Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 99
As Lembranças Que Lhe Impediram de Correr




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Já havia se passado alguns minutos, mas o tempo parecia que não mais existia, nunca mergulhara em uma escuridão mais penosa do que aquela que agora lhe abrigava. Afundava a cada segundo, caindo lentamente num abismo desconhecido e assustador, afundava como uma pesada ancora. A dor tornava-se maior, porém Damian julgou que não iria aguardar até o momento de ela ser tão intensamente lancinante a ponto de nem ao menos mais doer. Tinha de se levantar, sabia que não seria fácil, mas era o que precisava ser feito.

Levantou-se e de súbito, não mais sentiu a fofa relva sob seus pés, a grama felpuda que lhe afagou e lhe escondeu por pouco tempo transformara-se em areia movediça na qual lhe engolia, todavia, tinha de seguir em frente.

Andava como se estivesse em um campo minado, o chão ondulava e latejava diante de seus olhos embaçados, a enxaqueca e a decepção o puxavam para baixo como braços que lhe queriam no chão, braços tão semelhantes aos de Tristan, mãos que apertaram a sua por tanto tempo, as mesmas mãos que lhe apunhalaram pelas costas, tudo o que o desgraçado herdeiro Dumitresco mais queria era vê-lo cair, como um anjo que sempre lhe fora fiel. Porém, este mesmo anjo, foi quem lhe mostrara o inferno.

Somente naquela noite pôde perceber que possuía uma espécie de visão noturna, mas não era tão intensa a ponto de ver tudo tão claro como o dia, contudo evitaria que tropeçasse ou trombasse em algo enquanto vagava pela negridão, começou a pensar... Se por acaso cedesse, todos os presentes das trevas lhe seriam entregue sem esforço?

Caminhava tropegamente e tão devagar, como um morto-vivo em busca de carniça sendo movido apenas pelo cheiro e se ele não viesse de direção alguma, vagaria até seus pés sangrarem, queria poder ser mais rápido, mas todo o seu corpo não obedecia à sua mente, nem mesmo sua mente sabia o que queria, estava ocupada demais repassando o diálogo com Grigore, a visão da prostituta morta, o quão fraco estava e o terror que engolia-lhe uma célula por segundo.

Parou diante dos portões da casa de seu pai, o berço de seus sentimentos e tormentos, o lugar de onde nunca devia ter saído. Ficou observando a arquitetura humilde e de ar antigo, os detalhes pobres e tão irrelevantes que nunca se importara quando morava ali, mas que naquele momento eram tão magníficos, nunca havia parado para pensar que a simplicidade é tão bela que nunca há uma palavra para descrevê-la, a beleza é tão pura que poetiza a alma, porém as palavras nunca brotam na mente para florescerem nos lábios e expressarem tão doce e singelo esplendor. As janelas trancadas e cobertas por lívidas cortinas refletindo o luar em seus limpos vidros, não havia nenhum sinal de claridade, era tarde, Ionel devia estar dormindo.

Envolveu seus dedos entre as grades e lá ficou admirando a moradia, a tristeza que aquele lugar lhe passava, pois não mais lhe pertencia, teria de levar para sempre apenas o toque suave da nostalgia atormentando seu peito. Soube que a partir do momento em que os portões se fecharam após sua saída, jamais poderia voltar, não mais era um Petrescu, não mais tinha um pai, nunca mais teria um lar.

Todavia, seu malfadado destino não poderia lhe impedir de sentir saudades, não poderia afastá-lo por completo das lembranças pacatas que viveu naquele lugar, ao menos se pudesse se despedir... Tocar gentilmente o semblante de Ionel e Viorica e em silêncio partir para nunca mais voltar, ir para bem longe... Tão longe onde a mente e a alma não poderiam alcançar.

Não fora necessário muito esforço para que os portões se abrissem emitindo um estridente rangido, ouvia os cascalhos sob suas botas a cada passo tão pesado, estava a ponto de arrastar-se, a cada vez que a distância até a porta da frente diminuía, sua enxaqueca e fraqueza apenas aumentavam, não sabia ao certo o por quê.

Tocou a madeira da porta com a ponta de seus níveos dedos, as memórias e a saudade pareciam entrar por seus poros e correr desenfreadas até seu coração para que a cada batida fossem bombeadas por todo o seu corpo, era um aroma suave como o de uma torta de maçã feita todos os domingos quando a família estava alegre e reunida, era uma sensação alegre feito uma tarde ensolarada na qual Ionel o levava para nadar no lago, era excitante como quando Viorica se escondia em seus braços.

Girou a maçaneta empurrando a porta num movimento silencioso, se caso o pai e a criada estivessem dormindo não queria acordá-los, fora andando até aproximar-se da pequena sala de estar, era uma casa humilde e com pequenos cômodos, mas era sua... Mesmo que nunca mais voltasse, sempre seria sua.

Quando pousou seus olhos na direção do lugar, sua reação fora a mesma de uma hora atrás, boquiaberto, porém sem fazer barulho, Damian sentiu um mortal arrepio correr por todo o corpo, a dor e a fraqueza ao invés de desaparecerem como antes, tornaram-se mais intensas e no claro azul de seu olhar, apenas uma imagem.

Benjamin fora mais rápido, ele estava lá, ao lado do simples sofá de três lugares, uma de suas mãos pousada sobre o tecido como quando tocava o ombro do jovem, a outra elegantemente tocava seu abdômen como quando um cavalheiro curva-se diante de uma dama para cumprimentá-la ou saudá-la, estava com a cabeça inclinada e em seu pálido queixo, um fio de um forte tom de vermelho corria fraco, com pequeninas gotas desprendendo-se e caindo ao chão.


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Notas finais do capítulo

Gente, realmente, não sei o que tá acontecendo com esse nyah >< não tô mais conseguindo postar as fotos dos capítulos :/ mas enfim néh... Vou continuar adicionando-as em minha conta no facebook, se alguém tiver curiosidade de vê-las e não for meu amigo no face, eu mando a foto por mensagem. Desculpem :(