39º Jogos Vorazes - Quill Rivera escrita por Time


Capítulo 2
Ney




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345600/chapter/2

Quill tentava ser o mais discreta possível quando andava pelas ruas de seu povoado, já que não era muito comum uma garota andar sozinha tão tarde. Seu principal medo eram os Pacificadores. Não havia muitos problemas entre o povo e os Pacificadores no povoado, e Quill até tinha alguns colegas que eram Pacificadores, como Marshal e Livian, mas, havia algo neles que a deixava assustada. Mas, hoje ela não estava nem um pouco cautelosa, andava quase correndo para chegar logo na Colina, esbarrando em alguns e levando muitas topadas pelo caminho.

Havia poucas pessoas nas ruas e pouquíssimas lojas ainda estavam abertas. Não que existissem muitas lojas em seu povoado, já que a maioria das pessoas tinha trabalhos diretamente relacionados com a pecuária, sejam em criadouros, campos, matadouros, açougues. Ela ainda não trabalhava, pelo menos não formalmente. Fazia alguns bicos para sustentar a ela e a avó: lavava a roupa dos vizinhos, ajudava em alguns criadouros (mas queria distância dos matadouros) e ajudava a avó a fazer e a vendar suas famosas bonequinhas de palha. Sua avó fazia essas bonecas desde que era muito moça. Elas não eram nem um pouco interessantes, não tinham nada de especial e nem eram bonitas. A maioria das pessoas que as compravam eram amigos da família ou pessoas que sentiam pena das duas, mas isso não abalava sua avó, ela amava fazer essas bonecas, Quill só não entendia ainda o porquê.

Enquanto tentava andar o mais rápido que podia, sua mente estava bastante ocupada e distante: ora ela pensava no dia de amanhã, ora nos comentários infames de sua avó, ora em como Ney devia estar bufando por ter que esperar tanto. Seus pensamentos foram interropidos quando ela sentiu alguém segurar seu braço abruptamente. Ela empalideceu. Quem a pararia no meio da rua de forma tão brusca? Ela estremeceu ao pensar na única resposta possível. Lentamente, ela olhou para a mão que a segurava e reconheceu o uniforme. Pacificador. Quill queria gritar, mas ela sabia que isso não ajudaria em nada sua situação, ou melhor, só iria piorar. Tentando mostrar que estava calma ela se virou e, vagarosamente, levantou os olhos para encarar o rosto do Pacificador. Quando seus olhos finalmente encontraram a face dele, sua expressão logo se suavizou. Ao ver quem era o Pacificador que a segurava, ela suspirou de alívio e disse quase gritando:  

“Livian! Você quer me matar do coração?!”

“Você não deveria andar nas ruas a essa hora Quillana! É muito arriscado! Você deve voltar para casa. Nem todos os Pacificadores são como eu ou Marshal. Deus sabe o que eles poderiam deduzir sobre o motivo de se andar sozinha a essa hora e o que poderiam fazer com você!”

“Eu sei Livian, mas eu preciso ir à Colina para encontrar... um amigo.”

“Encontrar um amigo? A essa hora da noite, mas que tipo de...” Livian se calou. Quill viu um brilho nascer nos cinzentos olhos da Pacificadora, que logo estava aliado a um sorriso maroto. “Essa não!” Quill pensou. Livian logo perguntou, quase rindo:

“Ele, por acaso, é seu... namorado?” Livian quase sussurrou a última palavra.

“Não!” Ela disse sobressaltada. Livian a encarava com um sorriso malvado no rosto, que estava deixando Quill nervosa.

“Quem é ele? Eu conheço? Sua avó sabe que você está aqui? Não minta pra mim Quillana!”

Quill já estava ficando atordoada com tantas perguntas. Ela estava tão nervosa que começou a enrolar o cabelo de forma frenética. Com a voz estridente por conta do nervosismo ela falou:

“Já disse que ele não é meu namorado! É apenas um amigo! E eu já estou muito atrasada!”

Livian a encarou ainda rindo, seus olhos cinzentos cintilando de alegria. Mas seu rosto logo voltou a ficar sério e ela continuou:

“Olhe, eu já tive sua idade, mesmo ele sendo seu namorado eu não posso deixar que você fique sozinha. Venha, eu vou lhe levar até em casa...”

“Me levar pra onde?! Nem vem que não tem”  Quill pensou. Se até sua avó deixou que ela saísse, não ia ser um Pacificador que a impediria de se encontrar com Ney!

“Livian me escute. ELE NÃO É MEU NAMORADO. E, por favor, me deixe ir para a Colina! Por favor! Eu preciso encontrar com ele antes da Colheita!” Quill falou tentando fazer sua melhor cara de pidona e sua melhor voz de “garotinha desconsolada”.

Aquele comentário pareceu amolecer o coração de Livian. Quando ela tinha 16 anos seu primeiro namorado foi sorteado para ir para os Jogos Vorazes e foi brutalmente assassinado no banho de sangue. Ela não teve a chance de falar com ele antes da colheita. Não teria coragem de fazer alguém passar pelo que ela passou.

“Tudo bem. Você pode ir para a Colina.”

Quill suspirou aliviada. Quando ia agradecer a Livian, ela continuou

“Mas...”

“Mas...” Quill disse Já perdendo o sorriso

“Eu irei com você e ficarei no pé da colina lhe esperando. Quando você ouvir meu sinal você descerá a colina sem reclamar e voltará para casa comigo. Entendido?”

Quill olhou ternamente para a Pacificadora. Logo que se mudou do Distrito 2 para trabalhar como Pacificadora no Distrito 10, Livian simpatizou com Quill e sua avó e tem agido como uma irmã para ela. Elas também a adotaram como “da família”, mesmo sem saberem nada sobre sua vida.

“Entendido.”

Quando ela ia se virando para continuar seu caminho Livian falou:

“Outra coisa...”

Livian abriu um sorriso no rosto e falou:

“Você não vai ficar nada atraente para o seu “namorado misterioso” se fizer um nó no cabelo o enrolando dessa forma.”

“Muito engraçado.”

Rindo, a Pacificadora concluiu:

“Vamos, ande logo, antes que fique muito tarde.”

                                                                                          ***

Depois de alguns minutos, as duas chegaram ao pé da colina. A colina era bem baixa. Era completamente coberta pela grama, salpicada com algumas flores e, bem no alto. Havia uma árvore bem velha e bastante frondosa. Quill sempre ia àquela colina para pensar ou conversar. Aquela colina era um cano de escape para os seus problemas. Seu lugar favorito em toda Panem.

Quando Quill estava subindo a colina, Livian falou:

“Você tem 40 minutos!”

“Certo, mamãe.” Quill ironizou sem nem sequer olhar para trás.

“20 minutos, engraçadinha.”

Ao chegar ao topo da colina Quill logo o avistou. Estava sentado no mesmo lugar de costume: em cima de uma pedra logo ao lado da raiz mais grossa da árvore. Ao avistar Quill seu rosto se abriu em um sorriso e ele acenou para que ela andasse logo. Ela andou até ele se sentou meio desajeitada ao lado dele. Ainda com um sorriso no rosto, Ney falou:

“Está atrasada. Muito atrasada.”

“Tive alguns... contratempos...”

“Sua avó?”

“E Livian...”

“A Pacificadora?”

“A própria.”

Ele ficou encarando Quill com um sorriso besta no rosto. Ele pegou uma bolsa que estava escondida atrás da raiz da árvore e de lá tirou duas maças bem vermelhas.

“Trouxe para agente comer. Bem, eram quatro, mas você demorou demais, então comi as minhas. Pegue” Ele disse arremessando uma das maçãs para ela que, é claro, não conseguiu segurar direito. Quando ele ia arremessar a segunda, ela falou

“Pode ficar. Chega de ser bombardeada por hoje.” Ela disse rindo

“Bem, é justo, Já que você me fez esperar 1 hora...” Ney disse sendo sarcástico. Envergonhada ela falou:

“O que eu podia fazer? Não é nada fácil argumentar contra minha avó, sabia? E a Livian... ela consegue ser bem irritante.”

Ele explodiu em uma gargalhada. Seu riso era natural, contagiante. Na verdade, Ney passava a maior parte do tempo sorrindo. Mesmo tendo uma vida difícil, ele nunca deixara de sorrir.

“Gosto da velha Jodhi. Ela é bem... bem, a Jodhi. Mas, enfim, como foi seu dia?” Diferentemente das outras pessoas, Ney realmente estava interessado em saber como havia sido o dia dela, não só por educação

“Foi muito normal. Acordei, minha avó ficou reclamando, varri a casa, minha avó ficou reclamando, fui fazer um bico ordenhando as vacas, minha avó ficou reclamando. O de sempre. E você o que fez?”

“Fui encontrar a Files hoje. Conversamos pra caramba! Ela é tão legal, Quill! Qualquer dia te levo para conhecê-la! Ela trabalha lá no açougue, sabe? E disse que ia arrumar um emprego pra mim lá! Um emprego de verdade, não um bico! Ela não é demais!”

Filles. Filles Cinnamon. A namorada de Ney. Mesmo sem nunca tê-la visto, Quill sabia descrevê-la perfeitamente. Ela era alta, magra e com um corpo bastante atraente. Tinha longos e cacheados cabelos ruivos que chegavam até o meio das costas, seus olhos eram castanhos e grandes, o nariz bem afilado e o rosto muito feminino. A garota perfeita. Sorridente, amigável, extrovertida, carinhosa. Desde que eles começaram a namorar todas as suas conversas chegavam ao seu nome. Filles. Só de ouvir esse nome Quill estremecia de ciúmes. Mas ela disfarçava bem. Ela precisava.

Tentando desconversar, ela entrou em outro assunto antes que o monstro verde do ciúme a dominasse. Meio sem jeito, ela perguntou

“Está ansioso para a Colheita?”

Ele não respondeu. Desviou o olhar. Ficou encarando o horizonte. Pensativo.

“Por que, com tantos garotos no Distrito, eu tinha que me apaixonar justamente por ele? Meu melhor amigo? Por quê?” Quill pensava enquanto se dividia entre encarar o horizonte e o rosto de Ney. Ele tinha o rosto bem desenhado, com feições angulosas; seus olhos eram amendoados e grandes, castanhos; tinha o nariz pontudo, porém afilado.  Sua boa era brande e fina, com um largo sorriso. Tinha 17 anos, era alto, por volta dos 1,80m, não era musculoso, mas era forte. Não havia nada nele que chamasse a atenção de ninguém, ele era comum. Mas ela era louca por ele. Ela e Filles. Quill suspirou e voltou a encarar o horizonte. Tentou afastar os pensamentos, mas foi inútil. Foi interrompida por Ney.

“Não.”

“Não?” Ela disse confusa. “Não o que?”

“Não. Eu não estou ansioso, estou com raiva. Com medo.”

“ah” Foi a única coisa que ela conseguiu dizer. Ney continuou:

“Com raiva, por que as duas pessoas que eu mais amo vão para a Colheita amanhã, minha namorada e minha melhor amiga. Com raiva, por que eu não posso fazer nada contra isso.” Ele falou, virou o rosto para Quill e continuou:

“Com medo, por que uma delas pode ser escolhida.” Ele disse. Sua voz trêmula.

“Nenhum de nós será escolhido. Nem você, nem Filles...”.

“Como pode ter tanta certeza?” Ele a interrompeu.

“Eu não sei.” Ela disse com a voz firme.

Eles ficaram se encarando por um tempo. Olhando fixamente nos olhos um do outro. Por um instante, Quil ficou tentada a aproximar seu rosto, mas ele não estava mais sério. Seu rosto logo se abriu em um sorriso, que virou uma gargalhada. Ela na conseguiu se manter séria, logo estava rindo com ele e perguntou completamente perdida:

“do que você está rindo?”

Ainda rindo ele disse:

“O que diabos você fez no seu cabelo! Tem um ninho do tamanho de um boi nele!”

“Muito Engraçado.” Ela disse rindo. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse ficou grandinho!!!
espero que gostem!
Abção!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "39º Jogos Vorazes - Quill Rivera" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.