Quill pensou que a pior parte do “pré-pesadelo” já havia passado. Que, agora, bastava esperar o pesadelo real começar: A Arena. Mas ela percebeu que estava completamente enganada. As entrevistas foram muito pior. Ela preferia fazer milhares de audições com os idealizadores, tirando zero em todas, a ter que encarar toda a Panem naquela entrevista.

“Vamos, Quillana!” Mira implorava com os olhos roxos chorosos “Quantas vezes vou ter que endireitar sua postura?” Ela falava enquanto reorganizava o corpo de Quill na cadeira. “Você tem que se sentar assim; como uma dama!”

“Desculpe-me...” Quill falou avoada. Ela não suportava mais as aulas de etiqueta, tudo para ela era tão estranho e inútil. Mas ela não ousava falar isso para a Srta. Appelstorm.

“Quillana!” Mira exclamou “Você está me ouvindo? Está muito avoada hoje! Como pretende responder as perguntas que Margot Silverline irá fazer?”

Quill apenas suspirou. Ela realmente detestava etiqueta.

Tentando se esquivar ela perguntou

“Não podemos fazer uma pausa Mira? Eu estou esgotada...”

“Esgotada? Mas, Docinho de leite, faz pouquíssimo tempo que nós estamos aqui! Tendo esse tempinho só para nós duas” Ela falava fazendo um biquinho infantil.

“Mira” Quill disse com um olhar incrédulo “Fazem mais de três horas!”

“Três horas!?” Mira disse surpresa “Como tempo voa quando estamos fazendo o que gostamos...”

“Eu adoraria poder dizer o mesmo” Quill pensou.

“Mas... e então? Uma folga?”

“Claro...” Mira disse claramente desapontada.

Por dentro, Quill dava piruetas de alegria. Só o fato de saber que ela poderia ficar sem os saltos altos já a deixava muito mais aliviada.

Quando ela estava desatacando o salto, Mira falou com uma voz temerosa:

“Hã... Quill?”

“Sim...” Quill disse enquanto brigava com a fivela da sandália, que tinha emperrado, apertando ainda mais seu calcanhar.

“Bem é que... Será que dava pra você prestar atenção em mim?” Mira disse exaltada, fazendo com que Quill se desequilibrasse e quase caísse da cadeira.

“Sinto muito...” ela disse tentando se acomodar

“É que... Bem...” Mira se perdia nas palavras, seus olhos começavam a ficar marejados. “Esse pode ser... Ó meu Deus! Por que isso é sempre tão difícil?” Ela esbravejou desabando em lágrimas.

Quill não sabia o que fazer. Estava assustada demais. Nunca teve nenhum jeito com as pessoas. Sua avó saberia exatamente o que fazer: Daria dois cascudos na cabeça de Mira e a mandaria varrer a casa. “Não” Ela pensou “Os métodos Jodhianos não dariam certo”. Ela respirou fundo e tentou se aproximar de Mira, mas foi interrompida pela própria, que havia voltado a falar.

“É que, bem, você está indo para os Jogos e...”

Quill havia entendido tudo. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Mira se atirou em seus braços, se consolando mais que tentando consolá-la.

“Eu vou sentir tanto a sua falta!” ela berrava, chorando desconsolada “Eu...Eu nunca tinha me apegado tanto a um tributo! Você é tão especial Docinho de Morango!”

Quill parou para pensar um instante. Mesmo se sentindo ofendida pelo meio como ela havia usado a palavra “Tributo”, Quill sabia que aquele era o jeito de Mira. A Srta. Applestorm foi criada com os valores da Capital. Quill não podia culpá-la pela forma que ela tratava os tributos algumas vezes. Ela sabia que Mira tinha grande afeto por ela e por Pacco, só tinha uma forma um tanto estranha de se expressar.

Ela abraçou mais forte a acompanhante do Distrito 10, que havia parado de soluçar muito.

“Olhe, bombonzinho de nata” Ela disse segurando firmemente o rosto de Quill “Tia Mira vai fazer o impossível para te manter viva naquele inferno!”

“Eu sei Mira...” Quill disse sorrindo para a Acompanhante “Muito obrigada...”

“Eu estou falando sério” Mira disse fungando o nariz “Eu conheço muita gente. Gente rica e influente que adora essas carnificinas e me devem alguns favores. Eles dariam qualquer coisa que você quisesse.”

Mira pausou um pouco. Olhou para os lados para saber se elas estavam a sós e continuou:

“Destinee fará de tudo para te eliminar do Jogo. Eu ouvi ela conversando com alguns patrocinadores, tentando convencê-los o quão descartável você é.”

“Vaca...” Quill resmungou um pouco alto demais.

“Não ofenda as pobres vaquinhas!” Mira disse ainda séria “Outra coisa: Não aceite nenhuma dádiva que seja endereçada a você. Pode ser uma armadilha. Só aceite dádivas que eu lhe mande. Você saberá que fui eu que mandei...”

Quill olhou ternamente para Mira. Ela realmente era muito sortuda de ter pessoas tão especiais em sua vida. Ela abraçou fortemente a Srta. Applestorm.

“Muito obrigada...”

“Não precisa agradecer coração...” Ela disse olhando pra a garota do 10. Quill não conseguia entender como alguém conseguia passar de uma garotinha assustada a uma super mãe.

Mira beijou a testa de Quill e disse:

“Agora vá! Você precisa se arrumar para o seu grande dia!”