- Acorda, Cassie. - minha mãe gritou lá de baixo.

Olhei para o relógio, faltavam cinco minutos para a aula começar e ainda não tinha nem tomado banho. Levantei tão rápido que me fez bater o dedo mindinho do pé na escrivaninha ao lado da cama. Comecei a pular que nem uma louca por causa da dor. Minha mãe subiu as escadas, abriu meu armário e começou a colocar minhas roupas limpas lá dentro, nem se importando com a dor que eu estava sentindo. Depois de todo um escândalo dizendo "Você não liga se eu estou com dor, você só observa e me ignora", fui direto para o banheiro, fiz minha higiene matinal, me arrumei e desci para pedir carona ao meu pai que por desventura já tinha ido trabalhar. Minha mãe estava rabugenta hoje, diria que ela estava na menopausa, ela tinha medo de ficar velha, e o pior é que eu só zoava com a ideia de ter uma velhinha em casa. Quase implorei para que ela me levasse e nada, parecia que não queria que sua única filha fosse para a aula. 

- Tá, então vou ficar em casa. - gritei batendo os pés no chão emburrada e indo sentar no sofá. 

- O que você pensa que está fazendo? - indagou ainda calma, ela havia tirado o dia para me incomodar.

- Estou sentando na sofá, proibido agora? - falei arqueando as sobrancelhas.

- Claro que sim, quando se tem a casa inteira para limpar não pode ficar vendo tv. - ela olhou para mim, pegou o controle da minha mão e desligou a televisão. - To saindo, tenho que ir no mercado. Quando eu voltar quero essa casa um brinco. 

Então era isso, ela não queria que eu fosse a aula por causa da faxina do mês? Ela odiava esse dia, todos odiávamos. Sempre uma vez por mês ela tirava o dia inteiro para arrumar a casa e o pior é que eu sempre tinha que ajudá-la, meu pai sempre arranjava uma desculpa para não estar em casa nesse dia, hoje por exemplo ele disse que iria viajar a negócios. Então tá, me conformei com a situação e fui até a área de serviço pegar os produtos para limpar a sala - o lugar mais sujo da casa -, levo um susto quando percebo alguém tentando pular o muro de trás da minha casa - o que fechava a área de serviço -. Era Amelia que estava escondida.

- Ai, garota - gritei quando ela aterrizou no chão. - Você me deu um susto. 

- Eu vi, foi engraçado. Principalmente sua cara feia. 

- O que você quer? - falei emburrada.

- Vim te pegar para irmos pra aula.

- Mas não tem como, vamos voando? - perguntei sendo sarcástica.

- Claro, comprei as asas na loja de 1,99. - ela falou ironizando. Simplesmente a olhei e ela continuou. - O John está ali fora com a mãe dele, ele veio te buscar com a minha insistência, claro. - ela deu um sorriso.

- Como você sabia que eu não iria pra aula hoje? 

- Ah era obvio, dia de faxina.

- E como você sabia que era dia de faxina? - Nem eu me lembrava que seria hoje.

- Simples, quem você acha que teve que ajudar sua mãe na última vez? - ela me olhou se lembrando dos maus momentos que conviveu com as vassouras e produtos de limpezas ao lado da minha mãe. 

- Coitadinha - falei rindo

- Vamos? 

- Lógico.

Antes de sair escrevi um bilhete e deixei na mesa da cozinha, nele continha o seguinte recado: "Fui a escola, Amelia deu um jeito para eu poder ir. Sinto muito não poder te ajudar, queria estar aqui limpando o chão e tudo mais, mas os estudos em primeiro lugar correto? Beijos". Aposto que quando ela ler o bilhete vai ficar muito irritada, mas não poderia fazer nada, eu queria ir para a aula, e principalmente em circunstância nenhuma eu iria perder essa oportunidade de não fazer a faxina. 

- Oi, John. - eu disse entrando no carro. - Olá, Sra. Smith.

- Olá, Cassie. - disse Trisha.

Ela dirigia o carro indo ao colégio enquanto o John quase quebrava o pescoço olhando para trás e conversando com a gente. 

- Não, de jeito nenhum. - falei já cansada de repetir a mesma coisa.

- Claro que sim. - John disse fazendo biquinho.

- Acho que o John está certo. - Amelia falou com a intenção de querer causar briga.

- Cansei de falar com vocês. - disse virando a cara emburrada para o vidro do carro, avistando assim, as ruas.

Amelia e John começaram a conversar sobre mim e simplesmente os ignorava. Estávamos próximos ao colégio quando de repente Trisha freia o carro com toda a força, assustando-nos e fazendo cada um olhar para frente. 

- O que foi mãe? - John perguntou apavorado.

- Nada, tive a impressão de algo correndo. - ela falou um pouco confusa se tivera visto algo ou não. - Deve ser somente a velhice filho. - ela falou cabisbaixa.

No momento em que ela colocou o pé no acelerador aparece alguém batendo no vidro do carro no qual eu estava olhando a minutos atrás, levei um susto junto com todos que estavam no carro. Era Cate que sorria para mim.