Vidas Em Guerra escrita por A Granger


Capítulo 22
Uma Conversa na Cozinha


Notas iniciais do capítulo

Eu estou atrasada, eu sei.
Tive duas provas ontem e cheguei acabada em casa, isso e mais o frio que parecia congelar meus dedos não me deixaram terminar de corrigir o cap, admito :/
Mas aí esta ele, espero que gostem =]



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Os espectadores logo se dispersaram quando Sarah deu as costas a Anthon e se afastou dele. Alguns ajudaram o Culligan a se levantar e começaram a levá-lo até a enfermaria.

--Como ele está? – perguntou Sarah a Phillip se referindo a Kaill.

Phillip a encarou espantado.

--Você já notou a mancha de sangue em sua camisa, Hawkey? – perguntou Dalton antes do outro responder – Não quero nem imaginar como esta por dentro.

--Não é nada – ela respondeu sem sequer olhar para si mesma – Como o garoto está, Crensor?

--Vai sobreviver – respondeu Phillip, finalmente.

--Mas acho que no momento a enfermaria não é um bom lugar pra ele – opinou Nathan apoiado a parede do poço.

Sarah se abaixou em frente à Kaill e tocou o queixo dele que se retraiu com dor.

--Venham comigo – disse ela se levantando e apontando para Nathan – Coursoni, ajude o Crensor a trazê-lo.

Os três se encararam desconfiados e confusos com a ordem dela, mas como Sarah já tinha se virado e começado a andar eles decidiram apenas obedecer e a seguiram. Ela entrou diretamente na cozinha e os três ficaram ainda mais confusos se deveriam segui-la ou não. Acabaram entrando, com Dalton a frente, a tempo de verem uma garota correr em direção a Sarah.

--Oh não, Sarah! Você está sangrando! – disse Lúcia ao se aproximar e notar o sangue na camisa da amiga – Espere aqui que eu...

--Lúcia – chamou Sarah interrompendo-a – Lúcia, não é necessário. Eu estou bem. É ele quem precisa de ajuda – terminou Sarah apontando para Kaill que era carregado por Nathan e Phillip.

Lúcia arregalou os olhos ao notar o rapaz, apontou para uma mesa vazia no canto a esquerda de onde estavam e saiu gritando quando estava um pouco longe que já voltava. Com a ajuda de Dalton Kaill foi colocado sobre a mesa e os outros quatro se sentaram nos bancos; Phillip e Nathan de um lado e Sarah e Dalton do outro.

--Obrigado – disse Dalton a Sarah.

--Pelo quÊ? – ela perguntou sem encará-lo.

--Por isso – ele disse se virando de frente pra ela e apontando a mancha de sangue na camisa de Sarah – Se você não tivesse me empurrado Anthon teria me acertado em cheio com aquela adaga. E, antes disso, por ter parado Cestern também.

--Não foi nada – ela respondeu simplesmente – Só fiz o que tinha que fazer.

--Você não tinha que salvar o Dalton – disse Phillip encarando-a do outro lado da mesa – Nem a ele, nem a Kaill. E ainda assim salvou. Por quê?

--Porque ela é maluca – disse Nathan em tom de brincadeira fazendo com que todos o olhassem – Só alguém maluco conseguiria fazer o que ela fez. Pelos céus, rapazes – ele sorriu – ela teria acabado com os quatro sozinha se não tivéssemos chegado.

Sarah se permitiu um meio sorriso enquanto Nathan relembrava os melhores momentos da briga. Logo depois Lúcia voltou com os braços cheios de potes e outras coisas. Sarah se levantou para ajudá-la e as duas distribuíram tudo numa das pontas da mesa. Depois cuidaram dos ferimentos de Kaill, que conseguiu se sentar em um dos bancos.

--Sarah- chamou Lúcia baixinho atraindo a atenção da outra, depois se dirigiu aos outros – Se nos derem licença, cavalheiros, a Srta Hawkey também precisa de cuidados. Vamos? – disse por fim chamando Sarah.

--Não é necessário, Lúcia – Sarah começou a dizer, mas vendo a expressão irritada da garota se levantou, deu a volta na mesa, sentou-se então com uma perna de cada lado do banco de costas para os rapazes e com o lado esquerdo do corpo perto da parede – Pronto, Lúcia. Já que insiste. O ferimento é pequeno e você pode cuidar dele aqui mesmo.

--Mas Sarah.... – começou a dizer Lúcia.

--Não se preocupe – interrompeu Sarah – Tenho certeza de que meus caros colegas não se importariam de se virar enquanto você faz isso.

Com a clara indireta os cinco se sentaram do lado oposto e de costas as duas. Lúcia ergueu aquele lado da camisa dela encontrando as ataduras que Sarah usava em volta dos seios e que cobriam toda a parte superior de seu tronco. O corte com pouco mais de cinco centímetros estava a quatro dedos do fim das ataduras, exatamente sobre a ultima costela. Não que alquilo ainda pudesse ser realmente chamado de corte visto o enorme hematoma que havia se formado em volta do ferimento inicial. Sobre o corte Lúcia aplicou um cicatrizante de plantas medicinais maceradas e no hematoma em volta a mesma pomada que tinha usado em Kaill. Logo depois a garota enfaixou o local e Sarah abaixou a camisa se virando para os outros outra vez. Os cinco a encararam por um tempo até Kaill se manifestar

--Não sei como lhe agradecer Srta Hawkey, eu...eu realmente não sei – disse ele baixando a cabeça ao ver os olhares de todos sobre ele.

--Comece não me chamando de “Srta”. Manter a cabeça erguida enquanto fala comigo também seria muito bom – ela responde encarando-o – Tentar ficar longe daqueles quatro para que eu não tenha que repetir a cena de hoje também seria ótimo. Agora, se me dão licença, eu tenho que comer e ir para as forjas trabalhar.

--Vou buscar seu almoço – disse Lúcia se levantando e saindo.

Sarah esperava que os cinco fossem sair, afinal, nenhum deles havia lançado a ela mais do que um ou outro olhar acidental. Mas, ao se sentar corretamente e ficar de frente para a mesa ela notou que nenhum deles havia se movido.

--Porque? – Phill repetiu a mesma pergunta encarando-a – Porque você o ajudou? Porque impediu que nós nos machucássemos quando viemos ajuda-la? Porque se preocupou com tudo isso quando tudo o que nós temos feito no ultimo mês e meio em que você esteve aqui foi ignora-la?

Sarah apoiou os antebraços sobre a mesa, abaixou a cabeça, deixou os ombros caírem e se permitiu inspirar profundamente antes de voltar a encarar o homem de cabelos loiros a sua frente e responder:

--Porque a culpa de eu ser o que sou e ter escolhido estar aqui não é de nenhum de vocês. Porque o que Anthon e o grupinho dele estavam fazendo era errado. Porque odeio idiotas que usam o sobrenome para influenciar outras pessoas. Porque todos nós aqui, querendo ou não fazemos parte do mesmo grupo e eu nunca mais vou deixar um inocente ser ferido na minha frente outra vez – os cinco estavam boquiabertos ouvindo o que ela dizia – Eu os ignorei porque fui ignorada, mas se qualquer um de vocês precisar da minha ajuda, desde que saibam como pedir, eu não vou me negar a ajudar.

--Você sabe que foi colocada no nosso grupo porque já somos ignorados e renegados aqui dentro e que, junto conosco, você dificilmente poderá progredir? – perguntou Dalton com um meio sorriso, como se pensasse que aquilo poderia ser novidade para ela.

--Sei perfeitamente – respondeu Sarah.

--E ainda assim não reclamou quando a colocaram conosco? – exclamou Kaill – A Srta é dezenas de vezes melhor que todos nós, devia ter reclamado.

--Me chame de Hawkey, Kaill, não vou repetir isso – ela disse encarando o garoto, depois apoiou o rosto na mão esquerda – Reclamar com o Velho Rohks não adiantaria nada. Já foi difícil ele me aceitar na Academia. Não posso reclamar só porque vocês me ignoram e os instrutores parecem não se preocupar se estamos aprendendo ou não. E depois, se vocês não se ajudam não sou eu que vou interferir.

--Nenhum de nós tem esperanças de sair daqui, Hawkey – disse Dalton serio encarando-a – A maior parte dos membros do 3-B e composta por filhos de camponeses e pequenos comerciantes. Ninguém com essa classificação sai formado da Academia, a não ser que seja excepcionalmente perfeito em alguma coisa. Não sermos expulsos é o melhor que podemos fazer.

--Em uma coisa você tem razão, Hansom. Apenas por talento individual nenhum de vocês cai sair daqui – disse Sarah cruzando os braços sobre a mesa.

--O que esta insinuando? – perguntou Nathan curioso.

--Simples – disse ela e apontou para Kaill –excepcional na técnica da esgrima, mas não tem força para lutar – apontou para Dalton – Muita força e pouca técnica – apontou então para Phillip – Excelentes estratégias e visão de luta, sem controle ou confiança para executá-las – Por último apontou para Nathan – Nunca duvida de si mesmo, mas não tem noção do que esta fazendo quando luta. Sozinhos nenhum de vocês é bom o bastante, mas se, ao invés de se ignorarem, ajudassem uns aos outros conseguiriam suprir essas deficiências. Mas vocês não se ajudam! – exclama ela demonstrando irritação – Parecem até conformados e permanecer nessa situação.

--Como sabe tudo isso a nosso respeito? – perguntou Phillip surpreso.

--Ignoramo-nos mutuamente, mas não sou cega, Crensor. Um dia, em alguma ocasião, eu teria de lutar contra algum de vocês. Apenas os observei para achar seus defeitos – respondeu ela dando de ombros.

Nessa hora Lúcia voltou com um embrulho onde estava o almoço de Sarah. A Hawkey se levantou, agradeceu a garota e saiu se dar mais explicações aos quatro. Logo depois eles também saíram.

--Rapazes – chamou Nathan quando eles já estavam fora da cozinha e os outros se aproximaram para ouvi-lo – Tive uma ideia e a estou achando meio maluca.

Todos o olharam como se aquilo não fosse nenhuma surpresa. Nathan revirou os olhos e continuou:

--A Hawkey esta aqui a menos de dois meses e foi capaz de notar tudo aquilo sobre nós. Coisas que nós levamos anos de convivência para aprender. Ela também luta melhor que qualquer um de nós e nem adianta reclamar Dalton – Nathan cortou o amigo que fechou a boca sem fazer a reclamação que pretendia – Vocês sabem que é verdade. E, sinceramente, nos seis anos em que estive aqui ela foi a primeira pessoa que vi se importar com nosso tipo. A primeira que mesmo podendo, não nos intimida ou caçoa de nossas falhas. Eu posso estar errado, e talvez eu esteja muito errado, mas quando a vi lutando de verdade hoje e a ouvi falar não pude me impedir de pensar que: se eu confiasse nela, ela nunca iria trair essa confiança.

Nathan era conhecido por ser o maluco do grupo. O cara que sempre fazia as coisas que os outros não acreditavam que alguém faria. Aquele que estava sempre errado, sabia disso e insistia no erro só para ver no que iria dar. Mas, dessa vez, nenhum dos outros três o contestou. Mesmo que ainda não admitissem tinham sentido a mesma coisa. Os quatro haviam sido os primeiros a notar que Sarah Hawkey não era só uma mulher comum. Foram os primeiros a realmente ver que aquele olhar cinza poderia ser mais assustador do que qualquer cara feia e ameaça que os outros alunos poderiam ser capazes de fazer. Mas o que fariam com esse conhecimento nenhum deles sabia ainda.


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