueza atingir seu corpo por completo. Abraça com mais força suas pernas encolhidas. Não estava bem. Morde os lábios e engole seco. Piorava enquanto tentava segurar essa dor.

— Eu não sei mais o que fazer. – Diz, trêmula. Encara o chão, a grama se distorcendo como o calor que passava por suas bochechas. – Sinto como se todos tivessem contra mim.

— Não estamos.

— Então me apoiem quando eu precisar. – Fecha os olhos, o calor se tornando mais úmido. – Eu só quero que me mantenham de pé! Só mais um pouco... E-Eu quero continuar de pé!

Todas decisões que tomava eram vistas como erradas pelas pessoas à sua volta. Não aguentava mais essa pressão vinda de seus amigos, e principalmente de Lass. Tinha decidido ser honesta com o ninja, até ter mentido para o mesmo, noite passada. A confiança que havia entre eles se quebrou.

— Então fique de pé.

Demora a olhar, confusa. Seus cílios pesavam, como todo seu corpo. Ronan fica de pé e para à sua frente, esticando as mãos. Espera ouvir uma risada do rapaz por achar que era brincadeira. Tinha se enganado.

É pega pelas mãos e puxada. Elesis levanta num salto, segurando Ronan pela camisa. Suas pernas estremecem, ainda não tendo certeza se continuaria de pé.

— Quer nosso apoio? – Falava em um tom sério. – Então terá.

— Es-Espera!

É solta, de pé e sem apoio por perto. Elesis move os pés até estar em uma posição favorável. Levantar de repente não era bom, precisava de um tempo para que suas pernas funcionassem como deviam.

— Você disse que queria aprender valsa, não é? – Continuava Ronan, agindo naturalmente. – Bem, vamos lá!

Quando tenta se afastar é pega pela mão e puxada. Cai em desequilíbrio contra o corpo do rapaz, que a ergue pela cintura até ficar devidamente posicionada.

— Eu já disse, agora não é um bom momento para treinar isso. – Dizia Elesis.

— Você estava treinando antes da minha chegada, que diferença faz agora? – Aperta a mão da ruiva. – Agora siga meus passos.

— Ronan, é sério, eu não... – A frase não é terminada ao começar a se mover.

Elesis exerce mais força que o necessário para acompanha-lo na dança. Era agitada e rápida para seguir no estado que estava. Giram e andam de um lado para o outro, a grama se agitando como seus movimentos rápidos. A ruiva segura firme a camisa de Ronan, evitando de ser solta durante a dança.

O rapaz solta sua mão e a joga girando. Elesis dura mais alguns passos, caindo para trás ao tropeças nos próprios pés. Coloca a mão sobre os olhos e espera que o mundo pare de girar sob ela.

— Revigorante, não? – Ouve Ronan comentar, próximo.

— Eu acho que valsa não é assim. – Resmunga.

Tira as mãos lentamente. Tudo voltou ao normal, diferente da dor nas pernas que surge. Os dedos dos pés se contorcem em agonia, sua respiração já cansada se intensificando. Precisava acreditar que existia somente aquela dor, as demais eram sua imaginação.

Eram as chamas mexendo com sua sanidade.

— Então, preparada para a parte dois? – Com um sorriso largo, Ronan pergunta.

Quanto mais se afastasse, isolasse, mais as dores seriam sentidas. Eram como sons. Se houvesse barulho demais não seriam ouvidos, apenas de ter alguns ruídos perceptíveis.

Tudo que mais precisava no momento era de barulho. Pensativa se haveria consequências, a espadachim segurou a mão esticada de seu amigo e levantou com toda empolgação que tinha.

— É o que veremos, rabo de cavalo!

***

Não somente suas pernas, mas seus pés estavam doloridos. Levava em uma das mãos os sapatos que deveria usar, que estava cansada demais para isso. Seu corpo pendia de um lado para o outro a cada passo desajeitado. Lembrava-se que as dores seriam maiores no outro dia, tudo causado pela estranha dança com Ronan. Não foi uma valsa, ela tinha certeza.

Vira-se pelo chamado baixo que ouve ao fundo.

— Olá, Mari. – Cumprimenta quando próxima. – Faz tempo que não te vejo.

— Certamente. – Analisa o estado exausto da ruiva. – Você não parece muito bem, ultimamente.

— É, estou com alguns problemas. – Esquiva da pergunta.

— Percebo. Então, gostaria que viesse comigo no quarto. Quero mostrar o seu vestido.

Sem uma resposta definida, Mari segue na frente. Elesis tenta questionar, correndo atrás da mesma.

— Vestido?

— Sim, você pediu para que eu fizesse algumas mudanças. Tive algumas ideias e quero mostrar para você.

— Ah, certo! – Tinha esquecido por um momento. – Não achei que fosse fazer de verdade.

— Bem, você pediu e eu aceitei. Obviamente eu faria.

Não responde sabendo que seria uma conversa sem fim com a jovem. Mari não entendia certas coisas, e se relacionar com alguém era uma das maiores.

Chegam no quarto de Mari alguns metros adiante. Para a sorte da espadachim, não foi preciso subir escadas. Entrou no cômodo e se deparou com a bagunça em cada canto do local, peças e equipamentos jogados de qualquer jeito. Elesis não fica surpresa com a visão que tinha, era comum vim de sua amiga.

— Eu já fiz alguns cortes no tecido. – Comentava Mari. – A saia era longa demais, atrapalharia sua movimentação.

— Certo. – Encosta na parede. Mari não parava no canto, andando de um lado para o outro, pulando sobre o lixo quando necessário. – Alguma coisa relevante?

— Sim, estou planejando colocar algumas partes de uma armadura que comprei. Mas antes, preciso saber o número do seu busto. – Já segurava uma fita em mãos.

— Nem tente. – Estica a mão.

Mari assente, solene. Joga a fita de lado, indo para sua mesa olhar os demais projetos que tinha. Elesis usa esse tempo para observar a outra bagunça da jovem. Existia muitas peças de armas, algumas repetidas.

— Por que tudo isso? – Aponta para as peças.

— Era para o projeto do Astaroth. – Disse sem interesse.

— Projeto? Que projeto? – Desencosta da parede. – Quando foi isso, Mari?

— Quantas perguntas. Qual devo responder primeiro? – Era honesta.

— Mari! – Grita nervosa. – O que você fez para o Astaroth?

— Um revólver. Ele veio há um tempo aqui para me fazer esse pedido. – Pensativa, continua. – Achei estranho, não vou mentir. Ele disse que precisava de uma bem específica.

— E você fez?

— Não recusei.

— O que ele pediu de específico? Astaroth não é de usar armas de fogo.

— Que o revólver contivesse apenas duas balas. Eram grandes demais e poucas, seria uma arma inútil. – Mesmo sendo uma obra sua, Mari era sincera com seus clientes. – Tentei avisar a ele, mas disse que era isso que ele procurava.

Elesis entende de quem veio a arma do seu suicídio. Era simples, Astaroth planejava sua morte antes mesmo de entrar no Conselho. Como qualquer pessoa consciente, sabia que enfrentar Cazeaje teria consequências maiores. Ele escolheu a de menor prejuízo.

Mas por que fazer uma arma tão específica quanto essa? Queria uma morte especial? Elesis não entende.

— Obrigada, Mari. – Diz, olhando para o lado. – Faça o que achar melhor no vestido.

— Se quiser fazer um pedido, é só falar.

— Certo. – Para na porta, incomodada com os pensamentos. – Nos vemos depois.

Sai do quarto, apressada em chegar no quarto. Não aumenta os passos pelas dores que voltam a preencher seu corpo. Estica a mão até a parede próxima, os dedos deslizando pela pintura áspera. Não podia deixar a tontura tomar conta de si, que já fazia seu corpo enfraquecer.

Elesis usa o berserk ao sair correndo. Sobe as escadas no ritmo mais rápido que seu corpo permitia. Quando chegava no último degrau, o calor de seu sangue some. Elesis tropeça, as mãos usadas para evitar o impacto. As palmas ficam raladas, porém a dor é pouco percebida quando sente seu coração acelerar.

— Logo você se acostuma. – Disse a voz distorcida.

Assustada, reconhecendo, olha sobre o ombro. A pessoa sentada no topo da escada estava de costas. Elesis percebe seu uniforme pelo casaco que usava, tão familiar quanto seus cabelos escuros.

Os olhos vermelhos se viram para ela. Elesis tropeça mais uma vez antes de levantar, correndo o mais longe possível daquele pesadelo. As dores continuavam presente, porém ignoradas.

Chegando na outra escada, é interrompida no caminho. Seu corpo é puxado, caindo de costas no gelado chão. Ofegante, olha para os lados. Não havia ninguém próximo. Elesis se vira e levanta, entendendo de onde vinha toda aquela força.

O rapaz tinha se levantado do topo da escada, seguindo calmamente até ela. A ruiva sente cada passo do mesmo, um temor aumentando com a diminuição da distância entre eles. Sem esperar para saber o que aconteceria, volta a correr. Sobe as escadas sem ser pega, escapando da péssima sensação de perseguição.

Quando percebe, está se jogando para dentro do quarto e fechando a porta com um chute. Encara a entrada até a sensação de perigos sumir. Quando acontece, relaxa a cabeça no chão. Não havia ninguém por perto, foi sua imaginação. Acreditava dessa forma. Exausta, começa a sentir as dores voltando sem o efeito do berserk. Não consegue mais mover as pernas, incapacitada pela falta de energia.

Respirar se torna difícil. O ar não entrava, parecia distante quanto mais tentava. Não se sente bem com isso, levando as mãos até a garganta. Um aperto queimava sua pele do pescoço. Quando percebe, algo a enforcava.

Elesis vira, tentando achar alguma forma de se soltar. O sufocamento aumentava com o aperto, suas unhas arranhando o chão. As chamas são despertadas sem seu comando, queimando-se quando as roxas surgem. Desesperada, arrastando-se pelo chão, bate contra sua mesa. Alguns equipamentos caem, um deles chamando a atenção pelo brilho e seu perigo.

Elesis pega a faca, que possuía uma aparência de adaga, e a leva até as costas. Os ataques que desferia no ar eram inúteis quando o aperto continuava a aumentar. Sua visão logo se tornava turva, escurecendo a cada piscada.

É tudo uma imaginação! — Grita para si.

Precisava despertar. Não tinha mais forças para lutar contra, deitada completamente no piso do quarto, percebe. Continuava a segurar firmemente a faca, sua lâmina chamando tanto sua atenção. Vira o olhar para sua mão estirada na outra extremidade.

O quarto escurecia. A dor das suas unhas se soltando contra o piso era o que a mantinha despertada. A dor.

Engole seco. A lâmina da faca brilha ao se mover contra a luz, logo descer contra a mão da espadachim. Elesis arregala os olhos pelo sangue espirrando, após isso, quando seus sentidos são recobrados, ela grita. Dura dois segundos para se conter, deixando apenas as silenciosas lagrimas descerem. Não chorava, apesar do lacrimejar demonstrar algum tipo de fraqueza.

— Dro-Droga. – Gagueja, engasgada pela saliva.

Leva a mão trêmula e suja por sangue para o cabo da faca. Segura firme, contando mentalmente enquanto reunia coragem. A lâmina é retira num rápido puxão, que se torna mais doloroso na saída. Rosna, arremessando em raiva a faca para o lado.

Encolhida, olha a sua palma cortada. Não consegue segurar, o sangue deixava escorregadio.

— Elesis!

Lire entra no quarto e se depara rapidamente com a cena da ruiva no chão, e sua mão coberta por sangue. Corre até a amiga, perplexa e confusa.

— O que você fez?!

— Cura. – Fala baixinho. A elfa continua paralisada. – Me cure logo! Está doendo.

— Só você mesmo para fazer isso. – Reclamava Lire, indo pegar algo para estancar o sangue.

Elesis prefere não comentar sobre o que fez, inventaria alguma desculpa até lá. Além de ser considerada por louca, também teria que dizer sobre as chamas.

O silêncio que é preciso segurar dói mais que sua palma cortada.

***

Outra vez usando um curativo na mão, que já se manchava por sangue. Não reclama, fez isso consigo mesma. Seu único problema era a dor na palma, como uma queimação de dentro para fora. A poção que repousava ao seu lado continuava intocada. Lire entregou um pequeno frasco para que tomasse, mas se negou.

— Você é tão fofinho. – Dizia Arme. Levanta o gato para perto de seu rosto. – Te chamar de bola de pelo. Algum problema, Elesis?

— Não. – Sua atenção continuava sobre os curativos avermelhados. – Ele não tem nome mesmo.

— Então será bola de pelos, ou senhor fofinho! Ah, tenho vários nomes na cabeça para colocar!

Elesis levantou da cama, indo ao banheiro. Tranca a porta com grande esforço. Usa a pia para se apoiar, deixando a cabeça cair para frente. Uma sensação nova passando pelo seu corpo. A tontura permanecia, porém, uma queimação dentro do seu peito não a fazia se sentir bem.

Vai ficar tudo bem. — Dizia para si. – Logo vai passar.

Seus braços estremecem. O forte enjoo e tontura quase a derruba. Segura firme a pia, sentindo que cairia a qualquer momento. Existia algo dentro de seu corpo, uma dor diferenciada.

Eu te disse que não seria bom me ter, principalmente em grande quantidade. — As chamas comentam. Era difícil ouvir sua voz, acontecendo em momentos específicos. Agora era um. – A sensação que causo é de uma morte lenta e dolorosa.

Vomita sem conseguir ouvir o que as chamas falam. Tosse, sua garganta voltando a queimar ao vomitar. Não gosta da sensação, é pior que todas as vezes que aconteceu. Sentia-se sufocada, enfraquecida com a dor nos seus ossos.

As chamas gargalham. Elesis range os dentes, usando as costas da mão para limpar.

Como eu disse, morrendo.

Seu olhar cai sobre sua mão, logo para a pia. Havia sangue. Fica assustada ao ver seu reflexo, enxergar o sangue manchando seus lábios. A risada das chamas cria uma dor na cabeça, voltando a se apoiar na pia.

— Elesis, você está bem? – Uma leve batida na porta a alerta.

Cai de joelho no chão, a dor aumentando até não conseguir se manter de pé. Tinha ouvido a pergunta da maga, desesperando-se para responder.

— Estou! – Sem perceber, fala alto. – Só me engasguei!

— Se precisar de alguma ajuda...

— Estou bem! – A dor é maior.

Ao encostar com a mão no chão se assusta, o frio do piso sendo uma surpresa. Apesar da dor, seus sentidos pareciam descontrolados. O contato com qualquer objeto causava uma certa dor para a ruiva. Encolhe as mãos, recuando da pia.

Além disso, ouvia os movimentos de Arme do outro lado da porta. Ela se afastava para deitar na cama. Os sons são barulhentos, machucando a cada frequência alta. Felizmente, dura alguns minutos, junto com as dores que diminuem.

E ao fundo, as chamas continuavam a rir.

Lass costumava tampar os ouvidos quando criança. Ele nunca soube como lidar com meu poder. — Continuam a falar. – Demorou até se acostumar. Por isso de nunca ter gostado de contato, seus sentidos são aguçados demais.

Do mesmo jeito que a espadachim começava a agir. Seu corpo lentamente se acostumava com o poder das chamas, criando dores e sensações estranhas. Tudo isso aconteceu em menos de 24 horas, que pareceram uma semana. Esfregava as mãos no rosto. Não estava aguentando toda essa pressão, que ela mesma causava para si. Precisava saber lidar com as chamas, porém o tempo parecia menor quando pensava no assunto.

Relaxa, as próximas 12 horas serão piores.— Sem vê-las, sentiu seu sorriso.

***

Como as chamas disseram, as próximas horas foram difíceis, principalmente à noite. Os pesadelos que teve eram reais demais para ser apenas criação da sua mente. As dores aumentaram, acabando ao acordar de manhã. Apesar disso, seus sentidos continuavam descontrolados.

— Está mesmo com todo esse frio? – Pergunta Arme.

Por baixo da luva de coro, uma luva de algodão evitava que o contato com os objetos se tornassem maiores. Poderia ser apenar esse o problema, se não fosse pelo frio que sentia. Era estranho, não fazia a temperatura do seu corpo abaixar, mas a fazia estremecer. Colocou dois casacos, uma bota e um cachecol que cobria sua boca. Sem se conter, vestiu um gorro, logo o capuz por cima.

— Está um pouco nublado, mas não vejo necessidade para tudo isso. – Lire concorda. – Está com febre?

Sem conseguir falar, nega com a cabeça. Puxa o cachecol para baixo, podendo respirar.

— Estou indo no colégio dos garotos, então achei necessário me disfarçar. – Continua com dificuldade para falar. – Acho que mesmo sem o Astaroth, Grandiel não me quer lá. O mesmo para a Lothos.

— O que você vai fazer lá, Elesis? – Pergunta Arme, preocupada. – Com tantos problemas, principalmente com essa perna, e você vai lá.

— Você não está bem para ir. – Diz Lire. – É melhor ficar.

— Parem com essa bobagem! – Balança a mão, dramática. – Estou bem, estou bem! Sou forte, não vou ficar aqui no quarto o dia inteiro fazendo absolutamente nada.

— O nada vai te fazer bem. – Fala a maga.

— Falam como se alguma coisa fosse acontecer comigo. Olha, os garotos estarão lá para me proteger... não sei do quê, mas estarão!

As duas suspiram ao mesmo tempo. Elesis era teimosa o suficiente para não perceber o real problema: sua saúde. Ela podia não demonstrar tanto problema para se locomover desde o dia anterior, o que era estranho, mas continuavam preocupadas.

Arrumava a mochila com alguns doces que colocava dentro. Jin tinha pedido para que levasse alguns bolinhos que fazia para ele e os rapazes. Ao ouvir, Elesis riu, depois concordou.

É melhor levar outra coisa. — As chamas ecoam na sua mente. – Algo mais afiado.

Junta as sobrancelhas, sua expressão questionando em silêncio as chamas.

Apenas leve, não pergunte. ­— Ganha um tom rouco.

Vira em direção aos sabres, apoiados na sua cama. Para todo lugar que ia, levava-os consigo. Agora que estava para sair não tinha pensado na ideia de leva-los.

Pega o par de sabres e os leva para guarda na mochila, uma parte ficando de fora. Antes que pudesse fechar a mochila por completo, um leve puxão pelas costas a vira. Arme encolhe as mãos, o olhar baixo sob a ruiva.

— Fica, Elesis. Não estou me sentindo bem deixando você ir.

— É alguma festa surpresa que estão planejando e eu não sei? – Elesis pergunta, olhando para Lire. – Gente, apenas estarei indo ali e volto de noite. Sei que é difícil ficar longe de mim, mas voltarei.

Felizmente, após toda essa confusão, Elesis tem voltado com seu senso de humor orgulhoso. Fazia tempo que a ruiva agia com essa atitude, muita das vezes, irritantes. Suas amigas riam e ignoravam após uma terceira piada sem sentido, que apenas fazia na cabeça da espadachim.

— Falamos isso porque estamos preocupadas com você. – Fala Lire ao fundo. – Talvez você não sinta, mas toda vez que alguma coisa vai acontecer de errado, o tempo muda.

— O tempo está sempre mudando. – Revira os olhos, voltando a arrumar a mochila.

— O clima costuma ficar diferente para mim. – Persisti. – Sou uma elfa, é normal eu sentir isso.

— Sim, é verdade! – Arme assente. – Lembra de quando você quebrou o braço aos 11 anos? Lire disse que isso ia acontecer, mas você foi teimosa e fez!

— Está dizendo que vou quebrar o braço de novo? – A ruiva continua sem entender.

— Não, mas que alguma coisa vai acontecer! – Lire levanta da cama, impaciente. O gato que estava no seu colo pula assustado. – Escute suas amigas quando elas se preocupam com você, Elesis!

A espadachim se surpreende com a atitude repentina da elfa. Dificilmente perdia a paciência, mesmo que provocasse diversas vezes. Lire suspira, voltando a se sentar.

— Só por hoje, fique aqui. – Pede Arme.

O incomodo volta quando os sentidos ficam altos. Consegue ouvir o coração acelerado da maga, tão nervosa enquanto escondia. O mesmo para Lire, porém é um resultado da raiva. Nunca entendeu esses pressentimentos que elas tinham, o que não negava ser mentira. Toda vez que era avisada, algo ocorria. Com o tempo, esses avisos diminuíram com a distância que estabeleceu entre elas.

Esse era o único momento que tinha um tempo juntas sem qualquer problema.

— Nos vemos depois. – Colocando a mochila nas costas, fala. – Vou ficar bem.

Elas não persistem, ficam tão decepcionadas quanto o triste gato com suas orelhas baixas. Passa a mão no cabelo de Arme e vai até a porta.

— Até, Elesis. – A maga disse com desanimo.

Antes de sair, sente que a despedida é mais difícil que parece. Olha suas amigas enquanto as chamas se mantinham em silêncio, talvez respeitando seus sentimentos bagunçados.

Vai embora com um certo arrependimento.

***

Até que você está indo bem. ­— Comenta as chamas. – Por ser minha dona, deve me absorver melhor.

— Que tal calar a boca por um segundo? – Resmunga Elesis sob o grosso cachecol. – É assim com o Lass o tempo todo?

Não diria o tempo todo, só quando ele permiti. Tem momentos que ele consegue mesmo me bloquear.

— Sabe o que ele faz? Quero muito aprender.

Ah, por favor! Minha voz é maravilhosa, minha companhia melhor ainda. Só você e o Lass que não conseguem perceber isso.

Seguindo o caminho para o colégio dos garotos, Elesis percebe o quão longe está pela conversa longa que tinha com as chamas. Ela revira os olhos, cansada.

— E como isso está funcionando agora? Você está falando comigo, mas também com o Lass?

Digamos que sim. Mesmo estando distante do Lass, consigo ter a mesma consciência que tenho dentro da mente dele. Sou tipo um deus, onipotente.

— Está mais para uma doença. Você pode controlar várias pessoas, nesse caso.

Não funciona tão bem assim, infelizmente. 99% das pessoas, independente da raça, não aguentaria meu poder, nem que fosse por um pouco. Eles entrariam em combustão, no melhor caso.

Elesis cruza os braços. É assustador pensar que isso poderia acontecer com ela se não fosse por sua mãe, a antiga dona das chamas.

— E os outros 1%? O que são?

São pessoas como o Lass, especiais. — Destaca com malícia a última palavra. – Ele é um mestiço que me teve ao nascer. Sorte dupla! É claro que demorou para ele se acostuma, maaas isso é apenas um detalhe.

— Detalhe? – Pergunta irritada. – Está dizendo que o Lass sentiu as mesmas coisas que estou agora?

Ah, não! Claro que não! O dele foi bem pior, era uma criança, aliás! E tudo pareceu piorar no circo...

A caminhada diminui. Elesis olhava perplexa para frente, sem poder olhar as chamas nos olhos. Por tudo isso que passava era como um detalhe, comparado ao Lass criança. Ele a protegeu de ter as chamas por saber exatamente como é passar por tudo isso.

Sua preocupação fazia sentido para ela. Apenas agora.

— O Lass ainda sofre com você? – Pergunta, seu semblante fechado.

Quando ele perde o controle, sim. Além das alucinações que causo nele. São sempre hilárias.

— E se eu querer você por completo? Sou sua dona, pode muito bem deixar o Lass em paz agora.

Estranha o silêncio. Desconfia que as chamas tenham dormido, enganando-se com os dramáticos sons pensativos que ela causava. A proposta que fez parecia tentadora para as chamas.

Primeiro, prove que é forte para me ter. — O convencimento das chamas é grande o bastante para irrita-la.

— Provar? Eu tenho todas as chamas e quer que eu te prove?!

Não é esse tipo de força.

— Então fale qual é!

Não respondem. Elesis sabe que não estão pensando pela sensação que some. As chamas causavam esse estranho clima ao surgir. Não tinha se acostumado, fazia poucos dias que estava com elas.

Continua a seguir o caminho. A força que as chamas falavam causa confusão na ruiva. Tinha todas as chamas, berserk, habilidade com os sabres e determinação. Do que mais precisava para se considerar forte?

***

As sobrancelhas de Jin levantam, levando seu rosto para frente. Analisa a pessoa parada na sua frente, tentando enxergar a espadachim que conhecia.

Apoia a mão sobre o gorro e empurra para trás. Elesis fica mais exposta quando seus cabelos aparecem.

— Ah, é você mesmo! – Diz o ruivo – Não consegui te ver sob tudo isso.

— Eu te falei. – Puxa mais um pouco o cachecol. Sentia-se presa com toda a vestimenta.

— E por que está usando tanto agasalho? Está doente?

Uma risada forçada disfarça seu nervosismo.

— Quase isso.

Jin observa a espadachim esquivar o olhar, voltando a colocar seu gorro no lugar. Não entende a sensação estranha que ela causou ao encosta-la. Foi um arrepio que conseguiu disfarçar. Até agora sentia desse jeito, como uma presa perto do predador. Nunca ocorreu algo assim acontecer entre eles.

Mas com Lass, sim. Muitas das vezes um sentimento de inferioridade surgia entre eles. O ninja ficava pensativo e, provavelmente, deixava o poder das chamas exalar sem que percebesse. Confiava no seu amigo, apesar disso. Ele tinha o controle das chamas, com exceção do seu último encontro com a ruiva.

No entanto, Elesis não tinha as chamas azuis, as roxas sendo a única a causar um certo incomodo. O que ela tivesse escondendo, Jin estaria de olho.

— Vamos entrando. – Aponta com o polegar. – Estou com muita fome.

— Trouxe os bolinhos que pediu.

— Trouxe aquele com recheio de morango e cobertura de baunilha?

— Trouxe uns três. – Fala, sorridente.

Jin dá um leve saltinho em animação. Ele se contém com os olhares dos alunos sobre ele. Elesis não consegue segurar a risada, deixando o ruivo mais tímido.

Ao chegarem no quarto, empurra a espadachim na frente. Ela não parava de lembrar dos seus momentos embaraçosos que passou ao seu lado. A ruiva fazia questão de lembrar cada detalhe.

— Ah, não seja um chato. – Fala Elesis. – Deixa eu contar mais uma história.

— Não! – Diz nervoso, tentando esconder o rosto rubro. – Não tem graça.

— Claro que tem! Não tem, Sieg?

O rapaz estava deitado na cama lendo uma revista. Agindo como sempre, preguiçoso demais para limpar a bagunça que fazia. Jin olha para a cena e suspira. Não conseguia se acostumar com isso.

— Com certeza. – Confirma Sieghart.

— Viu. – Olha para o lutador. – Você que é o sem graça daqui.

— Sempre sou eu! Na verdade, vocês que são irritantes demais para uma pessoa normal aguentar! – Aponta para os dois.

— Uh, parece que você mexeu no lado sentimental dele. – Debochava Sieghart, abrindo seu largo sorriso para o ruivo. – Cuidado, ele deve estar nos dias dele.

Jin massageia as têmporas, não sabendo o que falar para calar os dois. Quando Elesis foi embora não sentiu tanta falta, já que seus problemas no quarto tinham acabado pela metade.

Estica a mão para Elesis, os dedos impacientes se movendo.

— Me passa logo o bolinho antes que eu cometa um homicídio.

***

Tirou o peso das suas costas antes de se sentar no pequeno monte de terra que tinha feito. Descansado, coloca a pá de lado e deixa suas mãos machucadas latejarem pela falta de luva. Ri de si. Está tão acostumado a carregar uma espada com o dobro do seu peso e maneja-la, que duplicava a dificuldade. As lutas que tinha não causavam tantos calos nas mãos quanto a simples tarefa de agora.

— Só você mesmo Astaroth para fazer isso comigo. – Murmura Gerard. A cabeça cai de lado, o cabelo seguindo o ritmo. – Sério, uma ajudinha aqui seria boa.

Olha para o pequeno buraco feito à frente. O vento passa por seus cabelos, os olhos se fechando quando um fio bate na sua vista. Passa a mão, recuando antes de encostar. Usou seu pulso para isso, em vez das palmas cobertas por terra.

— Essa é sua resposta? – Pergunta, encarando a lápide ao lado. – Muito obrigado.

Bate as mãos para tirar a terrar, causando uma pequena dor em cada calo. Olha para suas mãos vermelhas, com alguns pequenos cortes. Após tantas situações e continuava vivo, lutando com todas as forças. Nega. Não lutava, sobrevivia. Eram poucos momentos em que usou tudo de si, sentiu-se vivo como deveria estar. Outras, era sua espada que tomava controle da luta e quando percebia, já tinha acabado.

Não queria isso. Gostava de quando participava da guilda e fazia missões, nas quais sofria para concluir. Quando voltava, mesmo exausto, sorria pela recompensa. Não o dinheiro, mas ver seus companheiros felizes por continuar vivo. Então Elscud chegava e demorava a sorrir junto com ele.

— Acho que está na hora. – Olha para o céu. – Colocar um fim nisso.

Levanta com uma certa dificuldade, tentando não pôr pressão no ombro ferido. Ultimamente, tem sido difícil usar até o braço para erguer algo pesado sem sentir dor. Usar a espada só com a outra mão, o que não tinha problema, quando era apenas um ou dois inimigos.

Se fosse Cazeaje... Não pensa, evitando de lembrar da líder furiosa. Os olhos pretos dela são assustadores para ele. No dia que viu eles pela primeira vez, muitas mortes aconteceram.

Pega a pá e joga sobre o ombro bom. Olha para o pequeno buraco à frente e respira profundamente.

— Acabar logo com isso. – Resmunga.

Após terminar essa tarefa, encontraria sua próxima oponente. O tempo que tomava ali era para reunir palavras certas, e força necessária. Não entendia, mas estava com medo de enfrentar Elesis.

***

— Você está roubando! – Aponta Jin, furioso.

— Não estou! – Sieghart retruca.

— Tem alguma coisa errada nisso. – Elesis demora a perceber.

Enquanto comiam os bolinhos, o trio aproveitou para jogar baralho. De início tudo ocorreu bem, até chegar na metade e cada um jogar sério. Não demorou muito para começarem a discutir, como sempre faziam nos tempos antigos.

— Ele sempre faz isso, esse idiota. – Diz Jin. – Joga honestamente!

— Estou jogando, vocês que não segue minhas regras.

— E quais são as regras? – Elesis pergunta.

— Não existe regra. – Fala com um ar de sabedoria.

Jin joga as cortas contra o rapaz. Elesis se afasta antes que fosse atingida. Larga as cartas sobre a cama e se dirige à porta.

— Vou no banheiro enquanto isso.

Era apenas uma desculpa para ficar um bom tempo fora do quarto. A discussão entre eles demorava horas, quase um dia inteiro. Elesis nunca se intrometeu por saber que levaria os punhos para resolver, e o resultado seria um só.

Andou pelo corredor e notou como suas pernas não tremiam tanto quanto se lembrava. As chamas deveriam começar a fazer efeito nas feridas dos membros, já que se passaram 12 horas. Não tinha muita esperança que voltaria a andar como antes, mas queria que melhorasse, mesmo que fosse um pouco.

É melhor ir no banheiro do andar de cima. — Pensa. – Pelo menos, lá estará vazio. Quero evitar de me encontrar com outros garotos.

Não tendo se recuperado por tudo que passou, puxa o capuz para cobrir seu rosto. Ser reconhecida entre os desconhecidos não seria agradável.

Fica surpresa ao subir a escada e sentir pouca dor nas pernas. Não se foca por muito tempo nesse detalhe, queria evitar criar muitas expectativas. Concentra no caminho que pegava, e na pessoa que reconhece pelos longos cabelos à frente. Ele também a percebe, aproximando-se sem um sorriso, como de costume.

— Prima Elesis. – Fala Zero.

— Não me chame assim, eu já pedi. – Diz nervosa. – Apenas Elesis está bom.

— Tudo bem. – Percebe a estranha vestimenta da espadachim. – Está doente?

— Só com um pouco de frio. – Cruza os braços, cansada por todos perguntarem o mesmo. – Ignore isso. Como você está?

— Estou bem. O clima anda estranho depois da morte do Astaroth. Sabe, conheço ele faz tempo.

Elesis compreende o que quer dizer. Zero viveu um tempo com ela na guilda quando pequenos. Como ela, o rapaz também via as visitas de Astaroth no local. Sempre foram bem chegados durante esse tempo que viveram juntos, mas Zero precisou partir para uma guilda que servia para ele e suas peculiaridades. O mesmo apenas tinha chegado ali por Gerard, que o “adotou” na guilda para cuidar enquanto isso.

Por isso de Zero ainda achar haver uma relação de família entre eles.

— Desculpe por tocar no assunto. – Fala o rapaz. – Eu não estive no dia que tudo aquilo aconteceu, então não sei como devo me sentir.

— Não se preocupe com isso. Você viveu bastante com o Gerard, deve saber o motivo para ele ter feito isso.

— Na verdade, não sei. A maior parte que ficava com o Gerard era para treino, mas a outra era como um passeio. Ele me ensinava algumas coisas. – Disse pensativo.

— Que tipo de coisas?

— Sobre como pegar garotas.

— Ah. – Olha decepcionada, principalmente para a seriedade que Zero levava o assunto.

— Mas ele também falava de uma mulher. Acho que você conhece.

— Deve ter sido uma das amantes dele.

— Não, ela era importante. Sempre que ele falava era com um certo... medo. Gerard dizia que eu deveria ficar longe dessa mulher, não importasse o quê.

Elesis percebe uma familiaridade na descrição. Antes que perguntasse, Zero responde.

— Cazeaje, era esse o nome.

— Então eles se conheciam bem antes. – Fala para si, um pouco surpresa.

— Gerard falava que Cazeaje queria algo com você, só que ele nunca disse o que era. Sempre parecia tenso ao tocar no assunto.

— Acho que eu sei o motivo. – Suas sobrancelhas se fecham. Aperta o punho, a luva de coro dificultando a simples tarefa. – O que ele dizia depois?

— Que se Cazeaje tentasse alguma coisa com você, ele faria de tudo para evitar.

Não espera essa resposta. Seus punhos se abrem, sem saber como reagir. Gerard, como seu pai, protegeria de Cazeaje de algum modo. Fita o chão, confusa quando toma uma pausa para pensar.

A movimentação do corredor chama a atenção deles. Os alunos ouvem o mesmo que eles, correndo para as janelas. Elesis e Zero se entreolham antes de fazerem o mesmo.

— Grandiel, apareça!

A voz parece distante e abafada ao chegarem na janela. Uma pessoa estava parada no meio do pátio, coberta por uma capa e um capuz. Os alunos à sua volta olham assustados, afastando-se.

— Quem é o idiota? – Elesis pergunta. Zero nega, não sabendo.

— Grandiel! – A pessoa volta a grita. Suas mãos são esticadas, como uma provocação. – Vim buscar algo e você sabe muito bem o que é!

O capuz da pessoa desliza quando dá um passo à frente. Os alunos em volta olham perplexos, aqueles que conheciam correndo, enquanto os confusos eram puxados para longe. O sorriso sádico amedronta até aqueles nas janelas.

Zero arregala os olhos, entendendo o porquê da aura ser conhecida. Ao perceber, olha para Elesis ao seu lado. A ruiva deve ter ficado surpresa, mas agora apenas havia ódio no rosto da mesma.

Mesmo distantes, o destino liga por uma última vez Elesis e Gerard.


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Notas finais do capítulo

Review?
* E que comecem os jogos kekekek Brinks, mas será basicamente isso.
* Gerard apareceu, Elesis percebeu, Sieghart bebeu e... É, a rima acabou aí. Mas o encontro finalmente vai acontecer :3
* Lass não apareceu nesse cap, mas no próximo ele aparece :D
* Se o cap de semana que vem atrasar é porque eu estava na Comic Con e não tive tempo para terminar na hora hahah



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