Claire sentia que seu corpo estava sobre algo macio. Sua cabeça dava voltas, e a dor em suas costas era insuportável. Ela queria abrir os olhos, mas algo a impedia.

Ela podia sentir mãos segurando as suas, e acariciando seu rosto. O toque era familiar, o perfume não lhe era estranho. Mas ela não podia ver quem era, e isso era frustrante.

- Claire, eu sei que você pode me ouvir... Acorda amiga. Estamos sentindo a sua falta.

Era Lisa. Claire não se lembrava de muita coisa, mas o que mais a perturbava eram os vestígios de uma conversa que ouvira, minutos antes de apagar.

-Temos que protegê-la, Anastácia. As coisas são vão piorar.

-Temos que proteger todos. São eles.

-É ela. Sempre foi. Eles são amigos, isso complica tudo. Apenas um pode comandar. Tanto esforço para afastá-los, no entanto, tudo em vão.

-Vai dar tudo certo querido. Eles vão encontrar uma maneira de salvar a Ordem.

Ordem. Que Ordem? Salvar o que? Comandar?

Claire jurava que eram as vozes de seus avôs. Mas sua mente começou a trabalhar devagar outra vez, uma dor incomoda no seu braço direito começou a levá-la para longe das suas suposições. A última coisa que ela conseguiu pensar foi que deveria acordar e rápido. E mais uma vez o mundo ficou preto.

Ela sentiu alguém sentar ao seu lado, e arrumar seus cabelos. As mãos eram firmes e carinhosas. Claire não sabia quem era, mas não se importava que continuasse. A sensação era boa, fazia com que ela não se sentisse tão morta.

“Santo Deus, será que eu morri? Não, impossível. Caixões não são tão confortáveis assim. Anda Claire, acorde. ACORDE!”

Petter viu a loira abrir os olhos devagar. Inconscientemente soltou um suspiro. O olhar de Claire ainda estava meio desfocado. Ela ainda não tinha reparado na sua presença. A garota arregalou os olhos, ela tinha reparado que estava em um hospital. Conhecendo a menina a sua frente como ele a conhecia, sabia que ela daria um ataque se tivesse que ficar algum tempo em observação. Ela detestava depender dos outros.

Finalmente, os olhos dela repararam que ele estava ali. Ela olhava-o espantada. Petter sentiu seu corpo se arrepiar. Ele tinha guardado secretamente, o fato de que estava desesperado caso ela não acordasse. Ele se lembrava de vê-la caída. Apagada. E o medo de não ver mais aqueles olhos que tentavam matá-lo todos os dias na escola, era insuportavelmente doloroso. Ele era ligado a ela de alguma maneira. Isto era inegável.

-Hey, você acordou. Como está se sentindo? – perguntou Petter

-Eu acho que estou bem. O que aconteceu? – os olhos dela não negavam que ela estava ansiosa pela resposta.

Petter hesitou. Nem ele tinha certeza disso. Sua memória estava confusa. Estilhaçada em mil pedaços. Mas uma certeza ele tinha, alguma coisa havia acontecido, e não era algo que se acontecia todos os dias.

-Sofremos um acidente, quando eu estava te levando para a casa. Pelo menos, foi isso que me disseram.

-Você está bem? – Claire perguntou. Ela tentou não transparecer ansiedade com a pergunta, mas Petter notou que ela estava preocupada. Com ele.

-Estou. Eu acordei há apenas uma semana. Estou em observação ainda.

-Fiquei apagada por quanto tempo?

- Três semanas, dois dias e duas horas e meia.

Neste momento, os olhares deles se encontraram. Os dois tinham certeza. Não havia sido um acidente, existia algo de muito mais sombrio nessa história.

Eles não puderam conversar sobre isso, nesse momento Lisa e Nick entraram fazendo bagunça. Ou melhor, brigando. Como sempre.

-Eu já falei para você calar a boca Blent.

Claire e Petter se olharam. Blent? Nick estava ferrado. Lisa quase nunca o chamava pelo sobrenome. Isso era sinal de nível cinco. Raiva a ponto de matar.

Mas a carranca dos dois transformou-se em sorrisos maliciosos. Petter não entendeu, até que olho para suas mãos. Claire e ele, ainda estavam com as mãos entrelaçadas. Com um pigarro, Claire soltou-se dele. Os dois coraram furiosamente, Petter não conseguia mais olhar para os olhos de Claire. Pela primeira vez, ele tinha ficado com vergonha.

-Atrapalhamos alguma coisa? – perguntou Lisa, com um olhar inquisidor para amiga.

-Não. Não estão atrapalhando nada! – Petter e Claire disseram ao mesmo tempo.

-Tem certeza Pontas? – Nick disse.

Nick chamava Petter de Pontas, por conta do cabelo do amigo, que vivia sempre espetado para todos os lados. Isso era sempre motivo de piada em sua casa. Nick não perdia a oportunidade de deixá-lo sem graça na frente de Claire.

-Cala a boca Blent!- Claire e Lisa disseram ao mesmo tempo.

Lisa, finalmente estava tranqüila. O medo de perder Claire para os Mercenários a tinha feito pensar em acabar com sua própria vida. Como se isso fosse possível. Ela juntamente, com os Summers e os Colt, decidiu que Claire, Petter e o Idiota do Blent, não deveriam saber de nada. Lisa sabia que isso não duraria muito tempo. A Quinta Ordem não daria conta de conter os Mercenários, eles precisavam de um líder, e Claire nunca mais teria sua vida de volta. Ela tinha medo que a loira, não a perdoasse por mentir por tantos anos. Tantos momentos. Contudo, Lisa tinha feito a coisa certa. Ela era uma guardiã desgarrada, ela tinha protegido a amiga não por obrigação, e sim por afeto. Tudo estava para mudar.

Mas poderia ficar para depois, ela instintivamente correu e abraçou a amiga. Claire estava abatida, e com os olhos tristes. Claire não acreditava que havia sido um acidente, e isso daria trabalho para Lisa.

-Santo Merlim! Você está bem Loira! – Lisa dizia com lágrimas nos olhos.

-Vaso ruim não quebra. – disse Claire rindo levemente.

Era claro para Lisa, que nem um dos três amigos presentes acreditava na história contada por ela, e pelos familiares. Esse fora o motivo da discussão dela e de Nick. Ele se lembrava de mais coisas do que ela poderia supor.

“Anastácia Colt, a senhora está perdendo seu dom. Ele se lembra mais do que é saudável pra sua vida.”

A avó de Claire não tinha feito o serviço direito. E isso trouxe problemas para convencer Nick Blent, a segunda pessoa mais teimosa do mundo. A primeira era Claire, e isso era ainda mais preocupante.

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Aquela tarde passou rápido. Claire não questionara muito sobre o ocorrido. Ela iria descobrir sozinha. Seus avôs tinham vindo vê-la, e os pais de Petter também. Parecia que todos queriam garantir que ela estava bem. E ela estava. Pelo menos fisicamente falando.

Como aquela tarde, os dias também passaram rápido. Claire percebia que Lisa estava muito empenhada em não fazê-la lembrar do acidente. A morena, passava quase todos os dias com ela no Hospital Center, juntamente com Petter, que também passava horas ali, mesmo que já tivesse sido liberado.

O dia em que Claire iria sair do hospital chegou e passou muito rápido. E ela já estava em casa. Ela não conseguia se lembrar de mais nada sobre o suposto acidente, e ela já estava começando a pensar que imaginou tudo enquanto estava apagada. Era isso que ela pensava, até o dia do seu aniversário.

Dezesseis de julho. Dezessete anos. Verão na Inglaterra. Aniversário de Claire. Ela acordou como sempre. Tomou seu banho. Vestiu uma blusa do Avengend Sevenfold, um short, e um All Star. Ela estava pronta. Quando desceu para o café da manhã. Seus avôs estavam esperando por ela, com grandes sorrisos nos rostos, e um bolo de morango enorme sobre a mesa.

-Feliz aniversário querida!-disseram os dois, dando a ela um grande abraço.

O café da manha seguia animado. Lisa já havia ligado, dando os parabéns para Claire. Ela parecia meio tensa, mais a loira preferiu pensar que era sono mesmo.

-Claire, eu quero te dar algo, que era da sua mãe. – Frank disse.

Claire, automaticamente sentiu seu estomago embrulhar. Sua mãe? Eles quase nunca comentavam sobre os pais dela, e sobre o trabalho do seu avô. Ela apenas sabia que sua mãe também trabalhava nisso. Ela não conseguia pensar direito. Sua mãe... As lágrimas não a obedeceram e começaram a rolar.

Seu avô foi até o armário da sala de estar. Um armário lindo. Ela nunca pode mexer ali. Era área restrita, como costumava dizer sua avó. Mas o presente dela sairia dali.

-Pode parecer um presente estranho, mas não faça perguntas querida, nem sempre temos respostas.

Dizendo isso, entregou a Claire, uma caixa. A caixa era feita de mogno, e com inscrições me latim. Era linda. Esse era o único pensamento coerente na cabeça da garota. Claire abriu a caixa.

Dentro dela estava uma adaga, dourada. Era simplesmente, fascinante. A lâmina era fina e afiada. Ela era delicada, mais perigou. Em seu punho tinha as palavras Bellator de lux.

Infelizmente Claire matou todas as aulas de Latim na escola.

Ao lado da adaga, tinha um colar. Simples, mais intrigante. Ele era de um dourado rose, com uma corrente fina e delicada, e um pingente simbólico escrito Claire. Seu coração parou.

-A adaga era da sua mãe. Ela tinha fascinação por artefatos que lembrassem as Eras Medievais. – explicava Anastácia.

- Já o colar, era do seu pai. Ele deu a sua mãe quando ela tinha dezessete anos. Acho que nunca comentei isso com você, mas o nome da sua mãe era Louise Claire Colt. Mas seu pai, chamava-a de Claire. – completou seu avô.

Claire não conseguia dizer nada. Seus pais. Ela tinha algo para lembrar-se deles. Finalmente, ela seria mais como seus pais.

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Ela se encaminhou para a escola como sempre. A caixa com a adaga pesava em sua mochila, mas ela não se importava o colar em seu pescoço a deixava tranqüila. Petter e Nick vieram abraçá-la e parabenizá-la pelo seu aniversário. Claire continuava achando os dois insuportáveis, mas depois do ocorrido, não tinha como eles não serem amigos. A frase Cace-o, ou você será caçada, mesmo que ironicamente, tinham juntado eles. E não era de todo mal, agora Claire poderia gritar ainda mais com o Summers.

O dia passou quase como um raio. Um dia normal. Nick e Lisa brigavam como sempre. Ela já estava exausta. Lisa estava tensa mesmo, tinha algo acontecendo. E Claire iria descobri.

-Lisa, o que está acontecendo com você?

-Porque Claire?

-Você está tensa. E você não está me contando algo. – disse Claire.

-Eu estou bem Loira. Você... só tome cuidado. Não quero que nada dê errado no dia do seu aniversário.

E com essas palavras sumiu no meio da multidão que se dispersava para ir para casa. Claire não entendeu o que a amiga quis dizer. Mas Lisa, era Lisa, nunca dizia coisa com coisa, e com um dar de ombros, seguiu seu caminho.

Lisa caminhava apressadamente pelos corredores, precisava encontrar Petter. Não demorou muito para encontrá-lo, era só procurar por um grupo de meninas se derretendo toda, que lá estava Petter Summers e Nick Blent.

- Petter, pode vir aqui um segundo? – ela estava ansiosa, ela precisava dele. Era mais seguro.

- Diga Lisa. O que houve? Aconteceu alguma coisa com a Claire? – o olhar dele demonstrava impaciência.

-Não. Ela está bem. Preciso que você fique de olho nela, eu vou ter que sair, e não quero que ela vá sozinha para casa. Você pode levá-la?

-Claro que posso Lisa. Mas, você está bem Lisa?

-Estou, é claro que estou.

Dizendo isso saiu apressada, ela precisava encontrar o portão rapidamente. Ela tinha que conversar com os outros. Eles precisavam impedir que Claire fosse morta.