39º Jogos Vorazes - Quill Rivera escrita por Time


Capítulo 10
O Desfile - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas!
Segue a parte um do desfile!
Espero que gostem!
Logo mais posto a parte dois!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345600/chapter/10

Quill estava na arena: uma floresta fria e escura. Ela estava sozinha, com medo. Muito medo. Pensou em chorar descontroladamente, mas ouviu um barulho vindo das trevas da noite, que fez todos os pelos de seu corpo se eriçarem. Quando ela se levantou para tentar fugir, algo segurou firmemente seus cabelos e os puxou com uma força descomunal, fazendo com que ela caísse no chão duro. Quill se virou já tremendo, viu que eram os carreiristas que a atacavam, especificamente Valeria, Drielle e Destinee. Sem saber ao certo como, ela conseguiu despistar as garotas, correndo descontroladamente pela floresta. Mas a floresta já não era mais a mesma, as árvores davam lugar a casas.  Quill estava em sua rua.

Ao avistar sua casa, Quill correu ainda mais depressa e se trancou dentro dela. Ela finalmente conseguiu respirar aliviada. Mas, ao se virar, ficou chocada com o que viu. No meio da sala, havia um monte de carne embebida em sangue. Sua avó, Filles, Ney, Livian e Marshal estavam mortos. Os olhos vidrados de sua avó a encaravam. Ao lado dos corpos, estavam Destinee e Drielle. Elas sorriam sadicamente, enquanto encaravam os cadáveres. Suas roupas estavam completamente encharcadas de sangue. O sangue dos amigos de Quill. Antes que ela pudesse pensar em fazer qualquer coisa, alguém surgiu da parte mais escura da casa e a agarrou. Era Valeria. Ela pressionou uma faca no pescoço de Quill, fazendo com que a garota sentisse um gosto horrível de sangue na boca. “Você é a próxima, doçura!” Elas disseram em uníssono. Quando Valéria pressionou a faca com um pouco mais de força na garganta de Quill...

Ela finalmente acordou. Gritando.

Sua respiração estava pesada e alta, a cama estava ensopada de suor. Quill tentava se segurar nos lençóis da cama, ainda em meio ao transe. ela havia mordido a própria língua.

“Apenas um pesadelo.” Ela repetia para si mesma, enquanto esfregava a mão em sua garganta. “Um pesadelo...”

Após algum tempo tentando recuperar o fôlego, Quill tomou coragem e decidiu tomar um banho. Um banho bem demorado. Ela esfregou o pescoço diversas vezes, para se certificar que estava tudo em seu devido lugar.

Ao sair do banho, Quill colocou as roupa que haviam sido colocadas cuidadosamente em sua cama: Uma blusa verde, jeans novos, e um casaco preto aconchegante. Antes de sair, ela colocou a bonequinha da avó no bolso do casaco e desceu para encontrar seus “companheiros” no vagão restaurante.

***

Mira era a única no vagão restaurante. Ela mordiscava calmamente uma torrada enquanto assistia, mais uma vez, ao vídeo das colheitas. Ao ver que Quill havia entrado no vagão, seu rosto se abriu em um ensolarado sorriso.

“Bom dia, florzinha!” Ela disse radiante

“Bom dia, Srta. Applestorm” Quill disse um pouco tímida. Ela ainda não havia diluído toda a conversa da noite anterior. Mira parecia uma pessoa boa, mas, ainda sim, ela era da Capital.

“Por favor, Quill! Me chame de Mira!”

“Cero. Mira.”

Novamente, Mira havia criado mais um de seus figurinos bizarros. Seus cabelos ainda estavam rosa bebê, mas estavam curtos, na altura do queixo; sua pele estava com um leve tom arroxeado; ela usava um vestido primaveril amarelo com flores coloridas; em suas orelhas, havia enormes brincos reluzentes, neles estava escrito D10.

Mira puxou uma cadeira perto dela e disse:

“Sente-se, Quill. Quero lhe mostrar uma coisa. Pensei em checarmos melhos os outros tributos e escolhermos seus aliados!”

“Claro!” Quill disse se encaminhando “Mas onde estão os Holcomb?”

“Estamos aqui, Rivera...”

A senhora Holcomb falou, enquanto entrava no vagão restaurante. Ela usava jeans e botas de caminhada, seus cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo. Logo atrás dela estava Pacco. Ela não parecia animado. Parecia cansado, sonolento.

“Bom dia, Sra Holcomb.” Mira disse com um tom áspero “Bom dia, Pacco!”

“Bom dia, Srta. Applestorm...” Ele disse enquanto bocejava.

“Oi, Pacco...” Quill disse tímida

“Oi...” Ele respondeu rígido, sem nem ao menos olhar na direção de Quill.

Quill até conseguia entender o porquê de ele a ignorar, mas, mesmo assim, algo nela forçava-a a tentar algo com Pacco Holcomb. Algo na relação dele com a mãe era, no mínimo, estranha.

Destinee pigarreou, chamando a atenção de todos, e disse:

“Não vai me cumprimentar, Rivera?” Ela disse irônica

“Bom dia, Sra. Holcomb...” Quill disse com o maior desprazer que conseguiu.

O rosto de Destinee se abriu em seu costumeiro sorriso malévolo.

“Bem melhor” Ela disse ainda rindo.

Mira, que espantosamente estava em silêncio durante todo esse tempo, falou:

“Bem, Destinee...” Mira pausou um pouco, procurando as palavras certas. Ela não tinha a intenção de arrumar uma briga a essa hora da manhã, por mais que ela quisesse. “Sei que a mentora é você e que eu sou apenas uma acompanhante. Mas, eu gostaria de saber se você pretende ao menos conversar com as crianças...”

“Mas eu já conversei, Applestorm!” Ela disse com uma animação duvidosa “Eu e meu filho passamos a noite toda conversando e bolando estratégias!”

Quill engoliu o seco. Enquanto ela chorava e tinha pesadelos, os Holcomb planejavam como ganhar os Jogos e, talvez, a melhor forma de destripá-la.

“Mas não se preocupe, Quill.” Ela disse, quase que adivinhando os pensamentos da garota “Nós iremos conversar. No momento mais oportuno...”

“Ou seja, nunca.” Quill pensou.

“Mas, por hora, vamos tomar esse delicioso café!” Destinee disse sorridente. Sorridente demais, para Quill e Mira.

Ninguém teve coragem de continuar o assunto. Estavam todos estranhando o bom-humor da azeda Sra. Holcomb.

Como de costume, quem quebrou o silêncio foi a Srta. Applestorm:

“Olhem! Que emoção! Já estamos chegando!” Ela dava pulinhos e batia palminhas freneticamente.

Pacco e Quill correram para janela mais próxima para ver a cidade, mas a única coisa que viram foi uma enorme cordilheira.

“E onde, exatamente, ela estaria?” Pacco perguntou. Foi a primeira vez que ele falou mais de duas palavras, desde que ele entrou no trem.

“Ora, atrás das montanhas, bobinho!” Mira disse sorrindo, mas Pacco não pareceu gostar do apelido, entortando o rosto.

“Com o tempo você se acostuma...” Quill falou, tentando, novamente, se aproximar do garoto.

Pacco apenas se limitou a sorrir para Quill. Não foi um sorriso amarelo ou forçado, mas um rápido sorriso sincero. “Talvez...” Quill pensava.

“Agora sim!” Mira disse interrompendo e quase matando Quill do coração “A Capital!”

Quill e Pacco se espremeram na janela do trem, tentando enxergar a tão falada Capital. O que viram os deixou boquiabertos.

A Capital era, de longe a maior e mais bonita coisa que os dois já haviam visto. Nela, tudo era enorme e majestoso; tudo brilhava, reluzia e irradiava poder. Não havia construções simples e graciosas, mas gigantescas e deslumbrantes. Não havia pobreza em um lugar como aquele, apenas o luxo e a soberba. A única coisa que destoava com a Capital, eram as pessoas. Enquanto a cidade era linda e majestosa, as pessoas eram estranhas, bizarras, quase grotescas. Quill pensava que Mira era estranha, mas, perto de muitas dessas pessoas, ela era tão simples quanto sua avó.

“Pacco.” Falou Destinee, tirando os dois do transe em que se encontravam. Destinee ficou encarando o filho, que olhava com dúvida para a mãe. Os olhos do garoto logo se arregalaram e ele, finalmente, entendeu o recado. Pacco novamente se virou para a janela e começou a acenar e mandar beijos para a multidão.

Quill, que ainda estava em seu transe, encarava a multidão com um olhar assustado.

“Qual o problema, Rivera?” Destinee disse com um escárnio escancarado. “Não vai cumprimentar as pessoas? Péssima estratégia para conseguir patrocinadores...”

Multidões a apavoravam. Ela se sentia sufocada, vigiada, violada. Não foi um bom começo para Quillana Rivera.

“Holcomb” Mira interveio “Você poderia destilar seu veneno em outro lugar?”

“Ora, mas eu estou a aconselhando!”

“Muito obrigada.” Mira disse sendo sarcástica.

“Esse é o meu trabalho...”

***

Já na Capital, Quill e Pacco seguiram Mira por todos os lugares. Com Destinee sempre por perto.

“Ah, fofuras! Vocês vão amar o prédio! Vocês terão um andar completo! Só para vocês! Não é o máximo?!” Mira disse atônita. Ela estava tão animada, que nem esperou eles falarem. “Mas antes vocês irão conhecer seus estilistas! Eles irão deixá-los deslumbrantes!”

“Ótimo.” Pacco disse bufando.

“Ótimo” Quill repetiu.

Estilistas normalmente eram pessoas ainda mais bizarras que o “comum” para a Capital. Do que Quill já havia visto dos Jogos, eles deixavam os tributos tão bizarros quanto eles, não deslumbrantes.

Após mais uns minutos caminhando, eles finalmente foram deixados em suas respectivas salas. A sala que Quill foi deixada era imensa. Imensa, cinzenta e vazia. Havia inúmeras prateleiras, com os mais variados frascos. Quil observava-os e imaginava o que haveria dentro deles e se eles realmente precisavam de tantos produtos de beleza.

Poucos minutos depois um casal entrou na sala rindo e fazendo muito barulho. Ao se aproximarem, Quill viu o quão bizarros eles eram. A mulher era alta e bastante magra; seu nariz era pontudo e a boca carnuda e grande; sua pele era azul-piscina, assim como os seus olhos; ela usava uma maquiagem pesada e era careca. O homem era baixinho e gordinho; tinha longos e lisos cabelos loiros e era cheio de tatuagens bizarras e coloridas.

“Olá, Quillana!” Disse a mulher com uma voz grave e rouca, mas alegre. “Eu sou a  Tamar e esse é Hatto. Nos seremos a sua equipe.”

“Olá...” Quillana disse ainda estudando os dois.

“Nós iremos lhe dar um bom banho, fazer uma limpezinha básica de pele, depilação... essas coisas.” Hatto disse com uma voz também grave, mas melodiosa. “Vamos te deixar apresentável para Kya.”

“Kya?” Quill perguntou ainda pensando o que faria uma pessoa querer se tingir de azul-piscina.

“Sua estilista, bobinha!” Tamar disse rindo. Logo Hatto também ria com ela.

Depois das gargalhadas, Hatto e Tamar atacaram Quill, que, impotente, teve que ceder a seus torturadores.

Primeiro foi o banho. Eles esfregaram tanto Quill que sua pele tinha ficado vermelha e ardida. Esfregaram e depilaram locais que ela nem sabia que existiam. Deixaram-na de molho em uma banheira de hidratante e, depois, esfregaram novamente seu corpo com alguma pedra áspera.

Aproximadamente duas horas depois, eles finalmente terminaram o serviço e admiraram o resultado.

“Nada mal.” Disse Hato.

“Nada Mal, mesmo.” Tamar repetiu.

“Nada mal?” Quill falou indignada “Vocês me esfolaram durante uma hora!”

A equipe de Quill riu descontroladamente. Tamar, depois de parar de rir, falou:

“Já podemos chamar Kya.”

“Fique aqui, Quillana.” Hatto concluiu e os dois se retiraram da sala, deixando Quill sozinha.

“Nada mal...” Ela repetia ainda zangada “Depois dessa sessão de horrores, eu deveria estar perfeita!”

Quill foi interrompida de seu pequeno surto de raiva pelo barulho de passos na sala. Ao se virar para encontrar Kya, Quill se surpreendeu. Uma mulher de aproximadamente trinta anos entrou na sala. Ela era alta e magra. Diferente de todos na capital, ela usava calças pretas e uma blusa branca. Seus cabelos eram loiros com algumas mechas azuladas, estavam trançados habilidosamente. Quill quase suspeitou que ela fosse normal, mas então ela viu seus olhos: Eles não tinham íris. Apenas globos brancos leitosos com dois pequeninos buracos negros. Ao ver aqueles olhos, todos os pêlos no corpo de Quill se arrepiaram. Era estranho, assustador.

A moça se encaminhou graciosamente até Quill.

“Olá, Quill.” Ela disse com uma voz macia e aveludada. “Meu nome é Kya e eu serei sua estilista.”

“Olá...” Quill respondeu encarando as pupilas de Kya.

A estilista soltou um risinho e falou:

“São meus olhos, não é?” Ela disse fazendo Quill corar.

“Desculpe...”

“Eu nasci assim. Sem íris. Diferente.” Ela disse melancólica. Quando Quill pensou em se desculpar novamente, Kya continuou “E eu adoro ser assim. As diferenças nos tornam únicos e excepcionais”

Quill não sabia o que falar, então, ficou calada.

“Você é muito bonita e jovem...” Ela disse analisando Quill “Vai ficar perfeita!” Ela disse ainda circundando-a.

A garota já estava ficando nervosa. Ela detestava ser observada, o centro das atenções.

 “Mas você vai ter que confiar em mim. Eu não posso contar o que eu e Celene preparamos para você e seu parceiro vestirem essa noite, no desfile, mas com certeza será... diferente.”

Quill ficou intrigada com o que Kya havia falado, mas se limitou em acenar afirmativamente com a cabeça. Ela não se importava muito no que vestiria, desde que não fosse pelada, de vaca, ou com alguma das roupas de Mira Applestorm.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!