24 de janeiro de 2013, ás 17:00

Depois do que descobriram na manhã daquele dia, Melanie e Jonas não tiraram o olho de Lívia. Mas em nenhum momento a garota falou com espíritos ou coisa do tipo, brincava inocentemente com seus brinquedos sem parecer estar dominada por algum tipo de força ruim.

Os dois adolescentes se sentaram em cadeiras na varanda para conversar um pouco, estavam tendo algum tipo de relacionamento, mas quase não sabiam nada um sobre o outro.

–Você começa - Melanie pegou um cheetos do pacote e o mastigou com naturalidade.

–Ok. Meu nome é Jonas, tenho dezesseis, sou de câncer, nasci no dia 7 de julho, sou fã de Percy Jackson e os Olimpianos, filho de Apolo - riu - e sofria bullying no colégio quando era pequeno porquê eu era gordinho...

–Sério? - Melanie ria.

–É, e não ri. Era muito ruim. Os garotos não deixavam eu jogar futebol porquê diziam que iam me confundir com a bola...

Melanie riu descontroladamente, deitando sua cabeça sobre o ombros de Jonas, que acabou também rindo.

–Ok, agora fala você - encheu sua mão de cheetos.

–Sou Melanie, tenho quinze, sou de aquário, 18 de fevereiro, gosto de rock, mesmo não parecendo...

–É, realmente não parece - disse de boca cheia.

–Sim, as meninas do meu antigo colégio também praticavam bullying comigo, diziam que eu era algum tipo de aberração porquê uso roupas de patricinha mas gosto de rock. Nada a ver isso, não é?

–É, você é legal do jeito que é - os dois sorriram.

–E sempre tive problemas na infancia...

–Que tipo de problemas?

–TIpo. Um vez quando eu estava no banheiro do colégio, vi uma moça de branco que tentou me pegar no colo mas eu fugi. E eu sempre via essa moça em vários lugares.

–Isso não é problema - Jonas riu.

–É sim.

–Não, isso só prova que você é louca de pedra.

Melanie socou o braço de Jonas séria. Depois eles ficaram em silêncio, encarando a casa ao lado, a antiga casa em que Melanie morava. Estava completamente fechada e quieta, como se nunca tivesse sido habitada antes.

–Sente falta dela? - perguntou Jonas.

–Da vó?

Jonas balançou a cabeça assentindo.

–Sim, as vezes a noite eu choro por causa dela. Mas eu sabia que isso ia acontecer então acho que estou me acostumando bem rápido até.

–E quanto aquilo sobre seu tataravô?

–Eu não sei, mas sempre soube que minha vó me escondia alguma coisa, tem algo que ela nunca me contou, talvez sobre a morte deles. Acho que eles não morreram simplesmente, houve algo a mais, e eu preciso descobrir, e a resposta está aqui, nessa casa. Eu tenho certeza.

–Enquanto estiver aqui, você pode fazer o que quiser, eu deixo - Jonas sorriu, autoritário.

–Tá bom, mamãe.

Melanie encarou os lindos olhos castanhos de Jonas, seu rosto com algumas espinhas, seu olhar forte, sua boca... Tudo nele a atraia e ele sentia o mesmo, ela tinha lindos olhos azuis da cor do céu que pareciam o chamar para ver mais de perto, sua pele branca muito delicada, cabelos loiros eram bem arrumados e sua boca rosada era chamativa, os dois se beijaram.

–Você é um ano mais nova do que eu - disse ele, em meio aos beijos. - Será que sou um pedófilo?

Ela sorriu e disse:

–Se for, é um pedófilo muito lindo.

E o beijo aumentou de ritmo.

De repente Lívia apareceu correndo na varanda. Os dois cessaram o beijo e se afastaram rindo.

–Podem continuar o beijo - disse a pequena em uma pequena pausa da correria.

Os dois cairam na risada. Lívia sorriu e continuou a correr.

–Sua irmã é muito inteligente - disse Melanie, tentando se recuperar da risada.

–Eu sei, ela é assim desde seus 3 aninhos.

–Eu te amo - ela cochichou. Jonas sorriu

–Eu também - ela sorriu, - me amo.

Melanie socou o braço de Jonas novamente.

–Ai! Bate em outra parte, aí já tá doendo.

–Foda-se - cruzou os braços e fez bico.

–Que boca suja.

–É, suja mesmo.

–Deixa eu limpar ela?

–Ai, que nojo.

Os dois riram e se beijaram novamente.

25 de janeiro de 2013, ás 3:00

Lívia acordou novamente aquela noite, mas não por medo ou para arrastar Melanie da cama. Simplesmente queria beber água.

Mas ao chegar a cozinha viu algo estranho naquela parede onde outrora havia um papel de parede azul. Agora lá havia uma estrela desenhada em vermelho sangue e ao lado uma mulher... Uma mulher familiar que sorria para ela.

–Quem é você? - perguntou a menina.

–Meu nome é Catarina, pequena - a voz de Catarina era doce, usava uma vestimenta branca e suas mãos pingavam sangue.

–Tina? A mamãe falou de você.

–Não, sou Catarina, mas tudo bem me chamar de Tina, eu já conversei com você antes.

–Sim, uma vez eu vi você, mas eu estava sonhando, você me mostrou os gatinhos mas eles viraram aquele bicho que tentou me pegar, não é?

–Sim. Mas não precisa se preocupar com este bicho. Você tem tempo pra matá-lo.

–Tempo? Então ele vai aparecer de novo? - Lívia beirava lágrimas.

Catarina se ajoelhou ao lado de Lívia.

–Calma, pequena. Você só tem que fazer uma coisa. Você só precisa levar seu irmão e Melanie ao porão, lá haverá uma coisa e todas as respostas estarão lá.

–Você conhece meu irmão?

–Sim, já o vi. Já tentei mostrar as respostas a ele, mas ele tentou fugir de mim. Eu o entendo, eu devia me aproximar com mais calma. Mas ele já sabe sobre algumas coisas, já avisei-o sobre o livro, e você me ajudou a mostrar o livro para Melanie.

–Essas coisas que você está falando, é sobre aquela história que me contou? Sobre o moço malvado?

–Sim, mas fique calma, querida. O bicho não vai aparecer mais para você. Mas não chegue muito perto de espelhos, ele vai tentar te assustar por lá. E avise isso ao seu irmão.

–Sim - Lívia sorriu.

–Preciso ir, pequena Lívia.

–Tchau, Tina.

Catarina sorriu. Em um clarão forte de luz, ela e o desenho da parede desapareceram.

–Lívia - uma voz grave se aproximou vindo do quarto.

–Sim, papai.

–O que está fazendo? - perguntou ao ver lívia de pé no meio da cozinha.

–Vim beber água e...

–E o quê?

–Nada. Me ajuda a pegar?

–Claro, filha.

Augusto pegou a filha no colo e deu a ela um copo d'água. Após terminar de beber, voltaram a se deitar.

25 de janeiro de 2013, ás 15:55

Em algum lugar do livro Melanie leu algo sobre 7 de julho, supostamente fora o dia em que Osmar teve medo de suas próprias intenções.

"O que isso quer dizer?", foi o que se passou em sua cabeça o dia inteiro.

Estava descendo para tomar café quando encontrou Jonas sentado no último degrau, estava jogando alguma coisa no celular.

–Angry Birds? - perguntou.

Ele deu uma rápida olhada para ela e afirmou:

–Angry Birds.

Quando Melanie deu um último passo na escada um grito agudo soou de algum lugar da cozinha.

–Lívia, de novo - disse Jonas, sem muito desespero.

Se levantou e os dois foram à cozinha, o grito vinha do porão, e algo batia na porta. Jonas puxou a maçaneta e a porta se abriu normalmente, não havia nada de estranho, somente Lívia chorando por alguma razão.

–Que foi Lí? - perguntou Jonas, a pegando no colo.

–Ali tinha um bicho.

–Que bicho Lí? E o que você estava fazendo no porão? A mamãe saiu e eu disse pra você ficar brincando na sala.

–Mas eu ia pegar... Minha boneca. Pega pra mim.

–Que boneca? Não tem boneca nenhuma alí?

–A mamãe colocou alí. Pega pra mim.

–Por que...? - decidiu desistir de tantas perguntas, deixou Lívia no chão e entrou no porão.

Cheirava a carne podre, nunca estivera alí antes. Era tudo meio medonho e escuro, haviam muitos objetos velhos, livros grossos e empoeirados e tudo o que não devia estar alí, estava.

–Aonde está? - ele gritou.

–Mais lá dentro.

Jonas bufou e continuou andando no longo porão. A única fonte de luz vinha de cima das escadas, onde a porta estava aberta. Quanto mais se aproximava, ouvia um tic-tac de um relógio se aumentando. Não queria adimitir, mas já estava começando a sentir medo do lugar, mas estava querendo acabar logo com todo o mistério da irmã, então continuou.

Nos fundos do porão viu um grande saco plástico preto cobrindo algo grande e podia jurar que vira um tipo de luz vermelha. Apertou as vistas e se aproximou, o tic-tac era cada vez mais alto. Estendeu a mão até a saca e a puxou...

–AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - o grito de Jonas ecoou por toda a casa. Melanie rapidamente desceu até o porão pra ver o que estava acontecendo.

Jonas estava ajoelhado com a mãos na boca e acima dele havia a coisa mais tenebrosa que Melanie já havia visto.

Um corpo estava caído no chão, toda a pele estava quebrada em pedaços e cinzenta. Em uma mão segurava um relógio iluminado em vermelho e na outra mão um livro.

–Que porra é essa, Melanie? - perguntou ele, se levantando e tomando distância do corpo.

–É a Tina - disse Lívia, ao lado de Melanie - É a Tina, só que morta... Mataram ela.