Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 124
O tempo que não importa mais


Notas iniciais do capítulo

Oláááá´hhhh!!! Tudo bão? Espero que sim! Então, cap de hoje está bem tisti, muitas coisas acontecem não só com o Jin. O final será uma preparação já para o final da fic, então se preparem para o próximo cap que terá muita treta!
Capa: Feita pelo Paarthurnax :3
Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/346733/chapter/124

Jin sente o chão sumir sob seus pés com o anúncio da mulher esguia à frente. Ela não tirava aquele sorriso, nunca a viu tirar, de qualquer forma. Era macabro e fazia sua respiração vim fraca sem perceber. O que ela tinha acabado de dizer era para ter sido um engano, mas quando olha em volta, mais uma vez, e percebe que tinha apenas ele e os guardas da líder, percebe o motivo do medo que tanto sentia.

— Preso? – A pergunta sai baixa demais. Engole seco, ajeitando a postura. – Preso pelo o quê? Não fiz nada!

— Como eu disse, invadir um reino vizinho e atacar os membros do mesmo não é correto. – Cazeaje fala com calma, a voz saindo como um ronronar. – Então, por favor, ajoelhe-se se não quiser ser forçado.

— Mas eu já disse que não fiz nada. – Força a voz, saindo arrastada em irritação.

Cazeaje fica quieta, como se pensasse em algo. Na verdade, ela apenas dava tempo para que o ruivo dissesse algo antes de ser atacado. A líder estala os dedos magros e aponta para o rapaz. Os guardas se movem em sincronia contra Jin, que entra em desespero com a aproximação de todos.

Sem escolha, fecha os punhos e os usa para se defender. Conseguiu durar mais alguns minutos até a dor no joelho e no resto do corpo o parar. Recebe um choque na perna que o faz se ajoelhar, em seguida é pego pelos braços e torcidos, empurrando sua face contra o chão.

— Não o machuquem! – Ouve Cazeaje ordena. O aperto diminui, mas a dor continua. – Ele está ferido, não quero que ninguém veja e me culpe por isso.

É erguido com um puxão pela a camisa. Fica tonto por alguns segundos, sua visão voltando ao notar Cazeaje parada na sua frente. Ela ficava mais alta com os saltos que usavam, uma forma de intimidar, o que funcionava.

— Meu pequeno cordeirinho. – Falava a líder. – Finalmente nas minhas mãos.

Apenas um olho do ruivo se arregala, enquanto o outro continuava inchado após o encontro com Gerard. Continuava sem saber o motivo de ele ter feito isso, porém lembra do comportamento estranho do mesmo. Nunca o conheceu, mas isso não o impedia de perceber o aviso que ele queria dar.

A mão esguia de Cazeaje encosta em seu rosto, os dedos segurando sua bochecha. Ela brinca como se fosse ele fosse um animal de estimação. Antes de se afastar, a mão cai sobre seus cabelos ruivos e bagunçados pelo o suor e terra, além das pequenas folhas que estavam presas entre os fios.

— Vamos, temos muito para conversar. – Disse Cazeaje com o sorriso maior. Como de um vencedor.

***

Elesis não sabia por que ela fazia aquilo consigo mesma. Olhava sua “eu” criança brincar com o pequeno Arthur no parque que sempre brincava. Tinha sentado em uma pedra alta que tinha ali, que servia como um banco. Esteve assim por um longo tempo, sem se mover ou dizer algo, apenas observar.

Lass chega e se senta ao seu lado na pedra. Ele também não fala, olha para a mesma direção que ela. Sem perguntar ou olhar, entendia o que se passava na mente da espadachim. Uma grande confusão. Ela não sabia se pensava em Gerard ou no Arthur, de todo jeito, seria pensamentos que a deixariam deprimida.

A espadachim olha para a própria mão, a mesma que usou para matar Arthur de seu tempo. Nunca quis aquilo, se pudesse, teria voltado naquele momento para ter evitado. Não era a morte de seu amigo de infância que tanto a incomodava, mas o pensamento de se comparar a Gerard. Como Arthur, Elscud era alguém importante para o ruivo, que o matou sem muita explicação. Aos poucos, caminhava pelo o mesmo caminho do mesmo, apesar de negar ou fingir não ver.

Sua mão é pega pela de Lass. O rapaz dá um beijo na parte de trás, deixando próximo do rosto. Seus dedos se entrelaçam, um aperto forte para mostrar que ela não estava sozinha em tudo aquilo. Ele não sentia, mas sabia e queria amenizar a dor da espadachim. Com um olhar, não foi preciso palavras para mostrar sua confiança na jovem, mesmo que ela fosse a mais errada.

No final das contas, Elesis poderia ser a vilã e não tinha percebido ainda. Gerard era a vítima de tudo que passou por Cazeaje. Era isso que tanto queria evitar, ver que tudo que fez foi errado. Aperta a mão de Lass, a pressão que sentia passando para o rapaz. Ele a olha sem uma expressão, como se não se importasse. Mas ao ser puxada para mais perto, sente o carinho e toda preocupação que o rapaz tinha por ela. Se estivesse errada, Lass não se importaria com isso, porque ele sabia muito bem como era ser visto dessa forma.

***

Não conseguia mais enxergar com os dois olhos, apenas aquele que não estava inchado e roxo. Também não importava tanto a visão em um local escuro como era aquela sala. A luz sobre ele era a única iluminação do local, fazendo o suor sobre sua pele brilhar. Queria se mover, sentir-se mais confortável, porém as mãos estavam presas para trás, bem amarradas no apoio da cadeira que sentava. Se ao menos tivesse alguma poção ou um medicamente, as dores diminuiriam.

O que tinha feito para parar ali? Não tinha certeza. Desconfiava que tudo foi parte do plano de Cazeaje para leva-lo até Gareth e tentar mata-lo, assim achando um motivo para prendê-lo. Possivelmente, ela já previa que ele e Ronan iriam ver aquela pasta falsa de Gareth. Tudo tão bem planejado que nem mesmo eles poderiam ter previsto.

Quando pretendia se mover, a porta do salão se abre. Enxerga com dificuldade a silhueta da pessoa entrando. Abaixa o rosto como um descanso, funcionando também para ignorar Cazeaje com seus saltos finos. Sabia que ela estava perto pelo o vazio que sente dentro do corpo, como se não houvesse mana. Não conseguia invocar as chamas ou qualquer coisa que exigisse magia.

— Não fique com medo, eu não mordo. – Comenta Cazeaje. Ela devia ver a tremedeira de nervosismo que estava tendo. – Vim apenas para conversar.

Então Jin decidi tomar uma postura reta para olha-la. Queria fingir a seriedade, porém o rosto ferido não permiti. Ela para na sua frente, mais alta que o comum enquanto sentado.

— Não vai conseguir tirar muita coisa de mim. – Diz Jin. – Não sei de nada.

— Mas eu nem fiz as perguntas ainda. – Ela disse brincalhona, sendo mais assustadora. – Vamos começar com o básico. Quem fez isso com você? – Aponta para o rosto do rapaz.

Ela queria saber dos machucados. Não entende por que ela se intriga tanto em saber desse detalhe que não fará diferença para ela. Diria qualquer coisa que viesse na mente, até lembrar da real pessoa que fez isso com isso. Com apenas um olho bom, encara Cazeaje.

Gerard disse para colocar a culpa nele. Por quê? Pretendia descobrir agora.

— Gerard. – Responde. – Me encontrei acidentalmente com ele na volta.

A testa de Cazeaje enruga com as sobrancelhas erguidas. Uma expressão nova e honesta vindo da líder.

— Algum motivo para ele ter feito isso?

— Eu não sei! Ele queria me convencer de algo e me atacou. – Mentia. Tinha uma pequena noção do motivo do rapaz ter feito isso com ele, portanto, seguia o roteiro. – Importa mesmo?

Com os braços cruzados, leva seu fino dedo contra seus lábios com leves batidas. Ela pensava, isso era bom, Jin nota. A líder via que algo estava de errado, que não estava nos seus planos.

— Isso não importa muito agora. – Diz Cazeaje jogando a mão de lado. Como Jin, ela fingia não se importar. – Próxima pergunta: O que sabe do Lass e as chamas? Qualquer coisa, por menor que seja, é importante.

Jin não consegue segurar sua risada. O que acontecia com ele para fazer isso numa situação como essa? Estava ficando louco ou o soco de Gerard ainda fazia efeito nele? De qualquer forma, via graça na pergunta da líder.

— Entendi. – Falava enquanto ria, parando aos poucos. Olha Cazeaje com um sorriso estranho por causa do rosto ferido. – Você fez tudo isso para ter informações sobre o Lass, ou as chamas, para ser exato. Eu já disse, não tenho nada para falar.

O sorriso de Jin some quando o de Cazeaje aparece. Ela inclina o corpo para ficar na mesma altura de seu rosto, próxima obrigar o ruivo se afastar, querendo arrastar a cadeira para trás. Coloca o rosto de lado com as unhas da mulher contra seu peito, arranhando sua pele com leveza. Quando acordou naquele salão, primeira coisa a perceber foi sua falta de camisa e sapatos, apenas sua calça como vestimenta. Agora entendia o porquê.

— Você é um prisioneiro e não tem a necessidade de contar o que eu te pergunto. São regras. – Ela falava com sutileza enquanto brincava com o nervosismo do rapaz. – Mas existem casos que os prisioneiros contam sem querer, sabe, acidentalmente. Entende o que digo?

Não era uma surpresa ouvir isso vindo de Cazeaje. Jin sente o ar se distanciar, o suor aumentar e sua visão embaçar. O medo que começa a sentir não é por si próprio, mas por Lass e Elesis. E se não aguentasse essa pressão acabaria contando a Cazeaje algo que ela queira. Ela sabia que ele tinha essa informação, mas ele não sabia qual era.

Range os dentes, trocando o medo por um fino fio de raiva. Não era a pessoa mais corajosa do mundo ou destemida, mas por ter seus amigos no meio, poderia fingir. Preferia estar morto do que trair.

A saliva que deixa acumular é cuspida contra o rosto de Cazeaje. Ela fecha os olhos enquanto sentia a baba, com uma mistura de sangue, descer por sua bochecha. Levanta, passando a mão no local.

— Não achei que você fosse tão persistente. – Comenta. Encara o rapaz, sem sorriso, em troca, uma ameaça nos seus olhos. – Veremos até quando isso continuará.

***

Astaroth não se importou em sair do colégio sem dá notícias, deixou seus alunos esperando por ele. Tinha tarefas mais importantes para fazer, como agora ao passar pelo o portão do colégio das garotas. Não estava ali por Lothos, muito menos para ficar olhando as alunas da comandante. Seu semblante sério mostrava isso.

Entra no prédio e não para, seguia direto para o local em mente. Não queria distrações, tudo precisava ser feito no tempo planejado, qualquer segundo perdido era um peso a mais na consciência.

Para de frente a porto e bate. Sabia que ela estava presente, sentia a mana da mesma do outro lado da porta. Ela se levanta e vai atende-lo, abrindo a porta com desconfio. Astaroth não fala até que ela apareça totalmente na entrada do quarto.

— Astaroth? – Mari questiona. Sua calma fazia a confusão desaparece na face da jovem. – O que faz aqui?

— Soube que você cria equipamentos e armas. – Apoia-se na parede ao lado. – Vim fazer um pedido.

— Pedido? Creio que eu não seja a pessoa certa para isso. – Ela admiti.

— Pode até ser, mas a arma que quero é personalizada. Não quero que as pessoas saibam sobre ela, então quero que você faça. – Abre um breve sorriso para tentar convencer. – Por favor.

Mari solta a porta, pensando sobre o que diria. Não era comum o professor aparecer de repente com um pedido desses, especialmente seu jeito de agir, que parecia atrasado para algo.

— Que tipo de arma, seja específico. – Diz Mari.

— Um revólver. – Continua antes que ela questione. – Com armazenamento de duas balas.

Encosta na porta com os braços cruzados. Estranha o pedido da arma tão específica como ele havia ordenado. Pela expressão do rapaz, era um pedido sério.

— Por que apenas duas? Não há ponto positivo nisso. – Ela fala.

— Caso eu erre, terei uma de reserva. – Como se fosse uma brincadeira, falou. Porém, continuava com o rosto neutro, sem possuir uma piada por trás de tudo. – E também, isso vai servir para colocar balas maiores.

— Preciso dizer que será uma arma inútil, mesmo sendo eu quem fará.

— Tô sabendo. – Fala entediado. – Então, fará ou não? Pago o quanto quiser.

— Dinheiro não é necessário. Posso fazer, se é isso que quer. – Suspira, decepcionada pela a simplicidade da arma. – Algum outro pedido? Material da arma ou cor?

— Não importa, apenas faça as especificações que pedi. Quando estará pronto?

— Daqui a três semanas. Se quiser, posso fazer a munição também.

Já se preparando para partir, Astaroth joga as mãos nos bolsos. Ele nega com a cabeça.

— Não é preciso, apenas faça a arma. – Indo embora, acena de costas para Mari. – Volto quando estiver pronto.

A jovem não sai da porta até ver Astaroth sumir ao descer as escadas. Continuava surpresa com a visita e o pedido do mesmo. Uma arma tão simples não seria o suficiente para matar alguém, principalmente ferir pela a pequena quantidade de munição. Porém, preferiu não questionar sobre isso, nunca ficou curiosa sobre as vidas das pessoas.

Entrou em seu quarto e se preparou para fazer o pedido de Astaroth.

***

Pegou mais uma sacola de compras e acompanhou seu pai. Não parava de olhar para cada barraca e se lembrar dos dias que passava por ali para comprar legumes. Era nostálgico o cheiro das frutas e verduras frescas naquela hora da manhã.

— Agradeço pela ajuda. – Diz Elscud à frente. – Deve ser estranho ouvir de um estranho um pedido como esse.

Quando acordou naquela manhã, Elscud tinha vindo até ela pedir para fazer compras. Ele tinha feito o pedido sem jeito, porque não levava jeito para escolher os melhores alimentos, então achou que a espadachim, uma garota, pudesse entender. Felizmente, Elesis mais que sabia sobre cozinha.

— Eu não o considero como um estranho. – Ela fala. Elscud a olha sem entender, deixando a loira sem uma resposta imediata. – J-Já me acostumei com sua presença, é por isso. Aliás, tenho que retribuir o favor que você me fez naquele dia.

Suas mãos continuavam com as faixas, que foram trocadas por umas limpas. Talvez pelo o tempo em que estava ou não, sua regeneração estava lenta demais, a ferida do mesmo jeito como no primeiro dia. Contudo, não era isso que tanto preenchia a mente de Elesis.

— Sobre aquele seu amigo. – Menciona ao lado do ruivo. – O Gerard. Quando ele voltará mesmo?

— Vejo que se interessou por ele. – Elscud fala contente. – Mas como eu havia dito, ele deve demorar. Gerard é um cara imprevisível, pode chegar hoje ou um mês depois.

— Se importaria se eu fizesse uma pergunta sobre ele?

— Não, pode perguntar.

Param em uma barca que vendia maçãs. Elscud pega algumas para analisar, ou tentar pela a pouco habilidade para tal coisa.

— Você considera Gerard como um irmão, certo? – O ruivo confirma. – E se um dia ele se voltasse contra você? Sabe, tentar mata-lo.

Elscud não se espanta com a pergunta, como esperava, ele continua com a atenção nas maçãs vermelhas.

— Sinceramente? Eu não ficaria surpreso. – Dizia sem emoção, o olhar neutro para as maçãs. – Gerard é imprevisível, sempre está escondendo coisas demais.

Elesis segura a própria mão para evitar se aproximar de Elscud. A forma como ele fala é dolorosa para a espadachim. O rapaz falava como se já tivesse traído por Gerard, que a espada já tivesse sentenciado sua morte. Ele não fica surpreso porque ele já espera isso. Mas por quê? Lembra que mesmo nessa época, Gerard e Elscud eram grandes amigos e nada parecia abalar sua relação com ele.

Então por que tanta dor nos seus olhos?

— Mas por que diz isso? – Elesis pergunta, intrigada. – Se ele é como um irmão para você, onde está sua confiança nele?

— Exatamente. – Olha a espadachim. – O fato de eu ter confiança demais nele que me assusta. Conheço Gerard há muito tempo e sei exatamente como ele é, mas não sei as razões de suas ações. Ele parece sempre esconder algo de mim e tudo que posso fazer é fingir não perceber.

— E o que você acha que ele esconde? – “O amor pela sua ex mulher”, Elesis quis dizer. Pelo o que sabe, seu pai nunca descobriu o amor de Gerard por ela.

Elscud volta para as maçãs. Pega uma e joga para o alto, sentindo o impacto da fruta contra a palma. Sentiu que aquela era boa pela textura, separando-a.

— No fundo, sinto que sei mas finjo não acreditar. É estranho, é como se a nossa relação fosse maior que qualquer coisa. – Ele responde com um sorriso simples. A preocupação em responder Elesis some. – Então se um dia ele se voltasse contra mim, eu não faria muita coisa. E provavelmente, Gerard também não.

Elesis assente, finalmente ajudando seu pai com as maçãs. Pega as verdes que ele pede, separando dentro da sacola. Enquanto arrumava, ele paga ao rapaz da barraca.

Volta ao foco da conversa, notando algo de diferente nas últimas palavras de seu pai.

— Como assim “Gerard também não”? – Ela questiona. – Disse que ele é imprevisível, que poderia mata-lo por isso.

— Ele é imprevisível. – Confirma o que tinha dito. – Mas não seus motivos. Se ele vai fazer algo é porque tem propósito maior para isso. O problema é que eu não sei o que o leva a fazer isso.

Uma confiança cega que seu pai tinha com Gerard. Com a rápida conversa que teve, percebeu que a relação dele com Gerard era bem diferente de como via quando criança. Eles tinham problemas como qualquer amigo, porém escondiam dela por ser nova demais. Para ambos, Elesis era o que mantinham unidos por ser tão importante para cada.

E como Elscud tinha falado, Gerard era tão imprevisível quanto a única maçã vermelha dentre as verdes na sacola.

***

Arme esperava por Ronan no mesmo local de sempre. Terminava suas aulas e ficava sob a árvore do pátio, olhando as anotações que tinha feito no caderno. Queria melhorar suas magias, aprender novas e aprimora-las em seguida. Era considerada a melhor maga do colégio, mas não era o bastante.

Não para enfrentar Cazeaje.

Levanta lentamente quando avista Ronan chegar. Não tinha percebido a velocidade do rapaz até aparecer de repente, pegando-a pelo braço e continuando o caminho. Arme fica confusa, tentando acompanhar os passos largos do rapaz.

— O que foi? Achei que Jin estaria com você? – Ela pergunta.

— Jin foi preso pelo Conselho. – Diz com seriedade.

— O quê? – Fala surpresa. – Como assim?

— Grandiel me contou hoje de manhã. Provavelmente, Lothos também já saiba. – Vendo que apressava desnecessariamente, solta o braço da maga. Só queria saber que não era o único a se sentir daquele jeito. – Pelo o que eu soube, foi ontem de noite.

— E por que ele foi preso? Jin não fez nada!

— Pelo o motivo que falaram, foi porque ele atacou um reino vizinho. – Nega o que diz. Ainda não acreditava nisso. – E eu sei exatamente quem ordenou a prisão dele.

Não falam durante o resto do caminho. Arme continuava a sentir o choque da notícia, sem saber como reagir exatamente. Ronan não disse quem era o responsável por tudo, mas a maga já sabia como ele. Tudo que consegue sentir é indignação, e a crueldade de Cazeaje à distância.

Chegam no quarto da maga. Lire não estava presente, treinava seu arco nessa hora da tarde. A maga guardou seu caderno com desanimo, triste por não mostrar ao rapaz as novas magias que tinha aprendido. Pouco importava, sua preocupação era grande demais pelo lutador. Se ela como uma simples amiga para Jin já se sentia assim, não queria imaginar a reação de Elesis ao saber.

Arregala os olhos.

— E a Elesis e o Lass? Alguma notícia? – Espera notícias positivas, ao menos uma.

— Nenhuma. Jin foi procurar por eles ontem, mas não recebi notícia dele depois daquela ligação. – Passava a mão na nuca. O estresse aumentava cada vez mais. – Ele não deve achado eles, senão teria ligado.

— Mas por quê? – Persisti na pergunta. – O que ela ganha prendendo o Jin? Ele não tem as chamas nem nada, então por quê?

Perguntava-se a mesma coisa. Por que Jin foi seu alvo dessa vez? Ele sabia pouca coisa sobre as chamas, apenas seria perda de tempo para ela. Isso se a líder pensasse nas chamas, talvez o lutador fosse útil por outro motivo.

Ronan não se sente bem em pensar isso. Jin não estaria apenas preso, Cazeaje faria questão de usar o ruivo da forma que queria. Ameaças ou torturas, de qualquer jeito, seria doloroso para ele aguentar.

— Ela quer atingir o Lass ou a Elesis. – Menciona. – Jin é importante para eles.

— Mas isso apenas os deixaria irritados.

— Isso mesmo. – Percebe ao falar. – Irrita-los, é isso que ela quer. Deixando o Lass furioso faria as chamas se libertarem, então ele morreria e Cazeaje iria atrás do verdadeiro dono das chamas para tê-las. É arriscado, mas ela aposta nisso.

— Você mesmo disse que Cazeaje não se importa com isso. – Lembra Arme. – Provavelmente ela faça isso com esse pensamento.

Sua tia era louca, quis dizer de vez. Se ela queria as chamas, faria qualquer coisa para isso, mesmo que envolvesse pessoas feridas. Ela era fria, pouco importava a dor dos inocentes, ou seres fracos como ela via.

Passa a mão no cabelo. Sentia falta dos longos fios que se enrolavam em seus dedos ao passarem. Era uma forma de se distrair, mexer no cabelo enquanto pensava em uma solução. Agora tudo que passava em sua mente era Jin preso e sofrendo por isso. Ele não fez nada para merecer, o ruivo é uma pessoa gentil e corajosa. Por que logo ele foi escolhido?

Sua mão para ao jogar a franja para trás. Ele não admitia deixar Jin sofrer, era sua responsabilidade por ter o envolvido tudo nisso. Solta o cabelo, o penteado ficando bagunçado ao virar o rosto para Arme.

— Precisamos tirar ele de lá. – Diz Ronan. – Cazeaje pode não o matar, mas vai fazer que ele deseje.

— E como vamos tira-lo lá? – Disse Arme com a atenção nos olhos sérios do rapaz e outra no cabelo arrepiado, que era incomum de ver. – No momento em que pisarmos lá, Cazeaje saberá nosso plano.

— Temos que dar um jeito. – O tempo passava mais rápido quando pensava em Jin. – Seria bom um pouco de ajuda.

— E quem você tem em mente? – Não fazia ideia, muito menos ao ver o sorriso fino no rosto de Ronan.

***

Sua calça era preta, nota. Somente nesse instante com o rosto abaixado percebe a cor de sua calça, já que o sangue que pingava de seu nariz caía sobre o tecido e sumia ao ser absorvido. Solta uma risada seca e breve. Tanta coisa para se preocupar e a cor da sua roupa era o que mais chamava sua atenção. Ao menos, quando lavasse não teria problema para tirar as manchas, pois nem mesmo apareciam.

Jin move a cabeça, o pescoço estalando. Esteve naquela posição relaxada por muito tempo. Olha em volta e o salão continuava com pouca visibilidade para seu único olho bom. Se ganhasse um analgésico seria o bastante para que as dores do seu rosto sumissem. Porém, após horas, ou minutos, não sabia ao certo, as dores não o incomodam tanto. Ficava feliz por tê-las para mostrar que estava vivo, e não sendo consumido pela sanidade que Cazeaje tinha tirado dele.

Após se recuperar da falta de ar que estava tendo, olha para si. Seu peito tinha cortes finos que ardiam quando o suor caía por cima. Não lembrava exatamente como foram feitos, apenas da dor que sentiu. Sua cabeça doía com a enxaqueca, as marteladas que fazia fechar o rosto e se encolher por segundos.

— Então, vamos voltar à conversa?

O conjunto de dores fez esquecer dos sons à sua volta. A porta tinha sido aberta e Cazeaje entrado. Não tinha como não notar a líder com toda beleza que tinha diante ele, tão destruído. Ela sempre preferia usar um vestido branco, que nunca era sujo não importasse o quê.

O barulho de seus saltos para. Cazeaje apoia as mãos na cintura, observando o estado do ruivo dos pés à cabeça. Ela não consegue segurar o sorriso, como um artista analisando sua obra.

— Responderá às minhas perguntas? – Diz com uma doce voz.

— Não tenho nada para te dizer. – Persisti. Realmente, não tinha, e mesmo que tivesse, não seria capaz de falar. – Agora me solte.

— Não ache que as coisas são tão fáceis assim. – Começa a rodear a cadeira onde estava sentado. – Você me fala o que quero ouvir e penso na possibilidade de te soltar. O que acha?

— Por que você não vai pessoalmente ao Lass e pergunta a ele?

— Porque o Lass é uma pessoa difícil de lidar. Ele se irrita facilmente, sabia?

Jin solta um baixo suspiro. Não gostava do jeito que Cazeaje levava a conversa. Ela agia como uma pessoa calma e inocente, porém era tudo parte do seu jogo para manipula-lo.

— Então me responda: Qual é a coisa mais preciosa para ele? Quero saber de cada detalhe sobre meu Isolet. – Cazeaje pergunta.

Jin não responde, encarava a escuridão que tinha no canto do salão. Qualquer coisa era mais interessante que a atenção na líder.

— Poxa, Kaien. Esperava mais de você.

Ela para de se mover, Jin sente. O nervosismo surgi ao sentir um frio na nuca, logo sabendo que era a mão de Cazeaje. Antes que conseguisse falar algo, aquela descarga elétrica faz seus sentidos falharem. Grita pela a dor sentida no fundo do seu corpo, mas não fisicamente. Não era choque, a sensação era parecida, mexendo com sua mente.

Abaixa o rosto com a respiração ofegante. Cazeaje se afasta, voltando a andar. Jin pisca o olho que se enchia de lágrimas pela dor. Não sabia o que tinha sido isso, foi uma sensação estranha de ser arrancado do próprio corpo. Sua mente girava, não conseguia raciocinar.

— Vou perguntar novamente. – Ela cantarola. Agora para na frente. – Qual é a coisa mais preciosa do Isolet?

Ouve apenas a respiração de Jin. Ele demorava para se recuperar, como todas pessoas que passaram por isso. Cazeaje olha impaciente. Leva a mão até o rosto do ruivo, sem tempo para esperar por uma resposta. Jin sente sua aproximação e joga a face para trás, desesperado para não ser encostado.

— Não faça isso! – Ele implora. Seus pés arrastavam no chão para jogar a cadeira para trás, porém não conseguia.

— Conte. – Ela ordena sem o tom gentil de antes. Jin fita sua palma, engolindo seco. Com um estalo na língua, ela volta a se aproximar.

— O que você acha que é?! – Jin berra a resposta como uma pergunta. Os dedos param centímetros de seu rosto, que era jogado para trás em medo. – E você sabe muito bem o que é!

— Então é a Elesis mesmo? – Sorri com maldade.

— Tem muitas coisas que o Lass não dar valor, mas Elesis é uma das poucas que ele se importa. Toque nela e verá do que ele é capaz. – Jogo o rosto de lado.

— Hum. – Satisfeita, afasta a mão. O ruivo fica mais relaxado, porém tenso. – Agora estamos conversando.

***

— Você está bebendo muito ultimamente. – Comenta Grandiel.

Astaroth desvia a atenção da vista do lado de fora para ver o loiro entrar em seu apartamento. Enquanto vinha, desviava dos sacos de lixo que tinha no caminho. Como de costume, é olhado em reprovação por isso. Não se importava, nunca se importou de qualquer forma.

Grandiel para ao lado da janela que Astaroth sentava, com uma perna para o lado de fora e outra dentro. O professor estava de pijama, a calça moletom tinha as pernas dobradas até a canela, não se sabe o motivo.

— Não vai ir para aula? – Pergunta Grandiel. – Sei que é difícil saber que um dos seus alunos está preso com Cazeaje, mas isso já foi semanas. Não podemos fazer muita coisa em relação a isso.

Era verdade o que tinha dito. Fazia duas semanas e meia que Jin tinha sido preso, e três pelo o sumiço de Lass e Elesis. Nenhuma notícia da dupla desde então, é como se não existissem mais. Enquanto isso, Jin era torturado pela líder do Conselho por algum motivo que ainda não sabiam ao certo. Mas como sabiam sobre a tortura? Astaroth já foi preso, ele sabia como era essa prisão.

— Esse é o problema, Grandi. – Comenta o professor levando a lata de cerveja à boca. Tomou pequenos goles antes de continuar. – Não podemos fazer nada porque temos medo de sermos os próximos.

— Não é isso. Só não quero piorar a situação. Sem mim, o que vai ser do colégio? Dos alunos?

Sorrindo de forma estranha, Astaroth nega com a lata próxima aos lábios.

— Temos medo da Cazeaje, só não queremos admitir.

— É isso que acha? – Espera por uma resposta, que não vem. – Então me diga, Astaroth, do que você tem medo? Porque quando te conheci, você era o cara mais sem noção desse mundo. Nada era assustador para você.

— Na verdade, sempre foi o oposto. Eu era covarde, tinha medo de ficar sozinho e de acabar morrendo assim. – Até mesmo Grandiel se assusta com a calma nas palavras do professor, sem o deboche que sempre esteve acostumado. – Eu só nunca contei a vocês. Todos aqueles momentos em que fingi ser forte na frente da Cazeaje eram dolorosos. Ela me dá medo não pela crueldade, mas por me fazer se sentir sozinho como antigamente.

Pela primeira vez, ouvia as confissões do rapaz. Ele nunca contou algo sobre ele, sempre foi fechado com todos à sua volta. Grandiel se esquecia que Astaroth era como Lass, agia pelos traumas do passado e a confiança que tinha nas pessoas demorava a ser verdadeiras.

— Por que está assim? – Pergunta Grandiel. – Toda vez que te vejo ou está fumando ou bebendo. Não se importa mais com a vida?

— Já sentiu que sua vida é apenas um pilar para outra? – Disse de repente. Mexia a lata, brincando com a bebida que ainda restava. – Dizem que você é o protagonista da sua própria vida. – Ri com secura. – Mas eu me sinto como um coadjuvante ou antagonista.

As palavras pesadas de Astaroth obrigam Grandiel a olha-lo. O professor não tirava os olhos da lata, uma forma de distração. Havia peso na sua expressão. O sorriso não era largo como sempre, era pequeno e sincero.

— Sou um lixo mesmo. – Ele admiti, por fim.

— Não fale isso, Astaroth. Olhe para todos esses alunos. – Falava Grandiel com a gentileza que nunca conseguiu usar com o professor. – Eles se espelham em você.

— São idiotas. Logo perceberão que são apenas inúteis como qualquer outro.

— Não falo desses. Estou falando dos seus favoritos. Eles podem te odiar, demonstrar isso, mas no fundo se importam você, Astaroth. – O professor continua a negar. – Principalmente o Lass. Você é como um pai para ele.

— Regis é o pai dele.

— Mas é você quem ele considera. Mesmo sendo cruel, Lass te ama, só não consegue mostrar isso. – Sorri. – Vocês dois são iguais, não tem muito progresso mesmo.

Consegue tirar um fio de sorriso do professor. Ele termina a bebida e antes de amassar a lata, olha com um sentimento de culpa. Amaça a lata e a joga num canto que também tenha sacos de lixo.

— Eu nunca tive uma família, Grandi. – Falava Astaroth, agora olhando as próprias mãos. – Eu já te contei, não é?

— Sim, você já contou.

— Mas eu sinto como é ter uma, para ser honesto. Você e a Lothos me mostraram isso. – A pausa que toma é para si mesmo. – Obrigado.

Grandiel fica surpreso pela palavra que nunca ousou sair da boca de Astaroth. O rapaz nunca chegou a conversar sobre isso, sobre ele mesmo. Tudo que saía de sua boca eram piadas e provocações.

— Irei amanhã ver a Lothos. – Dizia Astaroth. – Tenho algumas coisas pra falar com ela.

— Lothos anda muito ocupada, não sei se ela vai ter tempo pra você.

— Eu sou mais importante. – Finalmente um pouco de animação do rapaz. Grandiel revira os olhos. – Mas falando sério agora. Eu vou tirar férias.

Sente a confusão no olhar de Grandiel para ele.

— Como?

— Estou cansado de tudo isso. – Fala enquanto se espreguiçava. – Quero descansar, ok? Sem lutas, confusões ou garotos falando besteiras para mim. Apenas... – Sem perceber, sorria para a vista do lado de fora. – Um pouco de paz.

Grandiel desencostas da parede, olhando Astaroth melhor. Queria entender o porquê do aperto no peito ao ouvir o pedido do amigo. Era estranho, não compreendia muito bem.

Era como uma despedida.

— Astaroth, o que você pretende fazer? – Pergunta com medo.

— O que foi? – Olha o diretor. Volta a sorrir daquele jeito de sempre. – Um velho amigo não pode falar sobre essas coisas?

— Pode, mas você não.

— Assim você me machuca. – Começa a ri. – Poxa, Grandi.

Astaroth sai da janela, indo se preparar para aula que logo teria que dar. Grandiel não consegue ficar no mesmo clima que ele, acompanhando com o olhar o rapaz se mover.

— Astaroth, não faça nenhuma besteira. – Disse, saindo como uma imploração. – Você... Cazeaje pode...

Para de falar com a atenção do rapaz sobre ele. Não era sobre isso que gostaria de falar, existia um fator mais importante que qualquer coisa que pretendia dizer.

— Você é meu amigo. – As palavras saem. – Então, se puder, não seja um idiota. Eu me importo com você, e a Lothos também.

Espera que o verdadeiro Astaroth volte nesse instante para se importar da mesma forma que ele. No entanto, o professor não desmanchou o sorriso, apenas soltou o saco de lixo que tinha pego. Anda na sua direção, parando e erguendo o punho fechado.

— Se você acha que é uma despedida, então agirei como uma. – Ele falava. – Adeus, Grandi.

O loiro fita seu punho, então ele. Esperava que fosse retribuído, como nos velhos tempos. Isso que selava sua amizade com o diretor, mostrava o verdadeiro laço que tinham em comum.

— Não se atrase para a aula. – Grandiel fala, partindo sem olhar Astaroth.

Ouve a porta se fechar, mas persisti no punho erguido, que vacila lentamente. Sabia que o diretor não tinha gostado dessa atitude, porém era preciso. Não queria ter feito isso consigo mesmo. Era cruel e egoísta. Idiota. Imprudente. Burro. Tudo que Grandiel e Lothos falavam para ele era verdade.

Vai até a geladeira, tudo que tinha era as latas de cerveja. Pega uma e volta para a janela. Seu sorriso some quando abre a lata e a espuma escura sobre, sujando seus dedos. O olhar pesava naquilo, seus lábios contorciam-se em desgosto.

Olha para seu apartamento, cada detalhe dele como se fosse a última vez. Fecha os olhos e bebe um grande gole da bebida. Os dedos se fecham com força em volta da lata, gerando um pequeno amassado. Afasta a bebida enquanto tossia, colocando a mão na frente da boca.

A expressão do rapaz é definida em só uma palavra: Desespero. Afasta a mão coberta pelo o sague, que também escorria da ponta de seus lábios.

***

O tempo tinha se tornado irrelevante para Jin. O que era segundo quando não o via passar? Minuto? Hora? Dias ou meses? O tempo não existia, apenas o presente. O futuro era visto em um formato de esperança, o que não fazia sentido para o mesmo. Tudo que via e sentia era a escuridão. Não tinha medo, esse sentimento começou a fazer parte do seu corpo como as dores sentidas.

— Vamos, continue dizendo. – As mãos geladas passam por suas costas, sobre seus ombros e param sobre seu peito em um abraço. O corpo de Cazeaje se encosta, a cabeça apoiada sobre seus cabelos bagunçados. – Você estava indo muito bem.

Jin move o rosto para o lado. Não queria olha-la. Durante todo esse tempo, esteve respondendo às perguntas da líder, porém as mais importantes eram deixadas por ele. Não trairia seus amigos, embora a dor que o atingisse fosse insuportável.

— Vamos, Kaien. – Ela falava seu nome com diversão. Suas mãos voltam a se mexerem para o rosto do ruivo, puxando suas bochechas. – Não me deixei sozinha.

Ele não aguentava mais, estava exausto de tudo. Não dormia e todas suas necessidades eram em horários marcados. Seu rosto, ao menos, não estava tão inchado quanto antes, conseguia enxergar normalmente. Porém, a maior dor vem da sua mente. Tudo estava confuso enquanto estivesse na mesma sala com Cazeaje.

— Por favor. – Murmura com a voz rouca. – Me deixe ir.

— Oh? E por quê?

O ruivo não responde. Abaixa o rosto com baixos soluços.

— Não é isso que eu quero ouvir, Kaien. – Sua mão passava pelos cabelos suados do lutador. – É só falar.

Os soluços aumentam quando as lágrimas começam a descer. Jin escondia o rosto sob o cabelo colado ao seu rosto. Não aguentava mais, tudo desabava e seu emocional estava junto.

Cazeaje já se preparava para acorda-lo com “sutileza”, até ouvir a porta do salão abrir. Ela se afasta de Jin, ficando na frente do rapaz para que Mary não visse o estado do mesmo.

— O que foi? – A líder questiona.

— É uma ligação importante.

Cazeaje bufa, olhando Jin choraminga em silêncio. Depois poderia lidar com aquilo, pensa enquanto se afastava.

O ruivo engole os soluços quando sozinho. Não sabia até quando aguentaria tudo isso, sem Elesis ou Lass para ajuda-lo. Porém, mesmo nessa situação, continuava preocupado com seus amigos que não davam notícias há...

É, ele não se importava mais com o tempo.

***

Após ter explicado tudo, Ronan esperou pelas respostas dos rapazes. Achou que seria considerado como um louco, porém é Sieghart o primeiro a se empolgar com a ideia de invadir o Conselho e tirar Jin de lá.

Os demais não parecem serem contras.

— Tem certeza mesmo disso, Ronan? – Pergunta Dio. – As consequências cairão em cima de você.

— Eu não me importo. Jin está nessa por minha causa, esse é o mínimo que posso fazer. – Suspira, a falta de uma certa pessoa o incomodando. – Se o Lass estivesse aqui...

— É, mas ele não está. – Lupus interrompe. – Então nós vamos fazer. Querem invadir aquele lugar? Certo, estou dentro. – Disse com um sorriso largo.

— É, estou devendo uma àquele idiota. – Comenta Azin. Poderia não demonstrar, mas estava preocupado com o lutador. – Isso deve ser o bastante.

O mesmo vale para Zero, que não se importava em ajudar. Ronan até pediria ajudar a Ryan, porém o elfo estava ocupado com os estudos e não gostaria de envolve-lo nisso.

Já com um plano em mente, Ronan explicaria. No entanto, é impedido pela a pessoa entrando no salão em que estavam. Todos olham ao mesmo tempo.

— Não ousem fazerem isso. – Diz Astaroth com autoridade. – Não sejam tão idiotas assim, por favor.

— E quem é você para falar isso? – Questiona Sieghart de braços cruzados. – Não vamos agir que nem covardes como você, Astaroth. Se você não faz, nós fazemos.

O professor não se afeta com as acusações, que eram verdades se não estivesse usando a armadura que chama a atenção de todos. Usava apenas a parte de cima, cobrindo seu peito e braços, enquanto as pernas ficam desprotegidas com sua calça preta e botas de cano alto. Em uma das mãos, a longa espada guardada na bainha.

— Isso faz parte da aula? – Dio aponta para a armadura.

— Ah, isso? – Aponta para si com animação. – Não, isso é para esconder a minha covardia. Enquanto vocês, crianças, ficam aqui, eu vou no Conselho e tiro pessoalmente o Jin de lá.

É um susto a notícia que sai com tanta tranquilidade. Esperam pelo momento que ele diz que é uma brincadeira e todos olham com raiva.

Esse momento não chega.

— Está falando sério? – Ronan olha incrédulo. – Você não pode! Logo você, Astaroth.

— Quem disse? Você? Acho que não. Eu vou lá e não será você, principezinho, que me impedirá. – Pisca um olho em brincadeira. – Entendido?

— Sabe que será morto, né? – Era difícil acreditar na insanidade do professor. – Cazeaje te matará por traição?

— Não me importo! – Joga os braços para o lado. – Mas não vim aqui para falar disso. Quero falar uma coisinha para vocês. É importante.

Não debatem. Sentiam uma sensação estranha com a atitude do professor.

— Vocês são fodas. – Não conseguem mais ficarem sérios com esse começo, mas deixam Astaroth continuar. – Não digo isso por serem SSs, mas por serem diferentes de todos. A força de vocês não é baseada por seus punhos, mas pela a atitude que cada um teve durante esses anos. Vocês cresceram, amadureceram e são homens que eu me orgulho de ver. – Então o sorriso sincero surgi. – E mesmo todos me querendo morto, eu gosto de vocês, seu bando de idiotas.

Eram para se sentirem ofendidos, insultarem o professor de volta. Eles não fazem, o efeito é oposto. Naquele instante, seus punhos se abrem. Não havia necessidade para ficarem com a guarda alta, não mais.

— Astaroth, o que você vai fazer? – Pergunta Sieghart receoso, como todos.

— Por que todos acham que isso é uma despedida? Qual é?! – Era o único a se divertir com a situação. – Eu vou ficar bem!

— Então por que está dizendo essas coisas? – Questiona Dio. – Por que tão de repente?

Ele pretendia responder, então para. Fica quieto por alguns segundos, em seguida volta para a porta. Segura a maçaneta e não sente força para gira-la.

— Porque eu vou sentir falta de vocês. – Sussurra.

A porta se abre e dá um passo à frente. Vira-se com um sorriso que irritava a todos, que também não fez efeito.

— Um beijo na bunda! Adeus! – É tudo que fala antes de partir.

***

Lothos não conseguia se concentrar no trabalho com a falta que sentia de Elesis. Três semanas tinham se passado e nenhuma notícia dela ou de Lass. Ambos sumiram, desapareceram sem deixarem rastros. Ficava preocupada, até porque, era uma missão de Cazeaje que tinha no meio.

Esfrega os olhos pesados por sono. Não descansava fazia horas e o trabalho não poderia ser deixado para mais tarde. Apoia as mãos sobre as folhas e se concentra em termina-las.

Volta a se distrair com a batida na porta. Seus lábios se movem para falar, mas a pessoa entra antes.

— Lothos, olá! – Cumprimenta Astaroth. Entra em passos saltitantes que fazem a comandante se questionar. – Achei que não fosse dar tempo de chegar aqui para falar com você. Mas parece que deu.

— O que faz aqui, Astaroth? – Ela olha confusa. A armadura que o professor usava é o que mais chama sua atenção. – E por que está com a sua armadura de guerra?

— Queria saber se ela ainda cabia em mim. – Bate na armadura com um leve soco. – Parece que minha dieta funcionou.

A alegria e aquela roupa não combinava juntas, a comandante sabia disso. Ignora os papeis sobre a mesa e se concentra em Astaroth.

— Pretende ir em algum lugar com isso? Ou só está usando para se exibir?

— Os dois. – Responde com um sorriso zombeteiro. – Mas não vim mostrar minha beleza, se é isso que está pensando. Queria falar com você.

— Sobre...?

Astaroth ganha uma postura séria ao se aproximar da mesa. Coloca a espada de lado, com as mãos livres, pega as de Lothos gentilmente. A comandante quis desviar, mas a atenção estava toda nos olhos do rapaz.

— Obrigado. – Começa com toda honestidade que tinha. – Por todos esses anos que você e o Grandi me acolheram e cuidaram de mim como se eu fosse parte da família, muito obrigado. Quando nos encontramos, eu quase te matei. Me arrependeria eternamente por isso. Você, Lothos, foi a primeira mulher a me obrigar ser respeitoso e gentil.

— O que deu em você? – Pergunta assustada. – Está doente?

— Você foi muito importante para mim. Sem você, Grandiel e eu não teríamos conseguido esconder o Lass. – Para quando menciona o ninja. A ausência dele é uma ferida aberta para o mesmo. – E provavelmente eu teria matado esse garoto por tudo que ele fez. Você é o meu lado racional das coisas.

Lothos olha suas mãos sendo seguradas com força por Astaroth. Volta a fita-lo, agora com uma estranheza no peito. Astaroth agia diferente do habitual, as piadas não vinham. Como todos que conversaram com o professor, a comandante começava a sentir o mesmo.

— Astaroth, para onde você vai com essa roupa? – Pergunta com medo da resposta. Ela já previa uma.

— Não importa. – Volta a força um sorriso como máscara. – Apenas finja que eu vou viajar e não voltarei, mas estarei bem, no final das contas.

— O quê? – Não conseguia, mesmo que tentasse.

— Apenas... – Sua voz falha. Após ter falado com todos, não aguentava mais continuar a agir dessa forma. Porém, ele persisti. – finja que não sentirá minha falta? Você e o Grandi.

— Astaroth, você está me assustando. – Fica de pé, sem soltar suas mãos. – O que você vai fazer?

— Por favor, prometa.

O aperto nas mãos aumenta. Lothos balança a cabeça. Astaroth implorava e seu sorriso falso desmoronava com os olhos tristonhos. A comandante tenta se soltar sem sucesso, o professor segurava firme suas mãos.

— Prometa.

— Eu não vou fazer isso. – Começa a ficar nervosa de repente. – Pare com isso, Bardinar.

É puxada pelas mãos até o rosto ficar próximo de Astaroth. O rapaz muda de atitude de repente quando grita contra sua face:

— Prometa! – Berra impaciente.

A raiva que demonstra é o bastante para fazer Lothos voltar a se sentar. Suas mãos são soltas, agora trêmulas sem um apoio. O que tinha visto agora não era o Astaroth de agora, mas o antigo, aquele que conheceu. Seu jeito bruto de lidar é semelhante.

Astaroth nota isso e muda a postura. Desculpa-se com um murmuro. Deveria ir embora e não ficar à espera de ouvir a confirmação de Lothos.

— Você sempre foi um idiota. – Ela fala. Encarava o rapaz com ódio nas palavras. – Fala que Elesis é egoísta mas você age da mesma maneira. É inconsequente e burro nas decisões. Por isso que Gerard e você se davam tão bem.

— Lothos, eu só...

— Não sentirei sua falta. Satisfeito? – Disse sem demonstrar remorso. – Faça o que quiser, não é da minha conta mesmo.

Não tinha tirado a comandante da paciência, apenas a machucado com sua insensibilidade. Lothos era assim, agia como uma ignorante para as coisas que eram importantes para ela. Esse era seu único jeito de demonstrar algum afeto.

Astaroth sorri em agradecimento.

— Cuide do Grandi por mim. – Despede-se com esse simples pedido.

Não queria que fosse assim a conversa, o rumo foi diferente do que esperava. Mas não podia continuar pensando nisso, as emoções atrapalhavam a performance de um guerreiro, era o que sempre repetia. Amar algo é trabalhoso, percebe quando estava prestes a perder tudo.

Para na porta do quarto de Mari e bate. Ela não demora para atender, já prevendo que era ele.

— Consegui terminar a tempo. – Ela menciona enquanto entrava no quarto para pegar a arma. – Espero ter acertado seu gosto.

Volta com o revólver que cobria suas duas palmas. Astaroth tira o peso de suas mãos, erguendo com uma para analisar. Detalhe por detalhe, tudo perfeito como ele queria. E o principal, o tambor com apenas duas munições para serem carregadas.

— Ficou perfeito. – Ele elogia.

— Tem certeza que tem balas para essa coisa?

— Tenho. – Coloca a mão no bolso. Mari olha admirada para as duas balas vermelhas que Astaroth carrega na arma. Fecha e gira, o barulho sendo agradável para o mesmo. – Do jeito que eu queria.

— Tem certeza que apenas duas balas serão o suficiente? – Continuava incerta disso.

— Mas é claro. Uma bala para cada idiota na minha vida. – Sorri gentilmente, apesar das pesadas palavras.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Review?
* Preciso dizer uma coisa que estou para falar desde o início desse arco. Pois bem, vou pedir para que leiam novamente o cap 55, especialmente o dialogo o Lass tem com a Elesis no final desse cap. Apenas leiam... Sò isso que peço!
* Jin está sofrendo... Será que ele volta como antes?
* A grande questão: O que Astaroth vai fazer no próximo cap?! Preparem-se para ter um longo cap com ele, ok?
* Sem ser o próximo, mais o outro cap será o final desse arco. Eu sei. JÁ?! Mas é preciso, porque tenho que acabar com essa fic ATÉ O FINAL DO ANo.
Tem previsão? Eu acho, ACHO, que acaba antes ou no natal.
* E por favorzinho, ajudem a fic continuar comentando e favoritando, recomendando e tals. Sério, isso me deixa muito feliz :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.