Nascido Do Sangue escrita por Viúva Negra


Capítulo 9
Novos Rostos




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Na manhã seguinte, fora despertado bruscamente quando notou a luz intensa do sol batendo em sua tez lúrida, espantou-se com isso e rapidamente ao abrir os olhos vira Irina, fora ela quem abrira as cortinas que ocultavam aquele forte refulgir do alvorecer, a empregada dissera que acabara de preparar seu banho e que seu pai o esperava para desjejuar.

Ao descer até a cozinha Damian cumprimentara seu pai, Ionel estava comendo uma fatia de pão e tomando uma grande caneca de cerveja. Ao sentar-se e antes de cortar um pedaço de pão levando-o à boca, o rapaz percebeu a presença de uma pequena garota no canto da cozinha, toda retraída e cabisbaixa.

___ Esta é Viorica, filha de Irina, morava com a avó, mas como a mulher veio a falecer ela irá ficar conosco de agora em diante, ajudará à mãe nas tarefas domésticas ___ explicou Ionel notando a expressão curiosa do filho.

___ Bine ați venit¹ , Viorica ___ disse o garoto com um sorriso encantador nos lábios.

___ Mersi, Sr. Petrescu ___ ela respondeu com uma voz baixa e encabulada.

O rapaz notara que era uma menina magra e pequena, deveria ter uns 15 anos, cabelos negros e volumosos, uma pele mulata, olhos da mesma cor dos cabelos e uma voz bem fina como a de uma criança. Lá estava a visão deslumbrante e patética de uma bonequinha frígida que só estava esperando o momento para que alguém a tomasse nos braços e a conduzisse com desvelo a uma casinha para tomar chá e fofocar do tempo e de outras pessoas para que depois, ao se cansar, a volte novamente ao canto frio onde estava solitário pegando poeira.

Viorica era misteriosamente adorável, um mistério um tanto quanto tedioso. Soubera por alto que Irina tinha uma filha fruto de um prazer descompromissado do pai de seu pai com a escrava e do fruto deste pecado, se é que poderia ser chamado assim, nasceu aquela flor tímida de pétalas encolhidas esperando pelo orvalho da manhã para por completo desabrochar, lá estava ela... A pequena e adorável Viorica, com suas mãos entrelaçadas e enamoradas e sua boca selada, seus olhos baixos e seu cabelo de ébano ocultando um rosto ainda sem marcas do tempo, um etéreo anjinho mulato que intrigou os olhos de safira do rapaz.

___ Por que demorou ontem, fiu?___ perguntou Irina quando voltou para a cozinha, tirando completamente a atenção do garoto da filha da mulher.

___ Tata não lhe disse onde estava?

___ Eu disse, mas parece que ela não quis acreditar ___ falou Ionel com a boca cheia de pão e cerveja.

___ Fiquei preocupada, pensei que tivesse acontecido alguma coisa.

___ E o que iria acontecer, mulher? Damian é um garoto forte, robusto, pode se defender sozinho, afinal, eu mesmo o ensinei a manusear uma espada, não é, meu rapaz?

___ Da, tata. Irina, o pai tem razão, não há nada com o que se preocupar, estou bem, não estou? E vivo!

___ Mas você sabe como me preocupo com você, meu querido. E não fale assim comigo, Ionel, já troquei suas fraldas e isto não lhe dá o direito de me tratar como uma qualquer.

O homem revirou os olhos engolindo outro pedaço de pão com um pedaço de ovo mexido.

Depois de se alimentarem, pai e filho seguiram para o estabelecimento para mais um dia de trabalho pesado. Os dois passavam horas moldando pedaços brutos de metal, aquecendo-os até que adquirissem uma cor avermelhada e brilhante, martelando-os para dar forma e resfriando, era um ofício que exigia força e não era para menos que ao fim do dia estavam exaustos.

Naquela tarde o garoto estava trabalhando em flechas de ferro para balestras, sua arma preferida, adoraria aprender a manuseá-las e atirar com precisão, porém não conhecia ninguém que pudesse ensiná-lo, 

pensou em seu tempo livre procurar aprender sozinho e a cada manhã esta ideia fixava-se em sua mente e provavelmente não iria desistir dela até que se concretizasse.

No entardecer, no momento em que o sol já despedia-se do céu, um sujeito entrara no recinto e estava observando o jovem trabalhar, Damian havia percebido sua presença quando parou para tomar fôlego e o encarou, fitou o estranho dos pés à cabeça. Ele tinha cabelos negros e compridos, roupas delicadas e bem feitas aparentando serem de tecidos caríssimos, possuía algumas jóias de ouro cravejadas de diferentes pedras preciosas, botas de couro lustradas, notara que sua pele era de uma excessiva palidez e que seus olhos eram de um azul vivo e intenso, o sujeito aparentava ter uns 22 anos, parecia-se com um lorde inglês dos contos infantis que Irina lia quando não passava de um menino. Por um instante, o humilde garoto se perguntou o que um alguém como aquele rapaz fazia numa suja ferraria.

___ O que deseja, domn²?___ indagou o adolescente.

Os olhos azuis do desconhecido observaram o instrumento sendo moldado entre as mãos do ferreiro, sorriu dizendo com uma voz grave e calma.

___ Flecha de balestra?

___ Da, domn ___ confirmou o jovem.

___ São armas fascinantes.

___ Com toda a certeza que são ___ concordou Petrescu com uma voz trêmula e tímida.

___ Flecha de ferro, eu presumo?

___ Correto, domn.

___ Deve ser um ótimo atirador.

___ Infelizmente não, nem ao menos sei manuseá-las.

___ Mas que infortúnio! Me admira um ferreiro tão preciso nos detalhes da fabricação de uma arma tão esplendida não saber manuseá-la.

___ É mesmo um infortúnio, não conheço ninguém que possa ensinar-me a lidar com esta arma... Tão esplendida.

O modo como o estranho falava dava ainda mais certeza ao jovem Petrescu de que era um lorde inglês.

___ Ora, meu de tineri³, poderia ensinar-lhe muitas coisas, venho de uma linhagem de atiradores e conheço cada milímetro desta arma, se assim desejar.

___ Adoraria, mas perdão, eu conheço o senhor?

___ Oh, que modos são os meus?! Como pude esquecer de me apresentar, îmi pare rău , me chamo Benjamin Grigore ___ falou o sujeito com um orgulho surpreendente que o fez erguer a cabeça como se houvesse aumentado de tamanho e Damian tornasse-se tão pequenino e insignificante.

___ É um prazer!___ falou o menino reclinando levemente a cabeça num gesto educado.

___ O prazer é todo o meu, acredite.

Ao pronunciar a última palavra, havia um brilho diferente no olhar de Benjamin, que viera acompanhado de um sorriso formado apenas por um canto de seus lábios que se esticaram brevemente.

___ Mas o senhor não viera aqui somente para falar sobre balestras, não é?

___ Certamente que não, meu caro, vim solicitar a fabricação de uma arma de bolso, uma adaga precisamente.

___ Uma adaga?

___ Da, meu de tineri, uma adaga de prata e em seu cabo, quero que adorne com isto ___ sobre o balcão de madeira, o sujeito colocara uma pedra de rubi.

O garoto observou aquela preciosidade encantado.

___ Vibrante, deslumbrante, hipnotizador, carmesim, como o sangue... ___ falou Benjamin como se estivesse excitando a cobiça e a admiração do jovem em relação à jóia.

___ Sem dúvidas, domn ___ suspirou o rapaz ainda fitando o rubi.

___ Então, meu de tineri, fará isto para mim?

___ É claro, domn.

O elegante estranho jogou um saco cheio de moedas sobre o balcão e disse:

___ Isto deve ser suficiente ___ notara que o rapaz ficara com os olhos arregalados ao ver o saco de moedas, aproximou-se dele novamente com um estranho sorriso malicioso ____. Há muito mais de onde este viera... Tenha uma boa noite, draga mea.

Damian ficara sozinho na loja encarando o saco de moedas e o pequeno rubi na palma de sua encanecida mão.


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Notas finais do capítulo

1. "Bine ați venit!" significa "boas-vindas" em romeno.
2. "Domn" significa "cavalheiro ou senhor".
3. "Meu de tineri" significa "meu jovem".
4. "îmi pare rău" significa "perdão ou desculpe".



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