Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 126
O clima está pesado novamente


Notas iniciais do capítulo

Oláááááhhhhh! Tudo bão? Espero que sim! Então, chegamos no final do arco, o que significa? O próximo arco será o último... Estamos chegando no final, galera!!! Eu, pessoalmente, estou muito feliz porque foram 4 anos e agora está chegando o final :3
O cap vai começar calmo, tranquilo, lá para metade começará a ficar com um clima pesado... O final dele vai definir muito o clima do último arco!
O título do capítulo é o que está escrito na capa, porém eu não levei a tradução para o literal, coloquei de uma forma melhor ^-^
Capa: Hirunaka no Ryuusei (Feita pelo Paarthurnax :3)
Boa Leitura!



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Estava distraído, notando apenas quando percebe o olhar de Elesis sobre ele. Pisca, coçando os olhos já vermelhos.

— O que foi? – Pergunta a espadachim.

Não fala, queria evitar tocar no assunto. Astaroth desse tempo tinha ido embora após ter o visto sob a árvore. Não reagiu como Elesis, que pareceu feliz pela ida do rapaz. Agora, algumas horas depois, não se sentia bem com isso. As lágrimas que tinham escorrido naquela hora ainda são confusas para o ninja.

Por quê? Tentava entender.

— Precisamos achar o Saltador. – Desvia do assunto. – Estamos muito tempo aqui.

— Eu tinha achado, mas um certo alguém entrou no caminho. – Suspira. – Ele deve estar perto, de qualquer jeito.

Embora falasse de forma impaciente, Elesis não agia como uma. Lass temia estar certo, mas sentia que a espadachim enrolava apenas para ter tempo de se encontrar com Gerard. Ela era capaz disso, tinha certeza.

Batem na porta do quarto, logo se abre. Elscud entra com um pedido de licença. Elesis rapidamente joga sua atenção nele, sorrindo espontaneamente.

— Espero não está interrompendo nada. – Fala o ruivo.

— Ah, não. Estávamos discutindo sobre algo. – Disse Elesis.

— Bem, vou fazer um pedido estranho para vocês. – Falava sem jeito, provavelmente o nervosismo vindo do olhar sério que Lass dava, como de costume. – Amanhã terei que sair cedo e a Elesis ficará sozinha. Poderiam ficar com ela durante isso?

A Elesis atual não nega, assente como se fosse uma criança qualquer. Elscud olha para o ninja, esperando uma confirmação vinda dele.

— Tem certeza que confia na gente para cuidar da sua filha? – É o que incomodava o rapaz.

— Confiar é uma palavra difícil. – Coça a cabeça.

Elesis observa atentamente seu pai pensar sobre o assunto. Não tinha se esquecido sobre o que ele havia dito de Gerard. Existia uma confiança específica sobre o ruivo, o mesmo valia para eles. Eram estranhos que apareceram alguns dias atrás no meio da chuva, é claro que não há uma confiança firme neles. Elesis compreendia, agiria da mesma forma.

— Tomaremos conta dela. – A espadachim fala. – Somos mercenários, quando um trabalho é entregue, tenha certeza que será feito.

— É claro que não queremos um pagamento por isso. – Lass deixa claro antes que Elscud perguntasse. – Sua hospitalidade já serve como um.

— Então está de acordo. Falarei com ela.

Antes de ir, diz mais alguns avisos. Elesis assente em todos, sabendo de cada um sem precisar anotar. Lidar com sua versão criança seria trabalhoso, já que era muito teimosa nessa época.

Quando sozinhos, olha para Lass com um sorriso bobo. O rapaz revira os olhos com os braços cruzados. Ele sabia que sobraria para a parte dele.

***

Lass diminui os passos quando Elesis aponta para uma barraca de balões com os olhos brilhando. Quer dizer, as duas Elesis. O ninja tenta não parecer surpreso diante aquela cena, deveria ter previsto.

— Vermelho, eu quero um vermelho. – Fala a pequena ruiva sentada sobre seus ombros, suas pequenas mãos batendo na sua cabeça como uma bateria. Segurava as pernas da mesma para que ela não caísse para trás. – É tão bonito!

Do mesmo jeito que a ruiva agia, a espadachim o olha em imploração para que comprasse os balões.

— O quê? Eu não tenho dinheiro. – Fala honestamente. Isso desanima a loira. – Não desse tempo.

Foram obrigados a continuar o caminho. A pequena Elesis não insistiu, nunca agiu como uma criança mimada, como Lass esperava. Ela ficou triste, apoiando sua cabeça sobre a dele.

— Para onde vamos? – Pergunta, seguindo Elesis sem saber o rumo.

— Precisamos achar o Saltador, não é? É isso que estamos fazendo. – Ela responde. Olhava para os lados à procura do mesmo. – Espero que ele esteja por perto.

— E quer envolver você nisso? – Aponta discretamente para a ruiva nos seus ombros. – Pode ser perigoso.

— Então seja uma boa pessoa e me proteja. – Fala sorridente.

Olha nervoso para a espadachim, sentindo aquilo que previa. O peso que sentia nos ombros era real, dobrando quando sente que teria que protegê-la de algum problema que aparecesse. Felizmente trazia a katana consigo, e Elesis, os sabres.

Ele está próximo. — As chamas ecoam em sua mente.

Estica a mão e puxa Elesis. Param no meio da rua, a espadachim confusa pelos olhares sérios que Lass tinha para os lados. Até mesmo a pequena ruiva estanha a atitude do rapaz, esperando alguma explicação por terem parado.

Sua mão se move sozinha para frente, alguns segundos depois, um barulho de disparo. A bala explode ao bater na barreira invisível que Lass criou com as chamas, faíscas azuis caindo com o impacto. Nesse instante, a espadachim fica em alerta com as mãos no sabre.

Distante, o saltador tinha se colocada atrás de algumas caixas que tinham na rua. A arma que segurava era um rifle, carregando imediatamente ao ver que errou o tiro. Olha novamente para dupla e vê Elesis avançar com toda fúria. Ela tinha entendido sua estratégia em matar a versão pequena dela.

— Espera! – Fala Lass quando ela sai disparada. Sem opção, segue a mesma. – Não faça isso sozinha!

Segura firme a pequena ruiva pelas pernas, sabendo que ela estava confusa com a situação. Ao menos, esperava que ela se divertisse com isso para se distrai.

Elesis pretende não parar dessa vez por causa das pernas, caçaria o Saltador não importava o que fosse. O rapaz era mais rápido que esperava, tendo que tomar uma atitude por isso. Tira um dos sabres, acumulando as chamas vermelhas na lâmina. O corte que faz sai como uma rajada de vento, derrubando o rapaz ao ser acertado.

Finalmente, chega perto do mesmo, já com a espada erguida. Faria um corte na perna dele para impedi-lo de se mover. Quando faz o movimento, o cabo da espada machuca sua mão quando acerta o chão com força. Fica confusa, o rapaz tendo desaparecido.

— Ele não é chamado de Saltador à toa. – Fala Lass ao chegar. – Ele se teletransporta, o aparelho que usa que o faz mudar de tempo.

— Então...

Vira-se para o telhado próximo. Reconhece o rapaz pelos cabelos enquanto descia pelo outro lado. Elesis não pensa duas vezes antes de correr na mesma direção. Usa o berserk para saltar sobre a casa, deslizando pelas telhas para economizar as pernas.

Lass é mais rápido para se mover, não se esquecendo da pequena ruiva nos ombros. Ela segurava com força seus cabelos para não cair, rindo toda vez que ele dava um salto alto, como um coelho.

Elesis segue o caminho pelas ruas, Lass sobre as casas, mais rápido que ela. A espadachim mantinha o foco no Saltador, que desaparecia e aparecia em cantos diferentes. Ele era imprevisível, fazendo isso de propósito para confundir os dois. Mas ele sabia que uma hora sua mana acabaria e ficaria cansado para continuar a fugir deles.

De repente, o Saltador gira com o rifle mirado para ela. Dispara rapidamente, carregando outra no mesmo tempo. Elesis se move da mesma forma, cortando a bala com o sabre e continuando a avançar. Só não percebe uma pequena esfera preta vim em seguida, notando-a quando está abrindo e liberando uma rede.

Lass para de correr pelo grito da espadachim. Ela estava caída no chão, enrolada em uma rede que descarregava eletricidade.

— Con... Continua! – Berra em meio ao grito.

Ela sabe cuidar de si própria. Lass continua sem ela, os passos ficando maiores para alcançar o Saltador de vez. Queria poder pegar a katana e terminar com aquilo, mas se fizesse isso, soltaria a pequena Elesis.

Sem ver, um pé surge à sua frente. Tropeça por causa do rapaz, que aparece ao seu lado, deixando Elesis cair na frente. A pequena ruiva grita quando deslizava pela telha, tentando se agarrar em algo. Lass engatinha desesperado e se joga na direção dela ao cair da beirada. Seu corpo fica pendurado pela metade, pegando a ruiva pela mão a tempo.

— Tudo bem, te peguei. – Fala Lass, mesmo que a ruiva não estivesse com medo.

Um peso cai sobre suas costas e a dor atingi sua coluna. Quase solta Elesis pela faca cravada nas suas costas. Olha sobre o ombro, encarando o Saltador.

— Não sabe com quem está mexendo. – Rosna o ninja.

A lâmina penetra mais na sua carne, soltando outro rugido. Se pudesse, teria o atacado antes mesmo disso, mas estava ocupado demais evitando a morte da espadachim.

— Lass! – Ouve ao longe Elesis gritar. Ela se aproximava.

O saltador arranca a faca de suas costas, guardando-a para pegar o rifle. Mira contra a cabeça do ninja, tomando coragem para puxar o gatilho.

Como se pensassem juntos, Lass larga Elesis e gira para o lado antes do disparo. A pequena ruiva cai nos braços da espadachim, que chega a tempo. O ninja levanta e avança contra o Saltador. Ele pretende atirar novamente, porém o rifle é arrancado de sua mão e jogado para longe. Em seguida, recebe um soco na garganta que o faz recuar.

— Chega de truques. – Diz Lass.

Tira a katana com um rápido movimento. O rapaz some antes do corte ser completado, aparecendo na outra ponta do telhado. Lass avança na mesma velocidade, acertando um chute contra o peito do mesmo. Ele não consegue desaparecer, é jogado para fora do telhado, caindo enquanto batia entre as paredes de um beco. Sem perder tempo, Lass pula atrás dele.

O Saltador tinha caído sobre uma lata de lixo. Abre os olhos e enxerga a sombra do ninja cair sobre ele. Joga-se para o lado, ouvindo o barulho da lata sendo cortada pela lâmina. Desaparece após isso, aparecendo no final do beco. Mesmo distante, Lass já o alcançava.

Ao ser segurado pela camisa é jogado no chão. Suas mãos são arranhadas pelo piso de pedra. Tenta se mover e é pego pelo pescoço, o oxigênio sumindo pelo aperto em sua garganta.

— Tenta algo e quebro um dos seus dedos. – Ameaça Lass contra seu rosto.

— Não é louco. – Debocha.

O ninja afasta o rosto, seu pé se erguendo no mesmo instante. Pisa com toda força na mão do rapaz, quebrando uma parte de sua mão e o dedo mindinho. O saltador grita em dor, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam por ali. Não interferem por ser uma cena como do dia a dia de quem vive nesta cidade.

— Vai levar a gente para nosso tempo atual. – Volta a ameaça. – Ou vai ser o resto da mão.

— Não é tão simples quanto parece. – Fala num tom áspero. – Vocês danificaram meu equipamento.

— Problema é seu. – Ergue e empurra o corpo do rapaz contra o chão. Causa mais dor. – Você vai consertar.

O saltador rir, engasgando na própria saliva. Lass prepara para usar a katana, cansado dessa atitude. Sua mão se movia, logo não sente mais o chão sob seus pés. Seu cabelo levanta pelo vento, o mesmo para o Saltador.

A dupla caía de repente. O rapaz se teletransportou junto com Lass para uma altura que mataria os dois pela queda. Aproveita esse momento de confusão do ninja e acerta um chute na cara dele. Consegue ser solto, girando no ar enquanto se afastava.

— Não ache que é tão simples fugir de mim. – Disse Lass impaciente.

Estica o braço o máximo que consegue e pega o Saltador pelo tornozelo. Usa um pouco das chamas e queima a pele do rapaz, que se debatia no ar para tentar se soltar.

— Eu não vou te soltar. – Fala Lass. – Na queda, nós dois iremos morrer, mas eu volto. E você? – Provoca com um sorriso macabro. – Quer apostar?

Obrigava o Saltador a se teletransportar, o que o levaria junto, já que não o soltaria. O chão se aproximava e seus corpo mergulhariam no piso, causando uma morte certa. Mas como Lass tinha dito, as chamas o trariam de volta.

A claridade do céu que caiam se torna escura para a casa coberta. Os dois caem de encontro com o piso de madeira, a queda sendo dolorosa para ambos. O Saltador, mesmo com uma das costelas quebrada, gira para o lado para se manter longe do ninja. Tenta desaparecer, seus olhos se arregalando quando sente a escassez de sua mana.

Vira o rosto para Lass e o vulto próximo o assusta, seguida de dor. O ninja já tinha se levantado, agora acertando um chute contra a barriga do Soltador. Ele cai pro lado, tossindo enquanto tentava se recompor. Lass acerta outro chute, até que o mesmo não tentasse mais se mover.

— Agora precisamos ter uma conversa séria. – Fala o ninja. – E se fugir novamente, terá consequências.

Vendo que o rapaz não ousaria fugir tão cedo, Lass olha em volta. Era uma cabana simples, vazia se não fosse por alguns equipamentos sobre uma mesa no canto. Aproxima-se em curiosidade. Não toca, mas sabe de quem pertence aquele material.

— Então era aqui que você estava. – Comenta.

Quando iria se perguntar onde se localizava, as chamas falam que fica perto da cidade onde estava. Deveria ficar perto da floresta, isolada de qualquer pessoa que poderia estragar seu projeto delicado.

Volta para perto do Saltador, que continuava encolhido.

— Nenhuma palavra?

— Não é palavras que você quer, não é? – Ele fala com um tom baixo. Apoia a mão na costela, a dor sendo maior naquela área. – Você é como todos, apenas movido pelo interesse.

— Se não vai ser o interesse, o que moverá as pessoas? – É sincero. – Aliás, só estou te forçando porque foi você quem nos colocou aqui. Portanto, dê um jeito de consertar.

— Fala como se fosse tão fácil. – Volta a se arrastar, porém para a parede mais próxima para se sentar em apoio a ela. Consegue respirar melhor. – Eu já disse: você danificou meu equipamento! Não ache que irei consertar de um dia para o outro.

— O problema não era esse. Poderia ter evitado tudo isso em vez de ter fugido.

— Ah, claro! Quando tem alguém me perseguindo irei me lembrar de não correr. – Ri em sarcasmo.

Lass se irrita mais com a atitude do rapaz. Teve que se conter para não avançar novamente com outra bicuda no estômago do mesmo. Respirou fundo e deixou seu lado racional domina-lo.

— O que Cazeaje quer com você? Fez algo a ela?

— O que ela quer? – Olha como se estivesse óbvio. – Quem não quereria o poder de viajar no tempo? Só eu consegui, mas escolhi não contar a ninguém. Aparentemente, não deu muito certo.

— De fato, é um poder muito grande. Mas o que você faz com ele? Altera o tempo como deseja?

Ele vira o rosto de lado, evitando a pergunta. Não responderia, talvez fosse pessoal para fazer isso. Lass suspira, passando a mão na nuca.

— Você vai nos tirar desse tempo. – Volta a repetir. – O mais rápido possível.

— Pra quê? Quanto eu voltar, ser jogado nos pés daquelas pessoas? – Olha irritado. – Estou bem nesse tempo.

O Saltador se assusta com o movimento repentino de Lass. Desvia para o lado, antes do pé pesado do ninja o acerta, batendo contra a parede. Era a vez de Lass ficar furioso, mantendo-se próximo para falar.

— Você vai consertar esse equipamento e nos tirar daqui! Se você está insatisfeito com o seu tempo, imagina eu nesse aqui?! Então conserte logo essa droga! – Gritava, sabendo que ninguém o ouviria.

Afasta o pé quando o rapaz tinha um rosto espantado. Foi preciso fazer isso, tinha que sair daquele tempo antes que Elesis e Gerard se encontrassem. A cada dia que passava, mais Lass entrava em desespero por essa possibilidade. Temia que quando chegasse o momento teria que escolher um lado, isso é, o outro seria eliminado. Nunca machucaria Elesis, mas também não mataria Gerard.

— Eu vou precisar de peças novas. – Fala o Saltador com o rosto desviado. Queria esconder o medo que sentia do ninja. – Então sairei...

— Não vai. – Lass o interrompe. É direto nas palavras. – Fale o que precisa e eu consigo. Simples.

— E se você não...

— Faça a lista das peças, logo. Não tenho o dia todo.

É olhado, o que o irrita. O Saltador queria evitar de todo jeito de volta para o tempo atual, o medo que tinha de Cazeaje causava isso. Lass entendia, mas na situação que estava, pouco importava.

— Eu disse logo. – Dessa vez, arrasta a voz num pedido de ordem.

***

— Se quiserem ajuda com isso, é só falar. – Diz Elscud. – Algumas pessoas dessa cidade esquecem o perigo que correm com várias guildas por aí.

Elesis continuou a negar o pedido de ajuda de seu pai. Quando voltou para a guilda com a sua versão criança, teve que explicar a Elscud o que tinha acontecido, já que a pequena ruiva contaria de um jeito ou de outro. Esperava que ele ficasse espantado, mas não, o ruivo compreendeu a situação e mostrou a preocupação que até agora permanecia em sua face.

Com mais algumas negações, Lass chega na guilda. O rapaz tinha sumido após a luta que teve com o Saltador, sem ter dado notícias até agora. Seu rosto estava fechado, não em irritação, e sim pensativo sobre algo.

— Então, conseguiu? – Pergunta quando fica a sós com o rapaz.

— Consegui. – Não parecia tão contente quanto deveria. – O problema é o equipamento dele, está danificado e precisará ser consertado. Vamos ter que achar peças para isso.

— E vai demorar muito? – Pergunta como se não quisesse.

— Se acharmos as peças rápido, não. Outro problema também é manter o Saltador por perto. Nesse instante, eu prendi ele na cabana que estava, e se tentar fugir saberei pela marca das chamas que deixei na pele dele. – Suspira, cansado. – Mas ele não está em condições para escapar, de qualquer forma.

— Eu poderia vê-lo?

Lass desconfia do pedido. Não entende o incomodo que sente com isso, como se Elesis fosse mata-lo para que ficassem presos nesse tempo. Temia que pudesse acontecer, porém sua confiança na espadachim era maior que isso.

— Mais tarde. – Segura a espadachim pelo ombro, olhando as pernas da mesma. – Como estão? Parece que está piorando.

Via pela expressão de Elesis que ela queria negar. Olha para as próprias pernas, algumas faixas na região da coxa que diminuíam as dores.

— Eu tinha dois meses quando recebi a notícia. – Dizia com tom melancólico. – Acho que tenho menos de um mês agora. Isso não é bom.

— Então deixe todo trabalho duro comigo. Tente não se esforçar muito até sairmos daqui. – Pedia, tentando não parecer sério. – Certo?

Elesis entende o objetivo deste pedido. Se não lutasse, não enfrentaria Gerard no tempo em que estava. Não poderia simplesmente negar, assente com o olhar baixo. Mesmo nesse estado, era capaz de derrotar o ruivo, ele não está tão forte quando no seu tempo.

O monstro não havia mostrado suas garras, era isso que queria dizer.

***

No dia seguinte, Lass a guiou até a cabana que tinha mencionado. Não andou tanto quanto esperava, ficava perto da cidade, mas afastada o bastante para ninguém desconfiar. Era uma pequena casa simples ao chegar na entrada, entrando quando Lass vai na frente. Acompanha o ninja, chegando no que parecia ser a sala.

O Saltador estava sentado à mesa, de costas a eles. Quando os ouve, olha sobre o ombro, então volta ao trabalho. Mesmo distante, Elesis ouve sua bufada pela sua presença.

— Trouxeram as peças? – Ele pergunta.

— Conseguimos apenas uma. As outras iremos pegar na cidade vizinha. – Explicava Lass enquanto se aproximava. – Aqui.

Coloca a peça sobre a mesa, ao lado das demais que o rapaz trabalhava. Ele a pega e analisa rapidamente, assentindo em confirmação.

— Então, como que funciona esse equipamento? – Pergunta Elesis, andando aleatoriamente. – Exigi o que para que funcione?

— Bastante mana. – Explicava com a atenção no equipamento. – Mas por causa da minha magia, torna tudo mais fácil.

— Então está dizendo que qualquer pessoa, com muita mana, poderia usar?

— É, pode-se dizer que sim. Talvez seu parceiro com essa enorme quantidade de mana. – Aponta para Lass sobre o ombro. – Aliás, o que você é? Humano que não.

— Vai mudar alguma coisa em descobrir isso? – Questiona o ninja, áspero.

— Só curiosidade. – Coça a cabeça, os dedos se enrolando nos fios bagunçados do cabelo. – Já viajei por muitos lugares, mas você é a primeira pessoa que é tão... peculiar.

Elesis observa a conversa seguir sem sua intromissão. Lass não se alterava com os comentários do Saltador, estava calmo com as perguntas; ou fingia estar.

— O que te faz sempre estar mudando de tempo? – O ninja muda o rumo da conversa. – Não se contenta com seu tempo atual?

— O problema não é o tempo. Já passou por aquele dia em que estava tudo dando errado e você queria que fosse logo outro? É isso que acontece comigo, a única diferença é que posso mudar na hora que quiser. Se a pessoa que amo me rejeita, posso muito bem voltar e fazê-la mudar de ideia.

— Você não estaria alterando a realidade com isso?

— Só foi um exemplo, idiota. – Ignora a raiva que atiça no ninja. – Eu sei que se eu ficar mudando o tempo, ele entrará em colapso. Tudo que faço é apenas observar, sentir como eram as coisas no passado, e como serão no futuro. É apenas observar tudo de uma perspectiva diferente.

— Então o mundo fica mais agradável para você? – Pergunta Elesis. – Vendo que nem tudo é tão ruim assim.

Ele não responde imediatamente. Os barulhos das peças sendo colocadas e retiradas eram seus pensamentos se colando nos lugares.

— Tenho a mesma idade que vocês. – Ele falava. – Mas vivi muitas coisas, vi e senti. Chega um momento em que tudo que você quer é ficar fora do jogo, apenas observa-lo de forma neutra. É isso que faço, sem mexer nenhuma parte do tempo.

Talvez esse era o motivo de Cazeaje tanto o querer, sua imparcialidade no jogo. O poder que tinha, de viajar pelos tempos, era gastado sem utilidade. A líder não aceitava, queria trazê-lo para seu lado e se tornar mais forte. O Saltador, como um bom observador, já sabia das intenções da sua prisão, por isso de ter escapado.

— Não iremos te entregar ao Conselho. – Menciona Elesis. Como Lass, ela também compreendeu o lado do rapaz. – Quando voltarmos ao nosso tempo, deixaremos você fugir.

— Como posso confiar em vocês? Quebram uma parte da minha mão e depois querem que eu confie em vocês? – Ele solta uma breve risada. – Por favor.

A espadachim nota a mão enfaixada do Saltador, o que explicava a dificuldade que tinha em consertar o equipamento. Lass tinha feito aquilo, não precisou pensar muito para saber.

Anda até o Saltador, parando ao seu lado e pegando sua mão enfaixada. Ele tenta se soltar, assustado, mas seu aperto é forte. Após, as chamas brancas contornam a palma quebrada do rapaz, o rosto de Elesis se contorcendo pela dor sentida.

— Não faça isso. – Fala Lass. – Vai piorar seu estado.

Elesis não escuta, continua a usar as chamas. Quando terminado, solta a mão do rapaz e se afasta com os olhos fechados. A dor se acumulava na sua palma, tendo que aguenta-la em silêncio.

— Mas o quê...? – Diz o Saltador, perplexo. Tira os curativos e enxerga sua mão curada, nova e melhorada. – O que foi isso? Essas chamas?

— As chamas da cura. – Explica Lass enquanto Elesis mantinha-se em silêncio. – Só isso que você precisa saber.

— Essa é nossa prova de confiança. – Diz a espadachim em seguida. Suspira e abre os olhos, a dor desaparecendo. – Se Cazeaje saber que tenho essas chamas serei executada, ou algo pior. Não falamos de você pra ela e você não fala de mim. Tudo bem para você?

Ele analisa a situação, encara a mão curada e a expressão de dor que Elesis tentava esconder. Não tinha muitas opções, percebe ao olhar o rosto fechado de Lass para ele.

Volta a ficar de costas para o casal.

— Que seja. Se quiserem sair desse tempo é melhor conseguirem logo as peças. – Ele fala como uma ordem. – E um lanche, sou um ser humano e preciso me alimentar.

— Então estamos de acordo. – Fala Elesis com um sorriso de alívio.

***

Já estava de noite e o trabalho com a limpeza parecia não ter fim. Lass não quis ficar sozinho durante esse tempo que Elesis fazia uma comida e levava para o Saltador, então decidiu ficar na guilda e ajudar Elscud com a limpeza do local. Todos já tinham ido embora, restando apenas eles dois. Até mesmo a pequena ruiva estava em casa descansando, com a companhia de uma vizinha que cuidava dela sempre que podia.

— Onde está a Elly? Não a vi o dia todo. – Pergunta Elscud.

— Fazendo algumas pesquisas, nada demais. – Diz Lass. – Logo ela chega.

— Que bom. – Seu alívio fica visível demais, até mesmo para o ninja. – Eu tenho uma certa preocupação com ela, só para deixar claro. Não gostaria de vê-la machucada.

— Elly sabe muito bem como se cuidar, não há necessidade para preocupação. – Lass ri da proteção que o ruivo tinha com sua filha.

— Eu sei que ela é forte, vi a habilidade que ela tem em manusear os sabres. – Dizia com um certo orgulho, que não era reconhecido pelo mesmo. – Mas sinto como se tivesse algo a mais. Elly está doente ou algo parecido?

Até mesmo Elscud percebeu o problema de saúde que Elesis estava tendo. Era bem visível as dificuldades que ela tinha para se movimentar em alguns momentos, mesmo usando o berserk para anular as dores. Suas pernas estavam perdendo forças, logo ela não conseguiria mais ficar de pé.

— Ela tá com um problema nas pernas, como percebeu. – Tenta não esconder. – Elly é muito forte, mas em breve não será mais.

— Não será mais? – Elscud não compreende, parando a limpeza.

— Digamos que ela será forçada a se aposentar mais cedo por causa disso. As dores estão aumentando e logo as pernas dela não serão mais úteis. – Usava a vassoura como um apoio. – Elly parece não se importar, mas no fundo está desesperada.

— Entendo.

O ruivo não parece bem com a notícia. Devia ser difícil para ele, ouvir isso e se sentir mal sem saber o real motivo. Elesis e Elscud estavam ligados, não importava o tempo diferente de cada um.

— Mas antes disso, Elly pretende completar sua vingança. – Diz Lass, chamando a atenção do ruivo. – Ela perdeu uma pessoa muito importante no passado por outra que também considerava assim. Às vezes, penso que ela apenas continua o caminho por causa disso, para matar essa pessoa.

— Mas essa pessoa tinha um motivo para ter feito isso? – Elscud pergunta, intrigado. – Se eram importantes, deveriam conhecer um ao outro. Não faz muito sentido.

— É, eles eram, mas... – Olha o rapaz e dá uma pausa. Era difícil continuar. – Eu também não sei, nem mesmo a Elly. Mas diferente dela, eu sinto como se essa pessoa tivesse mesmo um motivo importante para ter feito isso, sabe?

— É, eu também pararia para pensar, saber o que realmente aconteceu.

Mesmo que fosse você a pessoa morta, Lass quis perguntar, porém se censurou. Se Elesis não podia falar disso, muito menos ele. O mais importante era evitar dizer uma informação sem querer enquanto se focava em sair desse tempo. Perguntava-se o que ocorria no seu, o que não tinha tanta certeza.

— Isso me lembra de algo. – Menciona Elscud, colocando a vassoura de lado. – Quando fico estressado ou tenho muita coisa na mente, geralmente escrevo como em um diário e guardo.

Balança a mão para que Lass se aproxime. Segue o ruivo até o último salão da guilda, tão silenciosa que até suas respirações eram ouvidas. Param no meio do local, Elscud abaixado enquanto tateava o piso de madeira. Logo Lass percebe que aquilo era um piso falso, tirando uma parte e colocando de lado. Sob a madeira tinha um buraco.

Elscud faz um pouco de esforço para tirar o baú, que tinha um tamanho médio, mas pesado.

— Tem certeza que quer mostrar isso para mim? Pode ter um segredo que não possa revelar, principalmente para um estranho. – Debatia Lass enquanto Elscud abria o baú.

— Na verdade, o que há aqui dentro são coisas bobas, que não farão diferença se você saber ou não. – Fala sem preocupação. – Enfim, aqui eu guardo minhas anotações.

Quando aberto, mostra alguns cadernos e folhas soltas dentro do baú. Como Eslcud tinha dito, várias anotações que Lass não conseguiu ler.

— Tudo isso é seu? – Pergunta, surpreso.

— Ah, não. Eu compartilho esse baú com o Gerard, aquele cara que eu falei para você. Ele também escreve algumas anotações e guarda.

Lass fica mais surpreso ao ouvir o nome do ruivo. Os pensamentos de Gerard daquela época estavam todos guardados ali, junto com os de Elscud. Para o ninja, era uma fonte de ouro.

— E vocês não leem a anotação um do outro?

— Não, é uma promessa que fizemos há muito tempo. Eu não leio as dele e ele as minha.

— Entendo. – Continuava sem palavras, suas mãos coçando para pegar aquelas folhas e começar a ler.

Acreditava em Elscud, mas e Gerard? Era difícil dizer se o mesmo cumpria a promessa de não ler as anotações do amigo. Pelo que sabia, Gerard precisou de um bom motivo para ter matado Elscud, e provavelmente estava ali em meio às folhas.

Elesis não deveria saber sobre esse baú, nessa época ela era uma criança e não via necessidade para ela saber disso.

Por algum motivo, Lass sentia uma necessidade em descobrir mais sobre o diário de Elscud e Gerard, querer saber cada pensamento e visões que tinham um do outro. No fundo, a amizade que Elesis tanto falava deveria ser uma ilusão, enquanto um ódio mortal ligava eles.

***

— Aqui as outras peças. – Fala Elesis ao chegar na cabana. – Ainda está faltando algumas, mas logo consigo elas.

O Saltador ignora sua entrada, continuando o conserto do equipamento. Ao seu lado, a espadachim esperava por um cumprimento, ao menos um olhar, mas nada acontece. Deixa as peças que conseguiu sobre a mesa e se afasta.

— Espero que consiga consertar essa coisa. – Dizia Elesis. – Tive que ir em outra cidade para achar essas peças.

— Honestamente, não me importo. – É sua primeira fala do dia.

A espadachim se aproxima com o punho fechado, parando ao notar o encolhimento do rapaz por isso. Ele já preparava os braços para colocar na frente e se proteger. Elesis esquece que o Saltador era uma pessoa covarde, sua magia dizendo mais que tudo.

— Por que fingi ser forte? – Questiona. – Age com ignorância, sendo que não consegue lidar.

— Se eu não vou fingir ser forte, quem vai por mim? – Volta ao trabalho. – É a minha única arma.

Ele tinha a opção de fugir, mas não queria apenas segui-la. Invejava os demais guerreiros com suas forças e habilidades, enquanto a dele não trazia nenhuma vantagem para lutar.

— Uma pergunta. – Fala Elesis. Recosta na parede ao lado da mesa, para olhar o rapaz trabalhar de frente. – Quando viajo no tempo, a minha “eu” desse tempo continua vivendo como se nada de errado acontecesse, certo?

— Certo.

— O mesmo vale para você? Vive viajando pelas linhas do tempo, nunca parou para pensar que já viu várias versões suas em épocas diferentes? – Abraça o próprio corpo. – É um pouco assustador.

— Você se acostuma depois de um tempo. – Seu jeito sai de forma fria, sem emoções. – Existem coisas mais importantes do que se preocupar por algo fútil como isso.

— Nunca se perguntou como seria você do futuro?

— O “eu” do futuro não sou eu de agora, então não. Acredito que a cada segundo, milésimo, mudamos para uma pessoa diferente. A sua “eu” de dois minutos atrás não é mais você de agora.

— Falando assim, parece um conhecido meu. Sacrificar alguma coisa por algo maior. – O Saltador a olha, esperando que ela dissesse quem. – Gerard, deve o conhecer pelo homem mais procurado de Ernas.

— Já ouvi falar, mas nunca me interessei em saber quem é. – Volta ao trabalho. – Me passa a faca.

Elesis segue com o olhar para onde apontava. A faca estava em meio as peças quebradas no chão, tão escondida que nem a espadachim conseguiu ver. Olha com desconfio para o rapaz.

— Por favor? – Ele fala, confuso. – Olha, se fosse para te matar, já teria feito. Aliás, não tenho chance contra você, se não percebeu.

Faz um breve aceno para os sabres na cintura de Elesis. Ele tinha razão, a espadachim teria cortado sua mão antes mesmo que tentasse. Segue até o canto da sala e pega a faca que o rapaz pedia. Quando o entrega, recua por um segundo, logo entregando.

O Saltador usa a fina lâmina para soltar uma peça do equipamento, já que não conseguia com outras que tinha usava. Termina de usa e joga a faca para o final da mesa, distante de sua posse para deixar a espadachim mais calma.

— Quando isso ficará pronto?

— Vocês são todos apressados, não é mesmo? – Falava emburrado. – Ficará quando eu terminar! Até agora, faltam duas peças, então não terminarei tão cedo.

Elesis fecha o punho para usar, mas se recusa. Precisava do rapaz inteiro para isso, se o machucasse apenas atrasaria.

— Aliás, quero ir no banheiro. – Larga o trabalho, afastando a cadeira ao olhar Elesis. – E nessa cabana não tem um, então preciso ir lá fora.

— Está falando sério?

— Estou a mais de dez horas sem esvaziar minha bexiga, então sim, estou falando sério.

— Não posso simplesmente deixa-lo ir... – Olhava em volta, procurando algo. – Ah, achei!

O rapaz levanta da cadeira, esticando as pernas. Queria um pouco de liberdade, apenas para manter o corpo exercitado enquanto isso. Esticaria os braços, mas Elesis se aproxima com uma corda em mãos.

— Estica as mãos. – Pede a espadachim.

— Acha mesmo que uma corda será o bastante para me impedir se teletransportar? – Embora dissesse isso, estica os pulsos para serem amarrados. A espadachim não é delicada, como esperava, a corda queimava sua pele quando amarrada.

— Mas saberei se você sumir ou não. – Diz Elesis. Levanta a outra ponta da corda, que ligava como uma coleira no rapaz. – Agora vamos. E seja rápido.

— Não sou um cachorro!

***

Por sorte, Lass tinha achada a segunda peça que faltava. Achou no lixão da cidade, o problema era saber se continuava funcionando ou não. Levava para o Saltador, só ele entendia se a peça era boa ou não.

— Elesis, você... – Pretendia se encontrar com a espadachim na cabana, porém ela não estava.

Sua preocupação surge pelo desaparecimento do Saltador também. A cabana estava vazia, porém não possuía sinais de ataques ou fuga.

— Relaxa, eles estão do lado de fora. — Menciona as chamas.

— Do lado de fora?

Sai da cabana. Tenta localizar um dos dois, tendo que vagar pelo jardim até decidir ir para os fundos do lugar. Reconhece Elesis pelos cabelos loiros, parada enquanto olhava os próprios pés para se distrair.

— O que está fazendo?

— Ele queria ir no banheiro, então eu o trouxe. – Explica, apontando para o arbusto atrás. – Ele é um ser humano, não se esqueça.

— Podia ter dado uma garrafa pra ele. – É olhado com nojo. – É mais prático.

O arbusto se move. O Saltador não acha agradável a ideia, olhando da mesma forma que Elesis.

— Não sou um tipo de selvagem como você. – Fala em repudio. – Sem falar que não há nenhuma garrafa para ter usado.

Não tinha muito pelo que discutir, Lass só não queria ter deixado o rapaz sair da cabana, e, possivelmente, ter fugido. Acreditava na força que Elesis tinha, mas não em suas pernas. O Saltador poderia ter desaparecido para uma curta distância, o que obrigaria a espadachim correr mais que o necessário.

Por isso, tira a corda das mãos dela.

— Eu fico com ele, pode voltar para a guilda.

Viu no olhar da espadachim que ela quis concordar, porém recusou. Não entende a atitude da mesma, querendo questionar. Quando pretendia fazer, suas atenções são chamadas pela estrada próxima. Algumas pessoas sobre cavalos passavam de forma organizada, destacando-se pelas armaduras brilhantes.

— Quem são? – Lass pergunta.

— O Conselho. – Diz Elesis. Não parecia bem em ver a tropa seguir pelo caminho que veio.

— Cazeaje já estava no comando?

— Ela entrou alguns anos atrás. – Responde o Saltador, o único sem demonstrar alguma alteração pela cena. – Me pergunto para onde estão indo agora?

Lass estava para descobrir, quando Elesis sai correndo na mesma direção. Pelo medo que a espadachim demonstrou ao ver a carruagem fechada passar fez o ninja descobrir o local para onde iam.

A espadachim já estava distante tentando chegar antes que a tropa. Não sabia como, mas sentia que o destino era sua guilda. Tentava lembrar de algo parecido no seu passado, o que aparecia várias cenas do Conselho sempre visitando a guilda de seu pai. Toda vez que acontecia, ele a mantinha longe de Cazeaje.

Chega na cidade com ajuda do berserk. A guilda não era tão longe, chegaria lá com um pouco de esforço. Usou as paredes das casas como apoio, até finalmente ver sua guilda no final da rua.

***

Elscud continuava ocupado com os papeis de missão que precisavam ser organizados por rank. Quando fazia seu trabalho não gostava de ser interrompido, nem mesmo por sua querida filha. Mas quem bate na sua porta é outro membro da guilda. A notícia que ele entrega é a mesma que sempre deixa o ruivo preocupado, obrigando-o tomar uma atitude séria.

— Onde está a Elesis? – Pergunta ao sair da sala.

— Não sabemos, ela estava aqui no salão.

— Achem logo ela! Mantenham-na longe daqui! – Ordenava como um líder, uma postura totalmente diferente do Elscud gentil que todos conheciam.

Chega no salão principal, esperando pela entrada dela. Respira fundo para que não mostrasse nervosismo. Geralmente, quem fazia isso era Gerard com todo deboche que tinha. Ele sabia esconder bem, enquanto ele ficava nervoso só em pensar.

Estremece com o barulho que ouve no fundo da guilda. Confuso, olha para trás, vendo Elesis chegar e cair no chão após dois passos. Ela estava suada, ofegante por tanto ter corrido até ali.

— Elly, o que está fazendo? – Aproxima-se para ajuda-la. – É melhor sair daqui.

— Sua... Sua filha. – Falava entre as respirações. – Onde está?

— Eu também não sei.

Elesis fica de pé, suas pernas fracas para serem usadas de repente. Ela fica parada por um momento, olhando em volta para tentar achar sua “eu” criança. Fica preocupada, da mesma forma que Elscud estava.

Já não tinha mais tempo para pensar. O piso de madeira faz suaves rangidos com o salto alto da líder e botas de seus guardas. Elesis não consegue tirar os olhos da Cazeaje desse tempo. Não existia diferença, sua beleza sempre foi a mesma, o que fazia a espadachim questionar sua mortalidade.

Ela para com um olhar curioso sobre ela. A mesma sensação que a líder causava não tinha mudado. Medo. Pretendia recuar, até Elscud se colocar na frente com uma postura protetora.

— Nunca vi essa jovem aqui. – Menciona Cazeaje. – É nova?

Elesis agradecia por seus cabelos estarem loiros, se estivessem ruivos era a marca clara de um membro da guilda. Seria problemático para Elscud inventar alguma desculpa.

— Ela está de visita. – Responde o ruivo. – Quanto a você, Cazeaje? Algum propósito de sua visita aqui?

— O mesmo de sempre. Vim ver se a guilda está seguindo as regras. – Estala os dedos e aponta para os demais cantos do lugar. – Deem uma olhada.

Seus guardas se espalham pelo local. Elesis fica de olho em cada, sua mão perto do sabre para usa-lo a qualquer instante. Não poderia esquecer que Cazeaje era seu único inimigo ali.

— Os registros desse bimestre, Elscud. – Lembra a líder. Estica a mão magra para o rapaz.

Ele tira do bolso um papel bem dobrado. Tem cuidado ao entregar a Cazeaje, afastando-se em seguida. Ela pega o registo e olha rapidamente, a atenção não estando ali.

— Onde está Gerard? – Seus lábios formam um sorriso nada agradável para Elesis. – Queria conversar com ele sobre algo.

As sobrancelhas da espadachim se juntam em desconfiança. O jeito que a líder mencionava o ruivo era de intimidade, ou que ela fingia ser. Mas o que chama sua atenção é o interesse de Cazeaje no mesmo. O que ela queria tanto com ele, enquanto seu pai, o líder da guilda, não tinha tanto interesse?

Existia algo que Elesis não tinha descoberto ainda, percebe.

— Ele está de viagem. – Diz Elscud, direto. – Demorará para volta, sinto muito.

— Uma pena. Peça que ele venha se encontrar comigo quando chegar.

Elesis congela no lugar com o olhar da líder sobre ela. Felizmente, sua atenção desvia para outros cantos.

— Onde está sua filha? Não me diga que ela viajou junto com Gerard.

— Elesis está brincando. – Não era verdade. Elscud esquiva o olhar ao dizer. – Não gosto de deixa-la na guilda por muito tempo.

O ruivo a escondia da líder, por algum motivo, não deixaria sua filha ser vista pela líder. Elesis poderia até não saber o motivo, mas no fundo sabia. Ela era a dona das chamas, era compatível com todas chamas sagradas. Se Cazeaje soubesse, prenderia sua querida filha.

Foi por isso que a espadachim correu até ali, por ter esse mesmo pressentimento ruim. No entanto, do mesmo jeito que a pequena ruiva corria perigo, a atual Elesis também, principalmente por ter todas as quatro chamas.

Fica em alerta com passos que se aproximavam. Não é só a espadachim que fica tensa ao ver sua versão criança chegar no salão correndo, Elscud também congela no lugar. A pequena ruiva percebe a presença de Cazeaje e diminui os passos.

— Quem é, papai? – Ela pergunta. Fica perto das pernas de Elscud, usando como um escudo.

— Ora, se não é a Elesis. – Fala Cazeaje com um largo sorriso. Acena, fingindo o carisma. – Olá, querida.

A ruiva não diz algo, segura com mais força o tecido da calça de seu pai. Mesmo naquela idade, sentia uma sensação ruim sair daquela mulher.

— Essa é a dona Cazeaje, Elesis. – Diz Elscud. – Diga “olá”.

A ruiva não parecia à vontade para cumprimentar a líder. Gostaria de ficar calada, porém não consegue ignorar o pedido de seu pai.

— Olá.

Cazeaje anda até ela, tendo que inclinar o corpo para esticar a mão até a pequena. Elscud não poderia fazer muito, encarou a líder tentar algo com o contato de sua filha.

Quem segura a mão de Cazeaje é a espadachim. É olhada sem entender, mas Elesis força um sorriso como ela também fazia.

— Sou Elly. – Diz a espadachim, querendo provocar a mulher. – Prazer em te conhecer.

Cazeaje arruma a postura, retribuindo o aperto. Não consegue evitar de sentir a forte quantidade de mana que a loira carregava. Ela era estranha, causava uma confusão em Cazeaje.

— Cazeaje, como ouviu antes. – A líder fala, sem parecer preocupada com esse detalhe. – Prazer.

Solta a mão de Cazeaje. Era um erro ter feito isso, revelar seus verdadeiros poderes para ela. Quis poder não ter se envolvido, porém sua versão criança entraria de qualquer forma. Protegeria, mesmo que tivesse que trazer toda atenção para si própria. Não tinha com o que temer, logo estaria longe deste lugar.

— Uma pena Gerard não estar presente, queria vê-lo. – Dizia Cazeaje, tentando fugir da curiosidade que tinha da espadachim. – Estarei indo agora, volto em breve. Até mais!

Seus guardas terminam o trabalho e esperam na porta pela líder. Cazeaje encara Elesis por uma última vez, como se o mistério fosse resolvido apenas com isso. Deu as costas e partiu.

Somente com a ida da líder que Elesis pôde se mover, suas pernas mais descansadas que antes. Por um instante, achou que seria atacada e presa por ela, por sorte, Cazeaje não anulou seu poder e revelou seus cabelos ruivos. Seria problemático, apesar de aparentar ser um problema comum.

Olha para seu pai. Ele estava atordoado como ela, distraindo-se com a pequena ruiva. Ele tinha problemas com Cazeaje como qualquer.

Especialmente Gerard. Elesis não conseguia tirar da cabeça a ideia de ter algo entre o ruivo e a líder. Uma amizade ou inimizade, apenas tinha certeza que seu pai, como ela, não sabia sobre o que era.

***

Mexia os dedos do pé como uma onda, o toque no piso gelado sendo um desconforto. Ao menos, finalmente tinha seu descanso para as pernas. Tinha trocado os curativos, os novos fazendo mais efeito para tirar a dor. Deveria ficar contente com isso, se sua mente não estivesse em dor pela memória de ter visto Cazeaje mais cedo.

— Tem certeza que ela não tentou algo? – Lass volta a perguntar.

Sentada no chão, ao lado da cama, enquanto o rapaz estava um pouco mais distante. O ninja olhava a vista pela janela que se apoiava. O tempo, embora de noite, começava a fechar e o frio anunciar uma futura chuva.

— Ela só encostou em mim, saberia se tivesse tentado algo. – Explica Elesis. – E já se passou horas, se fosse para acontecer já era para ter acontecido.

— E quanto à pequena Elesis?

— Cazeaje parecia interessada, como se desconfiasse desde o início. – Suspira. – Isso não é bom. Se ela já suspeitava antes, atualmente deve já saber de tudo. Não acha?

— Eu não sei. Por que ela guardaria isso sabendo de tudo? Não seria mais fácil te prender e pronto?

— Tudo é possível vindo dela. Ela deve estar brincando comigo, eu acho. – Brincava com as mechas do cabelo. Já começava a se acostumar com os fios loiros em vez dos ruivos. – Me pergunto o que ela deve estar fazendo agora. No nosso tempo, para ser exata.

Como não tinham feito nenhuma mudança do tempo, Cazeaje deveria estar usando outro plano com a ausência deles. Lass não gostava de pensar que alguém poderia estar sofrendo sem poder ajudar, simplesmente por estar preso nesse tempo que nem o pertencia. Sentia-se fraco com tudo isso.

— Só falta mais uma peça, não é? – Elesis fala. – Mais uma e iremos embora.

— É, estou tentando acha-la, mas parece impossível. Teve um cara que disse que não existia. – Bufa em nervosismo. – Talvez não nesse tempo.

— O que irá acontecer quando voltarmos? – Pergunta baixo.

— Continuaremos nossas vidas. Derrotar Cazeaje, ver nossos amigos e descansar bastante. – Desencosta da janela. Joga os braços para o alto, imaginando como será sua volta. – Também preciso conversar com o Astaroth, é bem importante.

Passa pela cama, parando ao lado de Elesis. O silêncio que ela fazia era para esconder os soluços. Abraçava as próprias pernas, as unhas das mãos entrando contra sua pele pela agoniante ideia de voltar para o presente.

— Pare com isso! – Fala Lass.

Afasta as mãos da espadachim, notando seu corpo trêmulo. Havia mais que tristeza em seus olhos.

— Eu não quero ir, Lass. – Admiti. – Eu quero ficar.

— Você não pode. – Sente a dor que Elesis expressava. – Sabe disso.

Fecha os olhos, tentando afastar as lágrimas. Nega com a cabeça enquanto procurava um jeito de resolver seu problema. Não podia mais negar, queria ficar nesse tempo ao lado de seu pai, nada mais que isso.

— Eu não vou te deixar! – Sacode os braços da espadachim. Ela olha assustada para sua seriedade. – Isso que você sente é uma mentira. Estará se torturando se ficar aqui, Elesis. O amor que seu pai sente não é por você, é por aquela criança inocente que ainda não vivenciou uma tragédia.

— Eu posso mudar...

— E causar uma distorção no tempo? – Pergunta indignado. – Você precisa continuar seguindo em frente, se apegar ao passado dessa forma... não está certo.

— Então o que faremos quando voltar? – Sua pergunta sai com uma pitada de raiva. – Fingir que nada aconteceu? Desculpa, mas eu não posso ignorar isso.

— Você pode.

— Só porque você não teve um passado bom, não quer dizer que eu seja obrigada a esquecer o meu! – Grita na cara do rapaz, sem mais paciência. – Tente entender isso ao...

É segurada pelo rosto com firmeza, as mãos do ninja apertando contra suas bochechas. Lass avança rapidamente sua cabeça contra a dele, ocorrendo um choque com as testas. A espadachim segura a cabeça quando cai de lado. O mundo girava com a dor a liderando tudo isso.

— Cale a boca. – Murmura Lass.

Sua visão voltava ao normal, virando para o ninja que continuava sentado. Também com as mãos na testa, ele a olha com seriedade. Era para ficar intimidade, mas percebe tristeza no jeito do rapaz.

— Eu não gosto de ficar irritado com você. – Dizia Lass. – Então não me obrigue a fazer isso novamente.

Suas brigas sempre foram irracionais. Elesis gritava por impulso e Lass agia por costume. Era um padrão o início de briga de ambos. No final, o mesmo acontecia, um deles se arrependia e corria atrás do outro. Nunca conseguiam ficar muito tempo de costas enquanto ignorava seus próprios sentimentos.

Nesse momento, Lass apenas tomava uma atitude radical, interrompendo a discussão antes que se tornasse maior.

— Mas eu quero...

— E eu te amo. – Lass a interrompe. As gentis palavras saem de forma agressivas, não porque queria, mas por dever. – Quantas vezes terei que te dizer isso? É por isso que não sou capaz de te deixar nesse tempo, porque eu me importo com você.

Abandonar alguém que amava, uma fraqueza do ninja. Tinha esquecido que causaria dor a Lass se o deixasse. Não somente ele, mas todos seus amigos.

Levanta-se até ficar próxima de Lass. Suas mãos vacilam para ficarem próximas com as do rapaz, porém são seguradas pelo mesmo.

— Eu só quero poder encontrar minha felicidade, e sinto que ela está aqui, bem perto. – Dizia Elesis. – Então penso: por que não? É como se o destino nos ligasse.

— É o que você pensa. A felicidade que você procura nesse tempo não te pertence, e sim a outra pessoa. O que estará fazendo é uma tortura.

Fecha as mãos com mais força. Não queria admitir isso.

O toque quente dos lábios de Lass esquentam sua bochecha. Ele solta suas mãos, segurando seu rosto delicadamente. O que pretendia dizer com esse gesto era para não temer quando voltasse para seu tempo atual, seria difícil mas conseguiria lidar com tudo no devido tempo. Encararia Gerard, venceria, logo Cazeaje seria a próxima. Faria tudo isso com ajuda de Lass e seus amigos, nunca estaria sozinha.

Segura o rosto de Lass e o beija. Queria ter a confiança do rapaz, saber que quando caísse ele estaria lá para mantê-la de pé. A retribuição do beijo é a prova disso. Mesmo nos seus piores dias, Lass não permitiria que fosse dor o que ela apenas sentiria. Queria vê-la feliz, mesmo em lágrimas.

Afasta seus lábios, repousando sua testa vermelha contra a de Lass. As dores são sentidas simultaneamente, causando uma leve risada em cada. Após toda discussão, sempre haverá um sorriso para amenizar tudo.

***

Seus cabelos loiros voavam com a ida e vinda repetitiva. Nunca achou que o banco do balanço fosse tão pequeno até se sentar. Era para crianças, mas como Lass, sentado no lado esquerdo, não se importava muito.

— Não achamos a última peça. – Lembra Elesis. – O que faremos?

— Ele colocou na lista as peças que teriam nessa época. – Diz Lass com o rosto abaixado. Não se balançava, encarava o chão. – Talvez não esteja nesse continente.

— Ou ele pode estar enganando a gente! – Subia o mais alto que podia do balança, um jeito de tirar a raiva que sentia. – Deve já ter voltado para o seu tempo e estamos presos aqui.

— Você adoraria isso. – Sussurra.

Após ter dito, olha receoso para Elesis. Ela continuava a se balançar, não tendo ouvido o que tinha dito. Fica mais aliviado. Não queria confusão, não quando a situação estava tão tensa quanto agora.

Lass volta a se concentrar em achar a última peça. Era a única da lista que não conhecia ou ouvido falar. Não sabia se era um núcleo ou alguma magia para complementar, simplesmente era uma parte desconhecida para o ninja. Sua dificuldade de achar devia ser o motivo da máquina funcionar, alguma pedra rara que fazia o Saltador saltar entre os tempos.

— Ele chegou a pedir outra coisa além das peças e comidas? – Elesis pergunta, ainda se balançando.

— Ele reclamou das dores na mão, mesmo após você ter o curado. – Sua mão desliza sem notar para perto da boca, mordendo os lábios enquanto se perdia nos próprios pensamentos. – Devo ter usado muito poder das chamas nele.

— Ainda não entendi por que o marcou com as chamas?

— As chamas, apesar de poucas, rouba muita mana ao queimar alguém. Sem poder, sem desaparecimentos.

— E dando a poção não recuperaria a mana perdida?

Solta os lábios, surpreso. Vira-se para Elesis, que o olhava à procura de uma resposta satisfatória pelo que fez. A poção que tinha dado era para diminuir as dores, porém a magia que continha nela era o bastante para trazer a mana perdida.

— Mas ele não pode ir embora sem a última peça. – Embora dissesse isso, continuava tenso.

— Qual é o nome dessa última peça? Talvez eu conheça.

Lass pega o papel que o Saltador tinha usado para anotar os nomes das peças. Todos estavam riscados, menos o último, que tinha circulado para se lembrar.

— Hum. – Era um nome estranho, demora a entender a pronuncia. – Sueda Satoidi.

Espera por algo positivo vim da espadachim. Ela continuava a se balançar, pensativa. Como nele, o efeito foi o mesmo nela. A palavra parecia ser da língua élfica ou asmodiana, ou qualquer outra, menos humana.

Elesis sobe e desce no balança, quando voltaria para trás, seus olhos se arregalam. Lass levanta do banco quando a espadachim se desequilibra do balanço e cai rolando na terra do parquinho. Ela fica de pé antes que se aproximasse para ajudar.

— Sueda Satoidi?! – Ela pergunta, perplexa. – É isso que está aí?

— É. – Estranha a atitude da espadachim. – Por quê? Conhece?!

Elesis pisca, seus lábios formam uma linha que expressa a raiva. Fecha os punhos e avança no ninja, socando o mesmo por não ter dito isso antes.

— Lass, seu idiota! Você é muito burro! – Gritava a espadachim enquanto o rapaz se defendia. – Seu energúmeno!

— Ei, o que eu fiz?!

Elesis para de bater, bufando para expressar a raiva.

— Nunca brincou de “espelho”, não? – Ela pergunta. O ninja nega, confuso pelo que dizia. – Ah, esqueci que você não teve infância.

— O que isso tem a ver com a peça? – É a vez do rapaz olhar irritado.

Elesis suspira, acertando um último soco, mas forte, em Lass. Ele perde o ar dos pulmões, tossindo enquanto se agachava.

— É uma brincadeira que usávamos quando criança, para tornar as palavras engraçadas. Pegávamos um espelho e colocávamos ao lado de uma palavra, trocando seu sentido.

— É-É algum tipo de magia, então? – O ninja continuava confuso após a explicação.

Elesis joga as mãos na cabeça, gritando alto. Segura Lass pela gola da camisa e o balança, puxando seu rosto para perto.

— Fomos enganados, Lass! Não existi última peça coisa nenhuma! – Gritava, sem paciência para explicar com calma. – Nesse instante, ele deve estar fugindo!

Após dizer, solta o ninja com o rosto tomado pela surpresa. Perdia tempo gritando com Lass, o Saltador estava se preparando para fugir. Não demora para o rapaz perceber o mesmo.

Saem correndo juntos. A raiva que sentiam faz seus passos serem largos e rápidos, seus punhos se prepararem para segurarem o cabo de cada arma.

— Eu vou partir aquela cara em dois! – Rosna Lass.

Não estavam tão longes, chegariam na cabana a tempo de impedir algo. Elesis usaria o berserk para acelerar os passos, porém freia ao perceber algo. À frente, Lass faz o mesmo por ela.

— Eu não posso ir agora. – Fala Elesis enquanto balançava a cabeça. – Vá na frente, Lass. Impeça aquele idiota!

— O que você vai fazer?

Toma o caminho oposto que deveria ir, a preocupação sendo a única coisa que sentia.

— Eu vou me despedir! – Disse antes de sair correndo em desespero.

***

Segura o cabo e tira a lâmina da katana da bainha em um rápido movimento. A porta de entrada é partida em vários pedaços antes de entrar no local. É tão rápido que chega a tempo de ver o Saltador se assustar com o barulho da madeira se partindo. Sem pensar, avança contra ele.

— Eu falei para não tentar nada! – Diz Lass.

O Saltador se joga contra a mesa e pega algo, correndo para o lado. Ao fundo, ouve a mesa se partir pelo ataque de Lass, que logo seria nele. Antes que o ninja avançasse, usa sua magia. Seus pés não encostam no chão, cai de costas contra o gramado do quintal. Pela pouca mana, aquilo era o máximo que podia fazer.

Com a mão trêmula, olha o relógio de bolso que segurava. Depois de ter sido danificado pelas chamas, conseguiu o consertar. Aquele era o equipamento usado para viajar no tempo. Mas antes, precisava escapar de Lass, que surge ao pular a janela da cabana.

O ninja volta a atacar com a katana, os cortes finos o bastante para cortar a grama acertada. Fazia vários quando o Saltador desaparecia, ficando mais distante a cada salto. Não poderia continuar com aqueles ataques fúteis, o rapaz fugiria no momento que tivesse a chance. Lass precisava terminar com um golpe só.

Para de correr, jogando a lâmina da katana de lado. Concentra-se sem pensar muito, apenas sentindo o calor das chamas passar por seu corpo e se concentrar na arma. Não podia ser muito nem pouco, a quantidade certa.

A katana se move devidamente, as chamas são arremessadas na direção do rapaz. O brilho azul que enxerga em seguida é o sinal de ter acertado.

***

Elesis se encontra com Elscud na rua, perto da sua casa. Para o rapaz o segurando pelos braços, também o usando como apoio para recuperar a respiração perdida. Sabia que parecia uma louca agindo daquele jeito perto de seu pai, mas não tinha muito tempo para tomar uma postura adequada.

— Tudo bem, Elly?

— Me escute por um minuto, apenas isso. – Dizia Elesis. – Eu só quero que você ouça o que eu tenho a dizer.

— Certo. – Fala incerto.

Solta os braços de seu pai e dá o espaço necessário. Apoia as mãos no peito e reuni um pouco de coragem para falar o que estava preso à sua garganta por anos.

— Se um dia você se sentir traído, não se esqueça que tudo ficará bem. – Dizia sem olha-lo. – Sua filha é a única pessoa que você deve acreditar e confiar, então... então ame ela como nunca antes.

— Por que está falando da minha filha? – Pergunta com um certo medo.

— Eu sei que quando ela crescer vai lembrar do senhor como uma espécie de herói. – Abre um sorriso sutil, mas nervoso. – Ela pode parecer chateada quando você nega algo, mas no fundo, tudo que ela quer dizer é que te ama profundamente. A Elesis só não sabe como expressar esse sentimento direito. – Olha para seu pai, as mãos apertando sobre o peito. – Não importa o que aconteça, ela lembrará do senhor para sempre.

— Elly, estou preocupado com você. O que está acontecendo?

Leva mais um tempo para se recompor. Não podia desmoronar, passou todos esses dias forte e não seria agora que cairia.

— Lass e eu estamos partindo. Agradecemos por tudo que fez. – Dizia com a gentileza que nunca achou ter. – Não iremos nos ver novamente, então adeus.

— Tão cedo? Pode ficar mais...

— Não é preciso. – Corta antes que não tivesse volta. – Você fez tudo que podia.

Elscud parecia querer persistir, mas não ousa falar mais uma palavra. Sorri junto com a espadachim, aceitando os agradecimentos da mesma.

Não consegue se segurar mais, Elesis abraça seu pai com um forte aperto. Ele fica surpreso, não fazendo nada além de retribuir o abraço. Bate levemente com a mão nas costas da espadachim, sentindo o corpo da mesma estremecer com isso.

Elesis queria poder ser capaz de congelar o tempo naquele instante. Um ano, século ou até para sempre, não importava, contanto que fosse com seu pai. O calor que aquecia seu corpo era o único que descongelava seu coração frio pelo passado. O pior era saber que não sentiria mais esse calor ao deixa-lo para trás.

Reuni mais coragem e se afasta de seu pai. Segura sua mão por uma última vez, então a soltando.

O frio volta a contorna-la.

— Adeus, Elscud. – É mais difícil que parece.

— Até a próxima, Elly. – Fala com um sorriso gentil.

Elesis força um sorriso, que é manchado pelas lágrimas. Seu pai olha confuso, mas antes que ele pudesse questionar, vira-se e vai embora. Ter dado as costas torna a situação pior, suas pernas começam a se mover sozinha para que não voltasse atrás.

Volta a correr, fecha os olhos para que o caminho que pegava não parecesse tão distante de seu pai. Quando olha para o alto, o brilho azul que enxerga não é do céu, até porque estava nublado. Mesmo distante, o calor das chamas a atingi.

Secou suas lágrimas e deixou o berserk guia-la por aquele árduo caminho. Deixar o passado e seguir para o futuro, era sua motivação a partir de agora.

Por causa do berserk que chega tão rápido da cabana. Distante, enxerga a porta da casa quebrada em pedaços quebrados. Eles não estavam ali, Elesis percebe ao ver o jardim bagunçado e com cortes largos na grama. Segue a trilha e percebe a silhueta de Lass ao longe. Ele estava no mesmo lugar que o brilho das chamas.

— Lass! – Chama o rapaz, correndo até ele.

Enquanto se aproximava, percebe um corpo caído aos pés do rapaz. Ele se move, desaparecendo para a surpresa de ambos. Surge alguns metros à frente de Elesis, avançando contra ela. A espadachim pega um sabre e se posiciona no lugar.

O Saltador volta ao chão antes mesmo de atingi-la. Elesis olha atentamente para o sangue em sua roupa, e sua perna queimada em carne viva. Mantinha o sabre erguido, mesmo quando descobre que o corpo à sua frente não se movia por estar morto.

— Deu trabalho, mas eu consegui para-lo. – Dizia Lass vindo em sua direção. – Tinha razão, não havia peça, ele já tinha terminado.

— Mas não precisamos do poder dele para sair daqui? – Abaixa a lâmina, guardando a espada na bainha. – O equipamento só funciona com a magia dele.

— Não exatamente. – Para ao lado do corpo. Cutuca com a ponta do pé sem ter nenhum remorso. – Ele precisava de mana, não da magia. Só tinha inventado isso para continuar vivo.

— Entendi.

Lass joga o corpo do rapaz para o lado. Elesis continuava sem estar acostumada pelo jeito frio do ninja de lidar com os mortos. Ele passou por tanta situação similar que nem reagia mais.

— Aqui está. – Diz o ninja ao tirar o objeto da mão do Saltador. Ele mostra para ela. – Nossa passagem de volta.

— É um... – Estreita os olhos. Não tinha certeza se era mesmo aquilo. – É um relógio de bolso. Sério que esse é o equipamento que ele usava?

— Sim. Fiquei observando ele consertar durante esse tempo. E também, - Girava o relógio entre os dedos, olhando melhor. – sinto uma forte energia vim dessa coisa.

— Sabe como funciona, ao menos? – Cruza os braços, passando por cima do corpo para ficar ao lado do rapaz. – Ou teremos que revivê-lo para perguntar?

— Eu pedi para ele me explicar. – Nota o olhar de reprovação da espadachim sobre ele. – Tentei ser gentil antes de usar as mãos, só para deixar claro.

Elesis tira o relógio de sua mão, afastando-se do corpo. Lass olha uma última vez para o corpo antes de seguir a espadachim. Não pergunta, sabia que tinha sido difícil a despedido com seu pai. Ela usava o relógio para se distrair das emoções que mexiam com seus nervos.

— Como que usa, então? – Devolve o relógio, continuando o caminho.

— Precisa de muita mana, mas isso não é um problema. Quando usar, é só pensar bem no tempo e lugar que deseja aparecer. – Explicava Lass. – Pela magia que tinha, o Saltador não deveria ter problema com isso, já era um costume.

Elesis se vira, seguindo de costas pelo caminho.

— Tem certeza que as chamas não vão danificar isso novamente? Não vamos ter outra chance para consertar. – Diz preocupada.

— Eu vou usar o poder das chamas, não as chamas em si. – Falou ofendido pela pouca confiança da espadachim.

— Tá, mas e se, sem querer, você... Por que parou de andar? – Faz o mesmo, confusa.

Lass fica espantado de repente, seu corpo não se move ao fazer isso. Seus olhos azuis se viram para ela, depois para a direção anterior. Volta a perguntar, parando ao ouvir um barulho ao fundo.

Somente nesse momento que se virava que lembra de um detalhe importante de seu passado. Toda vez que Gerard ia para uma missão, ele nunca voltava na data dita. O ruivo era do tipo que se atrasava, porém que também chegava cedo demais. Suas aparições sempre foram uma surpresa para Elesis.

Inclusive agora.

Entende a reação de Lass. Gerard vinha em sua direção com passos apressados. Ao avista-los, ele para lentamente, até ficar parado olhando para eles.

— Vocês... – O ruivo aponta para o céu. Não consegue mais segurar a surpresa. – Vocês viram a luz azul? Veio daqui.

Gerard não reconhece eles, até porque, nunca os viu para lembrar. A surpresa no rosto do rapaz era pelas chamas que Lass deixou brilhar sem querer. Como qualquer pessoa que conhece essa cor, fica curioso em saber de onde veio.

Elesis se move e Lass segue. A espadachim não consegue dar um passo contra Gerard, o ninja se joga contra ela e a gira contra o chão. Ela rola, soltando-se rapidamente. Ao mesmo tempo, leva a mão até a espada, preparando para tirar.

— Não! – Grita Lass.

Volta a avançar. O ninja faz o mesmo, parando à sua frente. Elesis usa os punhos para tira-lo da frente, seu sangue fervendo para enfiar as unhas na pele de Gerard. Lass é rápido, defende dos golpes e revida com mais intensidade. Quando percebe, o rapaz está atrás com o braço em volta de seu pescoço. Volta ao chão, ficando sem ar pelo aperto na sua garganta.

Sem pensar, morde o braço de Lass. O sangue entra na sua boca, até ser solta com o rugido do mesmo. Levantou, correndo em direção ao ruivo confuso com a situação. Gastaria tempo tirando a espada da bainha, optou usar as próprias mãos. Seu sangue esquenta com o berserk ativo, um soco seria o bastante para torcer a cabeça do rapaz.

Lass é mais rápido, já estava próximo dela. Em uma mão, segura Elesis pelas costas e na outra, o relógio com o polegar preparado para apertar o botão. Tudo que faz é acontecer rapidamente. Puxa a espadachim, assim abraçando seu corpo e apertando o relógio em seguida.

Sente sua mana ser drenada e sua visão ficar turva, então a vez de seu corpo distorcer com a realidade.

***

A mesma sensação que sentiu naquele dia, sente agora. As dores, a raiva, todas suas emoções somem durante isso. É como se não existisse. Mas quando o brilho ilumina a escuridão que a rodeava, tudo volta em dobro. As dores se tornam insuportáveis.

Bate contra o chão e rola por alguns metros. Ao parar, o frio que caía sobre seu corpo a faz acordar. O céu estava nublado, chovia sobre seu corpo estirado no chão. Vira-se de lado, o gramado que andava antes não estando mais ali. Era o piso liso do pátio do colégio, reconhece.

— Por quê? – Murmura.

Enquanto ajoelhava, lembra do que aconteceu antes. Faltou pouco, centímetros para ter atingido o problema de sua vida. Nesse instante, era para estar ao lado de seu pai, abraçados e sentindo o calor dele. Porém tudo que tinha era o frio da chuva.

Olha para o lado, para o culpado disso. Lass já ficava de pé, mas seu braço estava completamente vermelho pelo sangue que escorria de sua mordida. Ele a olha quando repete a pergunta, que sai num tom mais agressivo.

A atenção de Lass cai para seu braço, depois para Elesis que já está à sua frente. Ela o ataca com a espada, defendendo-se com a katana guardada na bainha. Recuava quando percebe que não aguentaria a força da ruiva, que tinha voltado com os cabelos naturais.

— Eu poderia ter salvado meu pai! – Grita Elesis.

O próximo ataque fez a katana voar de suas mãos. A espadachim agia como um predador, acertando seu punho na sua cara quando ver uma brecha. Lass cai no chão com a dor passando por todo seu rosto. Ela usava o berserk, por isso de tanta força.

O ninja se esquiva de seu ataque. Ele corre e pega de volta a katana, no tempo certo de se defender novamente. Dessa vez, o rapaz não recua, mas revida o ataque na mesma intensidade. Sem notar, a bainha da katana é jogada para o lado e apenas a lâmina estava presente para atingi-la. Não se intimida, invoca suas chamas e afasta o ninja.

— Poderia... – Elesis falava, engasgada pelo próprio ódio. – Poderia ter me deixado fazer!

— Claro que não! – A ruiva fica surpresa. Lass também estava irritado. – Você disse que não tocaria nele, cumprisse sua promessa.

A ignorância do ninja é imperdoável. Elesis avança, as chamas a cobrindo como uma capa.

— Acha mesmo que eu teria coragem de deixar meu pai morrer novamente?!

Lass se defender e revida o ataque. O vento passa por sua bochecha e cria uma dor fina em formato de corte. Continua a ataca-lo, invocando as chamas douradas.

— Então por que se despediu dele?! – Grita Lass ao receber um corte no ombro.

— Porque eu queria ter certeza! – Expande as chamas.

Lass não consegue desviar, é jogado para trás. No entanto, continua de pé, esperando a espadachim fazer o próximo passo. Desvia e acerta um chute na costela da mesma. Ela dá alguns passos para trás, outra oportunidade de ataca-la.

Elesis segura sua perna quando pretende chuta-la. Gira e arremessa o ninja para o lado, que cai em desequilíbrio. Ao levantar, a ruiva jogava suas chamas contra ele, acertando suas costas.

— Ter certeza de quê? – Pergunta Lass, revidando as chamas com a katana.

Elesis se esquiva do próprio ataque, parando para encarar o ninja.

— Ter certeza de que valia a pena fazer isso. – É sincera. – Eu não pretendia voltar, Lass.

— Você poderia ter causado sérios problemas. – Ele avisa. – Mudar o tempo é uma delas.

Elesis pega o outro sabre, os dois sendo segurados para cada lado. Não queria fazer aquilo, a raiva que a guiava para lutar contra a persistência de Lass. Volta a lutar, a seriedade tomando conta de sua face.

Lass é surpreendido pela velocidade dos ataques da ruiva. Recuava quando percebe que a espadachim tinha mudado, estava mais forte que lembrava. É atingido por cortes diversas vezes, ficando cansado quando percebe a fraqueza diante Elesis.

A ruiva é pega repentinamente. Seu corpo voa para trás após o brilho que a cega temporariamente. Ao levantar, enxerga as chamas azuis contornando Lass. Ele tinha usado apenas uma pequena quantidade para ter a derrubado.

— Devolva o relógio, Lass. – Diz Elesis.

Esse era o motivo do ninja revidar. A posse do relógio. No estado que a ruiva estava, defender não era o bastante. Misturando com isso, a raiva de ser traído dessa forma por ela. A todo momento, Elesis mentiu para ele.

— Você não vai voltar lá, Elesis. – Fala Lass.

— Eu preciso salvar meu pai. – Segurava com força o cabo das espadas. Seu sangue esquentava cada vez mais. – Devolva!

Lass se coloca em posição de ataque, deixando a lâmina da katana à vista. Se ousasse chegar perto, usaria sem piedade. Não queria, mas era necessário.

Entende a resposta do rapaz. O calor aumenta com o escurecimento das chamas, logo as mechas do cabelo. Faz um rápido corte no ar que faz a chuva desaparecer. Lass apenas contra ataca com a katana, jogando o corte para outro lado. Ele atingi o chão, rachando o piso ao atingir.

Elesis avança com violentos golpes. Lass segurava cada um com as chamas, tomando cuidado para não ser atingido pelas da ruiva. A chuva em volta não atingia a dupla, o impacto dos ataques e chamas criava uma barreira que afastava a água.

De repente, a ruiva não consegue mais atacar. Lass consegue segurar um de seus sabres pela lâmina, em seguida erguendo sua katana e descendo no braço estirado de Elesis. Ela é obrigada a soltar o sabre, recuando e sobrando apenas um. O ninja não permiti que ela descanse, é sua vez de atacar e ter vantagem da situação.

As chamas roxas ficam fora de controle, Elesis ataca tudo de uma vez contra o rapaz. Lass cria uma barreira com as azuis, o que é um erro. Criam uma explosão que arremessa cada um para o lado. Elesis perde seu sabre e Lass sua katana, até mesmo a espada que tinha pego da espadachim. Com isso, a dor penetra no corpo de ambos.

— Me devolva... – Elesis resmungava. Não desisti, volta a ficar de pé, apesar das pernas não aguentarem mais. – Me dê o relógio.

Lass faz o mesmo, porém ao se levantar mostra algo. Era o relógio. Elesis olha esperançosa, suas mãos feridas sendo esticadas para pegarem o objeto.

Lass explode o relógio com as chamas. Primeiro ele se despedaça e então queima rapidamente. A ruiva arregala os olhos, seus braços caindo. O rapaz joga os restos do relógio no chão, que se mistura com a chuva.

— Não!

As lágrimas que escapam de seus olhos somem sob a chuva. Ele acerta um soco em Lass com o berserk, jogando o rapaz de volta ao chão. Cai sobre ele, atacando sem pensar muito. O ninja se defender, então segura seus dois pulsos e usa o pé para chuta-la. Elesis é jogada para trás, mas se levanta e volta a avançar contra Lass.

— Essa era a única chance de trazer tudo de volta e você a destruiu! – Gritava a ruiva enquanto atacava.

O rapaz se defende, revidando quando podia.

— Você não podia fazer aquilo! – Acerta um soco. – Matar Gerard não era a solução!

— Pare de ficar do lado dele!

As chamas roxas o queimam. Elesis o derruba, porém cai junto em fraqueza. O ninja aproveita e revida o ataque, colocando-se sobre a ruiva.

— Sim, eu estou do lado dele! – Grita Lass contra seu rosto. – Gerard, ao menos, é mais sensato que você!

Elesis consegue inverter a situação. Gira e joga Lass sob seu corpo. Ele segura um de seus pulsos, o que não impede de atacar com a outra mão.

— Então você fez isso por ele?!

Seu outro pulso é segurado e, ao mesmo tempo, Lass torce ambos e puxa Elesis para perto. Ficam cara a cara, apenas olhando e sem nenhum ataque.

— Eu fiz pelos seus amigos! – Falava o ninja. – Porque se você deixasse seu pai vivo, você não teria conhecido a gente.

A chuva fica mais forte, seu barulho se torna insuportável. As rugas na testa de Elesis somem quando sua expressão se ameniza. Ela entende.

— Você é tão egoísta que nem percebeu isso! – Continuava Lass, irritado. – Todos estariam com    problemas e eu ainda poderia estar no circo. Tudo estaria uma merda sem você!

A mágoa que Lass expressava saía como uma grande raiva. Todo esse momento que impediu que ela mudasse o tempo era porque ele tinha consciência do que poderia causar. Não tinha contado pois pensava que ela lembrasse disse, de seus amigos e casa.

Que lembrasse dele, ao menos.

Empurra a ruiva para fora de seu alcance. Elesis cai no chão, as dores aumentando em todos sentidos. Senta-se, vendo Lass um pouco distante.

— Eu queria meu pai. – Ela fala. Seus olhos voltam a expressar raiva. – Eu amava ele, pelo menos.

Lass, que estava ajoelhada, ouve a verdade que tanto queria negar. Elesis era egoísta e nada mudaria isso, não importasse o quê. A dor em seu peito é maior, fazendo seu sangue ferver. Ergue o braço com as chamas o contornando, mirando na ruiva. Não aguentava mais aquilo, precisava acabar de vez. Ao fundo, ouvia as chamas rir pelo que fazia.

— Pare!

Elesis não sai do lugar quando as chamas são apontadas para ela, mas estremece com a voz que ouve ao fundo. O mesmo acontece com Lass, porém o que faz seu corpo se mexer é a pessoa que chega atrás dele. Braços seguram o rapaz pelo corpo, abraçando fortemente.

Logo, uma barreira azul é criada em volta da ruiva.

— Pare, Lass! – Era Jin segurando seu amigo com toda força que tinha, impedindo de fazer alguma besteira. – Abaixe esse braço, por favor!

O ninja parece despertar do tormento causado pelas chamas. Seu braço cai, junto com seus olhos. Mesmo após isso, Elesis ainda sentia a raiva do mesmo direcionada a ela.

— Elesis!

Antes de reconhecer, é abraçada por Lothos. A comandante ignora seus rugidos de dor, apertando o corpo da ruiva com o abraço. Ela demora para se afastar, quando faz, a espadachim enxerga Grandiel ao fundo. Ele parecia cansado sob a chuva.

— Onde você esteve? – Perguntava a comandante, preocupada. – Ficamos desesperados por vocês.

Elesis não responde, aos poucos, o que Lass tinha dito fazia sentido. Foi egoísta, não pensou em como seria o presente sem seus amigos. Alguns poderiam estar mortos, outros machucados de alguma forma e Lass... provavelmente preso no circo. Tudo isso aconteceria se salvasse uma pessoa querida, que poderia morrer futuramente.

Olha o ninja, seus olhares se trocando por poucos segundos. A raiva que ele demonstrava não era por ele, mas por ela. Foi preciso, sabia e se sentia mal ao rever o que tinha dito. Lass se importava tanto com ela que teve que machuca-la contra seus instintos, por isso, deixou as chamas o levarem por um instante, que seria fatal.

O que é pior é sentir arrependimento pelo que disse para ele, ao mesmo tempo, não sentir. Salvar seu pai ou seus amigos? A resposta era óbvia, mas pela dor que sentia, se tornava duvidosa.

Que tipo de pessoa tinha se transformado?


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Notas finais do capítulo

Review?
* Acho que já sabem como será a reta final, né? Tenso. A briga foi necessária, por causa dela que Elesis começará a dar valor a certas coisas. No próximo cap será mostrado isso melhor.
* Próximo cap começa o último arco! Uhuuuulll! Que emoção :3
* Como que seria o presente se Elesis tivesse matado Gerard? Fica o suspense no ar. Só digo uma coisa: Seria pior que o atual.
* A partir de agora, estejam preparados para muita tensão até o final :3
* Ah, e se não perceberam, a fic está quase chegando aos 1000 reviews!!! Gente, vamos chegar lá, please! Ser uma das fics com mais comentários desse site >.