39º Jogos Vorazes - Quill Rivera escrita por Time


Capítulo 20
Aliança


Notas iniciais do capítulo

Oi oi!
Mais um capítulo fresquinho para vocês!
Espero que gostem!
Até as notas finais ;)



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Lori sempre gostou de ter um tempo só para ela, mas todo esse silêncio já estava deixando ela maluca. Ficar de guarda era, de longe, a coisa mais chata que ela já havia feito. Lori já havia tentado de tudo: Tentou montar estratégias para sobreviverem à arena; contou todas as pedras soltas da caverna (547); quantas vezes Pacco roncava por minuto (17). Nada. Não tinha mais nenhuma idéia, e o sol nem ameaçava nascer. Tentou até observar as estrelas.

“Pacco estava certo.” Ela falou consigo mesma “Eles nem se deram ao trabalho de colocar as constelações em seus devidos lugares...”

Lori se encolheu. Ela não deveria ter fingido que estava dormindo e escutado a conversa entre Pacco e Lori. Aquele era um momento íntimo, entre ele e ela, mas ela não pôde deixar de prestar atenção. Não quando ela percebeu que estava rolando algo entre os dois.

Ela se endireitou na rocha próxima a porta e voltou seus olhos às estrelas novamente. Lori nunca foi uma garota muito romântica, fazia mais o estilo estudiosa, cética. Sempre pensara que era uma estupidez se apaixonar. Via suas amigas passando por isso e, no fim, sofrendo com o fim de algum relacionamento. Quando percebeu que Quill e Pacco estavam dando sinais de estarem apaixonados (mesmo quando eles mesmos ainda não haviam percebido) ela previu que eles teriam problemas. Ela só não previu uma coisa: Que ela também se apaixonaria.

Lori cerrou os dentes. Ela se detestava cada vez que se lembrava disso.

“Como pude ser tão estúpida? Deixar-me dominar por esses sentimentos?” Ela lançou o olhar para Quill e Pacco, que dormiam tranquilamente. Sentiu uma pontada de ciúmes. Ela sabia que eles formariam um belo casal. Nada harmoniosos, mas um belo casal. Lori suspirou, retomando sua postura “Não posso me deixar levar por isso. Primeiramente pelo fato que, provavelmente, estaremos todos mortos em poucas semanas.” Ela olhou novamente para os dois e suspirou mais profundamente “Depois... Como eu poderia competir? Sou apenas uma nerd desajeitada...”

Um barulho na floresta fez Lori sair dos seus devaneios. Lori se aproximou cautelosamente da fresta na entrada da caverna. Ela tremia. Suas mãos tatearam freneticamente o chão, só parando quando encontraram algo frio e liso: Uma de suas facas. Lori olhava para a escuridão, tentando encontrar algo que fosse suspeito.

Quando estava quase desistindo, ouviu um farfalhar de folhas a uns 15 metros da entrada da caverna. Seu coração disparou. Havia alguém ali. Ela tinha certeza.

“Você precisa se acalmar, Lori.” Ela falou para si mesma “Você é uma pessoa sensata e tranqüila. Seja sensata” Ela tentou se virar, mas estava imóvel “Ao menos se mexa!”

Lori reuniu toda sua coragem e chamou seus amigos, o mais discreto possível:

“Pacco” Ela falou, mas o garoto nem se mexeu. “Pacco!” Ela falou um pouco mais alto. Antes que ela pudesse chamá-lo pela terceira vez, ela sentiu algo pontudo e frio pressionar sua garganta.

“Fique calma” Falou uma voz grave e rouca, fazendo todos os pelos do corpo de Lori se eriçarem. “Eu só quero conversar.”

***

Lori Cooper – Distrito 3

“Err... Pacco?” Falei tentando soar o mais casual possível, o que era um pouco difícil quando se tem uma faca apontada para o seu pescoço.

“Hum..” Ele falou claramente sonolento, sem nem abrir os olhos “Algum problema?”

“Temos... Visitas...”

“Visitas?” Ele respondeu confuso. Quando Pacco se virou e me viu, ele gritou e deu um pulo para trás, acordando Quill, que teve, basicamente, a mesma reação. Expressão deles foi impagável. Teria sido algo realmente engraçado, se eu não corresse o risco de ser degolada a qualquer momento.

“Mas que merda está acontecendo aqui?” Pacco disse ainda confuso

“Quill, Pacco, Esse é Cae, o garoto do D07. Ele quer apenas conversar...” Eu falei um pouco mais calma. Acho que já estava me acostumando com a faca na minha garganta.

Percebi que Quill estava procurando alguma coisa “discretamente”, o que, é claro, é uma ironia. Quill nunca conseguia ser discreta. Nunca. O que era fofo, além de ser um grande problema. Suspirei e falei com ela.

“Se está procurando nossas armas, desista. Ele pegou todas elas.”

“Você as deu a ele?” Ela perguntou sobressaltada

“Eu não sei se você percebeu” Falei o mais sarcástica possível “Mas eu não estava exatamente em condições de contestar”

“Certo” Ela falou claramente desconfortável (Não sei se por mim ou pelo gandralhão) “Se você quer apenas ‘conversar’, por que atacou a Lori” Ela começou a enrolar mechas do seu cabelo “E continua mantendo ela como refém?”

“Se eu apenas aparecesse querendo dizendo que queria conversar, vocês me ouviriam?” Ele falou. Sua voz era tão grave e profunda que fazia meus ossos vibrarem.

“Sinceramente?” Quill falou “Sim.”

Cae diminuiu a pressão no meu pescoço, para meu alívio, e falou:

“Bem...” Ele falou um pouco perdido “Isso seria burrice. Vocês deveriam me atacar com tudo o que tinham, aniquilando uma possível ameaça...”

“Ou um possível aliado...” Eu disse.

“Poderia ser um truque” Ele disse sério.

“Na verdade” Pacco disse “Ainda pode ser...”

Cae abriu um sorriso. Não sádico ou macabro. Apenas um belo sorriso.

“Se eu quisesse acabar com vocês, já teria feito isso há algum tempo...”

Pacco fez uma careta. O comentário de Cae havia deixado-o claramente incomodado. Ele mediu Cae de cima a baixo, como se cogitasse acabar com ele ali mesmo. Eu quase não contive o riso. Cae tinha o dobro do tamanho e o triplo dos músculos, além de uma faca e um belo machado. Se ele realmente quisesse, teria nos pulverizado com o polegar.

Quill, que parecia querer arrancar seus cabelos de tanto torcê-los, se levantou calmamente e falou

“Você disse que queria conversar conosco. Somos todo ouvidos.”

“Mas, antes de começar” Eu disse “Você poderia, por favor, me soltar?”

Ele pareceu hesitante. Pacco também se levantou, colocando-se ao lado de Quill, e falou:

“Nós não vamos fazer nada. Além do mais, você mesmo disse poderia dar conta de nós três...”

Por um momento assustador, eu pensei que Cae havia cogitado nos pulverizar, mas ele me soltou delicadamente. Levei minha mão ao pescoço para conferir se estava tudo em ordem.

“Desculpem-me.” Ele disse “Não esperava que vocês seriam tão... amigáveis. Ele fez uma pausa “Principalmente por estarmos presos nesse inferno...”

“Tudo bem...” Eu disse tentando soar casual, mas ainda estava um pouco assustada com tudo o que havia acontecido.

“Bem...” Ele disse “Eu queria fazer uma proposta a vocês” Ele fez uma pequena pausa e continuou “Eu quero propor uma aliança”

“E nós deveríamos aceitar por que...”

“Porque vocês são apenas três, contra toda arena. Especialmente contra sete carreiristas que querem a cabeça dela.” Ele disse apontando na direção de Quill, fazendo com que ela ficasse pálida e voltasse a enrolar o cabelo. Passei meu braço ao redor dela, tentando passar proteção a ela e disse

“Continue”

“Sou um ótimo lutador, tanto de corpo-a-corpo, quanto com armas, especialmente um machado. Se não me engano” Ele fez uma pequena pausa “O único com boas habilidades de luta é o garoto do 10. Vocês duas são melhores com diplomacia e armadilhas, o que, claramente, não será suficiente para vencer sete máquinas de destruição sedentas por sangue...”

Ele estava certo. Pensei no olhar frio e assassino de Valeria, a carreirista do D01, e me arrepiei. Eu realmente não queria encontra com ela. Em nenhuma circunstância.

“E você, por acaso, valeria por sete carreiristas?” Pacco falou com um sarcasmo ácido na voz.

“Claro que não.” Cae disse firmemente “Mas eu poderia aumentar consideravelmente suas chances, que estão próximas do zero.”

Nós nos entreolhamos. Nenhum de nós tinha certeza de absolutamente nada.

“E então?” Ele falou “Aliados?”

Quill se soltou do meu abraço e falou:

“Eu só tenho uma dúvida. O que você ganharia se aliando a nós?”

“Bem... Eu sou péssimo com armadilhas ou estratégias...”

“Você está mentindo” Eu disse séria

Todos olharam sobressaltados para mim, principalmente Cae. Toda essa atenção me deixou envergonhada. Com um pouco de dificuldade, tentei me explicar.

“No Distrito 3, eu costumava brincar de detetive com alguns amigos. Nós contávamos histórias, reais ou não, e tentávamos descobrir quem estava mentindo e quem falava a verdade. Era muito divertido...” Quando percebi que todos ainda me olhavam, percebi que eu não havia explicado nada ainda “Bem... Com um pouco de prática e alguma pesquisa, conseguimos aprender todos os possíveis sinais de um mentiroso, desde a entonação da voz, as mais discretas expressões faciais.” Fiz uma pequena pausa, quase hesitando falar a conclusão. Quase. “E você Cae, se encaixou em praticamente todos os sinais de um mentiroso...”

Quill e Pacco se voltaram para Cae. Quill novamente tomou a iniciativa:

“Cae” Ela disse se controlando para não voltar a enrolar o cabelo “Se você quer que façamos uma aliança com você, precisamos confiar em você.”

“Para isso” Pacco continuou “Você precisa ser sincero, cara...”

Cae nos lançou um olhar sombrio, me fazendo pensar, novamente, que ele estava cogitando nos esmagar com seu polegar. Porém ele suavizou sua expressão, assumindo uma posição de derrotado.

“Certo. Me pegaram” ele fez uma pausa “Ou melhor, você me pegou...”

“Obrigada” Eu disse sem conseguir esconder o orgulho. Não existe nada melhor do que ser reconhecida.

“O motivo de querer uma aliança é bem simples: VINGANÇA.”

“Clair...” Quill disse, quase sussurrando.

A expressão de Cae escureceu, tornando-se um misto de dor e ódio.

“Eles a mataram a sangue frio. E é isso que farei com eles. Com cada um deles. Quero suas cabeças, especialmente a da Carreirista do 4. Aquela vagabunda foi a responsável pela morte da minha pequena Clair... Ela vai pagar com a própria vida...”

Nenhum de nós sabia exatamente o que fazer. Por um lado nós entendíamos a dor que ele estava sentindo, porém ele nos queria para atacar sete carreiristas sanguinários.

“Cae” Pacco disse com seu melhor tom de diplomata “Nós compreendemos o quanto deve ser difícil o que você está passando, mas nós não somos do tipo ofensivo. Estamos apenas tentando nos defender, nos manter vivos...”

Cae se endireitou, tornando-se ainda mais assustador, e disse:

“Vocês poderiam se manter na defensiva, se estivéssemos falando de qualquer outro tributo. Mas estamos falando dos carreiristas. Por causa dela” Ele disse apontando para Quill “Eles estão caçando vocês nesse exato momento. É a cabeça dela que eles querem. Se vocês querem ter alguma chance contra eles, precisam do elemento surpresa. Se esperarem por eles, serão todos aniquilados.”

Estávamos sem reação. Sabíamos que era muito arriscado fazer esse acordo com Cae. Seria a ajuda dele na arena, em troca de uma vingança contra os carreiristas. Os riscos eram enormes, provavelmente todos morreríamos, mas era nossa única saída.

Entreolhamos-nos para confirmar nossa decisão. Pacco deu um passo a frente e estendeu a mão para o Garoto do D10.

“Temos um acordo Cae. Bem vindo à família” Ele disse sorrindo, voltando a ser o velho Pacco.

Cae apertou a mão em resposta e falou, ainda sem sorrir.

“Temos um acordo” Cae se afastou um pouco, se sentando em um canto mais afastado da caverna. “Eu fico com o último turno. Acho que é justo.” Ele fez uma pausa e continuou “Aliás, Pacco...”

“Sim?”

“Você não faz a mínima ideia de como eu estou me sentindo...”


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Notas finais do capítulo

Oi novamente!
Espero que o capítulo tenha agradado...
Não teve muita ação, eu sei, mas prometo que o próximo vai ter ação na dose certa!!
Desculpem pelos erros de português!
Abçs!