Margot Silverline não conseguia se conter de fúria. Ela já havia quebrado tudo o que estava ao alcance de suas mãos no seu camarim.  Não conseguia entender como tiveram a audácia de substituí-la.

“Eu apresento essa bosta a mais de 30 anos!” Ela repetia para si mesma “Eu dei os melhores anos da minha vida para esse Talkshow! Sou a alma dos Jogos Vorazes! E como me retribuem? Trocam-me por um garoto que mal saiu das fraldas!”

Ela se admirou no grande espelho do camarim. Tinha feições finas e marcadas, os olhos eram grandes e cor de rosa, levemente puxados por conta das inúmeras cirurgias plásticas que havia feito. Não aparentava nem de longe a idade que possuía.

Ela retocou um pouco a maquiagem e suspirou.

“Mas você precisa ser forte Margot. É seu último programa. Mostre para eles que você é indispensável. Torne essa merda um verdadeiro sucesso!”

A Sra. Silverline se levantou elegantemente da poltrona e se admirou mais uma vez.

“Ceasar Flickerman!” Ela falou com toda a acidez possível “Quero só ver se algum dia ele sonhará ser tão magnífico quanto a unha do pé de Margot Silverline já foi!”

***

“Entramos em 10 segundos Margot!” Falou a miúda assistente de palco de Margot, com uma voz fina e fraquinha.

“Que a mágica aconteça!” Margot gritou para que todos ouvissem.

Logo que as luzes do palco se acenderam, a apresentadora abriu um largo e assustador sorriso para as câmeras e começou com sua ladainha rotineira.

“Boa Noite, Panem!” Ela falou com uma simpatia louvável “Chegou o dia mais esperado de todos os Jogos Vorazes!”

A platéia explodiu em palmas e urros. Por mais que estivesse velha, Margot tinha um carisma que era de se admirar.

“Hoje conheceremos um pouco mais sobre nossos adoráveis pupilos!” Ela fez a típica pausa e continuou “Afinal” Ela continuou rindo “Quem não gosta de saber um pouquinho mais da vida das celebridades?”

Toda a platéia entrou no embalo de Margot, que não tardou em continuar.

“Agora, vamos conhecer nossos adoráveis tributos Panem! Que entre o nosso primeiro tributo: A linda, sexy, poderosa... Luxury Shadower, do Distrito 1!”

A loira do Distrito 1 entrou debaixo das palmas e salves da platéia. Ela se deliciava com toda aquela admiração e atenção. Eles a amavam. Ela tinha certeza disso. E ela iria saber usufruir disso. “Não vou ser passada para trás novamente 10... não vou...”

Lux usava um vestido vermelho luxuriante bem marcado, que mostrava mais do que escondia. Seus cabelos presos e a maquiagem foram feitos de forma que ela se tornasse o mais sensual possível.

“Boa noite, Luxury!”

“Boa noite, Margot!”

“Uau! Você está fantástica” Margot disse com uma falsa empolgação “Mais uma quenga para a Capital...” ela pesava.

“Bondade sua” Ela respondeu com toda a doçura que conseguiu reunir “Não  consegui chegar nem a seus pés!”

“Gostei de você garota!” Margot disse sorrindo “Bem, Luxury...”

“Me chame de Lux...”

“Lux. O que você está achando da Capital?”

“Tudo é incrível! Tão rico e luxuoso... As pessoas são fantásticas, modernas...”

“Sei... Você acha que tem chances de ganhar esses Jogos?”

“Cloro que sim!” Ela disse empolgada “Eu me preparei a vida toda para esse momento. Estou preparadíssima! Serei uma grande dor de cabeça para meus oponentes...”

“Hum... Mas vamos falar de coisas mais interessantes” Margot disse dando um sorriso sapeca “Tem alguém que você está interessada?”

“Bem...” Lux disse sorrindo, derretendo todos os marmanjos da platéia “Tem uns caras que... ui! Chega me arrepio toda! Mas tem um especial...”

“E quem seria?” Margot disse com uma curiosidade sobre humana

Lux não pode responder à última pergunta. Uma sirene tocou, avisando que o tempo da beldade havia acabado.

“Sinto muito Lux, mas seu tempo acabou... Uma salva de palmas para essa garota Panem!”

A platéia explodiu em palmas, em resposta a Margot.

“Boa sorte, Luxury!”

“Obrigada, Margot!”

A Sra. Silverline se acomodou melhor na confortável do programa e chamou o próximo entrevistado.

“Pode entrar, Zircon McPhee!”

Zircon entrou acenando e mandando beijos para a platéia. Ele estava vestido com um terno inteiramente preto, que valorizava seu físico, óculos escuros e uma gravata vermelho-sangue. Ele se sentou despojadamente na poltrona ao lado de Margot e a cumprimentou:

“Boa Noite, Margot”

“Boa noite Sr. McPhee!” Ela disse examinando o garoto. “Não é de se jogar fora...”

Margot sorriu animadamente para Zircon e perguntou

“E então Sr. McPhee, O que está achando da nossa amada Capital?”

“Me chame de Zircon, Margot. Eu estou curtindo muito esse lugar. Lembra um pouco o Distrito 1, sendo que muito maior e melhor.”

“Interessante... Esse nome, Zircon, é diferente, não?”

Zircon abriu um belo sorriso.

“Vem de Zircônia. Uma pedra preciosa que, em beleza, lembra muito o diamante. Mas possui diversas aplicações e utilidades. Assim como eu...”

“Incrível.” Margot disse um pouco sarcástica. Ela detestava que se engrandecessem. A única pessoa que podia fazer isso era ela mesma. “O que você espera da Arena?”

“Tudo. Eu me preparei para enfrentar qualquer tipo de coisa. Serei o ganhador, com certeza!”

“Puxa. Infelizmente nosso tempo acabou” Mentiu Margot “Boa sorte!”

Margot esperou que Zircon se retirasse e chamou o próximo Tributo

“Senhoras e senhores, Valeria Locke, do Distrito 2!”

Valeria entrou debaixo de salves e beijos. Ela nem sequer olhou para a platéia. Usava um vestido longo e levemente armado, completamente preto. Usava uma maquiagem leve e os cabelos meio presos.

“Boa noite, Srta. Locke!” Margot falou animada. Valeria apenas acenou com a cabeça.

“Bem” Margot falou, desconcertada com a atitude da garota “O que está achando da Capital?”

“É... interessante. Mas não presto muito atenção, estou completamente focada nos Jogos. Coisa que todos os Tributos deveriam estar fazendo. E não se distraindo com futilidades.”

“Sei...” Margot falou vidrada nos olhos de Val. Ela nunca havia visto olhos tão vazios. Um arrepio percorreu a espinha da apresentadora. “Sua nota foi espetacular! O que tem a dizer sobre isso.”

“Que ela não foi espetacular. Se eu não atingi a nota máxima, significa que não fui perfeita. Imperfeição é uma fraqueza imperdoável.”

“Você é muito crítica... Mas, falando de coisas mais interessantes, achou algum garoto... você sabe!”

“Meu único interesse nesses garotos” Ela falou se inclinando para frente, encarando Margot nos olhos “É o de cravar uma espada em seus ventres.”

“Infelizmente seu tempo acabou Valeria!” Margot falou com um nervosismo facilmente perceptível. “Boa sorte!”

Valeria se levantou e saiu calmamente. Ninguém ousou fazer qualquer movimento.

“Gabbro Hunter! Distrito 2” Margot falou curiosa. Ela havia entrevistado e feito algumas coisas mais com o pai do garoto. Queria saber se ele era parecido com o pai. Em diversos aspectos.

Gabbro usava um terno preto com uma camisa amarela. Não estava maquiado ou bem penteado, mas ainda sim estava muito bonito.

“Boa noite, Gabbro!”

“Boa noite...”

“Pronto para as perguntas?” Ela perguntou eufórica. Margot analisava cada pedaço de Gabbro, se perguntando se ela também poderia aproveitar um pouco mais do tributo.

“Claro.” Ele disse um pouco seco “Mas eu gostaria que você não perguntasse sobre minha vida pessoal. Como minha colega de Distrito disse, o foco aqui são os Jogos.”

Margot estava claramente desapontada, ela havia preparado inúmeras perguntas constrangedoras para fazer ao garoto. Ela decidiu escutar Gabbe. Tinha medo que ele fosse como Valeria.

“Certo... O que você diria sobre sua nota nas avaliações?”

“Estou satisfeito. Ser um dos melhores colocados sempre foi minha meta. Não fui perfeito, claro, mas já me contento com um 11”

“E sobre a Capital?”

“É enorme.” Ele disse fazendo uma longa pausa “ E a comida é muito boa.”

“Algum oponente a altura?”

“Bem. Existem alguns tributos fortes, a maioria em minha aliança, alguns muito corajosos e outros muito burros” Ele fez uma pequena pausa e prosseguiu “Mas acho que Valeria seria a oponente mais forte...”

“Interessante Gabbro. Seu tempo acabou.” Ela falou entediada. Se ele deixasse ela fazer as perguntas que havia preparado seria muito mais interessante “Boa sorte!”

Gabbro saiu com muitos aplausos.

Margot bebeu um gole de sua água com gás e continuou

“Lori Cooper, Distrito 3!”

Lori entrou tímida. Ela usava um vertido amarelo que ia até os joelhos, bem feminino. Seu cabelo estava solto, com seus cachos bem marcados e brilhantes.

“Boa noite, Sra. Silverline” Ela falou timidamente

“Boa noite, Lori. Chame-me de Margot.” Margot analisou um pouco a garota. Não havia nada de especial nela. Mas Margot sabia que os tributos do Distrito 3 eram espertos. “O que está achando da Capital, Lori?”

“É fantástica. O avanço tecnológico que a Capital passou nos últimos anos é surpreendente! A tecnologia faz parte da vida de todos os habitantes daqui. Espero que o Distrito 3, um dia, possa ser como aqui.” Lori sorria docemente, mas Margot havia percebido a entonação que ela havia usado. Como se estivesse culpando a Capital. “Espertos demais” Margot pensou.

“Sei... Você se acha uma oponente forte?”

“Todos somos fortes. Cada um a sua maneira. Minha força está no meu cérebro. Me considero engenhosa e rápida. Creio que com as alianças certas e uma dose de sorte, tenho grandes chances de ficar entre os oito finalistas.”

“É o que veremos... Algum tributo chamou sua atenção?”

“Bem, na verdade, sim...”

“E quem seria?” Margot perguntou animada. Finalmente ela havia conseguido alguma fofoca.

“Eu não vou revelar. Ele é incrível, mas provavelmente eu não teria chances. Acho que ele está interessado em outra...” Lori falou tentando sorrir, mas sua voz era triste. Ela estava apaixonada por alguém que não a correspondia.

“Acho que você deveria lutar por ele” Margot falou segura de si, adorava um bom barraco. “infelizmente seu tempo acabou. Pense no que disse... Boa sorte!”

A entrevista com o garoto do três foi tediosa para Margot. Ele apenas respondia com monossílabos e ficava olhando para o chão com cara de choro. Margot tratou logo de liberá-lo e chamou o próximo tributo.

“Drielle Mae Wonder! Distrito 4!”

A garota entrou acenando para a platéia. Ela usava um vestido azul-marinho, armado, que estava rasgado nas pontas. Ele estava manchado de tinta rosa e roxa e Drielle havia destruído a parte superior, que era enfeitada com pérolas, transformando-o num tomara que caia. Usava coturnos pretos e uma maquiagem pesada.

Margot analisou a garota se sentar despojadamente na poltrona e colocar os pés na mesinha de centro.

“Boa noite, Srta. Wonder”

“Boa noite, Doçura” Drielle disse enquanto dava um gole na água da apresentadora.

“Margot.” A apresentadora falou seca. Ela detestava bad girls.  Principalmente aquelas que se intrometiam em sua vida. Margot tinha perguntas na ponta da língua para debochadas como Drielle. “E então Drielle. O que aconteceu com se vestido? Foi atacada por bestantes desgovernadas ou é só o seu gosto?”

Drielle estreitou os olhos para Margot. Inúmeros xingamentos apareceram em sua mente, mas ela se limitou a falar

“Meu estilista desenhou. Eu apenas... Adaptei”

“Hum... sei, sei... Você se considera uma oponente forte?”

Drielle explodiu em risos. Sua risada era alta e estrondosa, além de debochada.

“Se eu sou uma oponente forte? Doçura, eu sou a oponente mais forte desses Jogos!” Ela se ajeitou na poltrona e continuou “Se tem alguém que você irá entrevistar novamente, essa serei eu!”

“Impressionante” Margot falou o mais sarcástica possível “Mas... E sobre o bafão da sua briga com a garotinha do Distrito 10? Eu soube que ela calou sua boca no desfile...”

Drielle ficou completamente vermelha. Parte era de raiva, mas em sua maioria era vergonha. Margot havia pisado no calo da Bad Girl do 4. Ela tentou se controlar e falou entre dentes

“Ela assinou sua sentença de morte, Margot Silverline...”

“Infelizmente seu tempo acabou, Doçura. Nosso tempo juntas foi tão agradável” Margot falou sem nem sequer olhar para Drielle. Estava muito ocupada em balançar sua água de um lado para o outro.

“Agora, Panem, recebam o galã dessa edição. Travis Utha, Distrito 4!”

Travis foi aclamado por todos da platéia. Diversas garotas atiravam flores e gritavam o quanto o amavam, deixando-o envergonhado. Ele usava um terno azul-marinho e uma gravata azul óleo. No lugar de seus botões havia pérolas.

Margot se deliciava com cada centímetro do corpo de Travis. “Como alguém pode nascer assim! É quase um crime” Ela dizia enquanto mordia os lábios.

“Uau. Travis você está fantástico! Não que você precise de muita coisa para ficar fantástico...”

“Bem... Obrigado” Ele disse encabulado.

“O que está achando de Panem, Travis?”

Travis abriu um sorriso, que quase fez Margot cair da cadeira, e disse.

“É tudo muito agradável. Nunca estive num lugar tão receptivo e confortável. Mas tenho falta do cheiro do mar do Distrito 4 e da Frie...”

“Hum... E sobre os Jogos? Alguma declaração?”

“Estou muito bem preparado para eles, e tenho certeza que possuo o motivo certo para batalhar. Espero que tenha sorte...”

“Por fim, infelizmente, você se interessou por alguém? Sei lá, alguém mais velha, rica e apresentadora de um Talkshow...” Margot falou enquanto punha uma de suas  mãos na perna de Travis.

Ele retirou a mão dela delicadamente e falou, fingindo não ter entendido a indireta mais direta da sua vida.

“Não, não. Não tenho tempo para isso. Talvez, se tudo correr bem, eu possa voltar minha atenção para tocar minha vida, constituir uma família.”

“Infelizmente acabou seu tempo.” Margot falou ofendida por ser esnobada “Tchau e boa sorte. Pode entrar  Aneliese Hilla, Distrito 5!”

Uma garota de 13 à 14 anos de idade entrou no palco. Sua pele era branca e pálida, contrastando com seu cabelo cor de bronze, que caía em ondas sobre seus ombros. Tinha um corpo esguio e delicado. Seus olhos eram verdes bem vivos e tinham um ar misterioso.

A garota se sentou cuidadosamente na poltrona e cumprimentou a apresentadora

“Boa noite, Margot” Sua voz era doce e suave, quase cantada.

“Boa noite, Aneliese.” Margot falou sorrindo “Fraca...” Ela pensava. “Você está gostando da Capital?”

“Claro que sim! Tudo aqui é tão novo e interessante!”

“O que tem a dizer sobre a sua nota e do seu parceiro? Um seis, certo?”

“Sim, foi um seis. Mas gostaria de fazer umas colocações. Não me subestimem com essa nota. Talvez eu seja uma mosca morta. Talvez não. Nos menores frascos estão os piores venenos.” A voz da garota continuava doce, mas firme. Quase impossível de contestá-la.

“Bem... Se você diz. Mas fica complicado de acreditar... Você é tão meiga e delicada...”

“É bom que pensem assim, mesmo.” Ela falou com um sorriso sombrio.

“Certo... Acho que é só Aneliese. Você um doce!”

“Obrigada, Margot!” Ela falou fazendo a carinha mais fofa do programa. Aneliese beijou o rosto de Margot e saiu do palco acenando para a platéia.

O garoto do Distrito 5, Banshee, era muito quieto. Quieto demais para Margot. Que tratou logo de dispensá-lo. “Eles só entediam o programa!” Ela pensava.

“Recebam, Flightress Feliciano, Distrito 6!”

Uma garotinha mirrada e tímida entrou no palco. Ela usava um vestido feminino e infantil, com vários aviõezinhos desenhados nele. Seu cabelo desbotado estava preso em um rabo de cavalo.

“Olá, Flightress!”

“Oi.” Ela respondeu timidamente.

“O que você está achando da Capital?”

“É legal...”

“E os Jogos, você também os acha legal?” Margot perguntou prendendo o riso. Era óbvio que os Jogos a assustavam. Mas ela estava muito chata para a apresentadora.

“Um pouco” Flightress falou um pouco avoada “Eu, Missy e Joshua não temos medo dele. Vamos chegar até as finais Juntas! Vamos mostrar pra eles que somos perigosas e fortes! Vamos mostra a todos vocês!”

“Espero que sim! Infelizmente seu tempo acabou...”

“Você vai chamar meu parceiro de Distrito?”

“Vou sim...” Margot falou um pouco desconfiada.

“Nem perca seu tempo. Ele está no banheiro. Vomitando. Está muito nervoso...”

Margot ia ignorar o que Flighty havia dito, mas a produção confirmou e mandou que ela chamasse a garota do 7.

“Sei... Muito obrigada Flightress... Pode entra Clair Wother, Distrito 7!”

Uma garotinha loira e graciosa entrou no palco. Ela era muito tímida, andava olhando para seus pés. Seus olhos inchados por chorar durante toda a noite. Usava um vestido verde musgo, com algumas flores na borda.

“Boa noite, Clair!”

“Boa noite...”

“Como você está?”

“Bem...”

Margot suspirou “Mais uma...” Ela endireitou sua peruca e continuou “Você fez alguma aliança, ou pretende seguir no Jogo sozinha?”

“Aliança? Só com o Cae, meu amigo e parceiro de Distrito.”

“Seu amigo...” “Margot teve vontade de dizer “Como você um saco, já pode ir pastar!”Mas apenas falou com um sorriso falso “Acho que é só Clair, Boa sorte!”

“Obrigada...”

Margot olhou para a foto do próximo tributo e se animou. Ele parecia bonito e maduro para ela. “Será interessante” Ela pensou

“Bem vindo, Cae Rivers, Distrito 7!”

Cae entrou com uma expressão cética. Estava bem asseado, usando um terno da mesma cor do vestido de Clair. Ele acenava rispidamente para a platéia.

“Olá, Margot...”

“Olá, Cae!” Ela falou animada “O que você mais gostou na Capital?”

“Vocês tem uma comida muito boa...” Ele falou em tom áspero.

“Só a comida? Sério? Cada um com seu gosto... Sobre a garotinha...”

“Eu prefiro não falar sobre a Clair.” Ele falou, cortando Margot, que estava roxa de raiva. Ela detestava ser interrompida. Principalmente em rede nacional, em seu último programa.

“Você decide...” Ela falou ríspida. “Vamos atrapalhar as coisas então”  “ Tem algum tributo que você mataria por prazer, bonitão?”

Cae parecia surpreso com a pergunta. Ele e toda a produção do programa.

“Bem...”

“Vamos! Não vale mentir!” Ela falou rindo.

“Acho que a garota do 4...”

“Drielle? Acho que não  foi uma boa idéia falar sobre isso. Bem, bonitão, seu tempo acabou! Boa sorte com Drielle!”

Cae saiu nervoso dali. Não deveria ter respondido aquela pergunta. Poderia trazer problemas para Clair. “Vagabunda!” Ele pensou.

Margot cruzou as pernas elegantemente e resmungou para si mesma.

“Meu trabalho está feito! Boa sorte com os Carreiristas! Isso vai lhe ensinar a não interromper a magnífica Margot Silverline!” Ela sorriu para as câmeras e continuou, dessa vez em voz alta “Missy Glonsburry, Distrito 8, pode entrar, querida”

Missy entrou sorrindo e acenando para todos da platéia. Ela usava um vestido roxo com detalhes verdes. Seu cabelo ruivo estava solto e desgrenhado, assim como seu sorriso.

“Boa noite, Panem!” Ela falou olhando para a platéia

“Boa noite, Missy! Você está bem animada!” Margot falou espantada. Ela nunca tinha visto um tributo tão feliz.

“Claro que sim! É muito legal estar aqui com vocês!”

“Obrigada. Vou ser bem direta, fofura. O que você tem a dizer sobre sua nota, um oito? Uma nota extremamente alta para alguém de 12 anos...”

“Aquilo? Foi bobagem. Vocês subestimam demais os mais novos...” Ela falou sorrindo.

“Você está assustada?”

“Assustada? Eu? Não, não. Eu deveria? É apenas um jogo... E sei as regras. E, cá entre nós, eu sei jogar muito bem...” Sua voz ficou sombria na última parte. Margot sentiu os pelos de seus braços se eriçarem. Havia algo de estranho naquela garotinha. Algo que não se encaixava...

“Bem... Se você acha... Acho que é só isso benzinho. Boa sorte!”

“Obrigada!” Missy falou radiante “Até mais Panem! Preparem-se para o show!”

***

“Tediosos!” Margot falou após entrevistas os tributos do Distrito 9 “Espero que o próximo seja mais emocionante...”

Ela bebeu um gole de sua água e pigarreou para limpar a garganta.

“Senhora e senhores, Quillana Rivera, Distrito 10!”

A multidão aplaudiu a garota. Todos se lembravam dela no desfile. Hoje, ela estava usando um vestido rosa florido simples, bem delicado e feminino. Seus cabelos pretos estavam soltos e sua maquiagem era bem leve.

Ela se sentou desajeitada na poltrona, quase derrubando a mesinha de centro do programa, levando todos às risadas.

“Boa noite, Quillana!” Margot disse ainda rindo de Quill.

“Boa noite...” ela falou tímida. Detestava ser desajeitada. Detestava ainda mais seu medo de palco.

“Bem Quill, para uma garotinha do Distrito 10 você se mostrou bem corajosa. Arrumou briga com uma oponente considerável e tirou uma das maiores notas da temporada! O que você tem a falar sobre isso?”

Quill não respondeu imediatamente. Ela teve que forçar muito para que as palavras começassem a sair de sua boca, mesmo eu vagarosamente.

“Bem... Aquela Barracuda mereceu... Se bem que eu faço das palavras de uma amiga as minhas ‘Ou você é muito corajosa, ou muito burra’ espero que aquilo tenha sido coragem e não burrice...” Quill se arrependeu de ter falado aquilo. Ela realmente havia se chamado de burra em rede nacional? Na véspera da maior carnificina do ano? “Idiota” Ela pensou batendo na própria cabeça.

Todos riram ao ouvir Quill chamar Drielle de Barracuda. Todos menos a própria Barracuda, que estava arquitetando a melhor forma de trucidar a garota do 10.

“Sobre a nota...” Quill continuou “Digamos que eu surpreendi  os idealizadores de uma maneira... diferente.”

“Bem, garota de couro, espero que você tenha muita sorte no jogo!”

“Obrigada...” Quill respondeu incerta.

Margot esperou que Quill se retirasse do palco para chamar Pacco, que entrou com todo seu carisma, indo até a platéia para cumprimentar algumas garotas antes de ir ao encontro de Margot.

“Boa Noite, Margot!”

“Boa noite! Esses tributos estão tão animados esse ano! Como vão as coisas, Pacco?”

“Muito bem, obrigado!”

“O que você espera para os Jogos?”

“Tudo, claro. Minha mãe já foi uma vencedora, o que me dá uma certa vantagem, ela me deu todas as dicas para me sair bem...”

“Interessante... Vou ser bem direta, Pacco. Responda o que toda Panem quer saber. Você e Quill...”

Pacco corou. Ela havia acertado o único local vulnerável de Pacco. Mas Pacco tinha uma qualidade: Dançar conforme a música.

“Eu e Quill?” Ele perguntou sorrindo “Somos apenas bons amigos... por decisão dela... Acho que não preciso falar mais nada.”

“Claro que não!” Margot falou com um sorriso sapeca “Acho que nós entendemos. Quill! Dê uma chance ao Pacco!”

Pacco explodiu em gargalhadas. “Quill deve estar a ponto de me matar!” Ele pensava.

“Obrigado pela conversa Pacco Holcomb! Boa sorte! No amor e no Jogo!” Ela falou rindo.

Pacco foi cumprimentar a platéia novamente e saiu, dando lugar a Nyssa, a brutamontes do 11.

“Boa noite, Nyssa” Margot falou enquanto se certificava que Nyssa era realmente uma mulher.

“Boa noite.” Nyssa falou séria. Ela media Margot de cima abaixo. Achou que nunca encontraria alguém tão patética quanto ela.

“Você está gostando da Capital?”

“Sim. As camas são muito confortáveis e a comida não é de se jogar fora...”

“Certo...” Margot falou enquanto se perguntava se esses tributos só pensavam em comer. “Você acha que é forte o suficiente para ir longe nesse jogo?”

“Claro que sim. Não sou a mais forte, ou a mais rápida, ou a mais esperta. Mas sou a que tem o melhor conjunto de habilidades. Sei de tudo um pouco. Isso me dará muita vantagem. Foi esse conjunto que me deu uma nota 10.”

“Você e seu parceiro de distrito ganharam essa nota... Algum recado para alguém em especial?”

“Sim. Minha filha, Shanaya: Mamãe está voltando filhinha. Fique bem com vovó Gil.”

“Tocante.” Margot falou revirando os olhos, já pedindo para que entrasse logo o outro tributo.

Dewin, o garoto do 11, foi tão bruto quanto Nyssa, mas ele respondeu as perguntas de Margot com menos palavras.

Margot tentou entrevistar os Tributos do Distrito 12, mas a menina tinha desmaiado pouco antes de entrar. O garoto havia até entrado no palco, mas não conseguiu responder nada. Apenas balançava a cabeça, fazendo Margot perder a paciência e pedir que ele se retirasse.

Margot se virou para a platéia, com seu incrivelmente branco e falso sorriso e falou:

“Bem, Panem, Esses foram os nossos amados Tributos! Façam suas apostas. Escolham seus favoritos! Amanhã será o grande dia dos nossos heróis!” Ela fez uma pausa dramática e continuou “Que a sorte esteja sempre ao seu favor!”