Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 8
Uma Noite no Bosque




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/345394/chapter/8





Começou a adentrar o bosque, não demonstrava sentir medo algum, desde que era garoto rondava aquelas árvores e as conhecia como a palma de sua mão no fundo sabia que não era como as outras pessoas, a começar que não tinha medo do escuro, mas sim, paixão por ele.





As árvores pareciam ser todas iguais e de cada uma era emanado o ardor doce e tranquilo no qual sua alma tanto clamava, era bom estar ali tão só e perdido, perdido apenas em pensamentos, pois todos os seus passos eram certos, pensava ser loucura, mas sua visão durante a noite tornava-se ainda melhor, o escuro não era tão temido e a segurança que lhe acolhia parecia tão deliciosa quanto os raios de sol do meio-dia.

Andava pensativo até que um ruído o fez parar e percorrer com os olhos todo o local, pareciam imensas e majestosas estrelas em meio ao escuro bosque, lindas pedras preciosas da cor de um céu sem nuvens. Após verificar que não havia nada nem ninguém continuou seu trajeto em direção ao lago acreditando que o que ouvira fora apenas algum pequeno animal ou simplesmente fruto de sua fértil imaginação, que parecia criar vida quando a deixava livre. Porém era somente isto?

Caminhando durante mais alguns poucos minutos, o moço já podia ouvir o som de risos e da água como se alguém estivesse mergulhando, um sorriso espontâneo abriu-se em seu rosto e começou a apressar-se. Notava que o número de árvores ia diminuindo e que o luar já era fácil de se ver, logo pôde avistar o lago e junto dele, seus amigos.

___ Bună seara¹, Damian!___ gritou um deles.

Tristan aproximou-se envolvendo um de seus braços no pescoço do amigo ao falar:

___ Pensei que não mais viria.

___ Eu disse que viria.

___ Então o que está esperando para nadar? A água está formidável!

Rapidamente o jovem Petrescu começou a despir-se, porém deteve-se ao notar que entre os rapazes havia três garotas, duas delas estavam comprometidas com seus amigos e a outra estava solteira, a jovem direcionou seu olhar para ele e sorrira docemente, o garoto sorriu de volta um tanto encabulado, não esperava companhia feminina naquela noite e depois de avistar três damas junto aos seus amigos tivera vergonha de continuar despindo-se diante delas.

___ Ei, Damian!

O rapaz direcionou seus olhos para quem o chamara.

___ Vai entrar na água ou não?

Ele abriu a boca para tentar responder, mas algo o bloqueava. Olhou para a jovem solteira ao lado das amigas, seu rosto enrubescera, estava pouco a vontade com a situação.

___ O que é que há, Damian? Está com vergonha de despir-se diante de nós?___ falou a moça provocando-o.

___ Não é isso, é que...

___ Então?___ perguntou ela deixando-o ainda mais nervoso.

___ Vamos, Damian!___ gritou Tristan do meio do lago junto com mais três adolescentes.

O jovem Petrescu então resolveu continuar despindo-se, peça por peça era retirada vagarosamente, pois percebia os olhares indiscretos da dama sobre seu corpo, sua pele era ainda mais pálida quando refletida pela luz da lua, seus cabelos misturavam-se com a escuridão da noite e o brilho de seus olhos era tão tênue que pareciam não ter cor alguma.

Lançara um tímido sorriso para a garota, usava apenas uma ceroula até os joelhos deixando a mostra um corpo delgado e de poucas curvas, porém tão delicado e lascivo. Caminhou rapidamente até se perder entre as águas escuras do lago num mergulho abafado, fora nadando até os amigos enquanto as garotas conversavam, riam e observavam sentadas em um grosso tronco há muito tempo caído resultado de uma forte tempestade.

Não demorou muito para as garotas serem tomadas pela vontade de se juntarem aos rapazes, tiraram seus pesados vestidos ficando apenas com corseletes e calças até os joelhos brancas, deixaram suas vestes sobre o tronco e correram elegantemente até às margens do lago. No início ficaram indecisas, ao sentirem a temperatura da água um arrepio percorrera seus corpos, entretanto os garotos as levaram até o centro daquele lago frio e enegrecido.

Tristan olhara para a terra firme e viu a jovem dama solitária sentada observando tudo, ele chamou seu nome dizendo:

___ Rosalind, venha! Junte-se a nós!

___ Nu², mersi! Eu não sei nadar ___ gritou sua resposta fazendo com que chegasse claramente aos ouvidos do rapaz.

___ Ora, vamos! Só um pouco, divirta-se!

___ Tudo bem!

Rosalind então se levantou, delicadamente fora desabotoando seu pesado vestido amarelo, Damian não perdia um só detalhe daquela cena tão excitante. A roupa debaixo era a mesma que a das amigas, um corselete que contornava voluptuosamente sua silhueta, seu decote mostrando firmes seios de uma garota de 17 anos e uma folgada calça que ia até o joelho onde era adornada por muitos babados, sua pele rosada refletida pela lua era magnífica e sensual.

Andou lentamente pisando sob a terra fria com suas delicadas e lúridas meias de seda que iam até as coxas onde não se podia ver, pois suas pernas ainda eram ocultadas pela camisola. Levantara um pouco a roupa para entrar na água e logo fora recepcionada por Tristan segurando seu tronco, estava tremendo de frio e medo.

As horas correram sem que percebessem, poderiam rir e gritar à vontade, ninguém iria ouvi-los, isso era bom e até mesmo ruim, se algo lhes acontecesse não haveria ninguém por perto para ajudá-los, mas o que ocorreria numa noite que tinha tudo para ser perfeita?

Os adolescentes nadavam e jogavam água uns nos outros, corriam até a margem para depois saltarem novamente dentro do lago, competiam para saber quem nadava mais rápido ou quem mergulhava mais profundamente, tudo sendo assistido pela silenciosa e solene lua cheia, como ela amava o sons de risos juvenis e na maioria das vezes virginais e inocentes, isso lhe dá forças para suportar a escuridão da noite eterna, saber que jovens almas dançam, brincam e sorriem clamando por sua pálida beleza.

Após tantas gargalhadas e brincadeiras os jovens sentaram-se às margens do lago para secarem-se e descansarem, fizeram uma fogueira para aquecê-los, o vento frio estava entrando em seus poros provocando-lhes tremores.

Damian não parava de observar Rosalind, ela se tornava ainda mais bela ao ser banhada pelo lânguido luar, seus olhos de mel permitiam ver a lua refletida dentro deles, seu sorriso era ainda mais lívido, em sua pele rosada podia ver os arrepios percorrendo-a e eriçando os pelos de seus braços, os cabelos de bronze molhados caíam sobre seus pequenos seios com os mamilos atrevidamente endurecidos e expostos claramente através da encanecida e molhada camisola, seus risos finos e meigos tal qual de uma criança, era isto que era, uma etérea união de anjo e criança.

O garoto tivera um choque de realidade voltando a si quando viu a donzela conversando aos sussurros com Tristan, aquilo desacelerou as batidas de seu coração fazendo seus olhos procurarem outra direção, percebera que o amigo a tocava e a moça respondia às suas carícias com encantadores sorrisos.

Uma certa raiva percorreu seu corpo, uma enorme vontade de que com suas próprias mãos poder arrancar o coração do amigo e com pequenas mordidas devorá-lo por completo, viu nitidamente suas mãos banhadas com o sangue de Tristan, um pensamento tão forte e assustador, recuperara a consciência e percebeu que novamente deixara sua imaginação apoderar-se de si, a voz de um dos jovens invadiu sua mente.

___ Damian, está tudo bem?

___ É claro, eu só estou um pouco fatigado, este fora um dia muito trabalhoso, acho que vou embora.

___ Quer que o acompanhemos até em casa?___ sugeriu Tristan.

___ Não será necessário, posso ir sozinho.

___ Tudo bem, nos vemos amanhã.

___ Certo, boa noite para vocês.

O moço vestiu-se rapidamente e começou a caminhar em direção às árvores escuras daquele bosque adormecido.

O adolescente não mentira ao dizer que estava fatigado e sonolento, porém não era somente isto que o fizera querer fugir daquele lugar. As imagens dançavam vivas em sua memória, certamente fora uma noite agradável com os amigos, algo que não fazia muito desde que passou a ajudar Ionel na loja, mas sentia uma leve, todavia dolorosa pontada em seu peito.

No fundo sabia que não tinha raiva do amigo, acreditava que nunca teria, pois desde a infância as garotas sempre preferiam Tristan, por mais que arrancasse suspiros das donzelas nos falsos combates, um evento realizado na maioria dos vilarejos como diversão e distração, por causa dos dias serem muito monótonos e se algo não fosse feito uma onda de suicídios ocorreria, dizia seu pai, as damas sempre optavam pelo rapaz mais velho.

Tristan Dumitrescu era alto, forte, viripotente, sua pele tinha a cor do bronze e parecia brilhar quando os raios de sol a tocavam, era um pouco mais velho que Damian, porém ambos cresceram juntos, sempre brincando e correndo como irmãos, suas famílias eram muito amigas apesar dos Dumitrescu serem burgueses proprietários de terras, eram pessoas humildes e caridosas.

Não deveria sentir ciúmes, deveria acostumar-se, sempre fora assim e por que em tempos atuais seria diferente? Contudo, não era pecado sonhar em cortejar aquela bela dama de cabelos afogueados, segurar em suas delicadas mãos tão pequeninas que ao envolvê-las nas suas temia que se perdessem entre seus dedos, poder acariciar as maçãs de seu rosto e ao tocá-la com a ponta de seus dedos sentir sua pele arrepiando-se, aqueles pensamentos o fizeram esquecer do sentimento negativo que estava tendo em relação ao companheiro inseparável.

Ao retornar para a casa, estava fazendo o mesmo caminho que fazia durante todas as noites ao fechar a loja, porém naquela noite estava sozinho e isto significava um perigo, pensava ele, quando não tinha ninguém por perto era o momento propício para as fantasias outrora escondidas libertarem-se.

Olhava para o céu e podia jurar ver as estrelas dançarem, podia ouvir anjos chamando seu nome como se fosse um doce cântico celestial, o vento chorava ao pé do seu ouvido, imaginava que ao virar a esquina para adentrar num beco iria deparar-se com um terrível dragão enorme que cuspia fogo até pelas narinas fitando-o pronto a atacar e o jovem estaria trajando uma armadura reluzente feita de prata e uma poderosa espada semelhante à magnífica Excalibur, protagonista dos lendários feitos do Grande Rei Arthur, porém a sua estaria cravejada de brilhantes e com somente um golpe arrancaria a cabeça da horrível fera assassina.

Ninguém era capaz de ver os sorrisos em seu rosto quando sua mente apoderava-se de todos os seus sentidos, e foi assim tão distraído e sem perceber o mundo, docemente mergulhado num sono profundo que o moço seguiu lentamente para a casa, sem nem ao menos notar que não estava sozinho.

Ao chegar percebeu que a porta estava destrancada, entrou calmamente procurando não emitir nenhum som, não queria acordar seu pai, Ionel estava exausto de mais um intenso dia de trabalho e Irina provavelmente dormira após tomar um chá, devia estar morta de preocupação.

Subiu cautelosamente até seu quarto trancando a porta, acendera a luz interna do lampião que ficava sobre um criado-mudo ao lado de sua pequena cama de solteiro, começou a despir-se e logo caiu sobre o colchão entregando-se ao conforto e maciez permitindo que o sono o dominasse por completo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1. "Bună seara" significa "boa noite" em romeno.
2. "Nu" significa "não".



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Nascido Do Sangue" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.