39º Jogos Vorazes - Quill Rivera escrita por Time


Capítulo 6
Colheitas - Parte final


Notas iniciais do capítulo

Olá, galerinha!
Mil desculpas pela demora! Semana muuuito conturbada!
Mas finalmente saiu!
Prometo que é o último com colheitas! É que essas personagens se recusaram a permanecerem no anonimato!
Abção!



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Distrito 7 – Cae Rivers e Clair Wother

Cae cortava as árvores com uma ferocidade e agilidade impressionantes. Estava com raiva. Muita raiva.

“Nem na porcaria do dia da Colheita, ele me libera do trabalho!” ele fica repetindo isso incontáveis vezes, enquanto dilacerava os pinheiros. Não que ele estivesse ansioso para a Colheita, mas qualquer possibilidade de descansar já seria ótima para Cae.

Seu patrão só o liberou faltando uma hora para a colheita. Cae chegou bufando em casa. Seu irmão, Kyle, estava sentado na cozinha, tentando sintonizar seu rádio.

“Dia ruim?” Ele perguntou sem tirar os olhos do rádio.

“Muito.” Cae disse indo direto para o banheiro. O que mais irritava Cae era que seu irmão havia conseguido uma folga. Ele não.

Cae morava com o irmão numa casinha em um povoado carente do Distrito 7. Seus pais morreram muito cedo, deixando os irmãos sozinhos.  Hoje, Kyle tem dezenove anos e Cae dezesseis.

Cae tomou um banho bem demorado e colocou sua camisa verde e um jeans velho. Não viu por que se arrumar tanto, afinal, era apenas mais um dia de Colheita.

Ele saiu do banheiro com os cabelos ainda molhados e com a toalha nos ombros. Kyle ainda estava no mesmo lugar, ainda tentando sintonizar em alguma estação. Não havia muitas e as que existiam, quase todas clandestinas, tinham um péssimo sinal. Cae se aproximou do irmão e questionou:

“Você não vai?”

“Não.”

“Não? Por quê?”

“Por que, finalmente, eu consegui me livrar dessa idiotice que são Jogos Vorazes, quero distância de qualquer coisa se envolva com eles. E isso inclui a Colheita.” Ele disse com certa revolta. Kyle tinha acabado de completar dezenove anos. Isso significava que ele não poderia mais participaria dos Jogos.

“Mas esse é o primeiro ano da Clair...” Cae disse com tristeza.

Essas palavras mexeram com Kyle. Quando Kyle tinha 12 anos, foi sorteado para participar dos Jogos Vorazes, mas um garoto, Clovis Wother, se ofereceu para ir em seu lugar. Clovis era uma pessoa muito boa, tinha um coração enorme. Mas Clovis não era um bom lutador. Foi morto ainda no banho de sangue. Após isso, Kyle e Cae criaram uma relação afetuosa com a família Wother, e juraram que, um dia, retribuiriam o favor feito por Clovis.

“Certo.” Ele disse com um suspiro. “Vou colocar uma calça.”

***

A praça estava cheia, todos se apertavam como podiam. A Praça do Distrito 7 não era muito grande, era de terra batida e tinha vários pinheiros em volta dela. Cae se espremeu na fila dos garotos de 16 anos, enquanto Kyle se escorou em um dos pinheiros da praça.

Alguns minutos mais tarde, os irmãos avistaram uma garotinha que andava tristemente, de mãos dadas a mãe. Ao avistar Kyle, a garotinha largou as mãos da mãe e correu em sua direção, muito sorridente. Ela se jogou nos braços dele e ele a envolveu ternamente.

“Kyle!” Ela gritava

“Clair!”

A mãe da garota logo alcançou a filha.

“Oi, Dalia!”

“Olá, Kyle!” Ela disse “Cadê o Cae?”

“já está na sua fila, aguardando...”

“Bem lembrado.” Ela disse com certa tristeza “Precisamos ir, Clair...”

“Eu não quero ir... estou com medo mamãe...”

Os olhos de Dalia se encheram de lágrimas. Dias de Colheita eram extremamente difíceis para ela.

“Eu sei querida, mas...” Antes que Dalia pudesse concluir, Kyle falou sorrindo

“Calma Clair! Não precisa ter medo! É só uma Colheita. Sem chance de você ser sorteada!” Seu tom era calmo, mas falso. Kyle se contorcia por dentro. Só de pensar que Clair poderia ir para os Jogos, o estômago dele dava piruetas.

“E, se você sentir medo, basta olhar para mim ou para o Cae!”

“Certo...” Clair disse relutante

“Vamos querida, antes que os pacificadores venham nos aborrecer...”

***

Schylar Lightress olhava para a multidão amontoada na praça do Distrito 7 com desprezo. Ela odiava seu trabalho. Quando disseram que ela seria uma acompanhante, ela pensou que seria incrível, que iria para o Distrito 1, como sua mãe, e se encheria de jóias, fama e glamour. Mas eles a colocaram no Distrito 7, cheio de madeireiras e florestas. Sendo que Schylar odiava a natureza e tudo que se envolvesse muito com ela.

Esse ano, seu cabelo estava branco, contrastando com seu longo vestido preto brilhante. Seu rosto era bem fino, os lábios grandes, entupidos de botox; seus olhos esticados, por contas das cirurgias plásticas, e o nariz pequeno e arrebitado.

Depois que o prefeito terminou seu discurso, Schylar caminhou até o microfone e disse, com um sorriso tão enojado, que algumas crianças se assustaram com a careta.

“Sejam bem-vindos!” Ele disse passeando os olhos pelo povo “Que a sorte esteja sempre ao seu favor! Vamos ao sorteio! Damas first!”

Ela rebolou até os globos de cristal e de lá retirou um papelzinho. Ela leu e falou sorrindo para o público:

“Clair Wother!”

Pode se ouvir o grito de espanto de um garoto e o choro de desespero de uma senhora, mas ninguém se mexeu.

“Clair Wother, doçura! Não tenha medo! Suba aqui com a Tia Schylar!” Ela disse ainda mais falsa que antes.

Na primeira fila, uma garotinha loira de olhos castanhos começou a caminhar para o palco. Seus membros tremiam e seus olhos estavam cheios d’água. Ela subiu e se posicionou na direita de Schylar.

“Que coisinha mais fofa você é!” Ela disse enquanto se abaixava para beijar o rosto de Clair, mas a garota se afastou com medo da carranca da acompanhante.

“É tímida! Mas não se preocupe! Teremos muito tempo para nos conhecermos melhor!” Ela disse sorrindo. Mas Clair não a deu atenção. Ela olhava fixamente para a área dos rapazes, com lágrimas escorrendo pelos olhos.

Schylar se virou para o povo, um pouco ofendida pelo desprezo, e continuou:

“Agora, os rapazes!”

“Eu me voluntario!” Disse uma voz que vinha das filas do meio.

Schylar tomou um susto tão grande que quase caiu do palanque.

“Um voluntário! Venha, suba até aqui!”

Um garoto alto e robusto começou a caminhar pesadamente até o palco. Ele tinha cabelos castanhos escuros assanhados e espetados, seus olhos eram grandes e verdes e ele tinha uma barba rala que o fazia parecer mais velho.

“Qual o seu nome?”

“Cae. Cae Rivers.” Ele disse enquanto se posicionava ao lado da garotinha e segurou sua mão.

Schylar olhou para os dois com certa desconfiança, mas logo voltou ao normal e disse sorridente para o povo:

“Distrito 7! Eis os seus guerreiros: Clair Wother e Cae Rivers!”

Cae olhou para Clair e sussurrou no seu ouvido

“Eu te protejo.”

Distrito 8 – Missy Glonsbury

Missy estava dentro do armário com as mãos nos ouvidos, como sua mãe, Marie, havia mandado, mesmo sem entender muito bem. Mesmo para Missy, que era pequena para uma garota de oito anos, o armário era bem apertado e quente. Muito quente.

Missy passou uns quinze minutos pensando se já poderia sair ou não do armário. Ela achava que não, mas o calor e a curiosidade foram mais fortes. Calmamente, ela abriu uma pequena fresta e o armário se encheu de um ar frio, para alívio de Missy, mas o cheiro estava estranho, muito forte, mas ela achava que conhecia esse odor de algum lugar.

Ela decidiu olhar pela fresta, para procurar de onde poderia vir o cheiro. Missy, relutantemente, colocou um dos os olhos na brecha da porta, que logo se arregalaram com o que viram. Ela ficou pálida instantaneamente. Suas mãos foram até a boca, para reprimir um grito. “Não. Não pode ser real...” Ela repetia mentalmente. Tremendo, ela votou a olhar pela brecha, para comprovar o que havia visto. Era real. E ela havia descoberto que cheiro era aquele: sangue.

Missy saiu do esconderijo e ficou encarando o corpo, sem saber o que fazer. Ele estava estirado no chão, com a face virada para o armário onde ela estava. No meio da testa do corpo, havia um buraco, de onde corria um fino rio de sangue. Ela encarou os olhos do corpo, frios e sem vida. Tocou no rosto do homem. Lágrimas escorriam de sua face.

“Quem fez isso com o senhor, Papai?” Ela repetia incessantemente.

Depois de alguns minutos chorando, Missy foi procurar sua mãe. Olhou no banheiro, na sala e no seu quarto, mas não achou nada. Só faltava um cômodo: O quarto de seus pais. Cautelosamente, ela abriu a porta do quarto. Ela entrou relutante e olhou para a cama. Lá estava sua mãe. Morta.

Marie estava deitada na cama. Pelada. Sangue jorrava de um profundo corte em sua garganta. Missy se aproximou da mãe. Ela não estava com medo, não chorava, não conseguia sentir absolutamente nada. Missy apenas pensava em o que poderia ter feito aquilo.

Missy se sentou ao lado da mãe e a abraçou, ficando encharcada de sangue. Ela acariciou o rosto da mãe, a beijou na testa e começou a cantarolar uma das canções que seus pais cantavam quando ela tinha medo.

***

Joell era o homem designado pela Capital para acompanhar os tributos do Distrito 8. Ele era alto, forte e muito bonito. Seus cabelos eram dourados e seus olhos eram violeta.

Ele se encaminhou para o centro do palco e deu um sorriso para a área da praça onde estavam as garotas e disse:

“Bem vindos a 39ª edição dos Jogos Vorazes!” Ele voltou a olhar para as garotas e continuou:

“É sempre um prazer poder desfrutar da presença de garotas tão adoráveis! Vamos ao sorteio!” Sem muitas cerimônias ele pegou um papel no globo.

“Missy Glonsbury!”

Algumas pessoas suspiraram ao ouvir o nome da garota, que tinha a história bem conhecida em todo o distrito.

Uma garota saiu de uma das filas de doze anos e começou a caminhar para o palco. Ela era baixinha e magra. Tinha a pele pálida e algumas sardas no rosto. Seus cabelos revoltos eram de um ruivo vívido e caíam pouco depois do queixo. Seu rosto era fino, seu nariz era pequeno, e as sobrancelhas ralas. Sua boca era pequena e bem vermelha. Seus olhos eram grandes, de um verde-esmeralda brilhante. Sua expressão era de surpresa, mas não estava assustada ou com medo.

Ao chegar ao palco, Joell falou, ainda sorrindo:

“Olá, anjinho! Bem vinda aos Jogos!”

“Obrigada.” Ela falou sem olhar para o homem.

“Agora, os garotos.” Novamente, ele se encaminhou aos globos e retirou outro nome.

“Noah Tunder!”

Um garoto de dezoito anos começou a caminhar para o palco. Ele era magro e estava tremendo muito.

“Bem vindo, Noah!” Ele falou estendendo a mão, mas o garoto nem se moveu. Estava com muito medo para fazer qualquer coisa que não fosse tremer.

Meio desconcertado, Joell segurou as mãos dos tributos e falou para o povo:

“Palmas para Missy e Noah! Os campeões do Distrito 8!” Ninguém, além do próprio Joell bateu palmas. O único barulho que se podia ouvir, além das palmas de Joell, era o feito pela tremedeira de Noah.


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Notas finais do capítulo

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