Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 100
Oh dor! Por que nunca me abandonas?


Notas iniciais do capítulo

Uhull centésimo capítulo o/



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A cabeça de Damian inclinava-se para baixo, indicando que não tirava os olhos de algo, algo que fizera suas pupilas dilatarem assim como os vasos sanguíneos de todo o seu corpo, deixando o pavor irradiar e correr livremente por cada extremidade. E diante de seus pés, assim como a inocente prostituta, estava Ionel, o corpo tão rijo e estirado como se caísse cansado sobre o colchão depois de um longo dia de trabalho duro na ferraria, uma das mãos gentilmente pousada em seu peito enquanto o outro braço tocava o chão, reto na direção do garoto como se seus dedos implorassem, chamassem, pedindo ajuda, os olhos sem algum tipo de vestígio de luz e perto de seu pescoço, uma poça de sangue que há poucos minutos deixara de crescer, simplesmente parara atingindo o seu ponto máximo, já que não havia mais tanto líquido carmim no corpo do velho ferreiro.

A dor fizera com que os batimentos desacelerassem, Petrescu não sabia o que fazer ou o que dizer, queria gritar, ir até o corpo do homem, envolvê-lo em seus braços e ao mesmo tempo tentar reanimá-lo, mas tudo que fizera foi permanecer encostado em uma parede para que o chão não se desfizesse sob seus pés.

Mesmo calado, contendo o horror com um nó cego em sua garganta, as lágrimas escorriam quentes até morrerem em seus embranquecidos lábios, sua respiração ofegante e, de tempos em tempos interrompida, alimentava gradativamente os pulmões e procurava acalmar o coração, a cada suspiro uma nova e rutilante gota fugia por seu olhar tão triste.

Benjamin levantou a cabeça buscando a imagem entristecida e assustada do menino, ele encarava incessantemente o morto a alguns centímetros de si, porém sem muito se mover ou emitir algum som, como se procurasse matar a dor dentro de si com o agonizante silêncio.

___ Eu não queria que fosse assim... Mas nada acontece como planejamos ___ a voz de Grigore soou fria na escuridão ___. Sabia que viria para cá. Damian, eu...

O rapaz tentou aproximar-se, mas o ferreiro afastou-se bruscamente alterando a voz para um tom enfurecido:

___ Não me toque! Não chegue perto de mim, seu desgraçado!

Se Damian continuasse encarando-o, poderia ver um sinal de dor e decepção brotando nos olhos do tão imponente lorde, aquelas agressivas palavras direcionadas a ele foram piores que uma estaca lhe cravando o coração, nada disse e nada fizera, somente observou seu tão amado adolescente ajoelhar-se diante do cadáver do homem e chorar.

___ Tata... ___ chamou o garoto tão baixinho, como se acordasse assustado de um pesadelo e quisesse pedir ao homem para que pudesse passar o resto da noite ao seu lado, para que seus medos fossem aplacados ___ Tata, vă rog, acorde ___ pediu o jovem deixando seus dedos passearem pelo semblante enrugado e ainda quente de Ionel ___. Tata... Não me deixe. Tata, vă rog, tata, vă rog... Não...

Ben fechou os olhos diante do gesto desesperado do moço e girou a cabeça para outra direção.

Damian segurava amorosamente a mão que Ionel tinha em seu peito, de olhos fechados só pedia repetidas vezes para que ao menos houvesse alguma reação, um tremor, um arrepio percorrendo a pele, de olhos fechados, rezava para deuses nos quais sempre julgou inúteis e ilusórios, implorava para alguma força oculta aos olhos humanos, estava pedindo apenas por um sopro de vida, porém já era tarde demais. Seus frios e sensíveis dedos apalparam o pulso do velho e nada sentira, nenhum tremor, um sinal, uma esperança. Voltou o braço do homem gentilmente junto ao peito onde com seus novos dons, não mais ouvia o pulsar de seu velho coração, permanecendo por alguns segundos completamente imóvel e taciturno, deixando-se ouvir apenas a sua incontrolável respiração.

___ Ele está morto... ___ declarou penosamente ___ Você o matou.

___ Eu não queria que...

___ Por que fez isso? Por quê?!___ Damian o encarou com sanha embebida em pura tristeza, ambas por ora tão bem controladas, algo que enchera Ben de medo e tormento.

___ Ele mereceu ___ respondeu o lorde sem ainda demonstrar nenhum resquício de culpa.

O jovem franziu as sobrancelhas em sinal de desentendimento.

___ Ele mereceu... ___ continuou Grigore ___ Por todos os anos que roubara de mim.

O garoto levantou-se lentamente, sem desviar a atenção do vampiro a sua frente.

___ Seu monstro desgraçado___ falou o adolescente entre os dentes, ainda procurando abrandar a ira e o pesar iminentes.

___ Eu fiz isso por você, por nós, Damian. Esse desgraçado tomou o que era meu por direito, o que sempre foi meu ___ houve uma alteração na voz de Benjamin, estava começando a se desesperar.

Era inútil Damian responder coisa alguma, estava sentindo tanta dor por tudo. Sua cabeça latejava pela fraqueza, pela morte de seu pai, pela extrema fome que já lhe atormentava há dias, não conseguia pensar em nada relevante para dizer àquele asqueroso homem a sua frente, queria apenas segurar fortemente o corpo ainda cálido de Ionel em seus braços e acreditar que estava somente dormindo, sonhando, tão perdido em um mundo inteiramente seu, um mundo onde nada nem ninguém pudesse lhe fazer mal.


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