Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 125
Eu te odeio


Notas iniciais do capítulo

OYOOOO Olháaáá!!! Tudo bão? Espero que sim! Então, o cap de hoje ficou meio grande, assim, só um pouquinho hahaha mas foi necessário, talvez o próximo tenha quase esse tamanho, já que será o final desse arco. Logo logo a fic chega ao fim...
Capa: Hirunaka no Ryuusei (Feita pelo Paarthurnax :3)
Boa Leitura!



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Seus pulsos ardiam a cada movimento que forçava contra a corda que o amarrava. O suor que escorria por seus braços ajudava para suas mãos escorregarem. Não poderia ficar mais tempo naquele lugar, teria que ir embora antes que sua mente fosse remexida novamente. Sua sanidade estava baixa, por um triz de sumir e deixar apenas a loucura no lugar. Via coisas quando tudo que tinha naquele salão era o silêncio e a escuridão dos cantos. As vozes eram da sua mente, e ele sabia, o que tornava tudo pior.

Seus braços voam para cada lado quando solto. Olha sorridente para as mãos livres, enquanto os pulsos estavam marcados pela vermelhidão da corda. Sem perder tempo, soltou os pés da cadeira e se levantou com as pernas fracas. Cambaleou para o lado e usou a cadeira como um apoio para se recuperar. Seu corpo estava muito fraco, as pernas tremulas como se fossem se quebrar.

Demorou mais alguns minutos até poder ficar de pé e andar sem a dificuldade de antes. Seus pés descalços se arrastavam sobre o piso gelado, que se tornava escorregadio pelo o suor que pingava de seu rosto. Não entendia como suava, sendo que estava desidratado durante todo esse tempo. Porém, não pensou muito nisso na situação que estava, tudo que lhe importava era sair daquela sala.

A porta se abre e o alívio invade seu peito. Era tolo pensar que já estava livre ao sair do salão, porém um pouco de esperança era bom no momento. O corredor à frente era longo e iluminado. Tomou um pouco de ar antes de seguir por ele, as paredes sendo seu único apoio para continuar.

Jin para no final do corredor, encostado na parede ao olhar para o lado e ver ninguém. Continuou o caminho. Logo seus olhos pesavam em cansaço e suas mãos não tinha a força necessária para se apoiar na parede. Perguntava-se o que tanto o fazia permanecer de pé, talvez o medo da tortura ou a saudade da liberdade que tinha. O tempo continuava imperceptível para o mesmo, os minutos que levava para sair de um corredor não eram contados, o que não fazia o ruivo ter tanta preocupação assim pelo atraso.

Jin!

Ele para de andar. A doce voz o chamava, criando um sorriso no ruivo. Seus olhos mortos brilham em animação, os passos continuam com mais determinação.

— Amy. – O ruivo murmura.

Ela estava ali, a voz que ouviu veio dela. Não sentia a presença da jovem, mas continuava a andar para que em algum momento sentisse. Queria vê-la, abraça-la e poder finalmente ir ao encontro que tinha prometido a ela.

Jin, Jin! Por aqui.

O ruivo assente enquanto seguia o caminho. Aumentava os passos atrapalhados como seu sorriso pela ansiedade. À frente, sente a presença de uma pessoa parada. Era Amy, ela estava perto.

Quando vira o corredor para finalmente vê-la, para. Seu sorriso permanece, porém seus olhos perdem o mesmo brilho de antes. Não tinha ninguém ali, apenas as janelas iluminando o corredor. Andou sem a animação de antes, parando para ver a vista do lado de fora. Era de manhã, nublado com algumas nuvens. Isso não era bom, sempre que o tempo estava para esfriar algo de ruim acontecia.

Seu corpo fica leve de repente. Tenta se virar para afastar aquela coisa, mas já é tarde quando é jogado contra a janela. O vidro era mais resistente que o comum, rachando com o impacto. Jin volta ao chão com o corpo dolorido, tateando o piso para se levantar.

— Onde o cordeirinho pensa que vai?

Seus olhos arregalam. Sem que quisesse, vira o rosto para trás. Cazeaje estava ali, sorrindo enquanto segurava uma espécie de cetro. Ela estava mais poderosa que o habitual, sua aura grandiosa perto da que tinha, tão frágil.

Jin se arrasta pelo chão, ficando de pé e caindo contra a janela fechada. Fica apoiado contra o vidro, olhando amedrontado para Cazeaje.

— E-Era você? – Ele pergunta.

Como se ela soubesse sobre o que se tratava, acena.

— Você cai fácil. – Ela debocha. – É até fofo sua determinação.

Jin não entende. Tudo era tão confuso para ele. Por que tinha parado ali com aquela mulher? Merecia mesmo isso? As Deusas deviam odiá-lo pelo que fez, o que não sabia ainda.

Recua com as mãos deslizando sobre o vidro. Tinha que tentar fugir, usar um pouco de determinação que restava para não ter uma morte humilhante.

Cazeaje ri com o medo do ruivo. A presa fugia e achava que isso faria alguma diferença. Tolo. O cetro gira na sua mão, parando e tocando com a ponta na parede ao lado. Seu sorriso é o gatilho sendo puxado.

Jin é jogado contra a outra parede quando as janelas explodem ao mesmo tempo. O vidro quebrado corta sua pele, o sangue escorrendo em uma linha fina e vermelha. Mesmo sabendo que isso era um simples ataque da líder, Jin a encarou. Ela sorria com prazer, pois sabia que já tinha ganhado aquela batalha. Os punhos do lutador seriam inúteis para uma maga como ela, percebia.

Jin nunca usou uma arma para lutar, seus punhos e pés eram tudo que tinham para lutar. Enquanto Elesis e Lass usavam lâminas afiadas que cortavam, ele apenas marcava a pele dos inimigos com hematomas. Não era uma ameaça, apesar de tudo. Se quisesse matar alguém teria que se esforçar mais do que o necessário.

Seu olhar cai para os vidros quebrados no chão. Rapidamente, pega um pedaço grande e aponta para Cazeaje. Fica de pé com apoio da parede, recuando enquanto ameaçava usar o vidro como uma faca, que cortava a própria mão. O sangue começa a pingar no chão, a palma ficando molhada e complicada de segurar sem escorregar. Portanto, segura com mais firmeza.

— Fi-Fique longe! Eu uso isso em você! – Grita, o tom trêmulo não fazendo efeito para a ameaça.

— Mesmo que fosse a melhor espada do mundo, você não saberia usar, Kaien. – Fala Cazeaje sem temer o vidro apontado para ela. – Você é um lutador, não um espadachim. Uma lâmina nas suas mãos seria uma ameaça para si mesmo. – Ela ri.

O ruivo avança. Sem jeito para lidar com uma arma em mãos, ataca com a ponta. Queria fazer de tudo para acertar a líder, mesmo que fosse um arranhão.

Bate contra a barreira invisível e cai sentado. Olha confuso para o que acontece, então levantando e atacando novamente. O vidro não chegava perto de Cazeaje, existia uma parede invisível que o impedia de se aproximar.

— Como eu disse, pare de ser persistente. – Ela fala, entediada. – Deixe-me te mostrar como se faz de verdade.

Ataca a barreira outra vez, porém recuando quando o ataque volta contra ele. Cazeaje estica a mão e um pedaço de vidro voa até pega-lo com firmeza. Jin avança e perde o vidro com a energia jogada na sua mão, em seguida apenas vendo Cazeaje contra ele. Geme quando a dor atingi a lateral da sua barriga.

Cazeaje perfura com mais profundidade o vidro contra o ruivo. Ele se contorce para ficar de pé, principalmente quando ela gira, então tira. O sangue espirra no seu vestido, sua mão fica manchada pelo vermelho do sangue.

Jin cai de lado na parede, as mãos querendo agarrar algo para se apoiar. Não tinha nada para poder continuar de pé. Coloca as mãos sobre a ferida, o sangue passando por entre seus dedos. O ruivo fica desesperado, não era para acontecer isso. Tosse engasgado com o sangue que cospe.

— Não suje meu chão. – Cazeaje fala.

Joga o caco de vidro de lado e deixa Jin. Ela o deixa cair lentamente no chão gelado sem se importar com o ruivo. Não se importava se ele morreria ou não, tudo que queria era usa-lo como uma provocação para Lass e Elesis. Ao menos, isso poderia servir como uma: a morte do lutador.

Jin se encolhe no chão. Quanto mais sentia o sangue sair, mais se desesperava. Morreria em breve pela perda de sangue, não tinha como evitar seu destino. Ninguém viria para salva-lo, Lass e Elesis estavam distantes para fazer isso.

Fecha os olhos e deixa que a calma seja a única coisa que sinta antes de apagar. Suas mãos não fazem mais tanta pressão na ferida, o sangue sairia de todo jeito.

— Pare de fingir que está dormindo e levante.

Era Cazeaje brincando com sua mente nesses últimos minutos que restavam. Deveria ignorar, mas quis ser um tolo novamente para dizer “olá” à sua loucura.

Abre os olhos lentamente, enxergando um par de botas à frente. Move o rosto para olhar a pessoa, sua visão embaçada pelas lágrimas que escorriam. Quando nota quem é, não consegue reagir.

— Astaroth. – Murmura o nome do rapaz. Ele se agacha perto, vendo melhor sua ferida.

— Fique tranquilo, vou te tirar daqui. – Fala Astaroth com uma certa tranquilidade. – Não se preocupe, vou fazer essa mulher pagar pelo que fez.

Tira a mão de Jin sobre a ferida. Percebe como estava o corte, ficando preocupado no mesmo instante. Tira do bolso um pano e o enrola, em seguida coloca uma parte dentro da ferida. Jin rugi, contorcendo-se pela dor.

— Isso vai impedir que saia mais sangue. Ponha a mão sobre... Isso. – Instruía Astaroth, levando a mão do ruivo até a ferida. – Consegue ficar de pé?

Com a respiração ofegante, Jin nega. Não conseguia sentir as pernas, tanto pela fraqueza quanto pela dor.

— Certo, eu te levo então.

Jin se encolhe quando é pego no colo. Astaroth parece ter problema com seu peso no começo, logo se ajeitando para carrega-lo. Ele se move em direção à janela, subindo a beirada e encarando a altura que tinha daquele andar. Era bem alto, sairia machucado de algum jeito.

Respira fundo antes de tomar o primeiro passo. Antes, Astaroth joga Jin para o alto e cai. Prepara os joelhos para o impacto e rola pelo o gramado, a dor atingindo suas pernas do mesmo jeito. Fica de pé rapidamente e estica os braços. Jin cai a tempo de ser pego, logo rugindo em dor pelo o machucado.

— Foi mal, foi necessário. – Diz o professor. – Agora vamos te tirar daqui.

Seu corpo dava leves balançadas com a corrida de Astaroth. Jin o olha e enxerga a expressão tensa que ele possuía.

— Por que está fazendo isso, Astaroth? – Pergunta com a voz fraca. – Cazeaje te matará quando descobrir.

— Se ela conseguir. – Ri. – Mas não pense nisso, preocupe-se consigo nesse instante.

Jin se cala, porém não o deixa melhor. O ruivo deveria ter apagado pelo cansaço. Olha para ele e percebe como estava pálido por todos esses dias em que esteve com Cazeaje. Fica irritado e volta a se focar no caminho que pegava pelo jardim do Conselho. Precisava leva-lo o mais rápido para o colégio, para evitar que perdesse mais sangue.

Chega no lugar que tinha marcado. Para entre duas árvores onde tinha um selo desenhado sobre a grama. Tinha feito um portal temporário para levar Jin de volta, já que seria perda de tempo ir correndo até lá.

— Vamos, vamos. – Murmura impaciente.

Fecha os olhos quando o selo começa a brilhar. A viagem de um portal para outro era estranho, seu corpo revirava junto com a mente. Durava segundos, que eram tão longos para ele. Quando abre os olhos, estava no pátio do colégio. Leva um tempo até se recuperar, voltando com os passos apressados para dentro do prédio.

— Grandi! – Grita ao reconhecer o loiro.

O corredor estava vazio por aquela hora da manhã. Grandiel ouve o chamado e se vira, ficando espantado em seguida ao ver Jin em seus braços.

— Jin?! – Corre até a dupla. – O que ele faz aqui, Astaroth?

Sem dizer, coloca o ruivo nos braços do diretor. O peso some como um alívio para ele, porém algumas manchas de sangue ficaram na armadura.

— Cure logo a ferida dele. – Pede Astaroth. – Está perdendo muito sangue.

— Astaroth! O que você está fazendo?! – Grita quando o professor já se afastava.

Tudo que ele faz é acenar antes de partir.

***

Lass não a acompanhava dessa vez, por isso o silêncio era maior. Elesis queria passar um tempo sozinha, só para ela. Andava pelas ruas da cidade a procura do Saltador, o que não tinha recebido nenhuma notícia dele até o momento. Ninguém tinha o visto, como se nem ao menos existido. Não entendia o medo que sentia por isso, de talvez ficar presa eternamente nesse lugar.

Deveria ficar com medo, certo? Mas não conseguia.

Para de andar para descansar suas pernas. Ultimamente tem sido difícil fazer uma caminhada longa sem sentir dor. Seu tempo diminuía, não podia se esquecer, isso é, precisava alcançar seu objetivo de vez. E o nome dele era Gerard.

Seus olhos prendem como uma mira nos cabelos bagunçados de um rapaz na multidão. Passa segundos, passos até que ele se distanciasse de onde estava. Quando percebe, sai correndo disparada em direção ao Saltador.

— Ei, você! – Grita Elesis. Empurrava as pessoas para o lado enquanto passava. – Saltador!

É tola ao chamar o rapaz. Ele olha sobre os ombros e reconhece a espadachim, mesmo com os cabelos loiros. Faz o mesmo, sai correndo em meio à multidão, porém desesperado. Embora distante, sentia a aura pesada e quente de Elesis se aproximar, não gostaria de arriscar lutar contra ela.

A espadachim joga as mãos na cintura, então lembrando que estava sem seus sabres. Fecha os punhos em irritação. Se fosse para derruba-lo tinha que ser de outro jeito, e que não cansasse mais que o necessário suas pernas. Seus passos começam a ficarem pesados e lentos, se não fizesse algo nesse instante, ficaria para trás.

Apoia com força seu pé contra o chão e deixa o berserk ajuda-la no salto. Por cima consegue passar pelas pessoas, indo direto contra o Saltador. Como se sentisse, ele se joga para o lado antes que o chute de Elesis o atingisse, pegando no chão. O impacto do golpe cria uma careta na espadachim pela dor que passar por toda sua perna.

O rapaz levanta do chão com um olhar assustado para Elesis. O chute que levantou a poeira do chão era forte o bastante para derruba-lo de vez. Quando a atenção dela se vira para ele, seu corpo estremece.

— Não fuja! – Apontando, ela rosna.

Ele volta a correr. Elesis grita irritada por não ter se recuperado do ataque. Força um passo à frente e logo está voltando a correr em uma velocidade reduzida. O importante não era perder o rapaz de vista. Ele se vira e entra em um beco, Elesis acelera o passo com um plano em mente.

— Eu disse para não fugir! – Disse em aviso.

Para na entrada do beco com a mão erguida. Ele olha rapidamente para ela e volta a correr. Sem escolha, Elesis fecha o punho com as chamas douradas se acumulando nele. Rapidamente, jogou o punho para trás e socou o ar dentre o beco, que foi preenchido pelo o dourado das chamas.

Elesis ouve do outro lado do beco a explosão ao atingir o Saltador. A fumaça abaixa e consegue enxerga o rapaz caído no outro canto da rua. Volta a correr, atravessando o beco com esperança de alcança-lo. A escuridão gelada some ao sair do beco e o sol da rua cobrir seu corpo, porém o calor e brilho são maiores que esperava. Vira o rosto para o lado, em seguida é arremessada para o lado ao ser atingida por uma magia. Cai de lado, confusa ao parar de girar no chão.

— Tudo bem? – Ouve aquela voz distante.

Elesis fica de pé a tempo de ver um cavaleiro erguer o Saltador. Ele acena e olha para a espadachim, então sai correndo antes que ela pudesse se mover.

— Não! – Elesis grita com indignação.

As pernas fracas a atrasam, mas não seria um problema se usasse novamente as chamas. Preparava-as, até o cavaleiro parar em seu caminho e a pegar pelo braço. Gira no ar ao ser jogada contra o chão. Fica de pé no mesmo instante, o que é em vão ao ser acertada por um chute.

— Sai da frente! – Levanta mais uma vez, distante do cavaleiro. – Ou você é o próximo!

— Desculpa, querida, mas não. – Ele diz com a voz abafada por causa do elmo. – Nada de violência nessa cidade.

— Hã?! – Olha indignada. Joga a cabeça para o lado e, ao fundo, vê o Saltador já distante. Ele consegue fugir. – Maldito. – Murmura, tanto para o Saltador quanto para o homem à sua frente.

Seu pé arrasta para trás, a poeira subindo quando se coloca em posição de luta. Sem uma espada, Elesis é obrigada a usar os próprios punhos para derrubar o cavaleiro. Ele não a deixaria passar tão cedo.

— Quer lutar? – Sente a animação na voz do homem. Ele se coloca na mesma posição, porém com uma espada guardada na bainha. – Certo, pode vim.

Elesis avança com os punhos cobertos pelas chamas douradas. Os socos que disfere são esquivados e defendidos pelo homem, que faz o mesmo ao ver uma brecha. A espadachim não tem dificuldade para se defender, Depas tinha a ensinado bem como fazer sem uma espada.

A luta não teria fim, portanto, usa o berserk para quebrar a defesa do rapaz e atingi-lo com um soco no peito da armadura. Ele voa para trás, caindo com as pernas para o alto. Sem dificuldade, ele se levanta com nenhum machucado, aparente. Ele avança com mais violência, os ataques mais agressivos com a bainha da espada. Elesis se sente pressionada a recuar em passos largos, para evitar um cansaço maior nas pernas.

Crie uma brecha! – Pensa para si.

Lentamente, enxergava o ataque do homem vim. Com total controle e calma, Elesis se esquivar e mira o pé contra o rosto do cavaleiro. As chamas douradas intensificam o chute, criando um barulho alto em resultado. Em seguida, por não ter recuperado a posição de defesa, é acertada pela bainha da espada na barriga. Cai para trás, suas costas doendo ao se arrastar pela terra. O que a desperta é o brilho que vem sob seu corpo.

O selo criado à sua volta é familiar. Saberia o que aconteceria em seguida, portanto, levanta-se em um pulo e se joga para o lado. Ao fundo, ouve as espadas mágicas se erguerem como espinhos.

— Ah, maldição! – A voz abafada chama sua atenção.

Caída no chão, Elesis olha o cavaleiro tentar tirar o capacete amassado do rosto, causado pelo chute da espadachim. O elmo desliza aos poucos, até ser totalmente retirado e fazer Elesis entender o porquê de o selo no chão ter sido tão familiar. A bochecha do rapaz, onde foi atingido pelo chute, estava vermelha e um pouco inchada.

Mas isso não foi o bastante para tirar o sorriso que Astaroth dá para Elesis.

— Gostei de você. – Ele fala.

***

— Cazeaje, sua vaca! Venha aqui! – Gritava Astaroth do lado de fora do Conselho.

Para na entrada do lugar com as mãos na cintura e um sorriso largo no rosto. A atenção dos cavaleiros do lado de fora cai sobre ele. Astaroth pega a lata de cerveja que tinha colocada no chão. Andando lentamente, abre a lata. O barulho ao ser aberta é um susto para ele, uma leve estremecida antes de começar a beber.

— Ei, para aí mesmo! – Grita um dos guardas.

Solta um arroto alto quando termina de beber, então arremessando a lata na cabeça do guarda. Distraído, Astaroth avança com um chute, gira em direção ao outro e o apaga com um soco. Os dois guardas caem juntos.

— Que piada. – Sussurra.

Estica a mão para a porta e sente as espadas mágicas se criarem ao fundo. A longa porta de madeira é destruída em pedaços, até que não restasse muito dela. Antes de entrar, Astaroth solta outro arroto, em seguida tosse com o corpo encolhido. Fecha a palma da mão, sabendo o que a manchava.

Por onde passava, deixava um rastro de destruição como sua marca. Era provocação o que procurava, portanto, não se limitaria com suas magias. Isso também se aplicava aos membros do Conselho que entravam em seu caminho. O que fazia era tirar suas vidas como um ceifeiro.

Após alguns minutos, aquilo não se tornou mais uma provocação, e sim uma situação séria para que Cazeaje viesse pessoalmente vê-lo.

— Cazeaje! – Continuava a gritar. Mais guardas vinham no final do corredor. – Vamos, Karina! Sei que está me observando! Venha brincar comigo. – Cantarolava.

A todo instante, não foi preciso usar sua espada fora da bainha para derrubar seus inimigos. A magia que usava acertava certeiramente o peito atrás da armadura de cada um. Porém, para economizar sua mana, usava os próprios punhos e pés para derruba-los, seus golpes sendo fortes o suficiente para quebrar um osso ou fazer um corte que atingisse uma artéria. Astaroth quando colocava sua armadura de guerra era imparável, uma máquina de morte movida a sangue.

Solta o ar pesado pela boca. O chão do corredor estava manchado por sangue e corpos caídos para os lados. Suas botas pretas grudavam no piso pela sola suja. Passa a mão no rosto, tirando uma linha de sangue da bochecha. Sentia falta de seu capacete, infelizmente, destruído por uma estranha há muito tempo atrás. A força dela tinha sido o bastante para quase ter arrancado um dos seus dentes pelo chute recebido.

Seu pé vai para frente e para. O peso que aquele papel fazia no bolso de sua calça provoca isso. Coloca a mão sobre o bolso e sente que ainda estava ali. Logo, quando completasse o que queria, leria o que estava escrito.

— Cazeaje. – Volta a cantarolar.

***

— Me solta! Idiota, me solta! – Gritava Elesis enquanto sacodia as pernas, já que suas mãos estavam amarradas para trás.

Por onde passava, as pessoas olhavam a espadachim ser carregada sobre o ombro de Astaroth. O rapaz não tinha a deixado ir embora depois do chute no rosto, amassando seu capacete. Para onde a levava, não sabia, mas logo descobre pelo caminho que tomava.

Entra na sua guilda, sua cabeça quase batendo na entrada. Mais alguns passos e é jogada no meio do salão de treino, com todos a olhando sem estranheza. Gira o corpo de lado, tentando se soltar da corda bem apertada nos pulsos.

— Astaroth. – Ouve a voz entediada de seu pai. – O que é isso?

— Essa garota estava atacando um cidadão indefeso na rua, achei que seria generoso da minha parte entrega-la a você para que a prenda. – Mesmo não vendo, sentia as gesticulações dramáticas que o rapaz fazia.

Gira para o outro lado com a ajuda de seu pai. Ele solta as cordas de seus pulsos, levantando-a em seguida.

— Desculpe por isso. – Pede Elscud. – Astaroth tem certas limitações para entender as situações.

— Como? – Astaroth olha irritado. – Eu fiz algo certo! Qual é?!

— Elly não é uma criminosa, se é isso que pensa. – Seu pai debate. – Ela está comigo.

— Então, Elly, explique por que você estava atacando aquele garoto. – Diz encarando Elesis.

Astaroth nunca mudou, sempre foi o mesmo cara arrogante de sempre. O que ele fazia agora era o que fazia no seu tempo atual.

Sem escolha, suspira.

— Estou procurando por uma certa pessoa. Eu tinha a achado, - Encara de volta. – até você entrar no caminho.

Astaroth não fala mais, não o permitem, de todo jeito. Elesis olha para o lado e vê Grandiel e Lothos se juntando a ele. Pelo visto, estavam ali antes da sua chegada.

Elesis observa mais atentamente o trio desse tempo. Astaroth e Grandiel não tinham diferenças, apenas suas roupas, que deveriam ser uniformes do Conselho. Lothos estava com o cabelo mais curto, nos ombros. Talvez ela tenha deixado crescer quando se tornou diretora.

— Você precisa parar de atacar as pessoas nas ruas, Astaroth. – Fala Lothos. – A garota não teve nada para merecer isso.

— É, claro. – Continuava a encarar a espadachim.

Elesis adoraria ver a versão pequena dela nesse instante para ver sua reação com a presença de Astaroth. Antigamente, nunca conseguiu suportar as visitas do rapaz na guilda, o que valia o mesmo para agora. Se não fosse por ele, teria pego o Saltador.

— Onde está o Gerard, aliás? – Pergunta Astaroth, desviando o olhar.

— Fazendo uma missão. Vai demorar para voltar, pelo que disse. – Responde Elscud. – Se quiser ficar na cidade para espera-lo...

— Vou ficar por enquanto. – Disse com um sorriso de provocação. Elesis sabia que seu pai não gostava muito da companhia do rapaz, por isso da careta que faz. – Espero que ele chegue a tempo. Tenho muito para conversa com aquele idiota.

— Gostaríamos de dizer o mesmo, mas temos trabalho a fazer. – Dizia Grandiel, Lothos indo na frente. – Então, com licença.

Eles se vão, deixando Astaroth com aquele sorriso irritante para seu pai. Ele se aproxima, Elesis se afastando com medo de ser presa outra vez. É seu pai que é pego pelo pescoço, ficando bem próximo de Astaroth.

Elsinho, meu caro, vamos passear enquanto isso. – Falava o rapaz enquanto puxava seu pai para longe. – Então, como está sua filha, a Elesis...

Quando fica sozinha, a espadachim olha para os lados, solitária em meio ao salão de treino. Não encontra Lass por perto, perguntando-se onde ele poderia estar nesse momento. O ninja ficaria feliz em ver Grandiel e Astaroth desse tempo.

Provavelmente, deveria estar atrás do Saltador. Lass não demonstrava, mas queria sair o mais rápido o possível desse tempo. Por causa disso, não estava falando muito com o rapaz. Ir embora era o mesmo que deixar seu pai.

Não apenas deixar, e sim deixa-lo morrer outra vez.

***

— Jin?

Sua visão estava embaçada, tudo que conseguia ver eram as cores mais fortes. O azul escuro e o fundo claro. Piscava e demorava para abrir os olhos novamente. Não sabia se respirava, seus sentidos tinham desaparecidos ou apenas não notava. O tempo continuava sem importância para ele.

Sente um toque na sua barriga, alguns segundos se passam e a dor no local desperta todos seus sentidos. Solta um grito rápido, precisando recuperar a respiração perdida. Seus olhos arregalados giram de um lado para o outro, finalmente vendo de quem pertencia aquelas cores.

— Jin. – Ronan fala. Quando nota a atenção do ruivo nele, fica aliviado. – Você está bem?

— Ronan... – Estica a mão trêmula, percebendo o sangue seco em seus dedos. Encosta no rosto do rapaz, dando um leve tapa. Sorri ao perceber que era real. – É você mesmo.

Ronan sorri junto. Jin olha para os lados, não precisando muito para saber que estava na enfermaria, deitado na cama. O que nota de diferente é Grandiel sentado na ponta, selos azuis saindo de suas mãos sobre a ferida que tinha na barriga. A dor que tinha sentido foi disso, da magia mexendo na sua carne aberta.

— Isso deve ser o suficiente. – Grandiel fala. Os selos somem quando ele fica de pé. – É melhor não usar muita magia, Jin está fraco, pode haver efeitos colaterais.

Quando Grandiel se move, o ruivo enxerga Lothos encostada na parede do quarto com os braços cruzados. Seu pé não parava de bater no chão em nervosismo. Pela expressão vazia, ela estava bem distante dali.

— O que está acontecendo? – Jin pergunta, confuso.

— Astaroth que está acontecendo. – Fala Ronan no mesmo estado, porém fingindo a calma. – Astaroth invadiu o Conselho. Ele pretende atacar Cazeaje.

— O quê? – Tenta se levantar, voltando para o colchão com a dor insuportável da ferida ainda aberta. Tinha se esquecido. – Ele ficou louco?!

— Ele é louco! – Grandiel grita. Olham assustados, até mesmo Lothos, para a atitude incomum do diretor. Ele passa a mão sob os óculos para coçar os olhos que não tinham descansado por um bom tempo. – Me desculpe. – Murmura.

Jin percebe o sangue na roupa do diretor, causado por ele. Não lembra do que aconteceu após ver Astaroth, tudo é um completo borrão.

A atenção de todos se vira quando alguém entra no quarto. Jin não consegue enxerga, mas ver Ronan ser puxado agressivamente para o lado. Amy toma seu lugar ao lado do ruivo.

— Jin! Você está bem. – Ela dizia com tanto alívio que parecia um suspiro. Suas pequenas e delicadas mãos tocam no rosto do rapaz, deixando-o envergonhado assim. – Fiquei tão preocupada.

— Não precisava, Amy. – Ria para tentar afastar a vergonha. – Sou bem forte, lembra?

É abraçado pelo pescoço, a jovem repousando sua testa sobre a dele. Jin olha surpreso, o carinho e a delicadeza que Amy tinha com ele era novo. Mesmo estando sujo, suado, ela passava a mão em seus cabelos bagunçados.

— Fingir ser forte não quer dizer que você seja. – Ela fala com os olhos fechados. – Só está piorando para o seu lado.

Ela desencosta, voltando a olha-lo. Jin pega sua mão com delicadeza, Amy retribuindo o aperto.

Ronan tinha ficado caído no chão durante toda essa conversa entre eles. Não sabia que a rosada tinha tanta força assim, até ser arremessado contra o piso. Levanta, vendo Arme chegar na porta em seguida.

— O que está acontecendo? Soube que o Conselho está sendo atacado. – Ela dizia com a respiração ofegante.

— Astaroth que está fazendo isso. – Fala Ronan. – Por quê? Eu não sei.

Grandiel estala a língua. Ronan nunca tinha o visto tão impaciente quanto agora. Percebia como o diretor se importava com o seu irritante amigo. Até mesmo Lothos, que estava calada, demonstrava isso com as batidas do pé.

— Eu não vou deixar aquele idiota fazer isso. – Comenta Grandiel. Sai do quarto após isso.

— Grandiel! – Chama Lothos. Ela corre para fora do quarto, seguindo o rapaz com largos passos. – O que você vai fazer? Já não basta um idiota, dois são demais!

— Eu vou impedi-lo! – Dizia sem parar o caminho.

Lothos corre e para na frente do loiro. Ele para também, encarando a comandante pelo que fazia.

— Por favor, pense. Você é o racional do grupo, então aja como um! – Falava Lothos.

— E estou agindo. – Ela olha confusa. Grandiel passa a mão na nuca, sem saber como continuar. – Astaroth é meu amigo e se é racional deixa-lo sozinho para morrer, então não quero pensar assim. Sempre foi assim, todos nós juntos, não importava o que fosse.

— Você irá morrer se interferir.

— Interferindo ou não... – Ele para. Olha para os lados, finalmente tendo coragem de ser honesto consigo mesmo. – Eu quero vê-lo uma última vez!

Pensava que Lothos negaria e o chamaria de idiota, porém ela reage de forma oposta. Ela sorri com calma, concordando.

— Então vamos ver aquele idiota juntos. – Ela fala.

***

Os barulhos que ouviam nos andares de baixo eram um aviso de que tinha começado. Deveria se sentir bem com isso, mas ao lembrar que era Astaroth por lá o fazia se sentir mal. Seria temporário, tudo isso logo acabaria.

Gerard ficou parado no corredor, sabendo que se atravessasse aquela linha imaginária à frente seria tolo de sua parte. Precisava esperar Cazeaje estar longe o suficiente para atravessar aquela linha e entrar na sala, que tanto o chamava. Mantinha-se calmo para não surtar na situação que estava.

— Vamos, Astaroth. — Pensava impaciente.

Para que não fosse notado dentro do Conselho, Gerard continha a própria mana como uma vela apagada, mas até mesmo a fumaça que ela soltava deveria ser contida. Era estranho fazer isso, principalmente quando possuía mais que uma mana dentro do corpo. A sensação era como segurar a respiração, tudo para que Cazeaje ou alguém o sentisse por perto.

Desencosta da parede e volta a roda em círculos. A capa que usava, com um capuz vestido, girava como uma saia de vestido.

— Quem é?

Ele para de andar. Existiam consequência em conter a própria mana, não conseguindo sentir outra se aproximar. Sua mente ocupada fez que os passos não fossem ouvidos pelo ruivo. Cuidadosamente, olha sobre o ombro, deixando o capuz cobrir seu rosto.

— Tem alguma autorização para estar nesse andar? – Pergunta Mary.

A pergunta era feita para mantê-lo ocupado. Um homem vestido daquela forma dentro do Conselho não era boa coisa, ela sabia. Quando não ouviu uma resposta, apoia a mão sobre o cabo da espada.

— Você não vai querer fazer isso. – Disse Gerard ao apontar para a espada da loira. – É melhor sair daqui antes que eu mude de ideia.

— Já não basta a confusão que Astaroth está arrumando, agora você... Seja lá quem for. – Pelo capuz, não conseguia identificar Gerard. Para Mary, ele era estranho com a falta de mana, mostrando ser inofensivo. – Aposto que devem estar juntos nessas.

Gerard prefere não responder, se fizesse, iria se entregar. Sem muita escolha, seu pé de apoio arrasta para trás. Mary nota sua posição de combate. Preparava a mão para pegar sua espada nas costas, porém não sabia que sua oponente era tão rápida.

Mary corre com a espada já preparada para o ataque. Salta contra Gerard e espera acerta-lo rapidamente, porém ele recua na mesma velocidade. Ataca o vento, continuando a avançar contra o rapaz. Ela percebe que não era um inimigo qualquer quando seus ataques não acertam o mesmo, nem uma sequer vez.

A lâmina gira e quando avança, Mary cria uma ventania contra Gerard. Nunca era forçada a usar seu poder, mas aquela situação exigia isso. Ele joga os braços na frente em defesa, o vento passando da mesma forma e jogando seu capuz para trás. A loira não avança, fica parada enquanto tentava enxergar o rosto de seu oponente.

Gerard abaixa os braços lentamente, então avança. A jovem estava distraída, sendo pega facilmente pela sequência de soco que desfere nela. Por fim, acerta um chute contra o peito, empurrando-a para trás. Esperava que ela soltasse a espada, mas não foi o suficiente.

— Resistente, hã. – Gosta da teimosia da mesma.

Mary limpa o sangue que escorria de seu lábio cortado. Quando o olha, seus olhos arregalam.

— Gerard?

Não podia deixa-la ir depois que viu seu rosto. Ela contaria a Cazeaje sobre seu aparecimento no Conselho. Fecha os punhos e anda determinado a acabar com aquela situação de uma vez por todas.

Mary não recua, revida os ataques à distância com cortes de ar. Ela começa a se desesperar quando o rapaz se esquivava facilmente, chegando cada vez mais perto. Salta para trás, o vento que usa a impulsionando para mais longe. Distante, faz um corte com mais intensidade, fazendo seus cabelos balançarem ao ser arremessado.

Gerard poderia ter acabado com a luta alguns minutos atrás, porém continuava a deixar as manas contidas dentro de si. Qualquer magia que usasse e Cazeaje o notaria. Queria poder apelar para a espada, se não fosse pelo corredor pequeno para a grande lâmina, o que o limitaria de usa-la.

O vento é forte, sente ao ser atingido. Fecha os olhos por segundos, virando o rosto para o lado. Sente a jovem avançar, voltando ao normal para recuar a tempo dos cortes que ela tenta desferir. No entanto, atrasado, é cortado na bochecha, em seguida no seu ponto fraco.

Mary consegue acertar a ponta da lâmina no ombro ferido de Gerard. Ele grita imediatamente, segurando a lâmina e retirando da ferida. Mary se sente ameaçada, querendo recuar quando é olhada com seriedade por Gerard. Ainda segurando a lâmina, ele puxa e avança a cabeça contra a testa da loira. Sua visão fica escura com o golpe, recuando em passos atrapalhados, logo caindo.

Gerard a esquece por um tempo. Apoia a mão sobre o ombro ferido, a dor sendo o suficiente para paralisa-lo ali de pé. Ultimamente, tem estado difícil lidar com as dores no ombro, já que as poções que Arthur fazia não existem mais. Tudo que pode fazer é fingir que a dor é imaginação e esquecê-la.

Naquele instante, não conseguia mais ignorar.

Mary se levantava, aparentemente, sua cabeça ainda rodava pela pancada. Gerard usa o outro braço para segurar a espada que tinha pego da loira. Teria que usar uma mão para lutar. Tinha sido um tolo em achar que poderia lidar com a jovem tão facilmente, sendo descuidado com seu ombro. Agora, precisava aguentar a dor e terminar com aquilo o mais rápido.

Mary estica as duas mãos, jogando-as para a frente. O vento que segue seu movimento vem com mais intensidade, fazendo a loira chegar no próprio limite. Gerard joga seu único braço bom na frente, os pés firmes no chão para não sair voando. O que o mantinha de pé e firme era sua espada pesada.

— Não sei por que está aqui, mas irá morrer agora! – Grita Mary. Sentia sua mana sumir a cada segundo que permanecia com aquela ventania. As janelas ao seu lado começam a rachar pela pressão exercida.

Gerard fica com falta de ar, o vento forte o impedindo de respirar direito. Se quisesse sair vivo, precisaria agir rapidamente. Não entendia como a situação tinha parado dessa forma, perdendo para uma garota do vento. Ele era mais forte que aquilo, temido por todos.

Cansado, decidi agir de vez. Seu sangue esquenta ao máximo, deixando o fogo sair de seu corpo com toda intensidade. Nem mesmo o vento de Mary foi capaz de apaga-lo, foi tão rápido que Gerard causou uma explosão proposital. A loira voa para trás, encolhida em dor pelos braços e mãos queimadas.

Engole as lágrimas que queriam escorrer e olha para as mãos em carne viva. O sangue escorria por entre seus dedos, a dor era a maior sentida para ela. Vira-se de lado e levanta lentamente. Algumas chamas permaneciam acesas no chão de madeira. Ela não vê Gerard, a explosão foi mais para o lado dele, não teria como sobreviver àquilo.

Já estava de saída até ouvir um barulho de passo. Ao se virar para as chamas, tudo que ver antes de voltar ao chão é um brilho. A espada arremessada passa por seu peito, fazendo cair novamente. Mary tosse, surpresa pelo que acontece. Olha para a lâmina atravessada no seu peito e percebe que aquilo era real, mas não pelo sangue que escorria da ferida.

E sim por Gerard que apagava as chamas por onde vinha. Confusa, percebe que o que deixou vivo das chamas eram algumas escamas grossas em seus braços. Eram como uma pele de dragão, resistente ao fogo.

— Eu... não entendo. – Ela fala. – Você não é humano. – Soa como uma pergunta.

As escamas somem enquanto se aproximava do corpo caído da loira. Inclina o corpo e segura a espada fincada nela pelo cabo. Mary se contorce pelas balançadas que dava na lâmina.

— Humanos sentem piedade. – Gerard fala com frieza. Ajeita a postura, seu olhar se tornando a lâmina dessa vez. – Eu não.

Arranca a espada do corpo da jovem. Mary joga as mãos sobre a ferida para interromper o sangramento. Não vale de nada, apenas suja mais sua roupa branca pelo vermelho escuro. Seu olhar é de desespero, pois sabe o que aconteceria em seguida.

Com lágrimas, espera a piedade surgir em Gerard.

Ele apenas olha a loira morrer lentamente. Seu corpo para de se debater, até seu peito parar de se mover pela respiração. Quando não há mais vida, os olhos azuis de Mary permanecem abertos para o ruivo.

Gerard suspira. Agacha ao lado do corpo, passando a mão sobre os olhos e os fechando. Limpa a lâmina suja de sangue em sua capa, assim colocando sobre o corpo da jovem e pondo suas mãos entrelaçadas sobre. Isso pôde esconder a roupa manchada pelo sangue, parecendo que ela apenas dormia no chão.

— Me desculpe. – Ele pede.

Não deveria houver mortes, mas sempre há imprevistos. O destino que o foi descrito é coberto por sangue e mortes. Não tinha como evitar, senão seria ele o próximo morto. As escolhas que toma são sempre difíceis, mas por alguns segundos, elas se tornavam importantes. As mortes que cometeu não foram em vão, não podia se esquecer.

Sente a linha imaginária sumir. Embora tenha usado magia, Cazeaje não deve ter o sentido. Ela se distanciava, sentia. Com um suspiro aliviado e ansioso, tomou seu primeiro passo para a sala que tanto esperou entrar.

***

— Você parece preocupado com algo. – Diz Elesis.

O vento bate contra seus cabelos, os fios parando em seu rosto. Tira enquanto olhava para Lass parado na ponta do telhado. Não sabia como tinha conseguido subir a casa que pisava no momento, suas pernas estavam muito fracas, portanto, sentou nas telhas. Continuava a esperar por uma resposta do ninja.

Tinha contado a Lass sobre Astaroth, Grandiel e Lothos. O rapaz ficou empolgado de repente, por isso de estar agora sobre o telhado olhando Astaroth de longe.

— Sinto que alguma coisa vai acontecer. – Finalmente, ele fala. – Um pressentimento ruim.

— Pode ser coisa da sua cabeça.

— Não, isso é real. Deve ser por causa das chamas que tenho isso, não tenho certeza, mas de que funciona, sim. – Mordia o próprio lábio. A mania do circo continuava sem perceber. – Talvez algo aconteça com o Astaroth desse tempo e eu precise evitar.

— Ah, você pode interferir nisso, mas não posso encostar um dedo no seu querido Gerard? – Disse áspera.

Pelas costas que levantam e abaixam rapidamente, Elesis sabe que Lass suspirou pelo que disse. Ele a olha sobre o ombro, o rosto entediado mostrando a falta de vontade em persistir naquela conversa.

— É diferente. No nosso tempo, Astaroth está vivo, o mesmo para o Gerard. Ninguém vai morrer enquanto estivermos aqui. – As últimas palavras são um aviso. Elesis bufa, Lass quase fazendo o mesmo pela atitude da espadachim. Ao menos, ela não tinha ousado nada.

Volta a observar Astaroth. Ele estava sentado na varanda de uma lanchonete, lanchando. O mesmo jeito que ele agia no seu tempo, agia agora naquela mesa enquanto brincava com a bebida no copo. Pelas bochechas vermelhas, sabia que já estava bêbado. Suspira, decepcionado com o homem que te ensinou tantas coisas, certas e erradas.

— Por que não admiti logo que gosta do Astaroth? – Elesis pergunta ao fundo. – Sempre diz que o odeia, mas nunca ousou falar um “obrigado” pra ele.

— Mas eu não gosto dele, essa é a verdade. – Diz emburrado.

— Então por que está preocupado se não se importa?

Ele não sabia. Pensava que fazia isso por si próprio, pois se Astaroth fosse morto, quem o tiraria do circo depois? Podia ser esse o motivo de sua preocupação, ou porque se importava mesmo com o rapaz. Pensa nisso por um momento, então nega com a cabeça. Nunca conseguiria aceitar isso.

— Sabe o que seria bom para você admitir de uma vez? – Dizia Elesis ao se sentar do seu lado. – Por que não escreve uma carta colocando tudo que sente e entrega para esse Astaroth? – Aponta com a cabeça para o rapaz na lanchonete. – Ele não sabe quem é você e aceitará sem rir da sua cara.

— Escrever uma carta? – Olha confuso.

— Sim! É como uma técnica que aprendi. – Fala mais animada. – Você pega um papel e escreve todas negativas que está sentindo, então rasga. Isso ajuda um pouco. O mesmo pode ser para sentimentos positivos.

— Na verdade, você costuma bater nas pessoas para tirar seus sentimentos negativos. – Observa Lass.

Elesis acerta um soco no seu braço. Ele abre um sorriso bobo com a irritação da espadachim.

— Estou falando sério. – Dizia emburrada. – Faça uma carta sendo honesto consigo mesmo. Talvez te faça bem.

Sem uma resposta, levanta, dando um leve tapa nas costas do ninja. Ele parece pensativo sobre a proposta.

— Fique pensando nisso. – Falava Elesis. – Vou passar mais um tempo com meu pai. Até.

Ouve os passos cuidadosos de Elesis se distanciarem. Não precisava a olhar muito para saber que as pernas dela estavam piorando. Elesis negava as poções e remédios que Lass recomendava, via no jeito da espadachim a aceitação de seu destino.

Passa a mão na nuca, voltando a se focar em Astaroth. Ele se levantava da cadeira, colocando o dinheiro sobre a mesa e saindo com o corpo virando de um lado para o outro. Não deveria desperdiçar seu tempo nisso, e sim caçando o Saltador, que descobriu que ainda estava na cidade.

Fica de pé, pretendendo seguir Astaroth. Antes de seguir em frente, lembra da sugestão de Elesis.

— Uma carta? – Ele se pergunta.

***

Finalmente, um inimigo digno de fazer sua espada ser usada apareceu. Vegas não foi piedosa em usar o martelo nele, o arremessando contra as paredes e rachando o piso tentando o acertar. Ela era lenta, como previa, mas qualquer deslize e seria atingido com força. Com a lâmina da espada já à mostra, ele pensava em como derruba-la.

O mais importante era economizar energias para enfrentar Cazeaje. Lutar com a líder não era usar toda mana que tinha, o dom que a mesma possuía o obrigaria a usar os próprios punhos. Portanto, usava a magia sem se preocupar em Vegas.

Ela volta a atacar. Astaroth se esquiva, rolando pelo chão e jogando a mão livre para frente. As espadas de energia são arremessadas contra a ruiva. Vegas encolhe o martelo e tentar desviar, porém é atingida de raspão. Quando volta a atenção para o rapaz, ele estava na sua frente com a espada em movimento. Por pouco, usa o martelo para se defender.

Astaroth pretende finalizar, o ataque indo com mais força. Vegas prever e recua com um giro, quando voltando, o martelo tinha crescido. Ele desce contra o professor. Astaroth joga o antebraço como defesa e recebe o impacto, forçando o martelo para que não descesse mais.

Estou mesmo velho pra isso. — Pensava. – Essa garota é bem irritante.

Conta mentalmente e larga o martelo, jogando-se para trás. Vegas quase cai para frente pelo peso, mas não sendo o bastante para para-la. Ela avança, sem deixar Astaroth respirar por um segundo. Os ataques voltando, o professor se defendendo com a espada.

O martelo bate no chão, rachando o piso. Astaroth é rápido e apoia o pé sobre a arma, prendendo Vegas no lugar. Ela reagiria, mas é pega pelo pescoço com força. Fica sem ar pelo aperto, em seguida, um brilho que surge da palma de Astaroth esquenta sua pele. Quando percebe, é jogada para o final do corredor pelo raio que sai da mão do mesmo.

Astaroth dá um passo à frente. Para quando começa a tossir, não conseguindo evitar de cuspir o sangue. Precisava se apressar, principalmente para não deixar Gerard esperando muito tempo. Volta a andar, agora apontando sua espada para a ruiva, que se recuperava do ataque. O selo surge na ponta da lâmina, aumentando até cobrir todo seu campo de visão. As espadas mágicas que aparecem são maiores, mais afiadas que o comum.

Vegas recupera um pouco da visão e percebe as milhares de espadas voando em sua direção. Tenta se levantar, porém a dor no corpo não permiti. É atingida pelas lâminas mágicas, os cortes não sendo feitos, mas as dores são sentidas. Ela grita, encolhida em dor. O ar que procurava para respirar some quando Astaroth avança com um chute contra seu estômago. Ela cai de lado, tossindo.

— Foi mal, escorregou. – Mesmo nessa situação, Astaroth não se continha de contar piadas.

A ruiva estava exausta pela dor. Segura firme o cabo da espada, erguendo a lâmina para finalizar. Não queria fazer isso, mas sabia que ela viria atrás depois para atrapalhar.

O tempo que leva para decidir é usado por Vegar para alcançar o martelo à frente. Ela se estica e segura o cabo da arma, já se virando para atacar. Astaroth aponta a mão com o raio acumulado.

Ambos atacam ao mesmo tempo. Vegas é pega no peito pelo disparo, voltando ao chão pela dor. Astaroth é jogado contra a parede, que se quebra pela intensidade do ataque da ruiva. O rapaz só para depois de atravessar duas salas.

Seu corpo todo dói pelo impacto contra as paredes. Não via, mas sentia a poeira dos escombros sobre ele, principalmente no cabelo que parecia cinza. Fica de joelhos, tateando o chão para se localizar. Olha em volta para a sala com pouca iluminação e algumas estantes no canto. Era uma pequena biblioteca.

Precisava se recuperar. Arrasta-se até encostar na parede e poder soltar a tosse que segurava. O gosto de ferro invade sua boca pelo sangue que volta a cuspir, precisando passar as costas da mão sobre os lábios para limpar. Por sorte, não quebrou nenhum osso pela armadura que usava, tão resistente quanto lembrava. Menos o capacete, que teve que ser jogado fora. Uma pena, pensava.

Enfia a mão no bolso a procura de um maço de cigarro. Sente uma folha dobrada, desviando imediatamente até encontrar a pequena caixa. Sortudo, pensa ao ver o último maço que sobrou. Segurou com a boca enquanto tentava achar um isqueiro, logo percebendo que tinha esquecido no quarto. Solta um breve resmungo. Sem escolha, reuni sua magia na palma da mão e aproxima na ponta do cigarro. Ela queimava como um fogo, portanto, consegue ascender. Apenas não queria desperdiçar mana à toa.

— Espero que consiga pegar aquela droga, Gerard. – Resmungava enquanto se levantava com ajuda da parede. Assopra a fumaça, analisando a sala. – Senão, eu te mato, idiota.

Era estranho falar sozinho, mas isso ajudava a se manter sã. Não seria fácil encarar Cazeaje, para isso era preciso muita força mental pela pressão que ela provoca sobre o inimigo. O poder que ela usaria criava um frio na sua espinha. Qualquer deslize e perderia a cabeça para ela.

Passa por cima dos escombros quando sai da sala. O corredor iluminado é um alívio para sua visão, podendo enxergar tudo, até Cazeaje se aproximar. Ela para alguns metros dele, sua expressão indecifrável, o que considera uma pena. Gostaria de ver a raiva estampada no seu rosto, mas sabia que ela escondia com aquela máscara de neutralidade.

— Você me chamou, aqui estou eu. – Fala a líder com os braços esticados. Em sua mão, para o azar de Astaroth, segurava um cetro longo. – Me atrasei porque tinha sujado meu vestido e precisei colocar outro.

Certamente, o vestido de sangue tinha sido trocado por um roxo de seda. Embora fosse um detalhe desnecessário, Astaroth não se sente bem em saber que a líder usava uma roupa tão leve para enfrenta-lo. A saia da vestimenta era aberta de um dos lados, deixando a coxa exposta.

— Uma pena usar um vestido tão bonito para ser sujado pelo próprio sangue. – Comenta Astaroth. Com o cigarro entre os dentes, sorri. – Deveria ter ficado com o outro.

Cazeaje ri graciosamente. O rapaz sabe que isso não é um bom sinal.

— Digo o mesmo para você, Bardinar. – Abre um sorriso do mesmo tamanho. – Não ache que essa armadura te salvará de algo.

Ele assente. Como um vestido bonito que Cazeaje usava para lutar, ele usava a armadura para ter um certo estilo.

— Não vamos enrolar muito. – Ele comenta. Pega o que sobrou do cigarro, a parte queimada caindo em seguida. – Estou sem paciência hoje.

Larga o pequeno maço. Antes que chegasse ao chão, Astaroth já avançava contra a líder do Conselho de Canaban.

***

As correntes que prendiam seus pulsos eram resistentes, mesmo que usasse toda força que tinha não seria o suficiente para quebra-las. Volta a encarar as duas pessoas à frente que tinham o prendido. Uma loira com um semblante fechado e o rapaz com longos cabelos loiros. Pensou que fossem irmãos, mas pelas atitudes formais demais que tinham, desconsiderou.

Olha em volta, analisando como era o salão do Conselho de Canaban. Nunca tinha visto o local por dentro, já que não teve interesse para isso.

— Por que estou aqui? – Ele questiona. Não queria ter falado, mas não teve muita opção.

— Logo verá. – O rapaz loiro responde, sem nem o olhar, ao menos.

Estala com a língua. Não sabia como tinha perdido para esses dois, agiu por instinto no final da luta e perdeu para a racionalidade dos dois loiros. Mas o real motivo de ter perdido foi por causa daquele velho. Não se lembrava do nome dele, talvez começasse com “D” ou algo parecido. Aquele homem era forte demais para quem usava apenas uma espada, e não magia.

Sua atenção cai quando os loiros ficam rígidos ao mesmo tempo com a entrada de alguém. A mulher esguia com um longo vestido entra. Mostra desinteresse pela mesma, esperava mais alguém vim atrás, mas somente ela veio.

— Vejo que conseguiram pega-lo. – Ela fala. – Foi trabalhoso, prevejo.

— No começo, sim. – Admiti o rapaz loiro. – Mas depois conseguimos segura-lo.

— Hum. – Ela joga a cabeça de lado, observando-o com um sorriso. Ela se aproxima.

Quando a mulher chegava perto, ele quis recuar. Todo o poder que sentia dentro do corpo desapareceu a cada passo que ela dava. O que era aquela sensação? De repente, uma pressão caía sobre si com o olhar daquela mulher.

— Bardinar Astaroth. – Ela fala seu nome. Para poucos metros, analisando cada parte do seu corpo. É desconfortável. – Sou Cazeaje, líder do Conselho de Canaban. Já deve ter ouvido falar de mim, certo?

— Não me interesso por nomes de cadelas. – Age como de costume. – O que quer comigo?

— Que modos são esses? – Ela finge a surpresa. – Parece que terei que colocar uma coleira em você.

— Toque em mim e arranco sua mão. – Ameaça como um rosnado.

O sorrido dela se expande. Ela deveria fingir a calma que tinha, como todos faziam com ele. Cazeaje, como se chamava, vira-se para os dois loiros e acena com a mão para a saída. Eles assentem, indo embora.

Não gosta de ficar sozinho com ela. Vira seu rosto para ela e se surpreende com a mesma tão perto. É pego pela corrente e puxado, recebendo uma joelhada que joga seu corpo pra frente. É empurrado, recuando de forma atrapalhada. Cazeaje avança de uma maneira que nem mesmo ele consegue acompanhar seus movimentos. No final, apenas sente um soco na garganta que tira por completo seu ar.

A líder coloca o pé no seu caminho e o derruba. Astaroth bate com a cabeça no chão, a dor sendo logo no peito. Cazeaje apoiava a mão e cravava suas unhas contra a pele do mesmo. Ele se contorce, sentindo o sangue escorrer da ferida.

— É melhor não latir. – Ela fala. Quando a olha, o branco de seus olhos se tornaram preto como de uma fera. A força que ela tinha não era humana como seus olhos escuros. – Eu mando, você obedece.

Tentava usar sua magia contra ela, mas nada saía. Sua mana não existia mais, algo estava errado a partir do momento que ela o viu. Como aquele velho que enfrentou e perdeu por uma espada, ela era parecida desta maneira.

— Então, se não quiser que eu pise na sua cauda de novo, é melhor ser obediente. – Cazeaje fala, sorrindo. O preto de seus olhos some, a característica humana da mesma voltando. – Agora, diga: Sim, senhorita Cazeaje.

Ele não fala. As unhas entram com mais força, contorcendo-se mais.

— Sim, senhorita. – Ele fala imediatamente.

— Senhorita o quê?

— Sim, senhorita Cazeaje.

***

Fazia tempo desde conheceu Cazeaje pela primeira vez, e descobriu o mostro que ela era de verdade. Tinha sido fraco, agido com medo de se machucar por ela. Foi um erro que não gostaria de ter cometido, porém que não faria o mesmo agora. Lutaria para mostrar que o medo que sentia dela já não existia mais.

Como antigamente, ela não usava magias, apenas aquela em peculiar. Atacava com a espada enquanto Cazeaje usava seu cetro para se defender. Seus golpes rápidos eram acompanhados facilmente pela líder. Ela não se abalava por sua força, pelo contrário, parecia debochar pela expressão neutra.

Cazeaje quebra seu ataque, girando o cetro e batendo a ponta no chão. A onda de energia atingia o rapaz, que voa uma certa distância.

— Bardinar, eu sugiro que você desista nesse instante. – Dizia Cazeaje, andando em sua direção. – Sabe que não levará em nada esse seu esforço.

Astaroth ignorava seus insultos. Ajeita a espada em mãos e volta a ficar na posição de combate. Fita a líder chegar mais perto, concluindo que deveria existir um limite para o poder da mesma o alcançar. Tenta invocar um pequeno fio de mana, o que não surgi.

Sua estratégia muda. Primeiro, descobriria o limite dessa barreira.

Vira-se e sai correndo, sabendo que ela o seguiria, não na mesma velocidade. Continua a se afastar sem se importar com um ataque vindo ao fundo, focava-se principalmente em sua mana para ser liberada. Mesmo distante, continuava sem poder usar sua magia.

Pula contra a janela aberta que encontra no corredor. Segurando na parede, joga o corpo para fora, olhando para o alto. Tinha mais um andar à cima para subir, sendo aquele o caminho mais rápido, julga. Sem medo, salta e escala a parede com ajuda da espada. Estende a mão e alcança a beirada da janela, entrando por ela.

Rola silenciosamente ao pousar no piso do corredor. Ninguém à vista, podendo se acalmar. Ainda sentindo aquele vazio de sua mana, continua a se distanciar de Cazeaje, que poderia surpreendê-lo a qualquer instante. Aproveita esse tempo para recuperar um pouco da energia perdida.

De repente, sente uma vibração no bolso da calça. Para, batendo com a mão na testa, decepcionado por ter esquecido isso. Sem muita vontade, tira o celular do bolso e atende.

É bom que esteja vivo. ­— Grandiel fala do outro lado.

— Na verdade, estou bem vivo. – Volta a andar. – Infelizmente.

Não ouse fazer isso. Você ainda pode voltar. ­— Seu tom era preocupado, mas quando não ouve uma resposta, fala com um tom sério. – Pare de ser um idiota e desista disso!

Como se Grandiel pudesse ver seu sorriso, debocha como se as dores que sentia não o incomodassem.

— Desiste do quê? Estou fazendo nada.

Atacar o Conselho, matar Cazeaje. Imagino você fazendo isso agora mesmo. ­— Esperto como sempre. – Por quê? Por que agora?

— Grandiel, você teve seu tempo para me questionar, mas agora seu tempo esgotou. – Girava a espada na outra mão, parando quando apoia sobre o ombro. Mesmo conversando, continuava alerta para qualquer aproximação. – Então, se não se importa...

Eu me importo com você, seu idiota! Você é meu amigo, acha mesmo que posso te ignorar quando faz uma besteira dessas?! — Astaroth para de andar. – Então se você se importa também comigo, saia daí agora mesmo. Por mim, pela Lothos e o Lass. Sei que quer vê-lo após tudo isso, não?

O sorriso tinha se desmanchado. Lentamente, a espada desliza do seu ombro, parando quando a ponta da lâmina está próxima do chão. Contrai seus lábios quando os sente estremecerem. Não iria agir como um idiota, tinha que se focar na situação atual. A decisão já tinha sido tomada, mas poderia muda-la, certo?

O gosto de sangue volta a invadir sua boca quando tosse. Segurando a espada, usa as costas da mão para abafar o barulho. Quando se sente melhor, volta à conversa.

— Não tem mais volta. – Traz novamente seu tom de deboche.

Isso quer dizer que terei que te tirar à força daí.

Astaroth ri. Continua a andar, os passos mais longos para ainda tentar achar o limite da barreira de Cazeaje.

— Grandi, será que o modo avião faz o celular voar de verdade?

O quê?

Astaroth arremessa o aparelho pela janela. A seriedade cobre seu rosto, concentrado quando começa a correr. Cazeaje não estava naquele andar, um pouco distante, esperava.

Para de correr. Sorri com a magia que percorre pelas veias de seu corpo. Volta a sentir o poder em mãos, finalmente vivo. Estava longe da barreira de Cazeaje, então podendo carregar toda energia para enfrenta-la.

Seu sorriso some. Com o poder sendo carregado, sentia a líder se mover no andar de cima, um pouco mais rápida que o comum. O que o preocupa não é isso, mas ela estar no mesmo lugar que uma certa pessoa.

***

Gerard sai da sala sem o peso no peito. Finalmente, depois de anos, tinha conseguido. Guardou numa bolsa de pano e não largou enquanto se afastava da sala. O corredor continuava sujo onde lutou contra Mary. Ao longe, via o corpo dela deitado no chão.

O ruivo não segue em frente, vira-se sabendo o que vinha atrás. De todos momentos, esse foi o único que ficou tenso ao ver Cazeaje. Ela parecia sem palavras, encarando a bolsa que segurava com tanto carinho. O belo rosto da líder se contorce em raiva, Gerard recuando no mesmo instante.

— Seu...! – Ela grita, os olhos escurecendo na parte branca.

Gerard sente o poder da mesma triplicar quando avança. Nunca foi um bom sinal deixar a líder assim, por isso do medo que sente.

Sua mão se move até a espada nas costas, porém para. Cazeaje não sente o que ele sentia, a mudança de pressão à sua volta. O grande poder que sente se aproximar não vinha da líder, vinha de baixo, um pouco para o lado. Quando volta a atenção para Cazeaje percebe um brilho sob ela, o chão que pisava rachando.

Entende o que é, jogando os braços na frente quando o chão explode debaixo da líder. O raio vermelho atravessa o corredor, destruindo o teto e as paredes ao lado. Gerard permanece de olhos fechados, mesmo quando sente o prédio estremecer com a potência do poder.

Afasta os braços, segurando firme a bolsa em mãos. Onde Cazeaje estava se tornou um buraco do chão ao teto. Via o céu pela cratera feita, e o andar de baixo pelo chão. Aproxima-se da beirada, vendo o dono de todo aquele poder.

Astaroth continua com a mão erguida até abaixa-la em cansaço. O rapaz se agacha no chão com a cabeça pra baixo, suas costas subindo e descendo rapidamente pela respiração. Gerard o conhecia o suficiente para saber que a magia que usou agora exigiu muito dele, principalmente pelo estado que se encontrava. Astaroth era muito forte, só não mostrava isso pelas destruições, como agora, que causava.

Afasta-se da beirada quando vê seu amigo erguer a mão com o polegar levantado. Ele estava bem, era o que queria dizer. Gerard sorri, podendo ir embora às pressas.

***

Astaroth levou mais alguns minutos até poder ficar de pé e seguir seu caminho. O que cansou de seu ataque foi o pouco tempo que teve para reunir toda energia e disparar em direção a Cazeaje. Normalmente não faria isso, acumularia mana de pouco em pouco até ter o que precisasse para atacar. Agora, quase esgotado, seguia para o lado de fora. Pelo seu cálculo, Cazeaje voou para fora do prédio ao ser acertada. O problema era: foi o bastante para feri-la?

Seguia pelo corredor em passos arrastados, sem vontade para continuar. Se estivesse em boas condições teria uma luta como gostaria, mas como estava... Tosse outra vez, decidindo não limpar o sangue que escorre de seus lábios. Logo o sangue faria parte de sua aparência, portanto, nada de preocupações.

Chega na entrada do Conselho, passando e descendo as escadas com cuidado. Quando chega no lado de fora não vê Cazeaje ou qualquer corpo que se assemelhasse à mesma. Onde estivesse, aquele não era o lugar.

Mais alguns passos e não sente o chão quando é acertado pelas costas. Uma descarga de energia o arremessa para frente, batendo de cara contra o chão. Usa a mão como apoio para se levantar, ajoelhado, olha para trás.

— Você poderia ser o guerreiro mais forte de todos. – Comentava Cazeaje, parada no topo da escada. Nenhuma ferida ou sinal de uma, linda e perfeita como anteriormente. Não é uma surpresa para Astaroth. – Mas você comete um erro muito grande, Bardinar. Achar-se o mais esperto da sala.

Astaroth fica de pé, quase caindo de lado. Uma coisa percebe: Cazeaje não censurava sua mana, ela estava ali junto com a presença da líder. Segura com firmeza a espada, encarando a mesma para entender sua estratégia.

Mas o ataque não vem da direção esperada. Ágil, Astaroth se vira com a espada na frente um escudo, defendendo o chute. A pessoa recua imediatamente quando ele tenta revidar.

Algo não estava certo, Astaroth sentia antes mesmo de olhar para seu adversário. Toda pessoa viva há uma certa quantidade de mana no corpo, até um humano sem magia possui um pouco. No entanto, seu adversário era vazio, como uma casca.

— O que é isso, Cazeaje? – Pergunta, apontando para Mary à frente.

A jovem não estava posicionada devidamente, suas pernas estavam tortas e seu jeito de ficar de pé para o lado, quase caindo. Seu rosto não tinha vida, o mesmo para seus olhos que agora tinham uma coloração vermelha. De tudo, o único sinal de vida era a determinação que tinha em segurar sua espada.

— O quê? Não estou fazendo nada. – Ela levanta as duas mãos, sem o cetro, dessa vez.

— Essa garota... – Continuava a apontar para ela. – Ela está morta! Por que ainda está de pé?!

— Talvez seja uma zumbi.

Usar o corpo humano, ou de qualquer espécie, é contra as regras, em todos os reinos. Vivo ou morto, tal ato era considerado errado por ferir os princípios éticos. Esse tipo de regra foi criada justamente para impedir que criaturas, como as chamas azuis, invadam o corpo e o use como se fosse dele.

O que Cazeaje fazia valia como igual. Ela usava Mary, o seu corpo, como uma marionete. Astaroth não era burro, ele sabia que existia um fio de mana ligando cada membro do corpo da jovem até a líder.

— Agora, se me dá licença, preciso resolver um problema pessoal. – Disse Cazeaje já entrando no prédio.

— Ei, não...!

Astaroth é interrompido pelo ataque de Mary. Ele se defender, esquivando-se para manter a atenção na líder. Não poderia deixa-la ir, seu trabalho ainda não tinha acabado.

Resolve seu problema com Mary rapidamente. Desvia do ataque e revida com a força em dobro, arremessando a espada da jovem para longe. Estende a mão e acerta o raio no peito da mesma. Ela logo ficaria de pé, por isso voltou-se para Cazeaje e preparou outro ataque.

A líder para alguns centímetros da porta, que se parte pelo corte que Astaroth dispara. Olha em nervosismo para a persistência do rapaz, que estava tão esgotado para alguém como ele.

— Enfrente-me, Cazeaje! – Gritava ele, apontando a espada para ela. – Acha mesmo que pode me matar com um defunto? Não faça piadas de mau gosto.

— O que você pretende com tudo isso, Bardinar? – Estende as mãos, mostrando o Conselho destruído. – Provocação? Porque saiba que isso não é nem uma cócega para mim. Logo estará consertado e você morto por desobediência. Simples.

— Não. – Abre seu sorriso com os dentes sujos de sangue. – Vamos fazer uma aposta? Quem vencer fica com o Conselho. Sei que seria um líder melhor que você.

Cazeaje levanta as sobrancelhas em surpresa, em seguida sorri pelo desafio. Finalmente tem a atenção da líder. Ela desce os degraus da escada até a metade, observando com o queixo erguido.

— E por que eu deveria aceitar? – Ela pergunta.

— Porque se me deixar vivo, contarei aos outros Conselhos sobre isso. – Aponta com a espada para Mary. – E como você não é muito amada por eles, acreditarão em mim facilmente. O que vai ser: Apostar uma luta comigo ou se os outros Conselhos te punirão?

A seriedade expressada por Cazeaje é o que Astaroth procurava. Ela estava presa em sua armadilha, sem muita opção para seguir, além daquelas que ele mesmo disse. A única que mais valeria a pena é escolhida quando a líder o encara.

Ela termina de descer a escada, por fim, no mesmo solo que Astaroth pisava, sem diferença de altura. De igual para igual.

— Vamos tornar as coisas mais interessantes. – Menciona Cazeaje. Ela levanta a mão aberta. – Cinco minutos, esse é o tempo limite que você tem para me derrotar. Durante esse tempo, use o que quiser para me matar.

— E se eu não conseguir...? – Olha tenso.

É a vez de Cazeaje virar o jogo para ela, como sempre faz. Aponta para Astaroth, depois para si com um sorriso macabro.

— Você será meu.

***

O dia inteiro ficava naquele canto, sentado e encolhido com suas pernas cobertas por curativos e terras. Nunca foi uma criança educada, por isso de sempre estar nesse cantinho. As mulheres que cuidavam dele brigavam a todo tempo com ele, às vezes, por nenhum motivo aparente. Ninguém gostava de sua presença, as crianças o evitavam.

O lugar onde morava era um tormento. Alguns anos depois descobriu que viveu em um orfanato.

— Quantas vezes terei que falar para não mexer com as outras crianças?! – Gritava a mulher que mais demonstrava ódio a ele. Conseguia a reconhecer pelos cabelos bagunçados, como sua personalidade. – Não chegue perto delas!

— Eu só queria brincar com alguém. – Murmura com o rosto para o lado.

Sente ela se afastar e voltar com algo em mão. É esticado para ele, que demora para saber o que é.

— Brinque com isso. Só você e mais ninguém. – Ela disse.

Olha para a faca estendida para ele. Fica ressentido se pegava ou não a lâmina meio enferrujada. Ela balança a mão, impaciente.

Aquela foi sua primeira arma. Alguns dias depois, usou em um garoto que o irritava. Descobriu que esse menino fazia parte de uma família importante. As mulheres do orfanato ficaram furiosas com ele.

Então ele fugiu quando descobriu o que elas pretendiam fazer com ele. Era uma criança, mas na visão dos outros, um monstro. Nunca o chamavam por seu real nome, nem mesmo ele mais lembrava depois de um tempo. Por ser visto como uma aberração, começaram a chama-lo por um demônio muito antigo que muitos temiam.

Bardinar Astaroth.

Gostava do nome, sempre que dizia era visto de forma superior. Não em respeito, mas em medo. Nunca foi capaz de demonstrar amor, o mesmo para aqueles à sua volta. Então se alguém tentasse machuca-lo, ele faria o mesmo de volta.

Nunca perdeu uma luta, inclusive a que teve com a dupla de loiros. Não tinha perdido, preferiu se render em vez de ser derrotado. Render-se não era sinônimo de falha para ele, mas uma longa pausa da luta. Então sempre que sentia que perderia, parava antes de tudo.

Mesmo que custasse algo maior.

Quando foi que percebeu essa sua mania? No mesmo dia que Gerard o visitou e falou sobre seu plano de derrubar Cazeaje. No começo, ficou pensativo se faria ou não, mas ao ver as intenções da líder sobre Lass, mudou de ideia.

O ninja era importante para ele. Foi Lass quem mostrou o amor para ele, o afeto que tinha com o mesmo criava uma relação de família. Como um parente, não permitiria que alguma coisa de ruim acontecesse com ele.

***

Odiava isso. Sabia que a luta contra Cazeaje seria difícil, mas não que ela se seguraria no combate. Era humilhante saber que o que passava não é nem a metade que esperava. Até entendia que sua condição estava ruim pelo sangue que tossia a cada cinco minutos. Seu tempo estava acabando e sua mana também.

Arrasta-se até a parede mais próxima e se senta em apoio dela. A sala que estava era de arquivos, nota quando enxerga alguns papeis caídos no chão. Cazeaje tinha o permitido usar a magia, porém o mesmo valia para ela. Agora, após ser atacado pela mesma, foi arremessada para dentro do Conselho novamente.

A escuridão da sala começava a fazer parte de sua alma podre. Joga a cabeça de lado, o sangue voltando a escorrer pela ponta de seus lábios. Não se importava mais, sua armadura já estava completamente suja; como ele.

Já se preparava para ficar de pé. Continua no chão ao lembrar de algo. Precisava tomar coragem, fazer isso de uma vez. Quando percebe, tinha tirado o papel dobrado do bolso. Fica encarando por um bom tempo, esperando alguma atitude vim do além. Tentava se lembrar de quando recebeu, mas tudo que sabia que tinha o nome de Lass assinado.

Abre o papel em um rápido movimento. Felizmente, conseguia enxergar as palavras do ninja, sua escrita sendo atual. Deve ter recebido recentemente e não lembrava.

Começa a ler com os olhos sérios, sem demonstrar nenhuma emoção. A cada palavra, desviava o olhar por sentir sua garganta fechar. Continua a ler, deixando que a dor no peito se ligasse com as demais. Merecia isso, a tristeza e o ódio de si mesmo, logo o arrependimento. Quando termina, fecha a mão em volta do papel para se distrair daquela sensação.

— Eu te odeio. – Murmura.

— Astaroth!

Os gritos vinham do lado de fora, distantes. Eram de Grandiel e Lothos. Eles estavam ali para busca-lo, porque é isso que amigos fazem. Não deveria se sentir pior, a saudade que teria já o atormentava.

Esfrega a mão nos olhos, tirando a umidade que o incomodava. Engole seco, finalmente reunindo forças para continuar. Levanta-se, em seguida, tira o revólver de trás da calça. Checa por uma última vez, vendo se ainda tinha as duas balas. Tudo estava em ordem, qualquer erro e seria fatal.

— Astaroth!

Antes de sair da sala, dá um beijo na arma e pede para que as Deusas o deem forças.

***

Grandiel para ao ver Cazeaje parada na entrada do Conselho. Lothos faz o mesmo ao seu lado. Não ousa mover mais um passo à frente, o olhar da líder era quieto demais sobre ele. Olha em volta e percebe o prédio do Conselho destruído em algumas partes. Pelo que via, o combate foi tanto do lado de fora quanto dentro.

— Onde está o Astaroth? – Lothos pergunta, preocupada.

— Gostaria também de saber. – Cazeaje responde. – Olha o que ele fez. – Aponta com a cabeça para os escombros.

Os dois ficam tensos quando a líder se afasta da escada, andando de um lado para o outro, como se procurasse algo. Ela estava brincando com Astaroth pela atitude que tomava, tão calma.

Cazeaje para de se mover ao ver o rosto de alívio de Lothos. Vira na mesma direção que ela, vendo Astaroth descendo as escadas. O rapaz não mostrava ter medo de vim em sua direção, estava sério com a cara fechada. Sem protestar, levanta a mão e dispara um raio de energia na direção do rapaz.

A barreira azul que se cria na frente de Astaroth interrompe seu golpe. Cazeaje fica surpresa, virando-se para Grandiel, o dono da proteção.

— O que pensa que está fazendo? – Ela pergunta.

— Vamos conversar, dona Cazeaje. – Pede Lothos pelo rapaz. – Astaroth sempre foi imprudente, reconsidere a sentença dele.

— Reconsiderar? – Olha indignada. Encarando a comandante, volta a esticar a mão para Astaroth, o poder que atacava aumentando. – Depois de tudo que ele fez?

— Faremos qualquer coisa, mas deixe-o livre. – Implorava.

Não havia volta, Lothos sabia. As esperanças já haviam desaparecido, porém surgem novamente quando a líder abaixa a mão, cessando o ataque. Grandiel, ao seu lado, deixa os ombros caírem em cansaço.

— Claro. – Diz Cazeaje, sorrindo. – Devolvam o garoto Kaien e deixarei Astaroth ir.

— Nem pensar! – Grita Astaroth atrás.

Lothos nem pensa na proposta, nega rapidamente. Nunca faria isso, mesmo sendo a vida de seu amigo no meio.

— Então morram. – A líder fala sem o sorriso de antes.

Suas duas mãos são esticadas, uma para Astaroth e outra para eles. Grandiel segue o mesmo movimento, erguendo duas barreiras antes de serem atingidos. O rapaz sente as pernas tremerem com toda energia gasta para defender do ataque de Cazeaje nos dois lados. Sente uma coisa quente descer pelo seu nariz, logo pingar pelo seu queixo.

Cazeaje poderia ficar o dia inteiro ali, se quisesse. No entanto, é obrigada a sair do lugar quando Lothos avança contra ela com seu florete. Seria atingida, contudo, recuou a tempo de desviar do corte.

Grandiel cai de joelhos no chão, limpando o sangue que escorria de seu nariz. Nunca teve problema para impedir um ataque com sua barreira, mas como se tratava de Cazeaje, era normal. Os ataques da líder tinham uma absurda quantidade de mana, ter aguentado por um minuto foi muito vindo dele.

Distraída, Cazeaje demora a sentir a aproximação de Astaroth. Ele tinha recuperado a espada, atacando com ela. A líder se esquiva, defendendo-se com pequenas barreiras que criava. Fica confusa pela fora bruta que o rapaz tinha naquele estado.

Lothos avança contra Astaroth ao ver a magia que Cazeaje carregava para usar. Joga o rapaz para o lado com um empurrão, caindo junto a tempo de se desviar do ataque. Caídos no chão, a líder aproveita para ataca-los juntos.

A barreira azul é criada novamente para protege-los. Lothos fica de pé, ajudando Astaroth a sair do raio do ataque. Ao se afastarem, vê Grandiel desabar outra vez. Ele não aguentaria muito tempo defender os ataques da líder.

— Tudo bem, Astaroth? – Perguntava para o rapaz. Ele persistia em ficar de pé.

Ele a afasta enquanto levantava, recusando a ajuda. Seu foco estava direcionado em Cazeaje, apenas nela.

— Pare com isso, Astaroth! – Gritava Grandiel. Olha para o loiro, que levanta as mãos e em seguida a barreira é criada na frente deles. Cazeaje voltava a atacar. – Pelo menos uma vez, pare de ser o idiota de sempre!

Cazeaje ergue a outra mão, disparando um rápido raio contra Grandiel. Ele é atingido no ombro, caindo no mesmo instante. A barreira desaparece, deixando Lothos e ele expostos.

Avançaria, mas a comandante é a primeira a agir. Ela ataca a líder, apenas para distraí-la enquanto Grandiel se recuperava.

Astaroth não queria envolve-los, olha triste para seus amigos, confuso pelo esforço inútil de cada para evitar seu destino.

— Você é meu amigo... – Olha surpreso para Grandiel. O loiro tentava ficar de pé, exausto para isso. – Eu não vou deixa-lo ir. Você... Astaroth, eu não quero que você vá.

Ele implorava, o medo de ficar sozinho estava visível nos seus olhos. Grandiel foi seu primeiro amigo, e sempre seria. Como um idiota que era, sorri. Isso apenas machuca mais seu amigo.

— Adeus, Grandi. – Sua voz falha sem que percebesse.

O revólver volta a pesa quando o pega. Seu olhar fica sério enquanto seguia ao seu destino. Lothos continuava de pé, mesmo Cazeaje tendo mais vantagem sobre ela. Estica sua mão e cria um selo sob a líder e a comandante.

— Desculpe, Lothos. – Fala antes de empurrar a loira com violência para longe do círculo.

As espadas mágicas sobem rapidamente, acertando a líder. Cazeaje fecha o rosto, segurando a dor, então as mãos e o selo desparecendo. Seus olhos se viram em raiva para ele, não aguentando mais aquela atitude.

Dessa vez, não há uma barreira para protege-lo, é atingido no peito pela magia da líder. Cai para trás, o revólver fugindo de sua mão e parando distante. Olha rapidamente para a arma, virando-se para ir até ela.

Cazeaje para com uma barreira sendo criada à sua frente. Olha para Grandiel, que persistia em impedi-la. Com um simples movimento de mão, a barreira se quebra como um vidro. Quando se volta para Astaroth, o mesmo já estava alcançando a arma.

Cazeaje se vira e segura Lothos pelo pescoço. A comandante achou que poderia acerta-la pelas costas, um erro cometido. Ela tentava se soltar, perdendo as forças quando Cazeaje começa a tirar sua mana. Iria mata-la se continuasse.

O barulho do revólver sendo disparado é ouvido primeiro, antes de sentir uma dor no ombro direito. Aperta o pescoço de Lothos e a solta bruscamente, virando-se para Astaroth, que mantinha a arma apontada para ela. Ele abre um sorri em desafio.

Agora ela compreendia o porquê de ele atacar o Conselho, ela, principalmente. O sangue que escorre de sua ferida representa mais que uma dor. Ninguém nunca tinha sido capaz de fazê-la sentir dor física, sempre usou sua magia para estar por cima. Nesse instante, pega desprevenida, a ferida aberta era real, não uma ilusão que fazia aos seus inimigos.

Ela avança em passos largos, acumulando a energia em cada mão. Mataria o rapaz em segundos, sem pensar duas vezes. Faria isso, se não fosse pela dor rápida que sente por todo seu corpo. A bala fazia isso, algo nela provocava isso na líder.

Furiosa, enfia a mão dentro do machucado, arrancando a bala e a jogando para o lado. Volta a atenção para Astaroth, que estava próximo demais com a espada erguida. Tudo que consegue nesse tempo é recuar um passo, em seguida, a dor atingir seu rosto.

Astaroth cai para o lado, cansado demais para continuar de pé. O corte era para decepar a líder, porém como recuou, atingiu o rosto da mesma. Continua fazendo parte do plano, causar a verdadeira dor em Cazeaje.

— Seu... – Ela murmura. Levanta o rosto, o ódio tomando conta de seu corpo.

Na bela face de Cazeaje se encontrava uma linha na horizontal, que ia de bochecha a bochecha, passando por seu nariz. Uma linha vermelha que escorria sangue, e que tinha espirrado um pouco sobre seus cílios longos. A beleza inquebrável tinha se despedaçado com esse golpe final.

Uma onda de energia sai dela, atingindo o trio. Lothos voa para mais longe, Grandiel não sai tanto do lugar, enquanto Astaroth é arremessado com força contra o chão. Ele tateia o piso áspero a procura do revólver, que encontra e puxa rapidamente. Fica de joelhos, vendo Cazeaje de aproximar com seus olhos escuros, que realçavam com o sangue sob eles.

— Pare! – Grita Grandiel.

Um selo mágico é feito embaixo da líder. Isso diminui seus passos, porém com muito esforço. O loiro continua a segurar, olhando para Astaroth. Seus olhares se encontram, trágicos pelos segundos que ocorrem em seguida.

Astaroth sorri para ele, com a mão livre, levantando o punho fechado. Espera que o loiro se aproximasse para tocar, fazer seu cumprimento antigo. Era impossível, se levantasse deixaria Cazeaje mata-lo.

Embora distantes, Grandiel ergue o punho fechado, sorrindo junto.

Astaroth levou o revólver para a própria cabeça e puxou o gatilho. Seu punho fechado cai, logo seu corpo para trás. O sangue que espirra não sai em formato de gotas, mas pétalas. Foi o que Grandiel viu para que a cena de seu amigo se matando não fosse tão pesada assim.

Cazeaje para de avançar, também surpresa pela atitude. Após o barulho do disparo, tudo que restou foi o silêncio.

Por quê? Começa a se perguntar Grandiel e Lothos. Nada se passava além de uma provocação para Cazeaje, mostrar para as outras pessoas que ela era tão humana, apesar de não parecer, para os outros. O tiro e o corte no rosto eram a prova que ela sangrava como todos.

Tudo isso por apenas uma provocação.

Era o que Astaroth queria que parecesse. Inclusive Gerard, olhando a cena no último andar do Conselho.

***

Lass não sabia o que o motivou tanto para chegar ali. Deixou Elesis com seu pai e seguiu a trilha que Astaroth deixou até àquele jardim. Era um pouco distante da cidade, um local com total tranquilidade e silêncio. O ninja para ao vê-lo sentado sob uma árvore que já não tinha mais flores. Ele dormia, quase babando.

Deu mais alguns passos para ficar poucos metros dele. Respirou fundo para que o papel em sua mão parasse de pesar tanto. Tinha escrito a carta que Elesis mencionou, com toda honestidade que tinha. Agora era a hora de entrega-la.

Mas não fez. Algo o prendeu naquele lugar, olhando Astaroth do passado dormir sob a árvore morta. Já ficava de tarde, a luz do sol tornando-se alaranjada como a armadura do rapaz. A delicadeza de seu rosto pelo sono era única, quase nunca vista por Lass. Ele descansava, finalmente.

Eu não sei o que dizer.

Escolher aquela árvore morta definia Astaroth. Pois ela representava Lass. Mesmo feia, quebrada e frágil, aquele era o ponto de conforto do rapaz. Nunca exigiu muito, o conforto que ela gerava era o bastante para ele. O mesmo valia para o dia que escolheu o ninja para treinar. Ele era frágil e medroso, mas algo dentro dele o fazia se sentir confortável.

Eu sempre te odeie pelos treinos e atitudes que tinha comigo. Sempre disse para valorizar as relações que eu tinha com as pessoas, mas você mesmo não valorizava a nossa.

O pequeno e frágil Lass do circo lembrava o pequeno e carrancudo Astaroth. Eram semelhantes. Então o rapaz via um grande potencial no ninja. Os caminhos que o guiava eram os mesmos que tomou, mas que valeram a pena.

Nunca entendi sua preocupação comigo. Você sempre preferiu me dar um soco em vez de conversar. Era como se nossas folas fossem transmitidas apenas pelos punhos. É por isso que te odeio. Sempre esperei por um dia que você me daria um abraço ou algo parecido.

Os castigos que Astaroth dava a ele eram por motivos pessoais. Como Lass era igual a ele, seguia seu mesmo caminho, não queria que ele tivesse um final parecido. Que era nas mãos de Cazeaje. O erro que cometeu não poderia ser feito por Lass.

Então todas vezes que eu falei que te odiava, eu queria um pouco de atenção, compreensão. Mas mesmo nunca tendo nada disso, Grandiel e você foram meus pais. Astaroth, você é como um pai para mim. Eu me importo com você.

Portanto, continue sendo idiota. Sei que nunca terei um abraço, então brigue, bata e me xingue o quanto quiser. Isso é o bastante. Você é como eu, não sabe dizer em palavras, apenas em atitudes. Toda a vez que disser que te odeio, é porque eu te amo.

Eu te odeio, Astaroth. Você me ensinou muitas coisas, principalmente a superar meus erros e seguir em frente. Você nunca foi meu erro.

Porque não conseguirei te superar e seguir em frente.

Lass pisca, o peso escorrendo por um dos seus olhos. Passa a mão. Eram lágrimas, uma tristeza estranha invadindo seu peito. Ficou emotivo de repente, aumentando ao olhar Astaroth dormir. Era saudade? Não, pensa com um sorriso bobo.

Aproxima-se em silêncio, deixando a carta sobre o colo do mesmo. No mesmo ritmo se afastou, observando até estar distante. Logo se vira e vai embora.

Com todo ódio, Lass Isolet.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Espero que esse cap tenha feito muitos ficarem em choque. Foi uma decisão difícil mas já foi! Agora é só esperar para saber o que pode vim por aí muahaha
* Vocês estão se perguntando: Por que o Astaroth se matou? Ele poderia até tentar fugir e tal, mas ele preferiu tomar essa decisão. Não irei explicar tudo, porque só quando a fic acabar algumas coisas farão sentido, e a morte do Asth é uma delas.
Se puderem, tentem reler esse cap, porque ficará mais fácil de compreender. Mas pra quem não vai, segue aqui o pensamento! Lembra que o Astaroth nunca tinha perdido uma luta e que se render não era igual perder? Então, o suicidio dele foi como uma rendição. Ele sabia que após tudo que fez para Cazeaje, iria morrer, mas ele não queria que isso acontecesse pelas mãos dela... E sim pelas próprias.
Mas há outros motivos para isso, que serão revelados no final da fic :3 Então continuem lendo até lá!
* Sobre a carta do Lass: Ela é revelada no final, pra quem não percebeu.
* O que Gerard fazia no Conselho? Por que ele não ajudou seu BFF na luta? Revelado só no final.
* Próximo cap é o final desse arco, já avisei. O próximo só será Elesis e Lass, porque sim! Então estejam preparados para o próximo cap :3



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