Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 13
"Desesperada"




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Laura e Edgar não conseguem acreditar no que vêem. À sua frente, no meio da sala, Catarina grita alterada pela filha. Ainda não refeito do choque, Edgar tenta acalmá-la e entender o que se passa.

Edgar: Catarina! Pare de gritar, por favor. Você está em minha casa, controle-se. O que é que você está fazendo aqui? – interroga agitado.

Catarina: Ora, Edgar. Você ainda pergunta? Você me deixou sem notícias, eu estava em pânico pensando o pior. Onde está a Melissa? Eu exijo ver a minha filha – dramatiza deixando cair uma lágrima.

Laura perde a cor. Suando frio e completamente assombrada pela presença repentina de Catarina em sua casa, a jovem dá um passo em frente mas um mal estar a impede de continuar. Edgar a ampara e chama por Matilde que logo corre escada abaixo.

Edgar: Matilde pegue um copo de água com açúcar p´ra Laura, por favor.

Ajoelhado ao lado da esposa quase desmaiada no sofá, Edgar ergue a cabeça e fulmina Catarina com o olhar.

Edgar: Melissa está ótima. Vá embora Catarina, você já causou estragos suficientes por hoje. Deixe o endereço do hotel onde está hospedada e saia da minha casa. Amanhã eu te procuro p´ra conversar direito.

Catarina: Não, eu não saio daqui sem ver a minha filhinha.

Edgar: Não me obrigue a te mostrar a saída. Agora vá, amanhã você vê a Melissa – insiste endurecendo a voz.

Catarina: Tudo bem! – concorda fingindo enxugar as lágrimas – Mas ai de você se não me procurar amanhã.

Por fim a cantora se retira depois de deixar na mesinha ao lado do sofá um pequeno cartão com um endereço. Desesperada, Laura se descontrola e chora copiosamente. Sem saber o que fazer, Edgar senta-se ao seu lado, puxa-a para si e aperta-a nos braços como que querendo livrá-la de todo o sofrimento.

Edgar: Você está me assustando Laura. Se acalme meu amor, se acalme. Pense no nosso filho, você não pode ficar desse jeito. Matilde, telefone para a casa do Dr. Assunção e peça-lhe que venha até cá o quanto antes. Vou levar a Laura p´ro quarto. Assim que ele chegar peça-lhe que suba.

O advogado toma a esposa nos braços e a leva até ao quarto. Aos poucos, Laura vai-se recompondo e controla o choro.

Laura: Diz que foi um pesadelo Edgar – implora

Edgar: Como eu queria poder te dizer isso Laura. Eu juro que não sei o que ela está fazendo aqui.

Laura: Nos atormentando, Edgar. É isso que ela veio fazer aqui, entrando dessa forma na nossa casa. Esse é o troco que ela está me dando por eu ter ido com você a Portugal – conclui.

Edgar: Tenta não pensar nisso agora. Você está muito nervosa. Pedi p´ra Matilde chamar o seu pai, ele deve estar chegando.

Laura: Eu não vou aguentar essa mulher aqui. A gente precisa fazer alguma coisa. Ela tem que voltar p´ra Portugal.

Sentada na cama, Laura volta a se descontrolar. Agitada ela leva as mãos à cabeça e começa a balançar lentamente o corpo de frente para trás deixando novamente que as lágrimas lhe inundem a face pálida. Edgar não sabe mais o que fazer. Ele também se sente sem chão. Nunca pensara que Catarina fosse aparecer assim, de surpresa. Seu instinto protetor lhe dizia para se concentrar em Laura mas, ainda assim, não parava de pensar nas cartas que enviara para Portugal. O que teria acontecido? Tenta conter a esposa cada vez mais inquieta. Laura sente o coração na boca. Os batimentos acelerados, seu corpo inteiro treme e começa a sentir dificuldade em respirar. Num instante, leva a mão ao ventre e solta um grito de dor. Edgar se apavora com o seu estado e aflito tenta deitá-la. Assunção chega entretanto e corre para socorrer a filha.

Assunção: Edgar, o que está acontecendo? Eu vim o mais rápido que pude.

Edgar: Dr. Assunção, por favor, faça alguma coisa. A Laura… o bebê… eu não sei…

Assunção: Afaste-se um pouco, deixe-me ver a minha filha. Laura, querida, fale comigo. O que você está sentindo? Laura?

Laura: Pai… pai me ajuda. Aiiii… ´tá doendo muito…

Assunção: Meu Deus! Procure se acalmar minha filha. Não vai acontecer nada com você, eu não vou permitir.

Laura: …meu filho…

Assunção: Deixe-me examiná-la. Eu preciso saber o que está acontecendo com você e o meu neto. Edgar me ajude a deitá-la.

Edgar mal consegue segurar Laura de tão trémulas que suas mãos estão. Após alguma relutância ambos conseguem deitá-la na cama. Uma angústia os assola e Edgar não contém as lágrimas. Da saia branca riscada de Laura sobressai uma mancha de sangue. A dor se agudiza. Sente como se lhe dilacerassem a alma.

Edgar: Ah não. Dr. Assunção faça alguma coisa, pelo amor de Deus.

Dr. Assunção: Edgar chame a Matilde e pegue a minha mala ali do chão e abra aqui do meu lado, rápido.

Edgar vai até à porta e grita a plenos pulmões o nome da empregada. O ruído acorda Melissa que dormia tranquilamente no quarto em frente. Matilde chega ao corredor e, à porta do cómodo, se assusta com o estado da patroa.

Dr. Assunção: Edgar vá ver a sua filha. Deixe que eu e a Matilde cuidamos de Laura. Matilde venha cá. Preciso que me ajude a tirar as roupas dela.

Edgar está petrificado na porta do quarto. O medo congela-lhe a alma e o impede de se mover. O choro da pequena se intensifica. Assunção tenta chamá-lo à razão e ordena-lhe novamente que vá acalmar a criança. Por fim ele cede e se dirige ao quarto de Melissa.

Matilde: Dr. Assunção… esse sangue. A dona Laura não…

Dr. Assunção: Não. Há de ser uma pequena hemorragia mas preciso controlá-la o quanto antes.

Tendo terminado de despir as roupas de Laura, Matilde procura Edgar e, a pedido de Assunção, consegue arrastá-lo até à sala. Constância chega nesse momento. Alertada por Luzia de que Assunção saíra às pressas para socorrer a filha, a baronesa chega à residência com os nervos em franja.

Constância: Edgar! O que está acontecendo? Luzia me disse que você mandou chamar o Assunção. O que houve com a Laura?

Edgar: Ela ´tava bem… mas depois… ela apareceu aqui e… a Laura passou mal e… os gritos… o sangue… tinha sangue nas roupas…

O olhar perturbado de Edgar e as meias palavras apavoram ainda mais a baronesa. Faz menção de subir as escadas mas desiste ao ver o marido descendo com as roupas suadas e sujas de sangue e os cabelos desgrenhados.

Constância: Assunção… o que… o que aconteceu?

Edgar: Cadê a Laura? O meu filho… não pode ser.

Assunção termina de descer os degraus. Seu ar exausto tolhe seu caminhar que se torna cada vez mais pesado. Encaminhando-se para o centro da sala ele dá a notícia.

Dr. Assunção: A Laura está bem agora. Consegui fazê-la dormir. Foi difícil mas consegui conter a hemorragia. Ela está fraca, demasiado nervosa mas o bebê está bem, por agora.

Todos respiram um pouco mais aliviados. Constância abraça o marido visivelmente abalada.

Edgar: Não sei como lhe agradecer, Dr. Assunção. Eu vou subir p´ra vê-la.

Dr. Assunção: Não! – fala firme – Ninguém sai dessa sala até eu dar ordem. A Laura estava delirando de dor mas eu entendi muito bem quando ela mencionou o nome da mãe da sua filha. Edgar? Por acaso essa mulher tem alguma coisa a ver com o que se passou aqui essa tarde?

Edgar: Eu… melhor deixarmos essa conversa p´ra depois. Preciso ver a Laura.

Dr. Assunção: Não mude de assunto. Edgar, eu lhe tenho muito respeito e carinho, mas se essa mulher tem alguma relação com o estado da minha filha eu quero saber. Fale.

Constância: Nem precisa dizer. Basta olhar p´ra você e logo se vê que o delírio de Laura tem fundamento. O que houve afinal Edgar? Por acaso ela escreveu alguma carta que tenha deixado Laura nesse estado?

Edgar: Não. Foi pior que isso… ela está no Rio. Apareceu de surpresa aqui em casa hoje à tarde – conta consternado.

Constância e Assunção ficam sem reação. A baronesa se revolta e inicia uma discussão mas Assunção a impede de avançar. Edgar não fala mais nada e sobe a escada. Algumas velas iluminam o quarto onde Laura dorme agora tranquila. Um choro triste o acomete novamente. Pé ante pé, o advogado se aproxima da cama e se aninha ao lado da esposa velando seu sono e o do bebê que quase perderam. A culpa. Novamente a culpa se apodera dele. Catarina entrara de novo em suas vidas… ou talvez nunca tivesse saído.

Algumas horas depois, Assunção e Constância continuam na sala esperando ansiosamente que Laura desperte. Perdidos em seus próprios pensamentos, mal se apercebem quando o genro os chama do meio da escada. Laura estava acordada e chamava pelo pai. Constância os segue aproveitando o momento para guardar na bolsa o cartão com o endereço do hotel que Catarina deixara na mesinha. Os três tentam animar a jovem. Constância abraça a filha imóvel e promete cuidar dela mas Laura vai direta ao ponto.

Laura: Pai. O meu filho… corre algum risco?

Dr. Assunção: Filha, eu gostaria muito de te dizer o contrário mas, como pai e como médico, devo ser verdadeiro. Sim. Sua gravidez é de alto risco. Outro episódio como esse e… não sei se teremos a mesma sorte.

Laura: Não vou ficar aqui e colocar o meu filho à mercê dessa confusão. Quero ir p´ra nossa fazenda. Pelo menos até o nascimento do bebê.

Edgar: Fazenda? Mas Laura lá não tem condições. Aqui em casa você está melhor, o seu pai está por perto.

Dr. Assunção: Laura tem razão Edgar. Com essa mulher por aí e essa situação fora do controle, o melhor para ela é se retirar para um lugar tranquilo onde ninguém irá perturbá-la. Espere uns dias para se recuperar um pouco. Enquanto isso eu tratarei de tudo.

Edgar fica confuso com a decisão de Laura e Assunção.


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