Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 123
O dia mais longo do inocente lutador


Notas iniciais do capítulo

Olááááhhhh!!!! Finalmente, chegamos no ponto da treta, porque é isso que queremos! Brigas, puxões de cabelo e muito chingamento kkkkkkk Tudo isso nesse capítulo lindo e maravilhoso!
Espero que estejam prontos para verem as verdadeiras intenções de Cazeaje muahaha
Capa: Ao Haru Ride (Editada pelo Paarthurnax :3 Muito linda, né?)
Boa Leitura!



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Arme estica o mapa sobre o chão, podendo finalmente ver cada detalhe do prédio do Conselho. Olha Ronan analisar com certa seriedade. Ele apoiou a mão no queixo, não dizendo uma única palavra sobre o que pensava.

— Está mesmo certo? – Arme pergunta. – Ou é uma planta falsa?

— Não, é verdadeiro. – Porém, continua com o semblante fechado. – Só que tem algumas salas que eu nunca tinha entrado. Por exemplo, no andar de cima tem três salas. – Apontava. – Não sei para que serve.

— Provavelmente tem alguma coisa que seja importante. – Comenta incerta. – Algo de diferente.

Ronan passa a mão sobre as áreas que lembrava. Para sobre a sala de Cazeaje, que não há nada de diferente em volta. O prédio não aparentava ter algo a esconder, era comum até demais vindo de Cazeaje. Ele pensa outra vez, aquilo não podia estar certo.

— O que é isso? – Pergunta a maga, apontando para uma parte.

Ronan olha, fica confuso e aproxima o rosto. Sob o Conselho, tinha outra parte, como um subterrâneo. Nunca tinha ouvido ou visto sobre essa parte do Conselho, até porque, nunca viu uma entrada para o andar de baixo.

— Parece ser algum tipo de prisão. – Ele comenta. – Algumas salas pequenas, descendo em espiral. Não vai tão fundo, mas é bem grande para ficar sob o Conselho.

— Cazeaje deve esconder algo aí, não acha? Pessoas importantes para ela.

Fazia sentido. Levar prisioneiros, como Gerard, para uma prisão onde apenas ela tinha o acesso, além de ficar próximo da mesma. Como sabia, procurados importantes eram executados ou levados para as prisões em Arquimidia, um lugar tão podre quanto as próprias almas dos condenados.

— E se ela construiu isso para outra coisa? – Ronan questiona olhando Arme, que parece não compreender a pergunta. – Porque as celas desse lugar são pequenas demais para segurarem pessoas importantes. Cazeaje não é idiota de deixar alguém desse tipo nessas condições, podendo fugir a qualquer instante.

— Tanto que não há muitos guardas pelo o Conselho, que sejam capazes de segurar alguém forte. Ele fugiria facilmente.

— Exato. Talvez isso seja apenas uma ilusão. – Aponta para cada cela, seu dedo desceu até o final do subsolo. – Mas isso não. É uma sala grande demais e bem escondida.

— Até que a pessoa subisse todas as escadas, estaria sem energia para ter que enfrentar algum guarda, mesmo que fosse um comum. – Nota Arme. – Mas é apenas uma prisão. Quem ela colocaria ali?

A pessoa mais procurada para ela. Pensa primeiramente em Gerard, o sujeito mais óbvio de ser capturado somente para ela. Não conhecia o rapaz tão bem, mas via que ele e Cazeaje tinham uma grande rivalidade, já que a líder sempre mudava de humor quando o ruivo aparecia nos assuntos.

No entanto, a cela que olhava era grande demais para apenas um homem como Gerard. Apesar de todo o seu perigo, ele continuava sendo um simples homem que poderia morrer com uma faca no coração. A cela que encarava não era para isso.

Algo maior. Um ser que não morresse tão facilmente por uma faca ou até mesmo a mais forte magia do mundo.

Quando percebe para que serve, Ronan olha espantado para Arme.

— Lass. – Ele fala. – É para o Lass essa cela! Distante de qualquer pessoa, mais próxima a Cazeaje. É perfeito para ela.

— Acha mesmo que essa prisão é para ele? – Pergunta, nervosa. – Porque se for, por que Cazeaje não o prendeu antes?

— Porque os outros Conselhos não concordariam. Eu não sei como, mas Cazeaje quer achar alguma desculpa para prender o Lass aqui.

Prender era uma piada, ela queria algo a mais. As chamas, o que poderiam ser contidas muito bem naquele pequeno espaço. Sem ninguém saber, apenas ela.

Cazeaje estava indo mais longe do que esperava.

***

— Elizabeth! – Berra Jin com todo ar no pulmão.

Seus olhos pesavam pelo o sono e cansaço. Após ter saído do Conselho com Arme e Ronan, foi correndo para se encontrar com Elizabeth. Passou a noite acordado, dentro do trem e saindo ao amanhecer. Jin não parou de correr o caminho inteiro até o reino. Depois de ter visto a ficha de Gareth, não conseguiu tirar da cabeça a ideia de ver a rainha morta.

— Elizabeth! – Grita outra vez ao parar no portão.

Distante, mas confusa, vinha Pan. Ela coça os olhos para ter certeza que era Jin.

— Jin! – Fala surpresa. – O que faz aqui?

— Abre isso, Pan! Elizabeth está correndo perigo. – Diz desesperado.

— Perigo? A Liz está bem.

— Apenas abra! – Implora.

Continuava sem entender a situação, porém abre o portão para o rapaz. Jin quase a derruba ao passar correndo. Não tinha tempo a perder, precisava ver Gareth o mais rápido possível. Passou pelo o jardim e chegou na entrada do castelo, entrando sem se importar com a desconfiança dos guardas.

— Elizabeth! – Sua voz ecoa pelo o corredor.

Seus pés deslizam sobre o piso liso. Pelo o horário, ela estaria tomando o café da manhã. Acelerou os passos até encontrar o salão, ouvindo os barulhos de talheres. Jogou o corpo contra as portas, um estrondo sendo causado por isso.

Elizabeth levanta do seu lugar assustada. Percebe Jin ofegante, ficando confusa com a presença do ruivo.

— O que faz aqui, Jin? – Ela pergunta.

— Eu vim por ele. – Rosna, apontando para a ponta da mesa.

Jin salta sobre a mesa, correndo até Gareth, sentado com uma xícara de café em mãos. O lutador não se importa com os pratos e copos que se quebravam sob seus pesados pés. Fecha os punhos contornados pelas chamas e avança contra o rapaz.

Também sem entender a situação, Gareth recebe um chute no peito. Cai para trás com a cadeira, girando no chão e se erguendo para esquivar de Jin. O ruivo não economiza tempo, é feroz com seus punhos.

— Jin! – Grita Elizabeth perplexa. – O que você tá fazendo?!

Gareth se esquiva em direção à mesa, passando pela a cadeira caída. Com o pé, ergue o objeto e arremessa contra Jin. O lutador é acertado no peito, o que atrasa para o príncipe correr para a mesa.

Volta a avançar, mais cuidadoso ao ver o brilho da faca nas mãos do rapaz.

Jin arremessa as chamas, Gareth se joga para o lado e parti para cima com a faca. É um erro, mesmo com uma arma, atacar um lutador como o ruivo. Pegou o príncipe pelo o pulso e torceu, tudo em segundos com praticidade. Gira o corpo e joga Gareth contra o chão, tirando a faca de sua posse.

— Eu confiei em você. – Fala Jin, ainda furioso. Pega a faca caída no chão.

Fecha o punho com força em volta da faca. Prepara para dar um passo e é interrompido com o peso que cai sobre seus ombros. Os finos braços de Elizabeth o abraçam pelo o pescoço, impedindo que o rapaz desse mais um passo.

— Jin, pare! Gareth não fez nada de errado! – Gritava a jovem.

— Ele quer te matar. Me solte, Elizabeth. – Sacode o corpo, soltando da rainha. Ela cai para trás, sem se machucar na queda.

Jin tenta avançar, mas por estar atrasado, é acertado primeiro. O chute acertado na sua mão faz a faca voar para longe, o que não é um problema para o lutador. Gareth continua tentando um ataque corpo a corpo com o ruivo, outro erro do mesmo.

Sem paciência, Jin usa as chamas. Elas atingem com força o corpo do príncipe, arremessando para trás, caindo com as costas contra o chão.

— Últimas palavras, príncipe. – Com um tom brincalhão, sua ameaça é real com o rosto fechado.

Gareth não havia aberto a boca desde então. Sentado no chão, ele sorri sem a preocupação que deveria ter.

— Luke. – Ele fala num tom calmo, sutil.

Jin para de andar. Ele sente cada fibra do seu corpo passar uma descarga de energia, um alerta de algo maior vindo. Havia esquecido desse detalhe, chamado Luke.

As janelas do salão quebram com a descarga de eletricidade voando até Jin. Elizabeth joga as mãos sobre a cabeça, jogando-se sob a mesa para se proteger. O ruivo vira o rosto quando já está sendo atingindo pelas as costas. Tudo queima, caindo de lado sobre a mesa. Seus músculos tremem, porém segura firme para não cair no chão.

— Tinha esquecido de você. – Fala Jin com uma voz arrastada. Fica de pé com apoio da mesa, não saindo do lugar até que a dor diminuísse. – Garoto do raio.

Lentamente, o ruivo se vira. Luke não apontava a espada para ele, a lâmina estava abaixada, mas seu olhar valia como ameaça. Ele se move com leveza, como se não pretendesse atacar o lutador; era tudo uma ilusão.

Jin se afastou da mesa quando seu corpo não está tão paralisado. Seu pé desliza para trás quando seus punhos fechados se erguem. Ao fundo, sentia Gareth ficar de pé, porém se afastar. O príncipe não lutaria, não via a necessidade para isso.

Jin e Luke se movem juntos. O ruivo só é identificado pelas chamas douradas, enquanto os raios vinham de seu inimigo. Ambos possuem a mesma velocidade, porém os ataques são diferentes. Muitas vezes Jin é obrigada a se esquivar da lâmina de Luke, já o loiro de suas chamas.

Com um salto, o lutador cai sobre a mesa, andando sobre enquanto Luke avançava. Mais pratos são quebrados. Se continuasse daquele jeito, a luta não acabaria tão cedo, e logo estaria cansado. Não estava com paciência, nota irritado.

Seu sangue esquenta com a fúria, então as chamas complementam. O raio que Luke dispara é desviado com a mesma velocidade, o rapaz ficando surpreso. Jin avança no mesmo segundo, os talheres voando quando passou correndo. O soco que acerta em Luke é com toda força que a fúria podia dar. O loiro cai para fora da mesa, atordoado para ficar de pé.

Como um instinto, Jin se vira em direção a Gareth, que já recuava. O ruivo corre a tempo de alcança-lo, pulando da mesa e caindo à sua frente. O príncipe para, porém não consegue reagir quando o ruivo o ataca. Jin segura sua camisa e acerta uma joelhada contra a barriga do rapaz, que se curva sem ar, em seguida, empurrando para o chão. Gareth se arrasta, não tendo para onde fugir.

Jin o segura pela a gola da camisa e o coloca de pé com um puxão. Joga o príncipe contra a parede, o rosto próximo com toda seriedade que possuía. Gareth arfa cansado, seu corpo desmoronando contra a parede.

— Jin, por favor, pare! – Ouve Elizabeth implorar. Ela tinha saído debaixo da mesa, segurando a saia do vestido em nervosismo. – O que deu em você?

— Esse cara está te usando, Elizabeth! – Berra o ruivo contra a face do mesmo. Gareth não se alterava, apenas tentava não expressar a dor sentida. – Ele quer te matar por ordem de Cazeaje.

— O quê? – Sente a confusão no rosto da jovem. – Me matar? Por quê?

— Porque ele não é um príncipe, apenas um mercenário que faz qualquer coisa por dinheiro. – Diz em desgosto.

Gareth move o rosto, olhando bem a expressão contorcida de Jin. Ele não se move, sabia que o ruivo o atacaria se tentasse algo.

— Agora está explicado. – Sussurra Gareth, então falando alto para que Elizabeth o ouvisse também. – Para ser sincero, eu achei que você fosse o pau mandado da dona Cazeaje.

As sobrancelhas do ruivo ficam juntas. Quis diminuir a pressão de seu braço contra o pescoço de Gareth, porém não fez.

— Do que você tá falando? Cazeaje que te mandou aqui. – Fala Jin.

— Não, ela não me mandou. Honestamente, ela tentou fazer esta proposta a mim, mas preferi recusar. – Explicava Gareth. – Disse que eu ganharia o que quisesse se fizesse uma certa coisa para ela. – Não conseguiu virar o rosto para olhar sincero para Elizabeth. – Mas eu recusei.

— Mentira. – Jin nega. – Você é um mercenário! Eu vi sua ficha.

— Da mesma forma que Cazeaje tem uma ficha sua com o mesmo nome. – Ele retruca com simplicidade. O ruivo fica sem o que responder. – Cazeaje queria que eu matasse a rainha Elizabeth, mas como não fiz, ela procurou outra forma para isso. Após nosso casamento, ela me enviou uma carta com a sua ficha, dizendo o mesmo da “minha”.

A inocente mente de Jin faz voltas. Queria entender o que acontecia, o que era verdade ou mentira. Lembra do peso da ficha em suas mãos, a textura do papel. Não foi um sonho, era real. Cazeaje tinha escondido aquilo tão bem por algum motivo, o que parecia confuso demais para se descobrir no momento.

— É mentira. – Volta a falar, mais irritado. Encara o príncipe. – Ronan disse que nunca ouviu falar de seu nome, o que prova que você não é de nenhuma realeza.

— Está falando de Ronan Erudon? Posso não o conhece pessoalmente, mas sei quem é o príncipe. – Menciona Gareth. – Aliás, diferente dele, que é conhecido por todo continente, meus pais preferiram deixar minha existência de forma discreta. Tenho um título de príncipe, sim, mas não sou considerado como um para a população. Em outras palavras, não sou famoso como o jovem Erudon.

— Então... – Jin tentava achar uma razão. Ele não consegue, sem Lass para agir com esperteza, o ruivo era nada.

— É verdade, Jin! – Fala Elizabeth. Ele a olha, procurando alguma explicação cabível. – Sobre a carta da Cazeaje. Faz alguns dias que recebemos, Gareth me entregou com medo de que fosse verdade. Mas eu sei que era mentira, porque Lass disse para eu não acreditar naquela mulher!

— Mas eu vi a ficha!

— Se quiser, eu mostro a sua também. – Fala Gareth, chamando sua atenção. – Não sei o que ela pretende com isso, mas ela fez uma jogada muito boa para me tirar do jogo. Te mandar aqui para me matar é bem cruel da parte dela. – Abre um sorriso de deboche.

O jogo, lembra. Ronan havia dito isso antes de sua partida. Cazeaje fazia tudo como um jogo de xadrez, movendo as peças como queria. O tempo todo, ela devia estar planejando isso, sua morte ou a do príncipe.

Jin recua, soltando Gareth. As mãos do ruivo tremem quando entram no seu cabelo espetado. Finalmente entende o perigo que corria, como Lass e Elesis também. Cazeaje era cruel, nem mesmo o lutador estaria fora de seus planos.

— Eu poderia ser morto. – Murmura. Percebe o mesmo de Gareth, sentindo-se culpado pelo que fez. – Desculpa! Eu fui idiota em achar isso.

— Está tudo bem. – Diz o príncipe. Arrumava sua roupa bagunçada pelo o lutador. – Você não foi o único a cair no jogo dela. Só não achava que ela jogaria tão bem.

Jin concorda. Elizabeth chega ao seu lado, a mão delicada da jovem pousando sobre seu ombro. Ele fica mais calmo.

— Deveria ter falado sobre isso. Sinto muito. – Pede Elizabeth. – Lass tinha razão. Ele sabe disso?

— Não, ele está fazendo uma missão da Cazeaje. – Sua voz some lentamente. Olhava o chão, fixado enquanto sua mente se ocupada por outra coisa. – A missão! Será que faz parte do jogo?

— Missão? – Elizabeth começa a se preocupar. – Ele está bem?

— Vou ver. – Disse ao pegar o celular. Sua mão continuava a tremer, tenso pelo o que poderia acontecer.

Afasta-se com o aparelho perto do rosto, esperando ouvir a voz de Lass para que ficasse aliviado. Elizabeth estava na mesma situação, esperançosa em saber que o ninja estava bem. Jin fica de costas para ela por um tempo.

Sua mão abaixa junto com o celular. Sem se virar para a jovem, Jin fala:

— Diz que o número não existe. – Ele fala com o frio passando por todo seu corpo.

***

A cidade natal de Elesis era bem calma naquela época, observava Lass. Olha as pessoas andarem de um lado para o outro, algumas crianças correndo e guerreiros de guilda olharem com desconfio para ele. Aparentava ameaça com uma katana no cinto, mas na visão das crianças que o observavam, não.

— Ninguém viu ele. – Diz Elesis se aproximando. Esteve na loja a procura de rastros do Saltador. – Provavelmente, deve estar escondido.

— Ele precisa de peças para consertar o equipamento. – Fala Lass. – Tem alguma loja assim aqui?

— Não para os equipamentos que ele tem. São modernos demais para essa época. – Cruza os braços. – Mas do jeito que ele pula no tempo, deve conseguir dar um jeito.

— Ele tá desesperado. – Nota Lass. – Sabe que estamos caçando ele.

O Saltador deveria ser uma pessoa muito cuidadosa, tendo estado numa situação dessas várias vezes. Ele não sabe lutar, mesmo que tentasse, seu esguio corpo não aguentaria. Saltar é tudo que ele pode fazer.

— O que vamos fazer enquanto isso? – Pergunta Elesis. – Se duvidar, ele já deve ter ido embora.

— Não, ele não foi. – Diz sério.

— Mas e se...

Elesis se cala com seu olhar frio. Lass estava incomodado, era o que estava escrito no seu rosto. Ele afunda as mãos no bolso e se afasta, andando na frente sem ter dito algo.

— Lass. – A espadachim chama. Ele não para. – Ei, o que foi?

Corre atrás do rapaz, puxando pelo o braço quando próxima. O ninja se vira sem olha-la, querendo evitar algo.

— Aconteceu alguma coisa que eu não sei? – Ela pergunta, tentando olhar diretamente. – Por que ficou assim de repente?

— Precisamos conversar. – Olha ao falar. – Sei que está gostando de ficar aqui, com tudo isso e mais. – Joga os braços para o lado, mostrando a cidade. – Só que esse não é seu lugar, Elesis.

A voz de Lass pesou nas últimas palavras. A espadachim foca principalmente em sua expressão séria, que desejava não a ferir com as palavras. Com isso, compreende o que o ninja queria dizer, tentava evitar de acontecer.

Sem saber como reagir, Elesis assente, abaixando o rosto. O chão que pisava, o ar que respirava, nada disse deveria ser dela, e em breve não seria mais. Esse tempo não é da Elesis loira, é da pequena garota ruiva que está brincando agora na guilda. Não sabia o que aconteceria se persistisse mais alguns dias ali, o que não passou por sua cabeça até agora.

Embora temesse por alguma mudança no tempo, não se importava tanto, no final das contas.

— Eu sei. – Mente. – Por isso que precisamos achar o Saltador o mais rápido possível.

Dessa vez, é Elesis quem parte na frente. Lass não a segue, quieto no próprio pensamento após ter visto a espadachim mentir para ele. Não foi preciso muito para saber o desejo de Elesis em ficar naquele tempo. Ela amava isso e mesmo tendo outra ela, parecia não ser o bastante para incomoda-la.

Mas sim para Lass.

***

— Alguma coisa, Arme? – Pergunta Ronan.

A maga não parava de bater o pé no chão pela a impaciência. Já era a terceira vez que tentava ligar para Elesis e tudo que recebia era o mesmo recado. O número não existe ou está fora de área. Como isso podia acontecer? Isso só acontecia quando o aparelho estava desligado ou quebrado, mas fora isso, funcionava a todo tempo.

Tira o celular do rosto, querendo arremessa-lo contra a parede. Ronan tira da sua mão antes que fizesse isso.

— Desculpa, Jin, aqui também não dá resultado. – Fala o rapaz com seu celular, conversando com o ruivo, que tinha ligado desesperado para eles. – Elesis e o Lass devem ter perdido os celulares, só isso.

Eu não sei, Ronan. – Dizia Jin do outro lado. Sua voz sumia na chamada. – Nenhum dos dois têm sinal e estão demorando para retornar da missão. Alguma coisa está errada.

— Vindo de Cazeaje, qualquer coisa está. – Não discordava. Cai sentado na cama, descansando após todo o trabalho que teve na noite anterior. – Tem certeza que quer ir atrás deles, Jin? É melhor esperar e amanhã eu vou junto com você.

— Eu também! – Jin ouve a maga gritar ao fundo.

Bem que eu queria, mas acho melhor resolver isso hoje. — Continua Jin. – Não me sinto bem sem ter notícias deles.

O quer que fosse, era para ter chamado a atenção deles. Cazeaje não fazia as coisas sem deixar sua marca. Até agora, o silêncio não é motivo para ficar alertado, pensava Ronan.

— Tudo bem. Qualquer coisa, fale com a gente. – Pede Ronan como uma ordem.

Arme tinha se apoiado na janela para poder se acalmar. Não tinha certeza, mas sua amiga podia estar correndo perigo. Ou morta, o que mais temia. Enquanto uma parte sua tremia em medo, a outra é pela raiva. Se qualquer coisa acontecesse com sua amiga, Cazeaje não teria um bom dia com a visita que planejaria fazer. Podia ser uma mera maga comparada à líder, mas faria de tudo para que a atingisse ao menos.

Estremece com o toque nas costas. Ronan chega ao seu lado, a mão apoiada em suas costas para chamar a atenção. Mesmo o olhando, a mão do rapaz permanece ali.

— Vai ficar tudo bem. – Até mesmo quando está nervoso com a situação, Ronan age gentil. Foi treinado desde criança para isso, fingir com um sorriso bonito. – Está falando da espadachim mais forte do continente e o portador das chamas azuis. Creio que um deles teria dado o jeito em qualquer coisa.

— Acha mesmo? – Queria ouvir uma certeza, já que estava em dúvida sobre muita coisa. – As pernas da Elesis...

— É, eu sei. – Seu sorriso falha por um segundo. – Mas Elesis não depende só das pernas para se mover. Aquele cara, o Depas, treinou ela por algum motivo.

— Mas e se a Elesis se machucar? E o Lass não poder salva-la? – Tudo era possível, era o que queria falar.

Podia ser verdade, mas Ronan não deixa de pensar positivamente. Ele vira o rosto para a janela, apontando em direção ao céu.

— Olhe bem. – Fala Ronan. – No dia que a Elesis se machucar, uma linha azul vai subir até o céu. Esse será o Lass com raiva.

Já tinha visto essa linha de perto, como o ninja ficava ao ver a espadachim ferida. Tinha medo que isso voltasse a acontecer, das chamas tomarem conta do seu corpo. Porém, se fosse para proteger Elesis, Lass faria de tudo para isso. Ele a amava e Ronan viu isso naquele dia, na verdade, bem antes disso, só que nunca quis acreditar.

Ronan afasta a mão de suas costas, apoiando-se na janela. Ele dizia tudo aquilo porque queria acreditar, não se deixar cair no desespero como ela fazia. O rapaz era forte, mas quando não podia, vestia sua melhor armadura e fingia estar tudo bem.

Como Elesis, Ronan agia da mesma forma. Porém existia uma diferença que o tornava único, o que chamava tanto a atenção da maga.

— Você é gentil demais. – Fala Arme. – Não sei como consegue aguentar tudo isso.

— Costume. Viver com uma tia como Cazeaje facilita tudo. – Não tem orgulho de falar isso, como parecia. – Mas tem vezes que tenho vontade de explodir, esquecer tudo isso.

— E por que não esquece? Algum motivo para isso? – Usa a janela como apoio de suas mãos nervosas, que se mexiam sem perceber toda vez que estava com Ronan.

— Porque tem coisas que me acalmam, então eu acabo não explodindo. – Joga os ombros. – Tocar piano me acalma, por exemplo.

— O que mais? – Olha curiosa.

O rapaz olha adiante, jogando a cabeça de um lado para o outro em tentar achar outro motivo para dizer. Era difícil se irritar facilmente, portanto, nunca pensou em alguma coisa que o acalmasse nesses momentos. Mas por tudo que passava ultimamente, fica mais fácil de pensar em um.

Vira o rosto para Arme e a cutuca na testa.

— Você me acalma. – Ele fala. – Sua companhia me faz pensar antes de cometer algo de errado. É como se fosse meu freio.

A maga tinha se calado. Não sabia se tinha ouvido certo ou se era seu coração que batendo tão forte que a enganou. Pelo seu silêncio, o rapaz ri, provavelmente pela a expressão que fazia. Ronan devia ser acostumado a ver as garotas reagirem assim, sem palavras.

— E por que você acha isso? – Consegue perguntar.

— Precisa mesmo de um motivo para isso?

Se seu rosto estava corado não era uma surpresa, sentia sua pele queimar em vergonha. Segura com mais firmeza a beirada da janela para não cair pela as pernas fracas. Se fosse Elesis, teria dado as costas e ido embora para evitar mais vergonha. Arme não faz isso, não tinha forças para se mover.

Ronan encarava as próprias mãos, seus olhos desviados da maga. Quando se viram novamente para ela, a jovem quase recua por instinto. Parecendo que diria algo, o rapaz fecha os lábios em um sorriso torto, quase que sem jeito. Sem perceber, ele se aproxima da maga.

Arme fecha os olhos por não aguenta ver isso. Ronan estava próximo dela, era real, não um sonho que sempre teve. Finalmente era compreendida pelo o rapaz, seus sentimentos sendo retribuídos.

— Arme.

Ela abre os olhos. Ronan estava mesmo perto, por isso de sua voz ter saído tão baixa. Ela assente, mostrando que o ouvia.

— Você está congelando minhas mãos. – Ele fala.

Assente outra vez, sem ter ouvido o que ele disse. Demora a entender ao sentir suas palmas geladas. Com o olhar, Ronan aponta para a janela. Arme olha e toma um susto quando ver a beirada congelada, logo as mãos apoiadas de Ronan.

— Desculpa! – Grita a jovem. Ela se solta do gelo, apenas uma camada fina que cobria seus dedos. Já no caso de Ronan era mais intenso, não conseguindo soltar da janela. – Às vezes isso acontece.

Como qualquer poder que precisa ser controlado, o gelo da maga acontecia o mesmo. Por estar tão distraída por causa de Ronan, deixou o poder deslizar de suas mãos sem notar.

— Deveria tomar mais cuidado com isso. – Disse rindo. – Pode machucar alguém.

— É, eu ainda estou lidando com isso. – Fala sem jeito. Não conseguia olha-lo. – É um pouco complicado.

— Entendo. Então, uma ajudinha aqui seria boa. – Balança os braços presos.

— Ah, sim! Desculpa.

Arme pretendia usar o fogo para derreter o gelo e solta-lo, porém opta por algo que não possa feri-lo. Apoia ambas as mãos sobre o gelo e se concentra para que a magia funcione. Ela era complexa demais até para Arme, que conseguia usa-las em pequenas coisas, como esse gelo.

Anulação de magia. Era essa técnica tão complicada de realizar. Ela simplesmente apagava. O gelo em vez de descongelar, sumia magicamente. Não percebia, mas Ronan olhava surpreso para aquilo. Suas mãos são soltas, vendo cuidadosamente cada parte dela. Nenhum gelo sobrando.

— Isso é incrível. – Ele fala. – Como conseguiu dominar uma magia tão difícil assim?

— Eu li em um livro. – Diz sem jeito. – Então comecei a praticar. Mas não passo disso.

Continuava sendo uma surpresa para uma pessoa comum como Arme conseguir dominar aquela magia. A única que conhecia dominar essa magia era sua tia, que fazia parecer uma maldição perto daqueles que a desafiassem. Era assustador vê-la usar, mesmo que não fosse nele.

A porta do quarto se abre com a chegada de Lire. A elfa solta um rápido cumprimento aos dois. Ela parecia cansada demais dos estudos que teve, não tendo muito ânimo para conversar no momento.

— Estou interrompendo algo? – Pergunta Lire.

— Ah, não. Já estou de saída, de qualquer maneira. – Fala Ronan. – É melhor deixa-la descansar. Não quero incomodar.

— Então nos vemos amanhã. – Diz Arme. – É melhor que o mapa fique com você enquanto isso.

Dirigindo-se à saída, o rapaz pega o mapa sobre a cama. Para na porta para se despedir com um aceno, o que faz Arme fazer o mesmo. O rapaz se vai deixando a maga cair sobre a cama com o rosto enfiado no travesseiro. Lire ao seu lado apenas observa.

— Nunca vou conseguir conquista-lo. Sou um fracasso. – A voz de Arme fica abafada sobre o travesseiro.

— Por que você não conta de uma vez? – Questiona a elfa. – Ele vai continuar te vendo como uma amiga se você não fizer nada.

— Mas e se ele me rejeitar? – Olha para a amiga. – Eu não quero ser rejeitada.

— Ninguém quer, Arme. Mas você precisa ser honesta. Vai que ele gosta de você também, só que não tem coragem de falar?

Alguma coisa dentro da maga preferia que continuasse assim, na dúvida eterna. Provavelmente temia que algo mudasse, como sua relação com Ronan ou até mesmo Elesis. Antes de fazer qualquer coisa, preferia falar com a espadachim.

***

Andou pelas principais ruas da cidade e não achou nenhum sinal do Saltador. Ele deveria ser o tipo de cara que ganhava o pique-esconde quando criança, se tivesse uma infância, o que Lass nunca teve nem sabia o que era. O ninja parou para tentar colocar a mente no lugar. Não gostava de pensar em como deveria estar agora, precisava ser sangue frio consigo mesmo.

Cruel, ele sabia, mas preciso.

Sem mais lugares para ir, voltou a guilda. Elesis estaria lá com seu pai, nada de surpresa dessa parte. Toda vez que os via juntos ficava incomodado, não por inveja, mas por temer que a espadachim se apegasse novamente ao seu pai e não conseguisse voltar ao seu tempo atual.

Entra na guilda sendo recebido pela a agitação, que parecia acontecer sempre. É ignorado enquanto entrava, procurando Elesis. Logo a acha com Elscud ao lado, conversando. Ao se aproximar, nota a seriedade no rosto da mesma, que se vira para ele quando próximo.

— Oi, Lass. Estava falando com a Elly sobre um membro muito importante da nossa guilda. – Explica Elscud. – Acho que eu falei dele para você.

O ninja olha de relance para a reação de Elesis. Os punhos da espadachim tinham se fechado, sua aura se intensificando quando o rosto é virado para ele.

— Enfim, Gerard é um cara muito importante para a guilda. – Volta a falar para Elesis. – É um dos mais fortes. Acho que vocês se dariam bem.

— Você acha? – Elesis faz uma pergunta que soa como um deboche, mas força uma expressão que impede isso.

— É claro. Uma pena que ele está numa missão nesse momento. Talvez se ficar mais alguns dias, poderá vê-lo.

— Elscud! – Alguém o chama no outro salão.

— Estão me chamando. – Recua em breves passos. – Depois continuamos a conversar!

Elesis afirma. Com a ida de seu pai, Lass sente a aura da espadachim voltar a se intensificar. Já previa o que vinha em seguida, portanto, recua lentamente para fugir.

Para com a mão de Elesis agarrando sua camisa com força. Não a olha, apenas segue a furiosa loira que o arrasta para fora da guilda. Quando chega no lado de fora, é empurrando violentamente. Tropeça antes de ficar firme de pé, olhando desentendido para Elesis.

— O que foi? – Pergunta.

— O que foi? – Repete a pergunta com um tom hostil. Dá um passo largo e acerta um empurrão contra o peito de Lass. O rapaz joga os braços na frente em defesa. – Não finja que não sabe, Lass Isolet. Você escondeu!

O ninja fica surpreso em ouvir o nome completo. Elesis nunca o chamava assim, então estava mesma furiosa.

— A coisa mais importante e você nem me lembra! – Outro empurrão, continuando a avançar. – O que deu em você?!

— Eu não escondi. – Estica a mão para que ela não avançasse mais. Funciona por um instante. – Você estava muito feliz e não queria estragar isso.

— Estragar? – Solta a pergunta indignada. – Como? Isso é a chave para eu consertar tudo!

— Consertar? – É a vez de Lass olhar indignado. – Não está pensando em...

— Matar Gerard? Com toda certeza!

O ninja não fala, sua boca se movimentava para dizer algo que não a ofendesse. Era isso que não queria desde o início, a imprudência de Elesis. Estava certo em ter escondido por todo esse tempo.

— Você não vai. – É direto, sem se importar com a indignação da espadachim. – E você sabe o motivo.

— Acha mesmo que eu me importo com isso? – Desafia com o tom amargo. – Não.

A mão de Lass aperta em seu braço com força. Elesis não demonstra medo pela a seriedade do rapaz. Esteve tanto tempo com ele que não se importava mais com suas ameaças.

— Pare para pensar por um momento. – Fala Lass. – O fato de estarmos aqui já é um motivo para o nosso presente mudar, o que você acha que acontecerá ao matar alguém tão importante como Gerard?

— Terei um presente que mereço.

— Você não sabe! – Sacode o braço da espadachim, logo a soltando. – Matar alguém é tirar a vida de outra pessoa no lugar. Não pensa nas consequências?! Algo pior pode acontecer.

— Como pode piorar?! – Berra contra a face de Lass. Ele recua a face, finalmente vendo a dor na face de Elesis. – Eu quero saber. Me diga!

Lass não sabia. Como Elesis, ele não sabia o que poderia acontecer com a morte de Gerard, talvez algo bom ou ruim. Mas diferente da espadachim, ele não arriscaria para descobrir.

— Você seria mesmo capaz de matar alguém inocente pelo seu desejo egoísta? – Lass pergunta, causando confusão e irritação na espadachim. – Não falo de Gerard, mas de algum desconhecido. Matando Gerard, seu pai pode ficar vivo, mas outras pessoas que você não conhece sofrerão. Vai alterar o tempo drasticamente.

— Por que insisti nisso? Se importa tanto com ele que está querendo achar um motivo para deixa-lo vivo! – Fala Elesis.

— É você que quer achar um motivo para vê-lo morto! Será que não entendeu o que é tudo isso?! – Joga os braços para os lados. – Cazeaje nos mandou para uma missão que tinha um saltador no tempo e não foi por mera coincidência. Ela sabia que pararíamos nessa época, porque ela planejou e é isso que ela faz! Isso – Aponta para o chão e tudo à sua volta. – é o tabuleiro do jogo dela e não pensa que estamos vencendo, porque pela a forma que você está pensando não ajuda!

Lass recupera a respiração após o longo desabafo. Não gostava de ver Elesis sendo usada exatamente como a líder do Conselho queria. Queria que a espadachim enxergasse o que ele via, as cordas presas aos seus membros para serem puxadas como uma marionete.

— Certo, vamos considerar que tudo isso foi parte do plano de Cazeaje. – Surpreendentemente, Elesis fala com calma. – Por que ela nos mandaria para cá? Podemos mata-la agora mesmo.

— Como Gerard, ela sabe se arriscar. Mas ela sabe que seu desejo seria maior de matar Gerard do que ela. – Previsível demais até para o ninja. – E matando ele, será um caminho livre para ela e as chamas.

Elesis esquece que a líder também estava na fila das pessoas que queriam as chamas. Pela a insanidade da mulher, ela deveria estar na frente de Gerard para conseguir pegar.

— E o que você quer que eu faça? – A pergunta sai sem querer. – Assista meu pai sem poder ajuda-lo? Que frio da minha parte.

— Só... – Lass tenta encontrar as palavras certas para dizer. Elesis fica fragilizada de repente, precisava ser delicado nesse instante. – Não mexa em nada. Não seja controlada por Cazeaje, é só isso que eu quero.

Não seria, mas ainda queria se encontrar com Gerard para resolver todo seu problema. Mudar seu presente não importava tanto para ela, mas quando pensa em Lass e nos seus amigos, tudo muda. O presente deles também mudaria, para pior ou melhor, nunca saberia.

Sem muita escolha, olha para o ninja e assente. Não queria, mas fez.

Pretendendo voltar para a guilda, Elesis se vira para entrar. Antes, para ao ouvir vozes vindo à esquerda. Olha, congelando no lugar ao ver o rapaz loiro vim com a cara fechada. Seus cabelos claros já ficavam grisalhos pela a idade. As cicatrizes em seu rosto não pareciam tantas quando se compara com ele.

Aquele era o pai de Arthur.

Atrás dele, o pequeno garoto loiro vinha correndo para tentar acompanhar o rabugento do seu pai. Seu cabelo era pequeno demais, porém persistia em fazer um rabo de cavalo. Como sabia? Aquele era seu primeiro amigo e primeiro a morrer em suas mãos.

Arthur passa por ela sem cumprimentar. Era uma desconhecida tanto para ele quanto para seu pai. Quando a porta da guilda se fecha, Elesis que se encolher no chão pela a sensação de molhado nas suas mãos. O peso do sangue voltava, o calor se tornava seu pior tormento.

Voltar ao passado tinha seu lado bom, mas o ruim também.

***

Aquele era o último lugar que Jin esperava achar Lass e Elesis após ter visitado a cidade inteira. Já estava de tarde e logo anoiteceria, precisava ser rápido se não quisesse se perder na mata em meio ao escuro. Apenas optou por procurar ali pois algumas pessoas avistaram Elesis e Lass indo para essa direção, porém sem voltar. Isso o preocupa mais ainda.

Para os passos. Desde que encontrou na floresta que esteve chamando por eles, mas nada veio em troca, nenhum sinal ou algo parecido. Estaria se cansando e não podia gastar o pouco de energia que ainda sobrava.

Passos são ouvidos. Jin sente seu coração acelerar na esperança de ver Lass ou Elesis vivo. Corre em direção ao barulho, os passos sendo diminuídos quando vê a pessoa à frente. Ela vinha até ele, uma mochila sendo arrastada no chão e outra apoiada no seu ombro.

Gerard para, soltando ambas as mochilas no chão. O barulho que causa assusta Jin, que tenta esconder a estremecida. Distante, percebia a confusão e o questionamento do lutador sobre sua pessoa. Nos olhos deles, Gerard era um desconhecido, porém, que o amedrontava.

— Então você é o amigo deles? – Gerard fala, analisando por completo o ruivo. – Esperava um pouco mais.

Anda para o lado, o olhar ainda sobre Jin. Pelo o que ouviu, ele era o último Cavaleiro de Prata; exatamente como Elesis, se não estivesse vivo. Era um ótimo lutador, já enfrentou as chamas e saiu vivo. Ele tinha alguns créditos com Gerard por isso. O lutador se torna interessante quando visto pessoalmente.

— Onde está a Elesis e o Lass? – Jin pergunta. Percebe a coragem que e ele reuniu para falar. – Você, por acaso, fez algo com eles?

O medo que Jin exalava era sentido de metros de distância. Gerard continua a andar lentamente, como um leão cercando sua presa.

— Acho que você está olhando para a pessoa errada. – Ele responde. Nega com a cabeça. – Não fui eu que desapareci com eles.

Jin engole seco. O rapaz não parava de se movimentar entre as árvores, sumindo entre elas e aparecendo novamente. O frio que sente é rapidamente causado ao notar uma mancha vermelha na camisa de Gerard. Além disso, algo pesado ficava nas suas costas. Não sabia se era uma espada grande demais ou uma mochila do mesmo comprimento.

— Qu-Quem é você? – Lamenta por gaguejar. Queria agir como Lass, com frieza, mas não era capaz.

— Quem sou eu? – Ele para de andar, para seu alívio. Longe, ele estica a mão como um cumprimento. – Gerard.

A respiração sai parecido com um suspiro trêmulo da boca de Jin. Gerard, apenas um nome para entender todo o temor que sentia. Nada além do homem mais procurando de Ernas à sua frente, que matou a própria guilda e quase Elesis e Lass. Apenas isso.

Volta o olhar para Gerard, um arrependimento batendo ao ver um sorriso no rosto do mesmo. Ele se divertia em ver seu medo.

— Ah, eu te conheço. – Solta uma risada torta enquanto falava. – Elesis fala muito de você.

— Eu sei que ela fala. Deve ser coisas ruins, prevejo.

— É-É, quase isso. – Não queria testar o ruivo, preferia ficar sem saber.

Gerard balança a cabeça, consciente da resposta. Isso deixa Jin mais tenso, sem saber o que fazer. Fugir ou ficar? Até o momento, o rapaz não tinha feito nenhuma ameaça, porém deveria ser proposital. Não podia ficar calmo com aquele homem por perto.

— Onde estão, é isso que quer perguntar, não? – Gerard prever. Jin assente com certo medo da resposta. – Essas são as mochilas deles. Peguei onde estavam alojados.

— Então sabe onde eles estão? – Pergunta sem pensar. Seus olhos voltam para a camisa manchada do ruivo e pensamentos ruins começam a tomar conta de Jin.

— Não exatamente. – Para a infelicidade do lutador, Gerard volta a andar. – Espero que você entenda o que eu tenho a dizer, Jin.

O rapaz some atrás de outra árvore. Jin joga a cabeça de lado para encontra-lo, surpreendendo-se quando a mão de Gerard cai sobre seu ombro. Ele estremece com o ruivo ao seu lado, o puxando para perto como amigos fariam.

— Eu tentei avisar a Elesis, mas ela não quis me escutar. – Dizia Gerard dramaticamente. – Foi um erro tentar falar com ela.

— Avisar? – Jin pergunta. Mantinha as mãos juntas contra o peito enquanto tentava não parecer medroso perto de Gerard. – Avisar o que a ela?

— Sobre a missão de Cazeaje! Nesse instante, Elesis e Lass estão muito longe!

— E onde seria esse longe, exatamente?

— No passado. – Responde com um sorriso. Percebe a confusão sob o medo no rosto do lutador. – Elesis e Lass tinham que ir atrás de um certo Saltador. Eles achavam que era um cara comum, mas na verdade ele é um saltador no tempo. E como dona Cazeaje planejou, eles foram jogados para o passado.

Gerard o solta, voltando a andar aleatoriamente. Deixa Jin paralisado no lugar, o olhar em um só ponto enquanto ingeria a informação. Ao perceber o que acontecia, olha Gerard.

— Eles estão no passado? E como isso é possível? Não alteraria alguma coisa por causa disso? – Perguntava Jin com todas dúvidas e preocupações possíveis. – E por que Cazeaje fez isso?

— Alterar o tempo? – Gerard repete a pergunta. Seus passos diminuem, porém usa os pés para chutar as folhas caídas no chão. – Se fosse para alterar algo, já era para ter acontecido. A questão é: eles vão conseguir voltar?

O que Gerard dizia soava como uma mentira para ele, mas isso não o impedia de acreditar. Elesis sempre falou mal do mesmo, porém Lass parecia sempre ser contra, mesmo que não dissesse nada. Jin apoia as mãos na nuca, o rosto abaixado para pensar melhor. Tinha que haver outro motivo para eles estarem desaparecidos.

— Quanto Cazeaje, não faça pergunta com resposta óbvia. – Continuava Gerard. Ouve os pequenos passos do homem sobre as folhas. – Se ela quer, ela vai fazer. Sem discussão.

— E como podemos tira-los de lá? – Jin pergunta, ainda encarando o chão. – Deve ter um jeito.

— São poucas pessoas que têm a magia do tempo ou algum equipamento. Pelo o que eu soube, o Saltador usava um equipamento com a magia dele. – Bota os braços para o lado sem parecer se importar. – Impossível de você ir atrás deles, além de correr o risco de mudar o tempo. Não vale a pena, garoto.

— Cazeaje fez isso para atingir a Elesis e o Lass, não é? – Solta a nuca quando ergue o rosto para Gerard. Seu medo sumiu com a presença do rapaz, apenas o via como uma pessoa qualquer. – Por que ela quer tanto as chamas? Ou até mesmo você.

O medo sumia, mas a desconfiança permanecia. Gerard não o culpava, merecia todos aqueles olhares para ele. Para de chutar as folhas, os braços se cruzando com a seriedade.

— Cazeaje e eu temos motivos bem diferentes, só isso que você precisa saber. E o que ela pretende jogando esses dois no passado... – Para de falar. Tinha uma ideia do motivo, mas se recusa ao falar quando olha Jin. O ruivo era um rapaz inocente em comparação a toda situação, preferia que permanecesse assim. – eu não sei.

Pelo o silêncio que o lutador fazia, mostra que havia acreditado. Ficava aliviado em conseguir ter uma conversa calma com Jin assim, como tinha com Lass; Elesis era sua única exceção.

— Sinceramente, eu não consigo te ver como Elesis. – Fala Jin, de repente. – Você se preocupa com ela. Então por que ela quer te matar?

— Por quê? – Com o sorriso aberto, Gerard faz a pergunta para Jin e para si próprio. – Por que não? Ela tem os motivos dela, tudo que posso fazer é fazer é aceita-los ou tentar revidar do meu jeito. Por isso, quero te pedir algo.

Jin recua alguns passos até Gerard parar na sua frente, segurando seus ombros com firmeza. O medo volta rapidamente, seus punhos se fechando para qualquer ataque que precisasse revidar.

— Não se envolve mais do que o necessário. – Sutil, Gerard fala.

— E deixar meus amigos assim? – Jin nega, as palavras saindo sem a intensidade que queria. Com gentileza, tira as mãos de Gerard de seus ombros, afastando-se do mesmo. – Desculpa, mas não sou capaz de ficar apenas observando, Gerard.

Já estava mais que envolvido quando entrou com Ronan e Arme no Conselho. Cazeaje era um inimigo comum a todos, pelo o que notava, então quanto mais pessoas, melhor. Jin não queria ser o cara que ver todos lutando enquanto olhava e gritava como uma torcida. Queria machucas as próprias mãos se necessário para participar.

O frio que passa por ele é um alerta. Para como uma estátua ao ver a arvore à frente se partir ao meio quando a espada de Gerard passa por ela. O ruivo não se move, o frio da lâmina é sentido mesmo que não tivesse encostado nele. Seus olhos se movem para o ruivo com a expressão fechada para ele.

— Não terminei de falar. – Fala Gerard. Coloca a espada de lado para tornar a situação mais calma. Não queria fazer isso, mas se sentiu obrigado. – Não falo isso porque me importo com você, mas com a Elesis. Se você se machucar, ela também irá.

O corpo de Jin relaxa aos poucos. Os músculos estavam rígidos pelo o ataque repentino. Vira o rosto para Gerard, voltando a notar sua camisa manchada pelo o vermelho. Aquilo faz seu corpo ficar congelado novamente.

— E se Cazeaje te pegar... – Gerard menciona com um sorriso macabro. Amedronta o jovem lutador. – Não vai querer saber o que acontece.

A líder do Conselho o assustava apenas com as palavras, não queria saber como seria fisicamente. Apenas tinha certeza de uma coisa: Gerard não era pior que ela, apesar de assustar o ruivo da mesma forma.

O ruivo solta o cabo da espada e deixa a pesada lâmina cair contra o chão, provocando um alto barulho que assusta o lutador. Estica as mãos, estendendo os dedos e estalando um por um.

— Não se preocupe, essa mancha não é sangue. – Fala Gerard, para sua surpresa. – Estava lanchando e derrubei ketchup.

Jin fica mais tranquilo ao saber que aquilo não era sangue, muito menos de seus amigos. No entanto, deseja recuar com os estalos dos dedos do ruivo. O que ele estava fazendo?

— Leve as mochilas deles na volta. – Pede Gerard com um rápido aceno para as mochilas no chão.

— Ah, claro.

Vai até as mochilas, parando ao sentir aquela sensação novamente. A aura de Gerard tinha ficado pesada quando se vira para ele.

Acerta o soco no rosto do lutador que o joga para trás, caindo nas folhas mortas no chão. Achava que ele preveria seu movimenta, mas percebe que tinha feito rápido demais para o ruivo revidar.

— Não me leve a mal. – Falava Gerard enquanto sacodia a mão para amenizar a dor do impacto. – Estou te fazendo um favor.

Jin tosse sua própria saliva. Fica de joelhos, o rosto para baixo enquanto via o sangue escorrer de seus lábios. Sua cabeça dava giros pelo o golpe do ruivo, que pareceu tão forte quanto um soco de chamas seu. A mente ocupada pela a dor não permitia que pensasse o motivo de ter sido atacado assim.

— Ei. – Agora a dor é atingida quando é pego pelo o cabelo, sendo puxado até seu rosto ficar levantado para Gerard. O rapaz estala os dedos na frente de seu rosto. – Escute bem. Se qualquer coisa acontecer, fale que fui eu quem fez isso, ok?

— Isso o quê? – A voz sai arrastada.

Gerard não responde, deixa a pergunta no ar antes de acerta outro soco no lutador.

***

Inspira profundamente pelo o nariz e provoca um som agudo. Tinha parado de escorrer sangue alguns minutos atrás, mas havia entupido uma parte dele. Na ponta, pequenas gotas de sangue pingavam sobre sua camisa já manchada pelo o vermelho e o marrom da terra. Se fosse apenas isso, seu dia não estaria tão ruim quanto achava.

A metade do rosto estava inchada, o olho com uma parte roxa escura e clara, dando um tom degrade sobre sua pele. Seus lábios estavam cortados como seu supercílio. Além disso, duvidava se sua costela tinha quebrado, mas pela a dor no local, tinha um pouco de certeza. Cada ponto do seu corpo é uma orquestra de dor sincronizada.

Gerard havia feito isso com ele sem um motivo aparente. Ele apenas o atacou e o deixou para trás com as mochilas de Elesis e Lass. Sem despedida ou um pedido de desculpa.

O trem para. Demora para ficar de pé e colocar cada mochila nos ombros, arrastando-se com o joelho machucado para fora do trem. Quase cai ao passar pela a porta, precisando reunir forças para continuar. Mais alguns passos à frente e para outra vez, não por falta de ar ou pelas dores.

Armas eram apontadas para ele. A estação estava cheia por soldados do Conselho, que reconhece pelos uniformes. Jin olha em volta e percebe que estava sendo cercado, nenhuma brecha por onde passar.

— Jin Kaien.

Vira o rosto rapidamente quando ouve aquela voz. Expressaria medo se não fosse pelos hematomas em sua face. Olha em volta mais uma vez, querendo achar um jeito de fugir.

— Não tente fugir, querido. – Fala Cazeaje com prazer de ver o ruivo preso daquele jeito. – Peço gentilmente que venha comigo.

— Por quê? – Não queria saber, preferia estar correndo para longe daquele local.

— Você atacou um reino vizinho, o que é um crime muito grave. – O rapaz consegue expressar surpresa. Fica sem o que dizer. – Em outras palavras, você está sendo preso, Jin Kaien.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Nesse capítulo, vimos Jin ser lundibriado, tomar choque, correr muito, conhecer Gerard, apanhar de Gerard e ser preso. Essa criança merece uma medalha após tudo isso ahahh
* Próximo cap será com o clima mais pesado, por causa do Jin e de outro personagem que estará mostrando um pouco mais de si. Enquanto Elesis e Lass não serão muito mostrados, apenas as principais coisas, kay?
* Então vocês se perguntam: O que Cazeaje planeja com tudo isso? Acho que está fácil de descobrir.
* Arme e Ronan ficando mais pertinhos... Será que acontece?!



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